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Plantão Vinagre: Pede pra sair!

| Sally | | 48 comentários em Plantão Vinagre: Pede pra sair!

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Tá puxado. Juro que estou tentando falar sobre outros assuntos para que o Desfavor não fique monotemático, mas estão acontecendo coisas tão bizarras que simplesmente não dá para deixar passar. Coisas bizarras que não estão sendo contadas para o resto do país, ou pior, que estão sendo contadas de forma muito suavizada ou distorcida. Piadas prontas que estão sendo desperdiçadas enquanto imbecilóides discutem a depilação da moça que está na capa da Playboy. Não dá, vou ter que voltar a falar sobre os protestos no Rio de Janeiro, desculpa aí a “repetitividade”, mas isso não pode deixar de vir a público.

Começa que dia sim, dia também tem algum protesto ou manifestação. Isso por si só já está sendo pouco divulgado. Mas tem, e significa, porque está incomodando bastante a quem tem que incomodar. Além disso, me surpreende positivamente o poder de organização, o revezamento, a capacidade de realizar protestos em dois, três, quatro lugares diferentes. Meus parabéns pela estratégia e pela resistência. Nunca pensei que fosse dizer isso, mas porra, parabéns aos cariocas pelo terror que estão colocando no Sergio Cabral. Só não esqueçam do Paes, ok?

Antes de entrar de sola no assunto, vamos falar um pouco da 9ª Delegacia de Polícia, situada no bairro do Catete, no Rio. Para quem não sabe, quando ocorre um crime, o policial não pode levar o suspeito para a delegacia que quiser. Existe um critério territorial que determina que crimes cometidos de tal a tal região vão para a delegacia X. No caso, crimes supostamente cometidos na área do Palácio da Guanabara, o Palácio do Sérgio Cabral, são obrigatoriamente encaminhados para a 9ª Delegacia de Polícia. Depois que este local virou palco de manifestações, imaginem vocês a felicidade das pessoas que trabalham na delegacia: quase que todo santo dia verem inocentes sendo arrastados com juras de policiais de que estavam cometendo crimes.

Não sejam inocentes, nem me refiro aqui à questão humanitária, porque para trabalhar em uma delegacia de polícia do Rio de Janeiro, psicopatia é pré-requisito obrigatório. Me refiro: 1) à obrigatoriedade de ter que estar realmente trabalhando no seu horário de trabalho e 2) virar um alvo a partir do momento em que prende um inocente sob as juras de policiais mentirosos dizendo que ele jogou um coquetel molotov ou tinha um coquetel molotov da mochila. Porque se prender errado, é a imagem do delegado que vai para a lama. Há uma certa insatisfação no local. O saco das pessoas está arrastando no chão e ninguém mais quer endossar faniquito de PM mimado que quer sair prendendo quem bem entende. Imaginem como anda o clima por lá. Imaginaram? Pois é, o caldo entornou.

Deu-se mais ou menos o seguinte na semana passada: manifestação e uma penca de presos. Como sempre, os manifestantes acompanham aqueles que foram presos e ficam na porta da delegacia, pois se isso não acontecer, periga da pessoa chegar morta. Os manifestantes na porta da delegacia garantem que quem foi preso chegará vivo e sairá vivo, não sendo mantido preso injustamente. Como de hábito, ficaram na porta da delegacia pressionando para que os “acusados” pela PM fossem soltos. Nada de novo, fora a nova ordem de aumentar ainda mais a violência policial, chamada pelo eufemismo de “atitudes enérgicas”. O que aconteceu: a Tropa de Choque começou a agredir quem estava na porta da delegacia, apenas por estar na porta da delegacia.

Os manifestantes resistiram, enfrentaram. Mas não encostaram um dedinho na delegacia, apenas se recusaram a sair. A Tropa de Choque começou a tomar “atitudes mais enérgicas”, jogar bombas de gás e atirar na direção dos manifestantes indiscriminadamente. Evidentemente acabou atingindo também a delegacia, chegando inclusive a quebrar vidraças e outros estragos do tipo. O delegado, que já não estava muito feliz, mandou parar com aquela merda, mas foi ignorado. Como os manifestantes não saíram e havia ordens de uma “atitude mais enérgica”, o Choque achou bacana soltar os cachorros, literalmente.

