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Ele disse, ela disse: Socializando.

| Desfavor | | 190 comentários em Ele disse, ela disse: Socializando.

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Nossa impopular república sempre posicionou-se fortemente contra as redes sociais. Isso não mudou. Mas um “e se…” acabou dividindo as opiniões de Sally e Somir recentemente. Incursões em território inimigo são sempre polêmicas, por isso até mesmo os impopulares serão ouvidos. Esta coluna não se presta a decidir, e sim a colocar o assunto na mesa.

Tema de hoje: O desfavor deve entrar nas redes sociais?

SOMIR

Aposto que vocês estão esperando um sonoro NÃO da minha parte, certo? Que não nos misturamos com gentalha, que não vale a encheção de saco, que nem faz diferença ter mais gente lendo isso aqui… Pois é, com tudo isso levado em consideração, minha resposta é SIM.

O primeiro parágrafo não é só para confundir quem não lê antes de opinar, na verdade eu quero deixar claro que não estou ignorando ou desdizendo as opiniões que já publiquei aqui nesses últimos anos. Todas minhas reservas para com as redes sociais continuam valendo, todo o meu apreço pelo anonimato e meu repúdio contra a tara pela conformidade e a hipocrisia da maioria dos seus usuários também. Mas… e se entrássemos nas redes sociais sob os nossos próprios termos?

Quando começamos um blog, blogs ainda eram populares (por que vocês acham que o Deleta Eu! morreu?). Quando as pessoas descobriram que sua necessidade de aprovação era alimentada com muito menos esforço nas redes sociais, sobramos nós e quem estava ganhando dinheiro com isso na “blogosfera”. Quando percebemos esse fato, renunciamos o conceito de blog e viramos Nação. O histórico do desfavor já conta com uma subversão desse tipo, aliás, o histórico do desfavor também tem redes sociais.

A primeira que pegou aqui em terras tupiniquins. Ainda acho que o Orkut tinha um pouco mais de graça que o Facebook pelo foco em comunidades (o que o mantém vivo até hoje, por sinal), mas ainda sim estava apinhado de brasileiros médios fazendo o mesmo papel ridículo. Pessoas interessantes eram a agulha no palheiro… E mesmo assim, acabamos unindo um belo grupo de agulhas e deixando várias pessoas espetadas no caminho. Algum tempo depois, nasceu o desfavor.

Confesso que hoje em dia não teria a mesma paciência ou disposição para recomeçar essa procura num Facebook da vida, mas temos aqui uma excelente oportunidade de começar uma nova “caça de agulhas” já com uma comunidade bem formada e alcance bem maior do que um novo projeto solo. E melhor, com um “solo seguro” para organização e planejamento. Sabemos que são os nossos e sabemos onde nos reagrupar caso surja a necessidade.

Não quero que entremos numa rede social para “fazer social”, muito pelo contrário. Seria o primeiro a torcer o nariz para quem usasse perfil real e ignorasse tudo o que acreditamos sobre auto-preservação virtual. Sally e eu já fizemos comunidades do Orkut com centenas de milhares de pessoas entrarem em guerra civil e terminarem sua existência em chamas e escombros com ataques bem planejados e executados. Quando tinha suporte de mais pessoas de nosso grupo “afiado”, era ainda mais explosivo. Por isso começo a enxergar com mais carinho o potencial destrutivo de mais de nós invadindo a praia dos brasileiros médios em conjunto.

Não só expor gente hipócrita e ignorante, mas dessa vez teríamos até mesmo a capacidade de sacanear a grande mídia, cada vez mais preguiçosa e dependente das redes sociais para produzir seu conteúdo. Eu sempre preferi o método mais malcriado de trollagem, sem se levar muito a sério no processo, e acredito que peneiramos suficiente o público aqui para não termos mais tipinhos “justiceiros” entre nossos ranques. Não precisa mudar o mundo, se fizer uma cabeça pensar mais do que o habitual já é um ganho. E se der para causar confusão no processo, melhor ainda!

Seria uma entrada planejada, com foco em anonimato e resultados muito mais do que exposição. É claro que teríamos um bem vindo efeito colateral de achar mais impopulares que prestam no caminho, é valioso sim, mas não precisa se concentrar nisso. Repetindo: Não seria para fazer social ou nos posicionar como salvadores da pátria. Eu até acho engraçado passar uma imagem de clube/culto exclusivo, mas sempre há o risco da piada começar a ser levada a sério.

