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Rinite Medicamentosa.

Rinite Medicamentosa.

| Sally | | 16 comentários em Rinite Medicamentosa.

Hoje vamos falar de um vício que é bastante comum, mas por ser considerado inofensivo, não recebe a devida atenção. Todos nós estamos sujeitos a ele e, provavelmente, muitos de vocês até o venceram sem nem perceber o que estavam fazendo. Entendendo como funciona vai ficar mais fácil nunca cair nele ou se livrar do problema, caso já faça parte da sua vida. Desfavor Explica: Rinite Medicamentosa.

A história é quase sempre esta: a pessoa passar por algum problema de saúde que entope seu nariz (como alergia, resfriado ou algo do tipo), pinga descongestionante nasal enquanto dura o problema, mas… quando fica curada, não consegue mais deixar o descongestionante nasal, pois seu nariz entope se não fizer uso do medicamento. São os viciados em gotas para o nariz. Gente que não consegue nem mesmo dormir sem descongestionante nasal.

Como se trata de um vício que não é socialmente reprovado e de manutenção relativamente barata, a pessoa assume que o descongestionante nasal terá que fazer parte da sua vida e continua usando, o que pode gerar uma série de problemas futuros. A boa notícia é: qualquer um pode se livrar deste vício, que na verdade, nem vício é, é uma “rinite medicamentosa”.

Vamos começar pelo básico. Uma das funções do nariz no corpo humano é atuar como um filtro para o sistema respiratório, melhorando a qualidade do ar que chega aos pulmões. Eventualmente, uma série de fatores podem causar irritação na região e, quanto isso acontece, temos a rinite, que nada mais é do que a inflamação da mucosa nasal.

Essa inflamação (rinite) pode ter diferentes origens. Ao contrário do que muita gente pensa, nem sempre a rinite é alérgica.

Existe a rinite infecciosa, que ocorre quando o nariz entope por causa de vírus ou bactérias, como por exemplo, quando ficamos resfriados. Tem a rinite alérgica, que ocorre quando o sistema imune detecta partículas estranhas no ar e o corpo, por precaução, “entope” o nariz para que essas partículas que identificou como nocivas não cheguem ao pulmão. Tem a rinite não-alérgica, que é a que não é ativada nem pelo sistema imune, nem por vírus e bactérias. E temos a grande estrela do dia, a rinite medicamentosa. Vamos aprofundar nela.

Mas antes é preciso compreender como funciona esse “entupir” o nariz. A mucosa nasal contém muitos vasos sanguíneos, que tem a capacidade de se contrair ou se dilatar de acordo com a necessidade. Este mecanismo serve para muitas coisas, desde aquecer e umidificar o ar, até aumentar a filtragem de partículas, fazendo com que o ar chegue com mais qualidade aos pulmões.

Quando alguma substância supostamente perigosa ou irritante passa pelo nariz, este mecanismo entra em ação: os vasos sanguíneos se dilatam, ou seja, se expandem, ocupando mais espaço e “fechando” a passagem, para que essas substâncias não cheguem ao pulmão. Então, o que entope seu nariz não é meleca, é a dilatação dos vasos, como mecanismo de proteção.

Via de regra, essa vasodilatação que gera a sensação de nariz entupido dura poucos dias, enquanto durarem os fatores irritantes. Mas, como é muito ruim ficar de nariz entupido, quase todo mundo recorre a algum tipo de descongestionante nasal. Eu mesma faço. É insuportável dormir respirando pela boca.

O que o descongestionante nasal faz é uma vasoconstrição, ou seja, ele reduz o calibre daqueles vasos sanguíneos que estavam dilatados, permitindo que o ar tenha espaço para circular novamente. Percebam que ele não soluciona o problema, ele apenas atenua um sintoma.

Portando, se o problema não for atacado na raiz, os vasos continuarão dilatando e será necessário continuar pingando gotinhas para que eles reduzam de tamanho e acabe a sensação de nariz entupido. Quando o problema se resolve sozinho, como no caso de gripes e resfriados, é só esperar, fazer o uso correto (não excessivo) do descongestionante nasal e parar na hora certa.

Mas se for de outra natureza, além de pingar descongestionante, a pessoa precisa tomar outras providências para solucionar o que está causando o nariz entupido.

Se a pessoa não soluciona o que gera a vasodilatação e apenas pinga gotinhas para desentupir o nariz, ela pode acabar criando outro problema: o efeito rebote. Os vasos passam a dilatar por causa da irritação provocada pelo remédio para desentupir o nariz, as gotinhas passam a ser o fato gerador do nariz entupido. E, com mais nariz entupido, a pessoa pinga mais gotinhas, gerando um círculo vicioso que só piora o problema.