Voltaram com cães para atacar os manifestantes. O delegado se emputeceu, nem tanto pelos direitos humanos, mais pela merdalhada que estava dando na porta da delegacia dele mais uma vez e pelo Choque ter ignorado seu pedido para parar. Detalhe que o prédio da delegacia é tombado, sua destruição é especialmente ruim. O delegado já deveria estar em um dia ruim e ficou mais puto ainda por ter sido ignorado. Mandou um “chega dessa merda” e chamou o Core PARA EXPULSAR A TROPA DE CHOQUE, e não os manifestantes.

Para quem não sabe, a Tropa de Choque é uma “unidade especial” da Polícia Militar, treinada com o objetivo específico de dispersar multidões. Já CORE seria a Coordenadoria de Recursos Especiais é uma “unidade especial” da Polícia Civil destinada a situações excepcionais de alto risco ou alta complexidade. Logo, o que se viu na porta da 9ª Delegacia de Polícia foi a Polícia Civil enxotando a Polícia Militar na frente de todos os manifestantes. Além do ridículo da situação, vocês podem imaginar como isso foi desmoralizante para a Polícia Militar. Mais: a Polícia Militar ficou com MEDO da Polícia Civil. Acabou o pouco respeito que havia pela Polícia Militar no Rio de Janeiro. Acabou. Tentaram vender a notícia como se houvesse algo tático, estratégico, colaborativo na retirada de um entrada do outro, mas a verdade, Senhoras e Senhores, é que a Polícia Militar levou um pau da Polícia Civil.

Para completar esse evento bizarro, depois que o CORE colocou a Choque para correr, mas logo depois mesmo, tipo dez segundos depois da última viatura do CORE virar a esquina, o Choque fez a criança desobediente e voltou. Voltou e continuou jogando bombas, até que uma delas caiu do lado de dentro da delegacia. Vocês podem imaginar o quão puto deve ter ficado o delegado, mas puto mesmo, a ponto de sair e dar voz de prisão na hora para quase dez Policiais Militares que estavam fazendo merda na frente de todos os manifestantes que estavam no local. Saldo final: os 29 manifestantes acusados foram todos soltos e quase dez policiais foram presos, isso sem contar que os atos da Polícia Militar nesse dia, classificados como “excessos” estão sendo investigados com vontade. Consta que no final das contas, o CORE voltou quando a bandalha recomeçou e o Choque em resposta mandou chamar o BOPE. É a Guerra das Polícias, e o CORE ganhou!

Em breve não serão mais necessárias manifestações. Coloca meia dúzia de gatos pingados na rua, chama o Choque e chama o CORE e assiste aos dois brigando. UFC Polícia Carioca. Por isso o crime prolifera, eles são mais organizados e unidos que a própria polícia! Polícia batendo e enxotando Polícia é o mesmo que um irmão chamar o outro de filho da puta: desmoralizante para ambos. Isso mostra a bandalha que está o Rio de Janeiro, a falta de vergonha na cara do Poder Público e a paciência do povo que acabou, povo que por sinal, está de parabéns, firme e forte, incomodando ao máximo, com eventos constantes e bem coordenados.

Quem estava na delegacia afirma que a insubordinação e a sede por sangue da Polícia Militar quando do seu retorno após a expulsão era tanta que passavam a nítida impressão de estarem drogados. Manifestantes foram feridos e funcionários da delegacia passaram mal e tiveram dificuldades em respirar por causa das bombas de gás. O delegado disse, em off, que a Polícia Militar estava tão fora de controle que se não tivesse chamado o CORE teria acontecido um massacre na porta da delegacia. Eles iam com os cães para soltar mesmo em cima de manifestantes, porque agora é proibido ficar na porta da delegacia, só de estar ali você já é merecedor de bala de borracha, gás lacrimogêneo, spray de pimenta, canhão de água e cães ferozes. Ah sim, tem também choque elétrico.