E não custa reforçar que vai ser nos nossos termos. Anonimato, elitista e popularesco ao mesmo tempo. Sem se levar muito a sério mesmo falando dos assuntos mais sérios, sem frescura de versar uma opinião, sem aquela sensação incômoda de ser a única voz dissidente num grupo de completos imbecis. Podemos satirizar o que é popular, podemos satirizar o que não é… sem aquela obrigação social de fazer sucesso e pose para os outros. Agindo em conjunto, pessoas que podem dispor horas por dia e pessoa que podem dispor de minutos por semana, todas seguras no apoio impopular e livres para discordar.

Ah sim, com suporte jurídico e tecnológico. Não só meu e da Sally como de vários outros impopulares sabidamente proficientes na área. O tipo de organização que podemos criar aqui é muito maior do que tínhamos anos atrás quando circulávamos pela ex-popular rede social azul calcinha, e mesmo lá já conseguíamos conquistar os resultados desejados. Sem contar que é sempre um alento causar confusão no meio de sites tão comerciais como as redes sociais modernas, onde as pessoas vão para ser bombardeadas com anúncios! Vamos vender o nosso peixe e fazer muita gente sentir o cheiro.

E seria ignorar o óbvio dizer que a Sally não acabaria conquistando muitos fãs e detratores no caminho. Potencial para aumentar nosso alcance (não vale a pena se vender por isso, mas mantendo a integridade é sim algo positivo) e potencial para pancadarias épicas. Sim, eu me acho a última bolacha do pacote, mas não seria exatamente o meu estilo de escrita introspectivo e distante que arrebataria multidões. Não teria graça sem a participação ativa dela, e por motivos ainda nebulosos para mim, ela parece levar em consideração opiniões alheias (vai entender…). Cuidado com a tentação de ir contra o meu lado dessa vez, pode muito bem ser a vez onde isso vai estragar a diversão de todo mundo.

E quem disse que as redes sociais são só deles? Nós vamos usar direito.

Para dizer que eu estou traindo o movimento (*pegando a machadinha*), para falar que eu vou acabar postando uma frase por ano no meu ritmo, ou mesmo para perguntar quanto estão me pagando para dizer isso: somir@desfavor.com

SALLY

Desfavor deve entrar em redes sociais? Não. Nada mudou por lá para justificar uma mudança de postura nossa.

Você vai a uma praia linda, maravilhosa, paradisíaca mas lotada de gente mal educada, fedida e desagradável? Suponho que não. Eu sei muito bem que rede social é uma ferramenta poderosa e muito bacana quando bem utilizada, que poderia até me ajudar a ter alguma projeção (principalmente agora que larguei de vez o direito) e me abrir portas para que, quem sabe, Desfavor ou até mesmo eu sozinha tenhamos um alcance maior. Mas vale a pena passar por todo o calvário de merda para isso? Na minha opinião não. Até porque, quem pensa diferente da maioria formadora de opinião não tem portas abertas e sim fechadas quando expõe suas ideias em público.

Milhões de Brasileiro Médios que “acham” sem qualquer conhecimento no assunto com suas certezas radicais e agressivas, aquelas “donas” das redes sociais que se acham e são tratadas como donas da verdade e formadoras de opinião, trocentos ativistas malucos que te controlam e te atacam se você não adere à causa deles, uma infinidade de gente se dedicando a priorizar assuntos desimportantes como erro de continuidade em novela, religiosos neuróticos tentando te converter, conhecidos querendo controlar sua vida, gente carente querendo flertar com qualquer coisa que se mova, gente com uma vida medíocre tentando ostentar uma felicidade falsa, rebeldes contra tudo e contra todos, militantes que te chamam de reacionário ou de petralha dependendo do que você diga… enfim, tudo isso já me basta na vida real. Vontade zero de entrar em um lugar onde vou estar exposta a esse tipo de gente. Por mais que eu tenha muita vontade de conversar com vocês por um canal mais direto, é demais para mim.

Desfavor em redes sociais serviria apenas para canalizar a angústia de toda essa gentalha. Seria um “inimigo em comum” e todos se dedicariam a meter o cacete o dia inteiro. Eu não quero ser válvula de escape de gente mentalmente transtornada, incapaz de ler algo que discorda, rir, desprezar e ir tomar um sorvete. Vocês sabem como funciona: se a pessoa discorda de você, ela se ofende, ela te acha burra, ela leva para o pessoal e ela vai perder seu tempo gastando linhas para te xingar. Sério mesmo, meu ouvido não é penico e nós nunca tivemos a intenção de “fazer polêmica”. Sempre nos escondemos e até mesmo usamos mecanismos para que o Google não nos rankeiecomo prioridade, justamente para não sermos encontrados. Porque merdas agora eu vou me enfiar dentro de um hospício com um alvo pintado na testa?

