Dés Potas: O tamanho do problema.
| Somir | Dés potas | 6 comentários em Dés Potas: O tamanho do problema.
Para quem esqueceu, Dés Potas é a coluna onde sugerimos soluções autoritárias para resolver magicamente grandes problemas sociais. Afinal, o mundo só não funciona direito porque eu não estou no comando. E esse pronome é mais abrangente do que parece…
O governo dos EUA continua “desligado”. Evidente que o braço de ferro entre os dois grande partidos de lá tem tudo a ver com essa bagunça, mas como precisa-se de uma desculpa para isso, a questão da universalização do atendimento médico se destaca. Democratas querem um modelo mais abrangente, republicanos querem que cada um que pague o seu.
Vejam bem, nem vou entrar muito no mérito do que acontece por lá, até porque pode acabar nas páginas do Desfavor da Semana, o que me interessa aqui é o conceito de que uma pessoa seja obrigada a pagar pela saúde de outra. Aliás, não só saúde como qualquer serviço público: invariavelmente alguém vai acabar contribuindo mais em impostos do que recebe de volta nesses serviços públicos. É compreensível que tenhamos defensores de uma ideia de cada um por si e a natureza contra todos. Justo é pagar pelo que recebe.
Assim como é compreensível que do outro lado tenhamos pessoas dizendo que sociedade não se faz sozinho, e que essas possíveis disparidades entre pagamento e recebimento são essenciais para que as coisas continuem funcionando. Justo é ter direitos, custe o que custar. Afinal, não criamos um padrão de humanidade muito melhor do que mero darwinismo social? Isso tem um custo.
Agora, como equilibrar duas ideias tão justas, mas tão contraditórias? As pessoas deveriam pagar apenas pelo que recebem E as que não podem pagar o básico deveriam receber pelo menos o básico. O ideal seria todo mundo receber MAIS do que paga, mas o ideal não é um modelo sustentável. Recursos não se materializam por mágica. Tem que sair da mão de alguém para cair em outra.
É assim que já acontece, mas não da forma como se costuma dizer ao pregar desregulamentação governamental: Não são os ricos que dão dinheiro para os pobres, é justamente o contrário. A riqueza mundial é produzida pela maioria e entregue para uma minoria administrar. O sistema em si já é pra lá de cagado, e isso vem de loooonga data.
Tentativas de quebrar essa lógica perversa terminaram em desastre, resetar o sistema e colocar uma nova versão ainda mais inchada e burocrática em seu lugar se provou vez após vez uma péssima ideia. Tentar (mesmo que em tese) se preocupar com igualdade de tanta gente ao mesmo tempo gera mais problemas que soluções. Afinal, se tem algo que as pessoas não querem ser é iguais… Elas querem receber mais do que pagam. E cada um tem seu próprio conceito de quanto vai querer pagar.
Quanto mais gente você iguala num mesmo grupo, mais essas diferenças se acentuam. E quanto mais liberdade elas tem, mais diferenças elas demonstram. Até por isso regimes comunistas não são conhecidos pela tolerância com dissidentes… É como se tentasse colocar vários gatos numa mesma caixa: Quanto mais deles, mais impossível é mantê-los lá dentro. Eventualmente você precisa colocar algo que eles querem muito dentro da caixa, ou mesmo deixá-los se borrando de medo das consequências de sair. As duas opções foram muito utilizadas em nossa história: Capitalismo e Socialismo. Mas no final das contas, dá tudo no mesmo: os gatos começam a ficar irrequietos na caixa.
Muito gato, pouca caixa.
E a minha solução mágica, impopulares e impopulares, é simples: Precisamos de mais caixas. Temos mais de duzentos países no mundo, e eu digo que isso ainda é muito pouco. Algumas caixas são grandes demais. Algumas, vazias demais… Resolvemos a maioria dos problemas econômicos do mundo criando mais uns 800 países.
Cada um cagando e andando para o bem estar um do outro. Quer dizer, pelo menos sem a obrigação social de se preocupar com isso. Solidariedade funciona muito bem, mas ela tem uma escala máxima de eficiência. Mais da metade do mundo se preocupa com a África. A África continua na merda. E só vai melhorar de verdade quando quem já está lá tiver condições de sair do atoleiro.
O problema não é ajudar o próximo, o problema é TER que ajudar o próximo. Quando a obrigação entra, o sistema patina. Com exceção de países ricos, os serviços públicos da maior parte dos países do mundo são terríveis. E o tamanho do país tem muito a ver com isso: os BRICS são uma desgraça nesse ponto. O povo teoricamente paga por tudo e recebe quase nada em troca. Isso caga completamente o conceito de solidariedade… A pessoa sabe que está trabalhando para financiar aquilo tudo, e mesmo assim não é o suficiente.
Com países menores, por exemplo, dividindo o Brasil em uns 20 países diferentes, a coisa mudaria consideravelmente: A pessoa veria seu dinheiro indo para muito mais perto de onde vive, não teria um governo central inchado oferecendo “dinheiro grátis” em troca de votos, e principalmente: tornaria os países vizinhos em VERDADEIROS vizinhos. Daqueles que você não torce o nariz quando te pedem uma xícara de açúcar. Não é mais sua responsabilidade, se você ajudar vai estar sendo uma pessoa bacana!