Quando a polícia precisa retirar a polícia no cacete por causa de abusos é sinal que a coisa está grave. Muitos policiais militares estão apreensivos de trabalhar e os delegados se reuniram para tentar tomar medidas para brecar os abusos da polícia. Não apenas os delegados, meio mundo: Defensoria Pública e Ministério Público (que geralmente estão em lados opostos) estão unindo esforços, OAB e outros estão cercando a polícia militar. A PM, por sua vez, sabe que a corda arrebenta para o mais fraco e vai ser a cara de um qualquer que vai aparecer no Fantástico flagrado cometendo algum ato de violência aleatório, provavelmente muito menor do que os de rotina, mas ainda assim, vai ser emblemático, vai ser vilanizado, vai ser a personificação do mau policial e vai ser punido. E não vai ter como dizer que a ordem veio de cima. Muitos perceberam isso e já estão tentado fugir da situação. Tem gente até “adoecendo”.

Imaginem como está a cidade. Cidade Maravilhosa? Não, Cidade Calamitosa. Em meio disso, como se posiciona o maravilhoso Governador? Dá aviso prévio! SENSACIONAL! Serginho Nariz de Talco Cabral deu uma entrevista onde diz que vai renunciar sim, mas só entre janeiro e abril do ano que vem. Lembra aquele impasse que eu narrei no último Plantão sobre o assunto? Que ele tinha concordado com a renúncia e depois mudado de ideia? Pois é, essa foi a solução “meio termo”: fica até o final do exercício financeiro deste ano ($$$) e ano que vem larga na mão do Vice Pezão para que ele tente se reeleger como Governador, chamando o outro nariz de talco, Lindbergh Farias, como vice. Lindbergh, para quem não sabe cheira tanto, mas tanto, que vira e mexe tem que ser hospitalizado e quando isso acontece, manda fechar uma ala inteira do hospital local para que não vaze que ele entrou com overdose.

O problema é que o povo está de saco cheio. Essa brincadeira de “Só mais um pouquinho” não cabe neste momento de ira coletiva (putez era mês passado, agora é ira mesmo). Sérgio Cabral é um demente com o raciocínio prejudicado pelos remedinhos que anda tomando. Não tem clima. Não tem clima para ele ficar nem até o final do mês, quanto mais até o final do ano. Ele realmente acha que os protestos vão parar porque ele está acenando com um renúncia ano que vem? Eu perguntaria se ele está usando drogas, mas como já sei a resposta, vou me poupar. A expectativa é que os protestos se intensifiquem e que a polícia atue cada vez mais com violência. Os últimos inclusive foram em uma vibe “não queremos que seja saído, queremos que saia”, pedindo impeachment.

O papel de vilão, por enquanto, está caindo em cima do Black Block. Até software anti-terrorismo foi encomendado pelo Ministério Público para identificar seus componentes. É hora do Black Block usar algo que eles tem e a polícia não: INTELIGÊNCIA. Parte para cima com inteligência, com categoria. Chega de peitar na grosseria, dá para fazer muito mais dano com tática de guerrilha e trollagem misturadas. Só de pensar rapidamente, me vem centenas de sugestões à cabeça, e convido vocês a deixarem as suas nos comentários também. O que a polícia carioca merece que o Black Block faça?

Agredir com pedras é para os fracos. Joga ovo podre para o sujeito ficar fedendo a merda durante toda a manifestação. Irrita muito mais. Joga merda quentinha. Joga bolinha de gude no chão e observa os caras catando cavaco. Vai na sutileza. Eu sei que a polícia não usa de sutileza e parte para a porrada, mas existem formas de agredir sem parecer que está agredindo. Vamos parar de enfrentar abertamente, é hora de começara humilhar para ver uma PM já humilhada perder a razão e sair do sério. Sobe no alto da árvore e joga laser ultra potente no olho do filho da puta que está fazendo covardia. Táticas existem aos montes. Humilhem, porque humilhar quem já está humilhado fere mais do que pedradas.

E o povo, que continue de olho. Mesmo se Cabral renunciar, não votem na sua cria. E não votem no Cabral nunca mais, nem para síndico de prédio, porque esses merdas são assim: saem quase que escorraçados e depois voltam Senadores ou Deputados. CABRAL NÃO, nem nada que venha dele! E já está mais do que na hora de bater no Paes com a mesma força que estão batendo no Cabral. No aguardo.

Para me chamar para debater estratégias de atuação do Black Block, para dizer que no momento o Black Block vai focar na Veja por causas da merda que escreveram esta semana ou ainda para perguntar onde está Amarildo: sally@desfavor.com


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