Biden troca nomes e chama Zelensky de Putin em evento da Otan. “Senhoras e senhores, presidente Putin”, disse Biden, que depois se corrigiu: “Ele vai derrotar o presidente Putin… Presidente Zelensky… você é muito melhor”. LINK


A polêmica continua, o circo está cada vez maior, mas ninguém está falando do elefante idoso na sala. Desfavor da Semana.

SALLY

João Bidê passou vergonha novamente. E dessa vez na frente de todo o mundo, literalmente: na cúpula da ONU. Anunciou o Presidente da Ucrânia chamando-o de “Putin”. É uma espécie de chamar atual pelo nome do ex do mundo da política. Também confundiu sua vice, Kamala, com o Trump. A sucessão de gafes cresce a cada semana.

Mas não é exatamente sobre o Biden que queremos falar, até porque, Somir e eu divergimos nesse assunto: ele acha que o comportamento do Biden é normal para a idade, eu acho que o tio tá completamente prexeca das ideias e acometido de uma doença degenerativa que galopa. Não é sobre o Biden, é sobre a dinâmica entre a sociedade e o idoso.

À medida que envelhecemos é normal que algumas funções físicas e cognitivas entrem em declínio. É esperado, é cientificamente explicado e mensurado. Em contrapartida, a vida costuma dar mais calma, mais sabedoria, mais atributos relacionados à experiência. Perde-se por um lado, ganha-se por outro. E nada disso é demérito.

Assim como o jovem costuma ter uma forma física melhor, tem titica de sabiá amarelo na cabeça, por isso, entre outras coisas, não lhe é permitido votar até uma certa idade, pois não tem a vivência, o discernimento e a experiência necessária para fazer boas escolhas. Todas as idades têm prós e tem contras e, novamente, isso não é demérito nem deveria ser um problema. É inerente ao ser humano e ao seu ciclo da vida.

Mas, só para variar, a militância está radicalizando as coisas e transformando limitações naturais em um problema. Hoje não se pode abrir a boca para dizer que, por causa da idade, alguém não pode fazer algo se colocar em risco a coletividade que logo vem um exaltado gritando “ETARISMO!”. Na era da militância, um idoso tem as exatas mesmas capacidades físicas e intelectuais de qualquer outra idade e quem ousar contrariar é um preconceituoso.

Isso é ruim, inclusive para o próprio idoso. É escroto ter essa expectativa sobre ele. Gera uma obrigação de corresponder a algo irreal que é insana. Gera a falsa ilusão coletiva de que um idoso pode fazer qualquer coisa e, se na hora da execução ele não corresponder, ele só pode estar demenciado, afinal, ele é capaz de tudo.

É preciso reconhecer que com o passar de muitos anos algumas funções vão decair e levar em conta esta informação ao criar regras na sociedade. É apenas justo, com todos os envolvidos, partir dessa premissa.

É nessa hora que sempre aparece um abençoado com uma evidência anedótica para nos contradizer: “Mas Sally, o tio do primo do amigo do meu vizinho tem 127 anos, anda de moto, faz flexões e dá aula de física quântica!”. Bom para ele. Mas as regras da sociedade não são feitas com base no tio do primo do amigo do seu vizinho, são criadas com base na média da população. E na média, todos nós experimentamos declínio físico e cognitivo com o passar dos anos.

Nessa hora também aparece uma Pessoa Quer Dizer, presumindo errado: “Quer dizer que vocês acham que idoso não pode fazer nada? Quer dizer que vocês acham idoso inútil? Quero dizer que vocês são favoráveis a discriminar o idoso?”. Não, Pessoa Quer Dizer, não é isso que estamos falando. Estamos propondo uma reflexão para ajustar o papel do idoso na sociedade, como uma proteção para o próprio idoso.

A única forma de fazê-lo estabelecendo critérios justos é com a ciência. Hoje, já é mensurável a média de declínio das funções pelo passar do tempo. Usando a ciência como parâmetro, podemos estabelecer limites que protegem a sociedade e protegem o próprio idoso.

“Ain, idade é só um número, não quer dizer nada”, disse Enzo, defensor do Hamas, cresceu comendo biomassa de banana e nunca pagou um boleto na vida. Idade gera restrições físicas e mentais nas pessoas e, para proteção delas e de toda a sociedade, devem existir regras sobre o que elas podem fazer quando seus atos impactam a todos.

