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Ele disse, ela disse: Um porre.

| Desfavor | | 20 comentários em Ele disse, ela disse: Um porre.

?tawSejam quais forem os motivos, muitas pessoas resolvem sair de casa num determinado dia e encherem a cara até não poder mais. Mas a posição argumentada hoje não é a do bêbado, e sim do parceiro. (Fique à vontade para fazer as devidas alterações de gênero para deixar a frase menos ou mais gay.)

A partir de seus pontos-de-vista, Sally e Somir discutem (ofendem) sobre a compatibilidade entre o comportamento de quem toma o porre e uma relação minimamente saudável. Ou, em termos não tão enrolados…

Tema de hoje: É aceitável que seu parceiro saia sem você e tome um porre?

SOMIR

Vejam bem… eu acho aceitável que um homem saia sem sua namorada e tome um porre. Mas acho MUITO menos aceitável que uma mulher inverta esse jogo. Se o seu “machistômetro” está apitando, não se preocupe… piora.

Em primeiro lugar, ao tema propriamente dito: A não ser que você tenha uns quinze anos de idade, não deve achar um porre motivo de orgulho. Eu não nego que sair e beber até seu fígado se rebelar seja uma babaquice, mas não é como se a vida não tivesse sua dose habitual de babaquices… Existem vários crimes bem piores do que dançar a Macarena de cueca em cima da mesa do bar. Dificilmente vai te tornar mais atraente ou interessante para as pessoas ao seu redor, mas na média, o mundo não acaba.

Porres passam. Os apelidos podem até durar, mas a bebedeira cede lugar a uma monumental ressaca no dia seguinte, e numa situação normal, não vai levar a pessoa a se tornar uma alcoólatra incorrigível. É a mesma coisa que ir numa churrascada e quase se matar de comer: Se a pessoa não tem tendências ou problemas relacionados, é uma situação passageira.

Eu diria que não é agradável a idéia de sua companhia estar perdida por algum bar da vida, mais alta que o Everest, passando vergonha e se preparando para passar o dia seguinte todo imitando um zumbi. Mas convenhamos que no caso (comum) de ser uma atitude isolada, passa por um exagero estúpido, daqueles tão comuns na vida. Imaginar que uma relação torne-se insustentável por causa de algo banal assim é forçar demais a barra.

Algumas pessoas (como a Sally) não bebem, e mais ou menos naquela idéia dos chatíssimos ativistas anti-tabaco, taxam qualquer atitude diferente da sua como um problema seriíssimo causado por problemas mentais incorrigíveis. Foi mal, mas de fanatismo eu não sou muito fã. (Essa foi péssima…) Boa parte da população mundial consome álcool, boa parte da população mundial não passa sua vida completamente bêbada. Sem exageros.

Mas, apesar dessa leniência com o EVENTUAL (raro) porre numa relação, devo confessar que quando trago o assunto para o meu “universo umbigo”, tenho algumas restrições, e sim, são machistas.

No meu caso, eu teria de lidar com uma mulher enchendo os cornos longe de mim. E isso não me agrada (muito embora eu já tenha argumentado que não precisa achar agradável para considerar compreensível) nem um pouco.

Puxando pela memória, eu já havia mencionado em textos anteriores uma diferença essencial entre os programas “masculinos” e “femininos”. E como apesar de raramente agradável, eu sou extremamente consistente, mantenho essa idéia aqui. Homens saem para fazer centenas de coisas diferentes, mulheres saem para ser vistas por homens.

E isso está tão arraigado na mente feminina que elas se colocam em situações extremamente desagradáveis para um eventual parceiro mesmo que acreditem que estão só se divertido com as amigas. Mulheres solteiras e comprometidas tem EXATAMENTE os mesmos hábitos quando estão “soltas” com as amigas. Continuam se preparando e mantendo uma pose de atratividade em qualquer programa público. Vão se vestir como se vestiam quando estavam solteira, vão flertar (mesmo que inconscientemente) como flertavam antigamente, vão dançar como sempre dançaram.

Mulher não dá aquelas “folgadas” que homem costuma dar.
Neguinho depois que começa a namorar começa a relaxar. É MENTIRA?