Essa é a rinite medicamentosa: quando de tanto pingar gota no nariz o próprio remédio acaba se tornando o fator que irrita a mucosa nasal, gerando mais nariz entupido.

Para piorar a situação, o estímulo vasoconstritor dos descongestionantes é tão violento que, dependendo do tempo de uso, o nariz pode até perder a sensibilidade para estímulos vasoconstritores do corpo, que são mais fracos. Então, quando se tenta parar de usar, o nariz fica naturalmente entupido. E de brinde, ainda vem um efeito rebote violento: quando o efeito do descongestionante passa, o nariz fica mais entupido do que nunca.

Um detalhe importante é que a rinite medicamentosa não tem como sintoma apenas o nariz entupido, além da congestão nasal, ela também pode se manifestar na forma de coriza, coceira, espirros, dor de cabeça, irritação na garganta e sangramento nasal. Então, se você fez muito uso ou faz uso de descongestionante nasal e sente algum desses sintomas, hora de se livrar da rinite medicamentosa.

Não é que o seu corpo ficou “viciado” no remédio, é um pouco pior do que isso: você, pingando o remédio, está causando um dano ao seu corpo e a resposta a esse dano é um nariz cada vez mais entupido, por causa da irritação que o descongestionante nasal está gerando nele.

Mas, como muita gente não tem a menor noção desse mecanismo de funcionamento, pensa que tem constante alergia ou que o corpo “precisa” de descongestionantes por não funcionar direito. A pessoa acha que se ela parar de pingar gotinha no nariz nunca mais vai poder respirar normalmente. E isso não é verdade. É perfeitamente possível se livrar de descongestionantes nasais e nós já vamos te ensinar como.

“Mas Sally, eu uso um que é bem fraquinho”. Mas leitor… isso não existe! A única coisa segura que você pode pingar no seu nariz à vontade é soro fisiológico. Nada mais. Nada mais mesmo. Não estou dizendo que você não possa usar descongestionante, estou dizendo que tem que ser usado com cautela (já vamos ensinar como) e que você pode experimentar esse efeito rebote.

“Mas Sally, até Neosoro?”. Principalmente Neosoro. Eu não sei o que diabos a publicidade do Neosoro faz para que o produto tenha essa presunção de inofensivo, meus mais sinceros parabéns. Neosoro é terrível, vicia e de “soro” não tem nada. Afrin, Naridrin, Neosoro, Sorine, Rinossoro, Aturgyl ou qualquer coisa do gênero. Se não for soro fisiológico, muito cuidado e não abuse. Se você já abusou, calma que tem jeito.

Vamos deixar uma coisa clara aqui: eu jamais pediria a alguém que viva com o nariz entupido, isso não é vida. Não existe sono decente, refeição digna ou sequer a possibilidade de um beijo bem dado com nariz entupido. Não é esse o convite. O convite é se livrar de descongestionante nasal que faz mal para o organismo e voltar a respirar normalmente. Sim, faz mal. Além de te impedir de respirar, pode causar outros problemas.

O vício em descongestionantes nasais dificilmente vai te matar, mas ele pode gerar efeitos colaterais. Dependendo do grau, é possível que ele só possa ser revertido com uma cirurgia. O uso excessivo também pode gerar outros problemas no corpo, como taquicardia e hipertensão. Em casos raros pode causar arritmia cardíaca séria e comprometer o coração. Então, seria prudente que pessoas hipertensas ou com problemas cardíacos nem sequer usassem descongestionantes nasais, mas, se usarem, que seja com cuidado redobrado e data certa para parar.

“Sally, quero parar, como faz?”. Vamos começar pela prevenção: como não ficar viciado. O correto seria não usar por mais de três dias, e nunca mais de duas vezes ao dia, a menos que seu médico (e que seja um médico de confiança) diga o contrário. Então, funciona assim: o nariz entupiu? Você pode usar descongestionante nasal duas vezes por dia, por no máximo 3 dias e depois para. Se o nariz continuar entupido alguns dias depois de parar, tem que procurar o médico para outras opções de remédio e tratamento. Se passar disso, a pessoa pode experimentar algum grau de irritação por causa do descongestionante, passando a ser ele o gerador do problema.

Porém, se o vício já existe, o ideal é que se procure um médico (otorrinolaringologista) para que ele avalie a situação e oriente sobre a melhor forma de proceder. As pessoas vão procurar um médico? Não vão. Então aqui vão alguns conselhos de coisas que você pode tentar em casa, mas já te adianto que é menos sofrido fazer com a ajuda de um médico.