O idoso quer subir na cadeira de rodinhas, descalço e molhado para torcar uma lâmpada na sua casa? Não recomendo, mas não cabe à lei regular. O idoso que não sabe nem onde está tem acesso a botão nuclear? Pera aí, vamos conversar melhor sobre isso!

Se você acha que esses limites não são necessários, olhe à sua volta, temos exemplos diários de que são. Todo mundo conhece um idoso que não tem a menor condição de dirigir, mas que pega ao volante por não querer aceitar ou não ter consciência das suas limitações, só para citar um exemplo. É necessário criar uma norma protetiva geral. Sim, protetiva, muitas vezes restrição é uma forma de proteção.

Por melhor que um idoso chegue aos 105 anos, seus reflexos, sua força e muitos outros atributos estarão consideravelmente reduzidos, tornando-o um risco ao volante. Permitir que esse idoso dirija nas ruas de São Paulo ou Rio de Janeiro é ruim para todos, inclusive para o próprio idoso. Encarar isso como uma ofensa é negar a própria concepção de envelhecimento: envelhecer significa ter algumas capacidades físicas e cognitivas reduzidas. Para todos. E isso não é vergonha, é um processo normal.

Então, achar que é possível colocar uma pessoa de mais de 80 anos em um dos cargos mais importantes e exigentes do mundo me parecer insanidade. Seja Biden, seja quem for. Esteja demenciado ou não. Assim como existe limite mínimo de idade para ser Presidente, deveria existir limite máximo, pois é um cargo extremamente desgastante física e cognitivamente. Na média, de uma certa idade para frente, não vai dar conta. Outros terão que fazer, por trás dos panos, muitas das suas atribuições.

O massacre que o Biden vem sofrendo é a prova disso. “Mas Sally não é justo comparar o Biden com o Trump”. Não, não. Eu quero comparar o Biden com o próprio Biden, de 4 anos atrás. Procura qualquer vídeo da campanha do Biden das eleições passadas para você ver como era a fala dele, a marcha, o tônus muscular do rosto. Esses quatro anos o destruíram, pois colocaram sobre seus ombros mais do que ele podia carregar.

Está todo mundo focado em falar especificamente do Biden, mas em algum momento vamos ter que ter esta conversa de forma geral: com os avanços científicos, com as pessoas vivendo mais, com o envelhecimento populacional, será necessário estabelecer limite máximo de idade para atividades que demandem aptidões físicas e cognitivas que se perdem com o tempo.

E isso não é etarismo, isso é realismo. Etarismo é preconceito com base na idade. PRÉ CONCEITO, um conceito que se forma antes de você conhecer ou estar informado sobre. O que estamos propondo aqui é uma decisão super informada, avalizada pela ciência: avaliar o declínio de certas funções com o passar dos anos e estabelecer limite de idade para atividades envolvendo essas funções.

Existirão zonas cinzentas? Com certeza, mas isso nunca nos impediu de regular nada, não é mesmo? Estupro tem zonas cinzentas, vamos liberar por causa disso? A chave que precisa virar é a de não ser ofensivo, pejorativo ou demérito não poder mais executar certas atividades com o passar do tempo. Não é preconceito, não é ofensa, é apenas normal. É o ciclo da vida.

Mas o brasileiro médio não está preparado para essa conversa. Ele pode facilmente apontar para uma mulher de 45 e dizer que ela “está velha para decidir ter filho” (e filho só impacta a mulher), mas quando se fala de “tirar poder” de um homem, seja tirando seu cargo ou sua carteira de motorista (um motorista que não tem reflexos coloca em risco a sociedade toda), todo mundo dá faniquito.

A regra é clara: se só impacta o idoso, pode fazer o que quiser, mas se majora de alguma forma o risco para o resto das pessoas, é preciso estabelecer limites. Essa vem sendo a dinâmica social por séculos e se aplica a todos os outros grupos, então, vamos parar de histeria e começar a pensar em critérios justos para melhorar a vida de todo mundo.

Anota aí: ainda vamos ter que passar por muitos problemas e estresses sociais até cair a ficha de que essa restrição etária é necessária para atividades que afetam a sociedade. Você, cabecinha pensante, já vá amadurecendo essa ideia, pois em algum momento, ela vai ter que virar realidade.