E aí a satisfação de prestar solidariedade começa a virar moeda de troca. Você paga mais do que recebe em recursos, mas “complementa a renda” com satisfação pessoal. É preciso criar mais vizinhos nesse mundo globalizado… E tirar essa pecha de “companheiros de cela”. Pagar por governo incompetente cansa, e além disso mancha a imagem que se faz de todos os outros habitantes da sua região de contribuição. “Por que eu tenho que me foder por algo que já estou pagando para resolver?”
E se você diz que unidades federativas (os famosos estados) existem justamente por isso, se engana: Eles são mecanismos de administração para manutenção da unidade nacional. Eles existem justamente para evitar que um país se quebre em inúmeros pedaços ou para que surjam “pontos cegos” onde o governo federal não tem controle. Minha proposta infalível prega separatismo mesmo. Não separatismo de conveniência só para isolar áreas já ricas das mais pobres, é separatismo para criar mais vizinhos. Para que os grupos se conversem, cada um com sua própria identidade. Cada um enxergando o outro como possível parceiro de lucros, não como alguém que divide seus dividendos no final do mês.
Países enormes como o Brasil são dinossauros controlados por minúsculos cérebros. E nem é só um problema tupiniquim: Se os EUA levassem à risca o que realmente são, esse problema de endividamento e fechamento do governo não aconteceria. Cada estado por lá é basicamente um país, só escolhem participar do governo central por acordos antigos e armas novas. Se estivessem realmente separados, assim que um fizesse uma merda dessas, perderia poder e dinheiro para os países adjacentes.
Sim, porque concorrência faz milagres pelo interesse de alguém em mexer a bunda. Um equilíbrio entre solidariedade de vizinho e disputa saudável aqueceria até mesmo a economia de áreas mais remotas. Reduzir necessidade de importações para sobrar mais dinheiro em caixa, investimentos em infraestrutura e serviços básicos para atrair bons imigrantes, desenvolvimento de tecnologia e foco em capacitação para disputar melhor no mercado externo… Todas coisas que falham terrivelmente em países grandes como o Brasil, mas funcionam muito bem em países minúsculos como Cingapura!
Não é à toa que só mesmo um “império” como os EUA consegue ficar mais ou menos perto de países menores no IDH: custa caro, dá trabalho e precisa de muita atenção e incentivo para levar essas políticas públicas em frente. Porra, eles tem que pilhar metade do mundo só para conseguir se manter marginalmente por ali, e mesmo assim estão afogados em dívidas! Cuba não ganha do Brasil sempre em qualidade de vida porque é socialista: ganha porque é um ovo e nem mesmo o Fidel conseguiria cagar algo do tipo.
Dividir para conquistar. Assim que eu for ditador do mundo, podem apostar que essa vai ser minha primeira atitude. País gigante ficou obsoleto, pergunte para qualquer um que vive num deles…
Uma pena que a maioria das pessoas torça o nariz só de ouvir a palavra separatismo…
Concordo com o que foi dito acima sobre acabar com o real também.
Hahahaha! Direitos autorais, por favor.
Quando você for ditador do mundo me coloca pra administrar a desintegração nacional que tá tudo certo.
“Para todo problema complexo, há sempre uma solução clara, simples e errada.”
Ia causar ‘paízes’ muito ricos e outros bem pobres, lado a lado. Além que diminuindo a estrutura territorial, tambem se perde recursos, e todos seriam extremamente dependentes um dos outros, só que desta vez, pagando taxas de importação pra tudo, e tendo sua exportação nem sempre compensatória.
Ao invés de diminuir atritos, uma medida assim iria aumenta-los.
Acho que você não considerou as implicações disso adequadamente, Somir. Um feudo parece mais fácil de ser administrado que um país, mas se torna muito mais vulnerável no que diz respeito a recursos. E não preciso dizer que o humano médio tende a agir na direção de tentar “guerras de conquista” para tentar angariar territórios tidos por estratégicos.
Você poderia ter sido mais sagaz se tivesse batido nos pontos certos.
“Com países menores, por exemplo, dividindo o Brasil em uns 20 países diferentes, a coisa mudaria consideravelmente: A pessoa veria seu dinheiro indo para muito mais perto de onde vive, não teria um governo central inchado oferecendo “dinheiro grátis” em troca de votos, e principalmente: tornaria os países vizinhos em VERDADEIROS vizinhos. Daqueles que você não torce o nariz quando te pedem uma xícara de açúcar. Não é mais sua responsabilidade, se você ajudar vai estar sendo uma pessoa bacana!”
Perfeito, desde que cada um tenha não só independência política, mas também acabem com o Real no segundo seguinte. Assim, cada país teria moeda própria (axé, bombacha, tucupi, xique-xique, dendê, pequi, candango, fuleco), cuidaria de sua própria economia e, principalmente, das suas taxas de juros e de câmbio…
Ou seja, na contramão do fracasso político e econômico da União Europeia, que começou quando seu banco central começou a oferecer “dinheiro grátis” a seus membros, contando com a boa-fé de seus membros soberanos.
Pois se já é ruim agora o Sudeste ter que sustentar ineficiências como o Acre, Roraima e Amapá, que nunca deveriam deixar de ser territórios, dentro de uma mesma caixa, imaginem ter que auxiliar ‘vizinhos folgados’ por conta de uma moeda comum ou uma união aduaneira, para, no fim, levar calote por conta de decisões soberanas dos mesmos enquanto países independentes. Seria muito mais irritante.
(E se for para criar países independentes aqui, que transformem o DF num país independente. Assim, aquele conjunto arquitetônico horrendo todo de Brasília, caro para manter, ruiria…)
Bombacha não! PILA.
=)