
Terceira mão.
| Somir | Anula Eu! | 12 comentários em Terceira mão.
A Câmara já aprovou, falta o Senado. O projeto de lei que muda as regras da terceirização gera polêmica, mas vai seguindo em frente. Explicando de forma simples (e simplista): agora uma empresa vai poder contratar outra para fazer seu trabalho. Pessoalmente, não sou tão contra assim, mas algo aqui me deixa irritado… o que diabos esse país quer da vida?
Em primeiro lugar, existem formas dignas de se fazer esse tipo de terceirização de atividade-fim. Os sindicatos berrando contra o projeto de lei tem sim razão em prever muita sacanagem sendo feita para cima dos trabalhadores, mas numa sociedade capitalista onde o objetivo-fim de toda empresa é o lucro, presume-se que os trabalhadores tirem o palitinho menor. Lucro não costuma andar de mãos dadas com distribuição de renda.
Pensamos de forma prática: a empresa X planeja uma expansão para um mercado adjacente, com um plano de um ano para ver se vai ou racha. Para tal, ela precisa aumentar sua mão-de-obra consideravelmente, mas contratar no Brasil é complicado. Tudo bem que existe a possibilidade de contratação temporária, mas ela é pensada para surtos de consumo como os feriados de final de ano. É coisa para poucos meses, se tanto. Se a estratégia considera um ano de reforço na produção, tem que estar preparada para contratar toda essa gente como manda o figurino. E torcer, torcer muito para o plano dar certo. Os direitos trabalhistas brasileiros colocam barreiras de entrada e saída no influxo de novos funcionários.
Com a possibilidade de terceirizar a sua produção, a empresa ganha a possibilidade de arriscar seu plano de crescimento sem o fantasma de uma turba enfurecida nos seus portões a assombrando. E também a agilidade de escalar sua capacidade de produção de acordo com a necessidade. O funcionário é problema da empresa terceirizada, ela que se vire para realocá-lo! Além disso, não podemos esquecer que se a terceirizada treinar seus funcionários, a empresa contratante pode dispor quase que automaticamente de uma força de trabalho capaz de fazer não só seus serviços de costume quanto fazer modificações deles e oferecer um leque maior de possibilidades para seus clientes.
Está fazendo um projeto que exige programadores da linguagem A? Acabou esse e surgiu um que exige os da B? É só ‘rodar’ os funcionários. A empresa pode se especializar em arquitetar os projetos (ficando boa nisso) e se preocupar apenas em chamar as peças corretas para sua linha de produção. Essa liberação da terceirização abre grandes oportunidades de negócio e até mesmo da melhoria dos péssimos serviços e produtos disponíveis no mercado tupiniquim.
E para o trabalhador, talvez a oportunidade de não depender mais da saúde financeira de uma empresinha qualquer. Ele vai estar atrelado a uma empresa que pode mandá-lo para diversos lugares onde seu trabalho é necessário. Mas eu não sou tonto: eu sei que no fim das contas os trabalhadores vão perder direitos e receber menos. Não se pode ignorar que estamos colocando uma ‘parasita’ na relação entre fornecedor e comprador. Esse parasita precisa de alimento e pouca gente vai tolerar aumento de preços… a corda vai estourar nos salários e benefícios.
É muito difícil equilibrar a felicidade de empresários e funcionários nesse mundo. Nem mesmo os países com os melhores índices de desenvolvimento humano estão livres dessa queda de braço. O que acontece é escolherem um modelo e seguirem em frente. Algum dos dois vai ter que ser jogado na selva!
Porque é uma questão de seleção natural: se você enforca as empresas dando muitos direitos aos trabalhadores, só as melhores delas sobrevivem. Fica caro demais assumir riscos e procurar mercados novos. Só quem já está bem estabelecido consegue ir para a frente. No sentido contrário, se você enforca os trabalhadores dando muitas vantagens para as empresas, os trabalhadores tem que começar a fazer cada vez mais por cada vez menos para terem um emprego. É fácil contratar e demitir, e as empresas assumem riscos cada vez maiores.
Pouco se diz sobre o que realmente acontece nos países com o “bem-estar social” devidamente aplicado: quem trabalha tem a vida mais digna, mas quem empreende está sempre lutando morro acima. Os espaços são mais concorridos, é raro ver empresas crescendo meteoricamente… existem regras e mais regras, contratar alguém é um compromisso sério, como todo mundo tem mais dinheiro é mais difícil comprar espaços, contratar talentos e peitar empresas já bem estabelecidas. Em países onde o capitalismo come solto, é fácil empreender. Uma boa ideia e um pouco de sorte podem te deixar rico rapidamente. Seus direitos como trabalhador são irrisórios e é cada um por si.
