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Flertando com o desastre: Bater em mulher.

| Somir | | 31 comentários em Flertando com o desastre: Bater em mulher.

Homem ameaçando mulher.

Tabu. Numa mulher não se bate nem com uma flor, já dizia algum homem querendo se dar bem. E apesar dos inúmeros casos de violência doméstica contra os punhos de pobres trabalhadores, ainda existe a noção errônea de que sempre é o homem que está sendo covarde quando ocorre um caso da boa e velha arte-marital.

Antes de enfurecer um bando de mulheres burras com minhas relativizações, vou trabalhar com o conceito de se dizer que jamais se bate numa mulher. É tanto confortável para as mulheres quanto é uma ferramenta de controle por parte dos homens.

Preza-se que um homem que queira bater numa mulher odeie todas elas por igual e que seja um ato de pura misoginia. (Se não souber o que significa “misoginia”, nem OUSE comentar.) Além disso, se esse homem coloca em prática sua ira, fica taxado como valentão covarde. (Mesmo que não faça sentido…)

E isso é fruto de várias concepções de ambos os sexos sobre o assunto. Todas elas extremamente desabonadoras.

HOMENS:

1. O macho-alfa cuida melhor das suas mulheres. Eu sei que o posto de macho-alfa não existe mais com seu sentido real na sociedade de hoje, mas isso não quer dizer que ele não tenha influência direta em algumas idéias dos homens atuais. Quando um homem condena o ato de violência contra a mulher, ele está apenas se promovendo em relação aos erros de outros. E quando você escuta aquele discurso famoso de “Eu mataria o safado que fez isso.”, entenda: “Eu não faria nada se o visse, mas quero que as mulheres pensem que eu sou um homem mais seguro.” Fato: Os homens sentem mais compaixão por mulheres atraentes. Honra? Ha!

2. A sociedade é paternalista. Caso vocês não tenham percebido, o macho da espécie humana é o líder do grupo. (Mais forte e mais agressivo.) Fica complicado impor seu poder quando criamos uma série de regras para nos proteger dessa carga de instintos. Então o homem moderno fortalece seu poder diminuindo a mulher. Uma mulher é tratada feito uma criança: Incapaz de se defender e estúpida demais para ser responsabilizada pelo o que faz. Quando se retira a relação de força simples da equação, sobram variáveis alternativas para controlar as mulheres. Dizer que jamais se bate numa delas é apenas mais uma.

3. Rara demonstração de empatia. Os homens se medem pelo poder que exercem. Desde a fixação pelo maior pênis até a disputa pelo carro mais poluente, os homens dão significados claros para o que demonstram como força. E em várias escalas, a mulher é muito mais frágil e incapaz de se impor frente à força do gênero masculino. Quando o homem se coloca no lugar de uma mulher, fraca e impotente diante de um adversário muito mais poderoso, ele sente pena dela. Pena que mascara até a possibilidade dela não ter sabido se proteger.

MULHERES:

1. Mulheres não são burras. Não como gênero, pelo menos. (Não se anime.) O cérebro delas é equivalente ao masculino, inferior em alguns aspectos, superior em outros. Somos todos humanos e algumas coisas são universais: Se você encontra uma forma de compensar a vantagem de um concorrente, você se agarra a ela com todas suas forças. Se houvesse uma regra dizendo que qualquer tipo de agressão a um grupo o qual eu pertenço fosse algo horrível aos olhos de toda sociedade, eu também faria todo o alarde possível para mantê-la em voga. É muito conveniente exigir direitos iguais para usufruir de regalias específicas.

2. Ter em mãos uma carta branca. É perfeitamente compreensível que alguém abuse de uma vantagem conquistada para receber outros bônus. A idéia de que o homem está sempre errado quando bate numa mulher se transforma em passaporte para não ter de lidar com as responsabilidades de seus atos. Um homem sabe que não deve provocar outro homem muito mais forte sob o risco de levar uma surra. Uma mulher sabe que pode jogar muito mais pesado justamente por ter uma presunção social de fragilidade ao seu lado. Deixar uma mulher sair ilesa de uma provocação tende a ser mais vantajoso para um homem do que ser marcado pela vida toda como “abusivo”.

3. Medo. Medo puro de perder a liberdade de ter alguém para limpar suas bobagens quando nada mais der certo. Como eu disse, a sociedade é paternalista e trata a mulher como uma incapaz. O que faltou dizer é que o homem impõe e a mulher cede a sustentação para tal. Desde o medo de não ter mais a “carta branca” e ter que respeitar relações de poder que não a favorecem até mesmo o medo de ter que assumir responsabilidades pelo que faz. É isso que um homem faz: Ele SE VIRA.

ÓBVIO que o fato de uma pessoa mais forte bater numa mais fraca configura uma forma de covardia. Mas… será que é a única forma de covardia?

