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Ele disse, ela disse: Ficando em casa.

Pode-se dizer muita coisa sobre uma pessoa olhando para sua casa, e também analisando quem essa pessoa traz para sua casa. A coluna de hoje tenta traçar um limite aceitável de quando é cedo demais para trazer uma pessoa com a qual você está se relacionando (cunho sexual) para sua casa. Precisa estar namorando? Quão cedo é cedo demais? Sintam-se em casa para entrar na discussão.

Tema de hoje: Levar ou não um(a) ficante para casa?

SOMIR

Sim. Isso significa levar uma vadia bêbada qualquer que você acaba de conhecer para sua casa? Não. Mas condicionar essa situação a um tempo definido de relacionamento ou mesmo ao “nome fantasia” que se dá a relação me soa arbitrário demais. Malucas podem ser ficantes, namoradas ou esposas. E aliás…

Corrijam-me se eu estiver viajando, mas normalmente as merdas decorrentes de uma pessoa com a qual você mantinha um relacionamento sexual sabendo o seu endereço são mais comuns depois que a relação já se chamava namoro. “Exes” tendem a ficar mais destrutivos e pentelhos depois de uma relação mais duradoura. Sabe como é, você passa tanto tempo batendo palma para a maluca dançar que ela já fica em modo “show de horrores” permanente mesmo sem incentivo.

Eu mesmo que sou tarado por controlar e me adiantar às reações alheias tenho que admitir que o comportamento humano passa longe de ser uma ciência exata. É agradável imaginar que uma série de regras e filtros que você cria pode te proteger da imprevisibilidade alheia, mas não é verdade. Quando você leva uma pessoa para sua casa, está assumindo alguns riscos, que não exatamente diminuem de escala de acordo com o tempo de relação. Na verdade, o que acontece é que você baixa a guarda e fica menos propenso a pensar o pior.

Mas que o pior pode acontecer, pode. Segurança absoluta é uma ilusão que aceitamos de bom grado para não precisarmos viver em eterna vigilância. Namorados matam namoradas, mães matam filhos… Coisas horríveis e completamente inesperadas podem acontecer em qualquer relação. Mas como acabamos percebendo no dia-a-dia (a não ser que sua vida seja mesmo muito fodida), não é como se essas fossem probabilidades dignas de atenção.

Honestamente eu nem gosto dessa ideia, mas uma considerável parte da nossa vida é baseada em entregar para a aleatoriedade e esperar pelo melhor. Ou pelo menos esperar por não ganharmos na loteria da improbabilidade e enfrentar resultados extremamente negativos.

Você conhece a pessoa não faz muito tempo, mas ela te atrai e talvez até dê sinais de compatibilidade. A chance dela ser uma maluca pronta para cozinhar seu coelho ou ficar berrando na portaria do seu prédio às quatro da manhã existe, mas, porra… Colocar essa possibilidade acima da de que é outro ser humano com algo a perder e interesses alheios à você é deixar o ego tomar o lugar da racionalidade. A chance de algo acontecer com você não difere tanto assim de qualquer outra pessoa nesse mundo. “Só acontece comigo” é uma expressão engraçadinha, mas é uma afronta a realidade.

Não acho que qualquer pessoa pode frequentar sua casa, mas os parâmetros para fazer essa escolha não se resumem a “dias de relacionamento” ou “nome do relacionamento”. O simples fato de manter uma relação (mesmo que embrionária) já significa que algum filtro inicial ela já passou. Se os seus filtros para escolher com quem vai trocar fluídos forem um pouco mais rígidos do que “mijou sentada e fez sombra”, já vão existir alguns elementos compatíveis com os que você usaria para definir se a pessoa pode ou não entrar na sua casa.

E a não ser que você seja uma adolescente rebelde escolhendo tranqueiras para irritar o papai, não vai ficar atraindo gente claramente incompatível com visitar seu lar. Esse filtro inicial é tão válido que a maioria das relações de sucesso se baseia em confirmar essas impressões ao longo do tempo.

Mas chega de análise “filosófica”. Vamos ser práticos: No começo de uma relação somos extremamente cuidadosos com a imagem que passamos. Se você traz uma mulher com a qual saiu poucas vezes até sua casa, ela vai controlar quaisquer comportamentos reprováveis o máximo possível. Mesmo que você não seja a última bolacha do pacote e a mulher não esteja desesperada para te impressionar, ainda existe o orgulho pessoal e a preocupação em não virar tema de conversas depreciativas entre outras pessoas no dia seguinte.

Estar nessa fase de “jogar direito” e não numa um pouco mais relaxada de relacionamento estabilizado evita o terrível comportamento de “brincar de casinha” (mulher fica testando as águas para ver se dá para amarrar logo o otário) ou mesmo pipocadas. Sim, mulheres… Se um homem te convida para ir até a casa dele, presume-se que ele vai te comer. Você não pode ser obrigada ou pressionada a dar, mas vai ficar contabilizado como pipocada. Já tivemos até uma outra coluna dessas falando sobre isso. Mas voltemos ao ponto em questão.