Vamos falar da regra geral: a regra é que a maior parte das pessoas pode se livrar sem maiores problemas do uso do descongestionante nasal. Você pode parar na raça, como a maior parte das pessoas faz, bancando algum período de nariz entupido. É horrível, mas não é o fim do mundo.

Com o passar de vários dias, o descongestionante vai sair do seu organismo e a tendência é que você passe a respirar bem novamente. Inclusive muitos de vocês já devem ter feito isso depois de uma gripe ou de algum período de uso de descongestionante: mandaram um “chega disso” e pararam na marra.

Mas, saiba desde já: ao parar com o descongestionante nasal, os sintomas vão piorar muito. Seu nariz vai ficar muito entupido por alguns dias, depois provavelmente vai começar a melhorar. Nada de pânico, nada de “não está funcionando, não tem jeito, vou ter que usar para sempre”.

Não dá para parar na marra? Ok, eu entendo, tem gente que entra em pânico com o nariz entupido, não dá para pedir que passem por isso. Se não dá para fazer na marra, vamos dar pequenos passos: dilua o descongestionante gradualmente em soro fisiológico, colocando cada vez mais soro e cada vez menos descongestionante, até que você pingue apenas soro. Ainda assim pode ser que em algum momento o corpo entupa ainda mais o nariz pelo efeito rebote.

É por isso que indicamos fazer essa transição com acompanhamento médico, para que ele te passe medicamentos alternativos que ajudem a desentupir o nariz sem piorar o problema, como por exemplo, lavagem nasal, medicamentos anti-histamínicos descongestionantes orais e até corticoides.

“Mas Sally, corticoide não faz mal?”. Corticoide (Budecorte, Busonid, etc.) não causa efeito rebote, então, para o que estamos combatendo, não faz mal. O que não quer dizer que você possa tomar para sempre, pois no longo prazo pode causar outros problemas tão graves quanto ou até piores. Por isso o corticoide será usado de forma controlada e por um curto período de tempo, até a irritação causada pelo descongestionante nasal passar por completo e a pessoa conseguir respirar bem sozinha. É uma muleta para conseguir sair.

Uma curiosidade: também se conseguem bons resultados apelando para efeito placebo, desde que quem usa o descongestionante não saiba que é placebo. Muitas pessoas acabam ficando “viciadas” mais no pingar algo no nariz do que no remédio em si. Eu já vi casos em que alguém substituí o descongestionante nasal por soro fisiológico sem que o usuário saiba e a pessoa continua sentindo os efeitos descongestionantes do remédio quando borrifa soro fisiológico no nariz. Longe de mim sugerir que você faça isso com alguém, apenas informação.

“Mas Sally, meu nariz só entope quando eu me deito, é por causa do descongestionante?”. Pode ser. Pode não ser. Só um médico vai poder te dizer. Tem que avaliar muitos fatores. Fatores externos (ambiente no qual se dorme, temperatura, posição e outros), fatores internos (ciclo nasal, adenoides, desvio de septo e outros) e muitos mais. Até refluxo gastroesofágico pode deixar seu nariz entupido à noite. O importante é: o que quer que seja, tem tratamento e solução. Não se acomode no descongestionante nasal, pois ele faz mal ao seu organismo.

Enquanto você não procura um médico, algumas dicas para que seu nariz não entupa (ou entupa menos) quando você se deita: beba muito líquido, tome um banho quente antes de se deitar para inalar um pouco de vapor ou use um umidificador de ambiente, limpe o nariz com soro fisiológico. Gosto de acreditar que um deles vai te ajudar.

Faça tudo, menos usar descongestionante nasal para dormir, pois além de fatalmente criar uma rinite medicamentosa, você ainda vai estragar seu sono, fragmentando-o para reaplicar o descongestionante.

Pior dos casos, quando um estrago muito grande foi feito, uma cirurgia simples pode corrigir o problema. Respiração é uma função vital muito importante, dependendo da forma e quantidade de ar que chega aos pulmões nosso corpo funciona melhor ou pior. Não sacaneie seu corpo prejudicando ou tumultuando sua respiração. Não atente contra você mesmo.

Dá para parar com o descongestionante nasal. Melhor que seja com acompanhamento médico, mas se não der, pare na raça. Qualquer coisa é melhor do que continuar causando danos a você mesmo.

Para dizer que seu corpo ficou viciado no remédio (sim, tem gente que não lê uma linha e comenta), para dizer que é mais fácil continuar usando o descongestionante (em alguns anos a gente conversa) ou ainda para dizer que como argentina eu devo entender bastante do assunto: sally@desfavor.com


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