Pessoalmente, eu até prefiro engessar ainda mais a livre iniciativa empresarial no Brasil se isso significar mais qualidade de vida para a população. Concordo com a tese (em tese) do Lulismo sobre a instauração de um estado de bem-estar social no Brasil como prioridade número um. Se vamos fazer isso, eu engulo alguns sapos. Distribuição de renda e foco em direitos universais não te deixa mais perto de comprar aquela Ferrari, mas depois de algum tempo ajuda a não roubarem seu Uno. Conceitos diferentes de felicidade…
Agora, se o plano se resume a fazer Bolsa-Família e passar na sequência uma medida capitalista selvagem dessas… que plano é esse? Tudo bem que o PT votou totalmente contra, mas o resto da base do governo deu de ombros. A maioria dos picaretas do Legislativo são donos de empresas (oficial ou extra-oficialmente) e estão achando o máximo ganhar uma escapatória das restritivas leis trabalhistas brasileiras.
Sou a favor do projeto da terceirização se não tiver plano nenhum. Bem-estar social é difícil de fazer na prática, e se não vai fazer direito, que pelo menos sejamos capitalistas mais eficientes. Os dois lados tem suas vantagens, muito embora o Brasil tenha mais cara de quem precisa focar no lado social. Dá para ser uma coisa ou para ser outra, mas as duas? O país que distribui renda (mesmo que de um jeito cagado) não pode ser o país que dá um passa-moleque nos seus trabalhadores com um projeto de lei desses.
Estamos chegando num ponto escroto de desgoverno onde cada medida é desfeita pela próxima. Ficamos com o pior dos dois mundos: o PT sangrando os cofres com seus planos mirabolantes (nem estou contando a corrupção) e seus próprios aliados lançando mão de projetos para deixar os cidadãos desprotegidos! Cacete! Se vai seguir por esse caminho, que pelo menos economize algum dinheiro público e faça uma média com os investidores internacionais!
Não existe isso de misturar as duas coisas e chegar a algum resultado positivo. O que caralhos esse povo de Brasília está fazendo? Quando chegamos nesse grau de confusão, pode colocar quem quiser no Palácio do Planalto que o país vai continuar não fazendo sentido. O problema está ficando cada vez maior que o PT, situação e oposição estão se misturando numa gororoba ideológica difícil de engolir. Se o Senado aprovar e a Dilma sancionar, o pouco de lógica que ainda existia vai se esvair numa pancada só.
Podem me xingar, mas uma coisa eu digo: pelo menos quando era o FHC ou o Lula lá, eu entendia o que estava acontecendo. E talvez um pouco no primeiro mandato da Dilma. Mesmo que não concordasse, parecia-se com um plano. Agora não se parece com mais nada.
Uma medida pra incentivar as pessoas a pararem de trabalhar, pra passar a viver do Bolsa Família. Não tem a mínima lógica, mas é o único efeito de tentar juntar as duas coisas…
Castração gradual dos direitos trabalhistas.
Eu não sei até que ponto estou neurótica, mas já cheguei a pensar que a aprovação desse PL na Câmara tratava-se de uma medida de desviar a atenção para o escândalo da Petrobras.
Concordo que é preciso regularizar de uma melhor forma a terceirização, mas temo quando se fala em terceirizar a atividade fim. Esse projeto soa como um estupro aos trabalhadores.
Os trabalhadores tinham um partido chamado PT, até que esse partido se corrompeu, então todos que trabalham agora não tem mais quem os defenda. Agora sim, a exploração do trabalho vai ser permitida por lei!
Eu só não consegui perceber quando foi que a Dilma morreu e colocaram um fantoche no lugar. PMDB ta mandando em tudo.
Sim, tudo BEM ALÉM do artigo 79…
Dilma sempre foi um fantoche.
Em meio a vantagens e desvantagens. Melhor ficar do jeito que está.
Essa bagunça é resultado direto de supervalorizar o cargo de presidente e cagar pros demais.
Facinho meter o pau na Dilma e nem se lembrar pra que deputado e senador votou. Agora temos Eduardo Cunha agindo como um primeiro ministro soberano, adulado pela maioria dos calhordas conservadores e montados em interesses escusos.
Essa é a especialidade do brasileiro: meter o malho no Executivo, mas onde a “mágica” acontece, o brasileiro não dá a mínima. A festa no Congresso come solta enquanto pedimos a cabeça da presidanta. Não que devamos parar de pedir a cabeça dela, mas devemos começar a pedir a dela mais umas 513 junto. O escaralhamento desse país é 1/3 Dilmanta, e 2/3 Congresso, com Cunhas e Bolsonaros da vida correndo soltos, fazendo as barbaridades que bem entendem. Povo que não fiscaliza o Legislativo toma no rabo, não sabe de onde vem a trolha, e fica surpreso pelo fato de a conta nunca fechar! Viva essa bosta de país
Por falar em trolhas, mais essa e aquela que acabei de saber – eles sim têm quem os defenda, MESMO ! o.O
* (1) : http://m.estadao.com.br/noticias/politica,ex-presidente-do-stf-defendera-registro-da-rede-no-tse-de-graca,1675044,0.htm
* (2) : http://m.estadao.com.br/noticias/politica,ministerio-publico-da-parecer-favoravel-ao-inicio-de-processo-de-criacao-do-pl,1675022,0.htm