O amor pode vencer todas as barreiras? Quando o assunto é diferenças financeiras entre um casal, Somir e Sally acham que a opinião um do outro não vale nada.
Todo mundo já viu alguma história de príncipe encantado que vem para fazer uma pobre garota feliz para sempre. É o tipo da fábula que povoa a mente das mais diversas pessoas pelo mundo afora.
Mas… você lembra de alguma história onde a princesa encantada vem buscar um pobre rapaz para fazê-lo feliz para sempre?
Se você prestar atenção, quase sempre a personagem rica que ignora todas as dificuldades para ficar junto com a personagem pobre é HOMEM. Essas histórias são ficção, claro, mas mesmo assim, são histórias feitas para agradar o público. Se existia a história do Cinderelo, deve ter sido esquecida com o tempo…
Por que só as histórias onde o homem é magnânimo em relação à situação financeira da mulher que ficam famosas?
Simples: Porque só esse tipo de história consegue apelar para as fantasias de ambos os gêneros. Homens gostam de se sentir feito heróis e mulheres gostam de homens ricos e poderosos. Receita de sucesso.
É fácil perceber como as mulheres valorizam demais a condição financeira do homem com o qual querem ter alguma coisa:
“Fulano é pobre, mas é esforçado e me trata muito bem.”
Ênfase no “mas”. Pobreza precisa ser compensada para uma mulher. Você, leitora, pode até não ter coragem de assumir nos comentários, mas com certeza SEMPRE deve ter usado esse “mas” depois de dizer que um homem é pobre para elogiá-lo. Preconceito é uma coisa muito poderosa, aparece no que falamos e pensamos de forma muito sutil quando é sufocado pelo “politicamente correto”.
Não adianta se enganar: Mulheres consideram a pobreza de um homem um defeito. O que se pode fazer? É algo natural, faz parte do instinto da fêmea procurar um provedor, até mesmo se ela puder se manter sozinha.
A mulher que se apaixona por um homem pobre fica o tempo todo lutando contra sua natureza e achando diversas formas de valorizá-lo em outros campos. Ela se sente mal por ter esse preconceito social GRAVADO no seu DNA e faz o possível para enxergar naquele pobre pretendente o seu príncipe encantado.
“Ele ainda não é rico, mas tem tudo para ser…”
Se você ainda não percebeu por que mulher trata a pobreza de um homem como um defeito DELE, preste atenção em algumas outras manifestações comuns de situações parecidas, como o famoso caso do “quem ama o feio bonito lhe parece”… Quando uma mulher se apaixona por um homem feio, com o tempo ele vai ficando mais bonito, mesmo que só na visão dela.
São defeitos relativos. Beleza depende dos olhos de quem vê, inteligência depende do referencial de quem convive, personalidade depende da adaptação da própria personalidade em comparação.
Mas pobreza… (Que, reafirmo, só é defeito para mulheres.)
Pobreza não é tão relativa assim. Claro que a própria situação financeira influi no referencial sobre quem é rico e quem é pobre, mas não existe o caso de uma mulher se apaixonar por um pobre e começá-lo a achar rico com o tempo.
“Eu comecei a ver a beleza dele com o tempo.”
“Se você prestar atenção, ele entende de muita coisa.”
“Eu sei que ele parece frio, mas a convivência mostrou algo diferente”.
Todas frases comuns, certo? Mas, você nunca ouviu algo assim:
“Tudo bem que ele é pobre, mas com o tempo eu encontrei uma Ferrari na garagem do barraco dele.”
A mulher sempre vai se ressentir da falta de condições financeiras de seu homem. Nunca vai ser uma aceitação completa da PESSOA com quem ela convive. Uma coisa é dizer que pode viver sem queijos e vinhos, outra é viver sem almoço e jantar. Não é da natureza feminina prover para um homem, invariavelmente ela vai ficar frustrada se ele não tomar as rédeas na hora que ela estiver necessitada. E por mais que não seja culpa de nenhuma das partes afeta e muito o amor dessa mulher. O príncipe encantado não apareceu… E agora?
Ah, eu esqueci de falar sobre como os homens pensam:
“Se ela é gostosa, tá ótimo.”
Concluindo: O amor na riqueza é possível para todos. O amor na pobreza é possível para um homem se a mulher for gostosa.
E se você, leitora, já usou um “mas” depois de dizer que um homem era pobre, você já concordou comigo. Simples assim. Claro que todas vão concordar com o que quer que a Sally escrever. Aparentemente as mulheres se sentem muito culpadas por essa característica…
Xingamentos, ofensas e admissões de culpa: somir@desfavor.com
Alguém quer um Plasil? Porque depois de ler o que a Madame aqui de cima escreveu, muita gente deve estar com náuseas. Agora que vocês sabem como é a mente distorcida desta pessoa, podem entender melhor porque não estamos mais juntos. Basta ligar os pontos.
Amor sobrevive à pobreza? Claro. Conheço pessoas pobres casadas por muitos anos mais felizes do que eu na vida afetiva. Aliás, acho que no geral, gente pobre é mesmo mais feliz, são mais simples, menos problemáticos (por falta de capacidade de problematizar, não por mérito) e mais conformados.