Vê se alguma mulher sai de casa para jogar truco com as amigas… De cada 10 grupos femininos na rua, 11 vão para uma boate dançar. E por dançar eu quero dizer compilar o seu “valor de mercado” com a atenção que chamam dos homens dali. É MENTIRA?

Embora eu não ache esse comportamento tão horrível assim (mulheres serão mulheres) nos mais comuns casos de diversão inocente, tenho uma desconfiança muito grande do que acontece quando grandes quantidades de álcool entram nessa equação. Beber demais mexe com a capacidade de julgamento de uma pessoa. Mulheres ficam bem mais fáceis depois que bebem… É MENTIRA?

Opa! Aparentemente eu estou minando minha própria argumentação. Mas não sejamos tão apressados: A diferença entre estar “facinhO” e “facinhA” é que cria essa minha restrição por gênero no porre.

Homem terrivelmente bêbado (e já meio relaxado por estar namorando) vai atrair QUEM? Mulher passa a vida toda sabendo que basta um sorriso para que um marmanjo venha pra cima, não vai ver vantagem nenhuma em atacar um bêbado “vulnerável”. Até as barangas conseguem coisa melhor.

Agora, vamos inverter o jogo. Uma mulher terrivelmente bêbada, toda produzida para a noite, naturalmente viciada em atenção… Homens com um mínimo de auto-respeito não vão se meter com uma trêbada, mas é aqui que eu digo que não estou sendo puramente machista: Homem é uma raça ruim, sem limites. VAI aparecer um desgraçado tentando traçar o pudim de pinga, e se as amigas dela não agirem rápido (e convenhamos que SEMPRE vai ter a amiga mal-comida que odeia o agora futuro corno) é capaz da mulher trair sem nem se tocar do que fez.

Homem podre de bêbado é nojento. Mulher podre de bêbada é alvo. Por isso a qualificação do problema percebido.

Mas eu estou sendo pessimista. Numa situação normal, o porre não é uma coisa bonita, mas se for o único “crime”, está bom demais…

Para dizer que ainda se impressiona com a minha babaquice, para me chamar de alcoólatra nojento assim como Sally fez quando eu comi um bombom de licor, ou mesmo para dizer que vai reler o texto quando eu estiver sóbrio: somir@desfavor.com

SALLY

É aceitável que seu parceiro saia sem você e tome um porre? Quase todo mundo vai pensar que sim, mas eu acho que NÃO. E minha opinião vai muito além do moralismo de não beber.

Vamos começar lembrando que não estamos falando de beber e ficar alegre, estamos falando de UM PORRE. Um porre mesmo. Daqueles que você nem lembra como chegou em casa, daqueles que você passa vergonha e perde a dignidade. Porque todo mundo perde a dignidade quando toma um porre daqueles.

Para começo de conversa, eu acho que um porre é algo condenável e indigno que não deve ser feito nem com nem sem o parceiro. É uma muleta social que me passa uma sensação de fraqueza e covardia que me faz perder a atração pela pessoa na hora. Um porre já é ruim, pior ainda se for sem o parceiro por perto. Qual é o grau de confiança que alguém que não sabe nem como chegou em casa te passa? Rola todo um nojinho de pensar no que pode ter acontecido nesse período de blackout. E não falo apenas em traição.

Pense em uma mulher toda arrumada, saindo para uma festa e terminando a festa, sem estar com o namorado ao lado, completamente bêbada, incapaz de ter discernimento, incapaz de oferecer resistência e incapaz de lembrar do que aconteceu no dia seguinte. É atraente? Não, né? Pois bem, para nós, mulheres, também não é atraente ver o nosso homem, nosso macho alfa, nosso herói, caindo pelas tabelas e protagonizando um vexame desses, sendo motivo de riso e pena. Perde-se o respeito, a admiração e até mesmo a confiança.

Eu sei que a Madame aqui de cima acha que homem pode e mulher não pode. Não vou me dar ao trabalho de mostrar como isso é ridículo, porque seria menosprezar a inteligência de vocês. Meio 1920 esse papo de que homem pode alguma coisa mas mulher não.