É até vantajoso trazer alguém mais interessado em te agradar. É a fase onde elas dão até o buraco da orelha, é importante capitalizar. E se for para dar alguma merda mesmo, ela acontece prioritariamente depois que a outra pessoa leva o pé na bunda. E vamos concordar que no caso de pé na bunda, quanto mais tempo de relacionamento, mais intensa é a reação.

Admito que a costumeira superioridade física masculina pode estar moldando minha opinião, afinal, é mais fácil para um homem subjugar ou nocautear uma mulher fora de controle do que o inverso. Força física conta. Mas por outro lado, mulheres tem muito mais proteção social… Eu sei que não resolve muito na hora do vamos ver contra alguém que é o dobro do seu tamanho, mas a penalidade que um homem enfrenta por bater numa mulher é incomparavelmente maior do que o oposto. Mulher pode usar basicamente qualquer artifício ofensivo contra um homem se conseguir convencer as pessoas que estava se sentindo ameaçada. Homem é capaz até de ser linchado se bater numa mulher que o ameaçava com uma faca. Novamente, não é a mesma coisa, mas é sim uma camada de segurança. E eu acredito que toda mulher tem que se adaptar a essa questão de disparidade física durante sua vida. Ou aprender defesa pessoal.

Agora, se a sua preocupação maior com uma pessoa visitando sua casa é se proteger de um possível ataque, sugiro que passe mais tempo filtrando quem vale a pena, porque tem obviamente algo de errado com suas escolhas.

E se você achar muito melhor gastar dinheiro para ficar rolando na porra dos outros em um motel, bom… esta coluna nem faz muita diferença mesmo, não?

Para dizer que mora num motel justamente para evitar esse problema, para reclamar de alguma afirmação “machista” que doeu porque é verdade, ou mesmo para dizer que sempre deixa o dinheiro na cômoda e nunca teve problemas: somir@desfavor.com

SALLY

Talvez a arrogância esteja no meu DNA devido à minha nacionalidade, mas eu considero frequentar a minha casa um privilégio e quem quiser ter esse privilégio tem que fazer por merecer. Levar um a pessoa até a sua casa supostamente demanda confiança, coisa que não existe quando você conhece a pessoa faz pouco tempo. Logo, a lógica leva a presumir que não se devem levar casinhos, ficantes e cia para o seu lar, apenas pessoas com as quais você tenha um relacionamento sério. Se valorizem, moças. Se ele que te comer ele que pague um motel!

Não se trata de uma atitude de cunho moral e sim de valorizar sua privacidade. Seja você homem ou mulher, mostrar a sua casa é se expor, é dar muito a quem está te dando pouco. Também não se trata de joguinho ou estratégia para forçar a pessoa a namorar ou assumir algum tipo de compromisso sério, pois também acredito que a mesma lógica valha para colegas e amigos. Não é apenas o tempo de relacionamento como também o tipo. Eu não levaria para a minha casa um simples colega de trabalho. Só vai na minha casa quem tem muita intimidade comigo, uma pessoa na qual eu confio A maior prova de que meu discurso é sincero é o layout do meu lar: parece que o Desfavor vomitou na minha casa, tem símbolo da RID para tudo quanto é canto.

Considero levar uma pessoa na sua casa como um dos últimos degraus da intimidade, maior até do que fazer sexo. Acho terrível evadir a privacidade mostrando a casa para todo mundo, não entendo essas subcelebridades que deixam revistas entrarem e fotografarem suas casas. Eu sinto que mostrar a casa é mais ou menos como mostrar as calcinhas, eu não levaria uma penca de calcinhas na bolsa e mostraria para colegas. Sua casa deveria ser seu templo onde só entram pessoas que você tenha a certeza que são do bem e que te querem bem. Não gosto dessas casas tipo “Casa da Mãe Joana” onde vai todo mundo, onde amigo do amigo dorme em um colchão no chão da sala. Minha casa não é albergue. Não gosto de estranhos cagando na minha privada.

Preservar a sua casa não é frescura. Quem gosta e cuida da sua casa zela pelo tipo de pessoa que a frequenta. Pessoas mal educadas, inconvenientes ou sem noção podem causar verdadeiros transtornos na sua casa. Quem já teve o sofá todo desenhado a caneta bic pelo filho de uma amiga sabe bem disso. Quem já teve um fdp suado se refestelando no sofá de tecido sabe disso. Quem já teve um bêbado vomitando no carpete também. As possibilidades são infinitas. Pessoas pensam dez vezes antes de permitir que colegas usem suas roupas ou seu carro mas disponibilizam a casa com uma facilidade que me assusta.