Amor de uma pessoa acostumada a boa vida sobrevive à pobreza? Pode ser que sim, pode ser que não. Eu acredito ser POSSÍVEL que sobreviva. Até porque, pobreza não é uma doença terminal, não é uma condição irreversível. Um homem pobre e ambicioso me parece melhor partido que um rico acomodado. Procure-os de volta em dez anos e veja como está cada um.
E não falo por romantismo ou da boca para fora não. Já tive namorados que não tinham nem dinheiro para me levar no cinema. Mas eram batalhadores, esforçados. Uma coisa é um namorado playboy que não te leva no cinema porque porrou o Audi que o Papai deu para ele em um poste e está tendo que pagar o prejuízo, outra muito diferente é o cara que foi morar sozinho com 18 anos e se sustenta desde então, trabalhando 12 horas por dia todos os dias e mal paga as suas contas. O meu era o segundo.
Não sei quanto a vocês, mas eu, quando gosto da pessoa, quero ESTAR COM A PESSOA. O lugar me é indiferente. Pode ser em um restaurante caro ou na casa dele vendo um DVD. Claro que é muito melhor estar em um restaurante caro, mas se isso não foi possível, com certeza não será determinante para o fim do relacionamento. Eu não sou cachorro para ter necessidade de passear e muito menos fico fazendo homem de “amiga” e levando comigo a tira colo para fazer tudo que eu quero. Se eu estiver bem financeiramente e acordar com vontade de comer lagosta, chamarei uma amiga abastada para me acompanhar. Meu homem eu quero para uma coisa só: ser meu homem.
Cada vez que a Madame aqui de cima solta essas pérolas, eu fico me perguntando o que as pessoas vão achar de mim. “Você se importa muito com o que as pessoas pensam, Sally” era o mantra que ele sempre repetia. Pois é. Me importo mesmo. Quem o escuta falar deve pensar que eu sou uma interesseira, mercenária e que fica cobrando presentes caros. Devo parecer uma pessoa muito difícil de agradar e não a babaca que comia macarrão com salsicha, via filme baixado no bit torrente e ia dormir achando que teve o melhor final de semana da vida.
“Mas Sally, geralmente mulher não fica com cara pobre”. Será? Mesmo que seja verdade, não são todas. Não mesmo. Mulher quando gosta é muito mais generosa do que homem. Mulher fica com cara feio e acha ele lindo. Fica com cara pobre e acha várias qualidades nele. O complexo está na cabeça de vocês, homens, que se realizam pelo dinheiro e pelo poder e ficam achando que a cabeça feminina é assim também. Quem aqui não conhece um pobre com uma excelente oratória que pega mulher de montão?
A longo prazo, a pobreza atrapalha qualquer coisa, não só o amor. Atrapalha sua saúde, porque você não come bem, não dorme bem, não vai a bons médicos, por exemplo. Pobreza é uma merda, não nego. Mas daí a dizer que não pode haver amor na pobreza…
Observem bem e vocês vão reparar que geralmente o homem que sobe na vida tem sempre uma mulher bacana e companheira do lado (e depois que ele sobe, costuma dar um pé na bunda desta e trocá-la por outra mais nova e mais bonita). Então, não só o amor sobrevive à pobreza, como ainda é um estímulo para sair dela. Sim, muitas vezes o Zé Ruela não faz por ele mesmo e sim por amor à sua esposa, por querer dar uma vida confortável para ela. É uma forma (tosca) comum dos homens demonstrarem afeto: se matar de trabalhar para poder dar o melhor para suas esposas.
O amor não sobrevive é a gente acomodada. E gente acomodada tem um sentido amplo. Acomodada em qualquer aspecto. Só um acomodado fica com outro acomodado, porque só um acomodado suporta essa inércia contemplativa de ver a vida passar sem fazer nada para melhorar.
As histórias de amor mais honestas que já vi e que já vivi não foram em ambientes de luxo. Até porque, tem gente que realmente não liga para isso. A Madame aí de cima acha que seu jeito de pensar é parâmetro mundial, mas não é. Tem gente que não precisa de muitos bens para ser feliz. Se a felicidade sobrevive à pobreza, quem dirá o amor.
Mulher quando gosta é uma desgraça. Quase nada nos impede de pular de cabeça. Nosso lado racional entra em coma. E se o problema for começar a gostar de um pobre, já adianto que é o que mais se vê: menina rica apaixonada por menino pobre. Nunca impediu ninguém de se apaixonar. Acontece desde que o mundo é mundo. E em alguns casos, dura.
Nem vou usar meu limite de páginas, essa é uma discussão que já nasceu morta. Mesmo a mais esnobe das mulheres (que divulga aos quatro cantos que homem para sair com ela tem que buscá-la de Audi na porta da sua casa) sabe que não está livre de um dia se apaixonar por um pobretão pedestre. Já virou livro, já virou novela, já virou filme (por exemplo, “Um salto para a felicidade”, em inglês “Overboard”). Se fosse tão impossível, não existiria com tanta freqüência no mundo da ficção.
Não se chuta cachorro morto. Vou parar por aqui, porque mesmo antes de começar a escrever, a Madame aí de cima estava mortinho. Só quero que ele me responda se falta de dinheiro já nos impediu de ser feliz nos momentos em que estivemos juntos.
E digo mais: o melhor presente que já recebi de um homem em toda a minha vida, o que mais me fez feliz, custou só um real.
Para convites para comer um cachorro quente na esquina, ir no cinema a pé e dividir um jantar: sally@desfavor.com