No caso de uma mulher que provoca um homem, sabendo ou não se ele é violento, pode ser tanto um caso de descontrole emocional quanto uma forma de ser covarde. Digo isso porque uma mulher em suas faculdades mentais razoáveis já sabe que é difícil para um homem bater nela por causa das repercussões de tal ato. Não é só passionalidade, é confiança na impunidade. É abusar de uma idéia criada para proteger pessoas realmente inocentes. Não sei quanto a vocês, mas para mim isso é uma tremenda covardia. É fácil ser corajoso quando o tigre está enjaulado. Nesse momento a mulher tenta inverter a relação de poder e “bater” em quem não deveria se defender.

Eu mesmo digo que nada justifica bater numa mulher. Agora, não ser justificável NUNCA teve nada a ver com não ser possível. Uma mulher que sente que acuou um homem e está vendo ele entrar em modo puramente instintivo deveria ter pelo menos o cuidado de se proteger contra um ser que pode muito bem quebrá-la em pedaços.

Se a jaula está aberta e você continua provocando o tigre, aceita de bom grado a chance de tudo dar errado. E se você se baseia em alguma vantagem usada da forma errada, além de ser burra, está sendo covarde sim senhora.

É fácil falar disso considerando que a mulher provocou. Vou passar direto pelo meio-termo onde apenas o agressor é covarde, como quando a mulher para na hora certa ou quando ela não tem condições de se desvencilhar do abusor e seguir para o lado oposto: A mulher que apanha sem assumir nenhum risco razoável e perdoa o homem.

Não está claro que a covardia corre solta nesse caso? Por ambos os lados. Pode ser lindo achar que amor é uma coisa que vence tudo, mas se você tem um mínimo de amor próprio, não fica por opção com alguém que te faz mal. O homem é um covarde por bater na mulher, mas a mulher é uma covarde por não tomar uma atitude para se proteger. É covarde por NÃO SE VIRAR para escapar. É covarde por aceitar um modelo de relação primata (e mesmo assim, nem macaco espanca sua fêmea), muitas vezes por medo de ficar sozinha ou por achar que tem alguma culpa real pelo que aconteceu.

Covardes se complementam. Muitas vezes esse tipo de mulher é a que perde completamente a capacidade de funcionar na sociedade sem alguém para ser seu dono. Desde a filhinha do papai até a masoquista. Covarde é quem se permite tornar propriedade no sentido real da palavra.

Percebam que eu usei o termo “masoquista” no parágrafo acima, mas só agora vou falar das mulheres que GOSTAM de apanhar. Posso até não me ater às definições de dicionários sobre as idéias, mas quero expressar essa diferença essencial: A mulher que gosta de apanhar não gosta exatamente da violência física, gosta é do controle. A masoquista sim sente prazer direto pela dor física.

E tem covardia aí também. A mesma mulher que acha o máximo levar um chacoalhão de seu homem para sentir que tem direção na vida enche a boca para dizer que mulheres tem o direito de ser tratadas socialmente como bibelôs fragilíssimos. Medo de assumir duas verdades inconvenientes, aqui citadas:

1. Toda mulher gosta de apanhar; (Nelson Rodrigues)
2. Quem manda nessa porra aqui SOU EU! (Cap. Nascimento)

Embora a primeira exija um pouco de reflexão para seu entendimento (e eu já dei a dica no texto), a segunda é clara como uma alva nádega feminina esperando para ser estapeada.

Dizer que uma mulher é vítima automática em qualquer caso de agressão perpetrada por um homem é simplificar demais as coisas, é ignorar os casos onde existe a VIOLÊNCIA em si e colocá-los no mesmo barco que uma relação ÓBVIA de dominador e dominada que remete aos nossos mais antigos ancestrais.

Não, bater numa mulher não é diferente de bater num homem fraco. Não é crime maior por culpa do gênero da vítima. Esse tabu continua vivo porque mulheres não sabem muito bem o que querem. Ora valorizam o homem que vai manter suas injustas regalias, ora valorizam o que são programadas para valorizar: O homem que remete ao macho-alfa.

Como eu sempre digo: Não custava nada ter pensado um pouco melhor nessa tal de liberação feminina, não? Ou vai ser vítima eterna ou vai ser um membro da sociedade com direitos e responsabilidades iguais. Ganha-se de um lado, perde-se do outro.

Se você está pensando agora nos casos de mulheres que são surradas por cretinos bêbados todos os dias no mundo sem conseguir escapar e babando para fazer um comentário, bata a cabeça no teclado até entender sobre o que eu falei. Tomara que doa.

Para me chamar de porco machista, para pedir uma surra com todo o carinho ou mesmo para dizer que os pelos do seu buço são mais inteligentes que eu: somir@desfavor.com


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