Vai ter quem diga que a gente escreve bem, que o Desfavor é algo inovador, que talvez se tivermos projeção alguma porta se abra. Pausa para rir. Sério que alguém aqui acha que alguma porta vai se abrir para alguém que fala tudo que já falamos? Só se for a porta da cadeia, do hospício ou do cemitério. O que rege a popularidade no mundo do entretenimento hoje não é mais a criatividade, a inovação ou qualquer outro critério: é o mercado. Só se faz mais do mesmo, daquilo que já é aceito no mercado. Nem fodendo que a gente vai se adaptar a aquilo que o mercado pede (humor de bordão, jornalismo chapa branca, postura politicamente correta, etc). Então… pra que? Para virar saco de pancada, só se for. Não, obrigada. Não tenho a menor vontade de me destacar nesse papel.

A intenção do Desfavor sempre foi ser um mundinho nosso, onde a gente teria liberdade para falar qualquer coisa, protegidos de processo, da patrulha do politicamente correto, da patrulha dos intelectualóides, da patrulha do posicionamento político, enfim, de tudo. Não vejo como reproduzir isso em uma rede social. Se alguém souber como fazer, posso até considerar, mas como as coisas são hoje, não acredito que nos reste outro papel além de saco de pancada, classificados como “são do contra porque querem aparecer”. Bitch, please! Cinco anos quietinha, sem fazer uma divulgação do Desfavor, sem mostrar a cara, sem colocar uma porra de publicidade ou anúncio no blog para depois ser acusada de estar querendo aparecer? Não dá não. Eu namorei anos com o Somir, meu coração já está desgastado, não aguenta mais muitas emoções.

Não vejo benefício em ter rede social. Facebook nada mais é do que uma cruza de blog com revista Caras de si mesmo, onde além de escrever a pessoa evade sua privacidade e ainda bisbilhota a vida alheia. Para escrever coisa no Facebook, eu escrevo aqui, porra! Foto eu não vou botar em lugar nenhum, então, não faz sentido para mim. Twitter até acho mais interessante, mas você fica exposto a uma multidão raivosa desagradável que de antemão eu já sei que vai reagir mal às nossas opiniões e não vai respeitar nem fodendo. Pior do que não respeitar, não vai nos ignorar, que é o que pessoas inteligentes fazem com pessoas que acham desprezíveis. Então, porque vou me colocar em uma posição dessas? Você iria a uma festa com milhões de pessoas que não gostam de você só porque algumas centenas que gostam de você estarão lá? Francamente, prefiro convidar quem gosta de mim para vir na minha casa, que é aqui.

Nós não vamos mudar a cabeça dessa massa que está em rede social. Vamos ser trucidados por ela. Não que a gente tenha medo ou se importe com críticas (caso contrário já teríamos nos suicidado), mas qual é o ponto de entrar em um lugar onde você vai ser metralhado sem diálogo? Se houvesse troca, se houvesse conversa, até poderia nos acrescentar algo, as vocês sabem quais são os argumentos de rede social: “Você fala isso porque tem inveja!” ou “você gostaria que fizessem isso com a sua mãe?” ou “você fala isso porque é uma mal comida” e etc. PRA QUE, GENTE? PRA QUE ENTRAR EM UM LUGAR ASSIM?

Talvez me falte criatividade, talvez eu desconheça justamente por não fazer uso, talvez exista uma forma de entrar em uma rede social e ter uma comunicação mais dinâmica com nossos leitores sem pagar esse preço,mas, até onde eu vejo, não tem como. É entrar para ser esmagado por uma multidão ignorante e raivosa. Se eu precisasse disso para meu trabalho, teria que enfrentar ou então me adaptar para ser mais palatável, mas não é o caso. Rede social aqui é opção. Não se enganem, o contato mais próximo com o leitor seria um ganho enorme para mim (muito mais do que para o Somir), mas não estou disposta a correr por aí com um alvo pregado nas costas nem a atrair tanta atenção para mim e para o Desfavor em grande escala. Eu gosto do Desfavor discreto, com “poucos” leitores, VIP, desconhecido.

Adoro experiências sociais, adoraria poder fazer experiências sociais rotineiras junto com vocês em uma Rede Social, mas não consigo equacionar como fazê-lo sem ter que pagar um preço alto de trocentas pessoas raivosas e intolerantes metralhando e soterrando a gente.

Para dar uma sugestão brilhante e trollar toda uma rede social, para confirmar que não vale a pena ou ainda para sugerir que eu coloque foto e nome do Alicate e saia dizendo tudo que penso: sally@desfavor.com


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