Para dizer que está com pena de João Bidê (eu também), para dizer que fazem piada com o Biden mas quando o Lula se confunde passam pano ou ainda para nos chamar de etaristas (que preguiça…): comente.

SOMIR

Eu acompanho um pouco mais do que a média a política americana (acho interessante e tudo o que acontece lá acaba vindo pra cá), então me coloco numa posição um pouco mais informada sobre toda a questão de Biden. Depois das gafes, Biden participou de uma coletiva com jornalistas, que eu vi ao vivo por mais de uma hora. Importante ressaltar que eu o ouvi em inglês mesmo, sem o caos de um tradutor simultâneo.

Meu diagnóstico: Biden falou bem, não me pareceu nem um pouco gagá, respondeu de forma coerente, e lidou bem com as inúmeras pancadas que tomou sobre a questão da idade e da possível demência. Como a Sally já disse, com base no que eu consigo ver, eu não sou do time que acha que ele está com alguma doença ou completamente perdido intelectualmente. Me pareceu uma pessoa idosa lúcida, embora claramente sofrendo com os problemas da idade.

Vou mais longe, Biden é muito mais coerente e racional que Trump. Trump poderia estar num estágio avançado de Alzheimer e ainda enganar todo mundo, afinal, ele não costuma falar nada com nada. É 100% confiança ao dizer e 0% conteúdo. Se eu tivesse que votar em quem tem mais cérebro funcional para comandar um país, votaria em Biden.

Dito isso, sou contra a ideia de Biden concorrer. O primeiro ponto é que ser menos maluco que o Trump não é mérito. Lula não é uma boa pessoa por não ser o Bolsonaro. É o problema que vivemos com as escolhas trágicas definidas pela era da polarização. Se do lado republicano tivéssemos um candidato menos insano, alguém mais clássico com ideais de Estado mínimo e políticas conservadoras (que é diferente de ser reacionário), Biden teria muito mais problemas em parecer bom em comparação.

Porque aí a discussão sairia de quem é menos pior para quem é melhor. E isso faz toda a diferença. Assim como no Brasil ficamos presos em escolhas ruins entre terraplanistas de direita e terraplanistas econômicos de esquerda, os americanos com um cérebro não podem pensar em quem faria o melhor para o país. É apenas uma questão de quem vai causar menos danos.

Numa eleição menos contaminada por polarização, histeria e populismo, Biden seria visto pelo o que realmente é: alguém que passou da sua capacidade física de exercer o cargo como deveria. Seria uma análise mais serena, sem o circo que se formou ao redor. As notícias e recortes que chegam até o cidadão médio são baseadas na ideia de que Biden é um problema porque está completamente louco das ideias. Não é verdade. Ele é um idoso clássico cujo corpo não aguenta mais o tranco de uma vida pública demandante como a de presidente dos EUA.

Não precisa distorcer confusões de nome numa narrativa de que Biden está a um passo de tirar a roupa e começar a xingar as nuvens, é só observar o esforço monumental que ele parece ter para fazer coisas básicas. Se eu caísse de paraquedas na presidência dos EUA, com certeza gostaria de ter Biden como meu assessor direto. Alguém que sabe muito bem como funciona o sistema. Eu ouviria atentamente seus conselhos.

Deixa a pancadaria de viajar sem parar e ser pressionado por todos os lados para mim, que ainda tenho saúde para isso. Deixa o velho num ambiente mais sossegado e usa a sabedoria dele quando for a hora. Manda ele numa missão para bater papo com o presidente chinês, com dias de preparação, hotel confortável e reunião de duas horas com vinte assessores para fazer a parte chata. Depois o véio pode tirar uma soneca e passar uns dias com os netos.

A gente não está dizendo que idoso é inútil, a gente está dizendo que na sanha de ter uma sociedade mais acolhedora, estamos perdendo a capacidade de sermos realistas. Ter idosos por muito mais tempo pode ser um problema ou uma solução na sociedade moderna, mas parece que estamos indo para o caminho do problema: ao invés de focar em funções específicas para o físico e o mental do idoso, estamos só mantendo eles nas mesmas funções por mais tempo.