Quando digo que é inaceitável não me limito apenas ao argumento pequeno de que uma pessoa bêbada pode te trair com mais facilidade ou está com senso de repressão bem menor, permitindo que a porta para nojeiras e putaria se abra com mais facilidade. Meu argumento é mais abrangente. Eu acho inaceitável ESTAR com alguém que tem esse grau de comprometimento emocional, uma pessoa autodestrutiva, sem noção e aleijada emocional que usa bebida como fuga.

Uma pessoa que não tem vergonha profunda de tomar um mega-porre e fazer trocentas merdas na rua não me desperta a menor atração nem admiração. E a que existia, morre. Uma pessoa que opta por se portar desta maneira tendo firmado um compromisso de fidelidade e respeito comigo, está me traindo, ainda que não encoste em outras mulheres. Existem varias formas de traição. Não somos adolescentes, uma pessoa que toma um porre a ponto de nem saber como chegou em casa na minha idade tem problemas sérios de cabeça e eu acho que não vale a pena investir em uma pessoa assim.

Daí muitas pessoas dirão que o porre é problema de quem o toma, que as merdas que a pessoa faz só a prejudicam e que eu não tenho nada com isso. Eu não acho que seja assim. Seu parceiro não deixa de ser seu cartão de apresentação. As coisas que ele faz podem sim refletir em você, não porque você seja culpada pelas escolhas dele, e sim porque leva as pessoas a questionarem a SUA escolha em estar com uma pessoa assim.

Que tipo de pessoa que é irresponsável suficiente para se expor (e te expor) bebendo até perder a dignidade? É uma pessoa que você acha que dá para contar, que dá para pensar em um relacionamento saudável? Credo, meu ideal de relacionamento saudável passa longe disso!

O problema é que em alguns lugares e em alguns grupos não só não é vergonha beber até dar vexame, com ainda por cima é motivo para contar vantagem e achar bonito. Por mais de uma vez vi colegas bravateando cheios de orgulho “Pooooaaarrra Cara! Bebi moooito ontem, nem lembro como cheguei em casa!”. Sinceramente, eu teria vergonha de ostentar uma porra dessas. Mas, com a sociedade não condena, neguinho faz. Neguinho faz e acha que porque seus amigos imbecilóides aplaudem, todo mundo vai aplaudir. Tia Sally não aplaude, Tia Sally dá pé na bunda.

Uma pessoa que faz esse tipo de coisa tem problemas emocionais. Uma pessoa que precisa ou quer se desligar da realidade se entorpecendo, para mim, não passa muito longe do Rafael Pilha – só muda o nome da droga. Não é porque bebida seja legalizada que deixa de ser droga, pois ela altera a consciência e mexe com o comportamento das pessoas.

“Mas Sally, não tem nada que a pessoa não faça bêbada que não tivesse vontade de fazer sóbria, bebida não muda personalidade”. Ahãn. E ainda bem que as pessoas tem um freio mínimo para não sair fazendo tudo que tem vontade, né? Se não o mundo ia virar uma barbárie. Imagina soltar esse freio de todo mundo com bebida? Os freios existem e são uma necessidade para a convivência em sociedade, um esforço que todos nós fazemos. Se um ou outro imbecilóide se acha acima disso e acha que pode soltar seus freios, que o faça bem longe de mim.

Eu, como todos nós, tenho meus momentos difíceis na vida. Já passei por coisas complicadas. Porém nunca foi uma alternativa me entorpecer voluntariamente para me anestesiar e esquecer ou lidar com a dor. Eu fiz as coisas do jeito mais difícil, talvez por isso não tenha tolerância com quem quer pegar um atalho. A impressão que me passa é que essa pessoa não segura o rojão, que mais para frente, quando se apresentarem outras adversidades, em vez de encarar a pessoa vai optar por uma fuga, seja ela a bebida ou não.

“Mas Sally, a pessoa pode estar bebendo sem ser uma fuga, sem ter problema algum”. Vai desculpar, mas quem toma porres homéricos de nem saber como chegou em casa tem problemas sim e está fugindo sim.

Para dizer que vai ser forçado a concordar com a minha opinião radical só para não ter que concordar com a opinião escrota do Somir, para dizer que você toma porre todos os dias e não tem nenhum problema na vida e para dizer que gente que não bebe é um porre: sally@desfavor.com


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