Aqui no Rio de Janeiro também tem a questão da segurança. Não dá para levar qualquer um para a sua casa independente de sentimentos de preservação de intimidade. Mesmo uma pessoa que você conhece faz meses pode ser um grande perigo. Francamente, aqui eu não gosto nem que as pessoas saibam onde eu moro. Você nunca sabe muito bem com quem está lidando, a menos que more em uma cidadezinha calma onde todo mundo se conhece. E muitas vezes, nem assim. Também tem que ser levado em conta que uma mulher sozinha em um casa demanda certos cuidados de segurança. Até que se prove o contrário, eu presumo que todos são inconvenientes e sem noção (porque a regra é essa). Não acho seguro a ideia de um ficante do qual se tem poucas referências (apenas as que ele te conta) frequentando e dormindo uma casa com uma mulher sozinha. No começo todo mundo parece normal e bacana.

Abrir as portas da sua casa para pessoas com as quais você não tem grau elevado de intimidade e confiança é se expor de uma forma arriscada. Se expor de diversas formas. Você se torna acessível para aquela pessoa quando ela quiser e pode ser que mais tarde, se você der um fora nela ela queria passar na sua casa e forçar um contato ou até mesmo fazer um escândalo. Você se torna vulnerável, pois a pessoa vai ter uma série de informações suas através da sua casa que mais tarde podem ser usadas contra você. Não poder ser encontrado é uma bênção da qual eu me beneficio sempre que posso, não abro mão disso por nada. Se celular não tivesse botão de desligar eu jamais teria um. Se tornar “encontrável” para uma pessoa que você não sabe ainda muito bem quem é acaba dando merda.

Quando você abre sua casa antes de ter um relacionamento sério (e não me refiro apenas a relacionamento de cunho sexual, pode ser entre colegas também) você se vende muito barato. Você diz que basta essa relação superficial para que a pessoa seja convidada a entrar na sua vida. Isso muitas vezes gera um acomodamento da outra parte, sobretudo das relações homem/mulher. Veja bem, a pessoa pode ir na sua casa, dormir na sua casa, comer na sua casa, tomar banho na sua casa… já conseguiu tudo, está confortável, vai namorar com você para que se já tem tudo que precisa? Para que alguém tenha acesso à minha cama (cuja colcha tem a estampa de uma enorme bandeira do Desfavor), essa pessoa tem que ser digna da minha mais absoluta confiança e ter um compromisso mais do que sério comigo.

Sem contar que casa estilo “portas abertas” é uma paunocuzação geral. Quando sua casa vira “point” acaba ficando sempre cheia de gente e você não tem paz. Não pode andar de pijama o dia todo, não usufrui de silêncio, a comida desaparece da sua geladeira. Sim, tudo que fica muito fácil acaba desvalorizado, é uma verdade inconveniente que também se aplica à casa. A casa é o lugar mais importante da pessoa, faz sentido levar recém conhecidos para lá? Abrir a casa para recém conhecidos é se arreganhar com a maior facilidade, eu diria até se desvalorizar: “sou tão carente, tão pouco exigente, que é só bater um papo comigo por algumas semanas que eu já te levo para a minha casa”. Nem bicho faz isso. Autoestima é bom, faz bem, sobretudo para mulheres. Protege contra gente que não presta. E tem gente que ainda faz isso tendo filhos em casa…

Deixa eu fazer uma pergunta… Você empresta uma calcinha ou uma cueca para alguém que conhece faz pouco tempo e depois que a pessoa usa, você lava e usa novamente? Porque usar uma casa onde a pessoa cagou na sua privada (e provavelmente mijou no seu box, a julgar pelos comentários deste texto https://www.desfavor.com/blog/2011/05/ele-disse-ela-disse-chuveiro-dourado/) comeu usando o seu garfo, esfregou um corpo suado no seu sofá e babou na sua cama acaba sendo pior ainda. Levar em casa é o mesmo grau de apresentar à família: só quando se tem certeza. E não vou nem começar a falar de pessoas que furtam pertences dos outros discretamente, porque esse é o tipo de coisa que ninguém acha que vá acontecer quando leva um convidado na sua casa. Sua casa é seu templo, valorize-a. Sua casa é simbólica, não entregue tudo que tem com pouco tempo de relacionamento. Ser humano gosta de conquista. Diga com todas as letras que só vai na sua casa uma pessoa com a qual você tenha muita confiança, intimidade e um relacionamento sério, é um direito seu!

Você é importante. Sua casa é importante.O que é importante não se sai mostrando para qualquer um só porque a pessoa está te dando uns beijinhos na boca. O grau de comprometimento para abrir a porta da sua casa tem que ser um pouquinho maior do que isso. Tem que ser um desafio a pessoa conseguir conhecer a sua casa, tem que ser uma conquista. Mostrar sua casa te deixa vulnerável por vários motivos. Só se fica vulnerável perante pessoas que merecem sua confiança e se você confia plenamente em alguém que conheceu faz poucos meses, bem, só lamento.

Para criticar minha colcha do Desfavor, para dizer que homem anda tão pão duro que se não levar para a sua casa vai ter que foder no carro ou ainda para reforçar o onipresente argumento de que eu sou fresca: sally@desfavor.com

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