E aí, um senhor de mais de 80 acaba achando que pode ter o cargo mais demandante do mundo moderno por mais 4 anos. Biden é culpado pela sua teimosia, o idoso ainda é uma pessoa e tem potencial infinito para defeitos. Tem que ter um limite para quanto se permite exigir do idoso. Se a idade limite para presidência fosse de 75 anos, os dois já estariam fora. E se fosse aqui no Brasil, não teríamos mais o Lula. Ainda teria todo o problema do Bolsonaro, mas apenas por mais 6 anos…

Democracias precisam de renovação, é parte do conceito básico trocar as pessoas para ninguém ter poder demais, nem por tempo demais. Biden não precisa ser um demente para não ser mais uma escolha razoável, basta que o cargo seja muito pesado para ele. Eu não quero depender das mãos de alguém com 80 anos para fazer uma cirurgia em mim, mas com certeza quero que um médico lúcido dessa idade faça parte do time. Cada vez mais vamos ter pessoas muito mais velhas no mercado de trabalho e em posições de poder público, isso pode ser uma vantagem, desde que saibamos enxergar a realidade das limitações que todo mundo tem.

Podemos ver como Biden passou da idade para ser presidente, mesmo que eu, provavelmente voto vencido, não esteja enxergando demência nele. É um trabalho muito pesado na parte física também, porque força o cérebro num modo de alerta constante. Presidentes que não trabalham como Trump e Bolsonaro talvez encarem melhor, o americano só jogava golfe e o brasileiro só andava de moto, eles mal entendem o que é trabalhar, dois vagabundos históricos. Mas alguém que leva a sério vai derreter rapidamente. Tem que ter limite de idade. Tem que respeitar a natureza.

Se quiser chamar de etarismo, chame. Mas continua sendo burrice: não é sobre tratar o idoso como uma pessoa inútil, é sobre observar seres humanos e oferecer a eles condições decentes de vida. Idoso tem função social, e não é carregar saco de cimento ou viver em estresse imenso constante. Ajuda a pessoa e ajuda muito mais o mundo ao nosso redor.

É um problema que nunca tivemos porque a maioria das pessoas nem chegava nos 75, mas começou a ser. Ou lida com isso ou acaba elegendo pessoas como o Trump por teimosia…

Para dizer que somos preconceituosos, para dizer que tinha que ter limite para outras coisas que as pessoas querem ser que não são, ou mesmo para dizer que tem que deixar colocar a mão no fogo para aprender: comente.

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Comments (8)

  • Pelo que pesquisei no Google a diferença de idade é pouca 78×81, a questão é que um é Tio Paulo e o outro é um macho alpha. Nem todo velho é igual.

  • Engraçado que não existe isso de “etarismo” no mercado de trabalho. Se você chegou em uma certa idade (+35 anos) e está tentando se recolocar no mercado de trabalho, bom, pau no seu cu. E praticamente ninguém fala nada, na verdade, periga de te julgarem “por que deixou chegar nesse ponto?”

    Mas como estamos falando de uma histeria democrata, agora existe isso de “etarismo” porque é certeza que o Biden cagou no pau e o Trump vai vencer. Foda-se se ele parece o Mun-Ha depois de um AVC e não consegue nem manter a própria higiene sozinho, tudo que precisam é de um boneco pra não deixar o adversário ganhar.

    Como não investiram em ninguém mais jovem, vão jogar essa cartada do etarismo até o mundo acabar, agora se tivessem uma opção mais “fresca”, dez minutos para pintarem o SamamBiden de retrógrado e “precisamos pensar nas novas gerações, boomers”

    Ninguém nessa histeria liga pra idoso nenhum, inclusive teriam um faniquito se precisarem abrir mão da própria vida pra cuidar de um.

  • Eu acho que é uma tremenda insanidade colocar tanto poder nas mãos de alguém tão frágil em nome de não parecer preconceituoso. E estou olhando para Biden, Trump, Lula e Biroliro também.
    Inclusive, não gosto do fato das decisões que vão afetar o futuro da minha geração (e de todas as gerações posteriores aos boomers, na verdade) estarem sendo tomadas por pessoas que não viverão o suficiente pra conviver com as consequências delas. Mas isso é um problema mundial e não há sinais de melhora. A coisa mais patriótica que essa turma de maus velhinhos poder fazer é se aposentar sem indicar sucessores, mas isso é sonhar alto demais…

    • Continuo achando que ter idade para cargo nacional (ou mais alto, tipo o continental e decorativo Parlasul) deve ser entre 31 e 49, mesmo que um Enzo aí finja que pode ser quase como está…

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