FAQ: Coronavírus – 58

Estamos em uma nova onda? Em que onda estamos?

Dentro daquilo que combinamos com nossos leitores, de sempre dar um alerta quando a situação ficasse mais perigosa que o normal, formalizo aqui: o Brasil passa por uma nova onde de covid. Qual onda é? Eu francamente não sei, o país faz questão de não ter qualquer controle, acho que não tem ninguém contando. A Europa está entrando na sua sétima onda, é tudo que posso te dizer.

Essa nova onda não será sentida em um primeiro momento no Brasil, pois tem muita gente vacinada, portanto, menos pessoas irão ao hospital e morrerão, mas talvez seja sentido em um futuro, quando boa parte desses contaminados tiverem covid longa.

Em que pese toda a subnotificação (tem estados que apenas pararam de reportar mortes e hospitalizações) e redução de hospitalização e mortes por causa da vacina, os números brasileiros atuais não são nada bons: os testes positivos para covid já alcançaram o patamar da primeira onda de Ômicron, o número de casos é o mais alto desde fevereiro (os casos semanais está chegando a 400 mil) e o número de mortes chega a passar de 400 por dia, mesmo com toda a subnotificação.

Como já falamos no FAQ anterior, a liberação do teste de covid de farmácia sem qualquer controle fez com que o país perca qualquer remota noção do que está acontecendo. Some-se a isso o fato da maior parte das pessoas estarem vacinadas, ou seja, dificilmente terão sintomas graves, ou seja, dificilmente procurarão um médico ou testagem.

Assim, o país entra novamente naquela situação trágica de ter que mensurar o problema por seus mortos e hospitalizados – e estes dados também indicam uma nova onda. Já faltam leitos de UTI (adulta e pediátrica) em diversos estados. O Governo não fez qualquer campanha pela vacinação e o Presidente do Brasil foi a público defender mais uma vez tratamento precoce e desmerecer a vacina.

Mas, a realidade não está nem aí para o que idiotas acham. Pode reparar que à sua volta com certeza tem alguém com gripe, alergia, resfriado ou qualquer outro problema respiratório que a pessoa jura que não é covid. Como ela sabe que não é covid? Ela não sabe. Ela apenas diz que não é. Você só pode afirmar que é ou não é covid se fizer um PCR (teste de farmácia é uma piada cara e falha).

Então, neste exato momento, temos muitas pessoas que estão contaminadas e não sabem que estão contaminadas (pois estão sem sintomas), muitas pessoas que estão contaminadas e com sintomas leves, mas não acham que tem covid pois não fizeram um teste sério e, por fim, um tipo fascinante de pessoas que estão com sintomas, fizeram um teste caseiro, sabem que estão com covid mas estão sendo obrigadas a ir trabalhar mesmo assim pois “covid não mata mais, não precisa de licença médica”.

Some-se a isso o fato de que todas as crianças com menos de cinco anos do país estão sem vacina, então, se papai, mamãe ou vovó pegarem covid na rua e levarem até essas crianças, elas estão correndo risco de morrer, de adoecer e de ter sequelas a longo prazo. Ainda assim, o brasileiro insiste em não usar máscara, em não evitar aglomeramento e em se portar como se nada estivesse acontecendo.

O site do Ministério da Saúde diz que 80% das pessoas estão vacinadas, mas sabemos que isso não é verdade. Só tem o cronograma vacinal completo quem tomou 4 doses, que no Brasil, não chega nem à metade da população. Vacina aplicada no ano passado não confere uma boa proteção, são necessárias doses de reforço para estar protegido.

Essa é a situação no momento: uma onda enorme, que não podemos mensurar em números exatos, que não está sendo percebida, que não está sendo temida nem controlada, mas que vai deixar morte e sequelas. Cabe a você escolher como quer se posicionar. Meu conselho é que, no mínimo, use máscara assim que sair de casa, não aglomere e não tenha contato com quem não se cuida. Essa Ômicron é o vírus mais contagioso que a humanidade já foi exposta, ter um pouco de cuidado e respeito é bom.


Como está a liberação de vacinas para crianças?

Nos EUA ela já começou, no Brasil, ainda não. A ANVISA vai analisar a questão amanhã (quarta-feira), até onde eu sei.

Mas, como bem sabemos, a ANVISA tem lá suas peculiaridades (aprova centenas de pesticidas comprovadamente cancerígenos para uma firula danada para aprovar uma vacina aplicada em mais de 60 países sem qualquer efeito colateral grave). Também sabemos que o fato da ANVISA aprovar não significa que, no dia seguinte, a vacina está no braço das crianças, então, continuem cuidado muito bem dos seus pequenos e não deixem que eles convivam com qualquer pessoa que não esteja fazendo quarentena.

“Mas Sally, isso não é excesso de preocupação? Aqui no Brasil ninguém está fazendo quarentena”. Não sei, me diz você. Te passo os dados e você conclui o que quiser.

O Brasil é responsável por um quinto de todas as mortes de menores de dois anos no mundo. Não na América Latina, no mundo. Um mundo com África (continente com meia dúzia de vacinados), um mundo com guerra, um mundo com muita precariedade. De cada cinco crianças com idade inferior a dois anos que morrem de covid no mundo, uma é brasileira.

Sabe aquele papo dos EUA ser perigoso por ter um monte de negacionista que não se vacina? Pois é, na capital mundial do negacionismo, em um país que tem muito mais gente do que o Brasil (330 milhões de habitantes) e, por consequência, mais crianças também, tem apenas um terço dos óbitos de crianças que o Brasil tem. O Brasil é um ponto fora da curva quando falamos de criança morrendo de covid.

Também vale lembrar que o “A Ômicron é mais leve” já foi cientificamente desmentido sucessivas vezes. Se você expuser não-vacinados à Ômicron, verá que ela é tão ou mais letal que o covidão raiz. Não é a Ômicron que está mais leve, são as pessoas que estão mais vacinadas. Já dei esse exemplo várias vezes antes: se você manda blindar seu carro, um bandido atira e a bala não passa pelo vidro, não são as balas que estão ficando mais fracas, é o vidro que foi blindado e ficou mais forte.

Hoje, morre a mesma quantidade de criança que morria em 2020 e 2021, ou seja, não tem vírus mais fraco, tem adulto morrendo menos por estar mais vacinado. E seria ótimo que todas as crianças tenham essa proteção.

E não estou falando apenas em hipóteses extremas como morte, sabemos que uma a cada cinco pessoas que tem covid desenvolve Covid Longa. Como escrevemos bastante sobre isso no último FAQ, não vamos nos aprofundar, mas Covid Longa pode causar muitos transtornos, alguns ainda desconhecidos e outros até mesmo permanentes. Não é legal colocar uma criança sob esse risco.

Eu não tenho filhos, mas não me canso de ver declarações exacerbadas em redes sociais de amor infinito e de pais que fazem tudo pelos seus filhos. Pelo visto, é só discurso mesmo, já que vão para rua, não se cuidam direito e depois podem voltar carregando um vírus que pode matar ou deixar sequelas para o resto da vida em seus filhos. Recebem pessoas em casa, sem saber se elas se cuidam bem ou não (imagina que absurdo ter que lavar a própria louça, chama a empregada e coloca a vida do filho em risco). Eu achava que eu não gostava de crianças, mas o brasileiro gosta muito menos do que eu.

Eu sinceramente não sei como o brasileiro consegue sair tranquilamente sem se cuidar e voltar para uma casa onde tem crianças não vacinadas. Eu não sei como podem receber visitas tendo em casa uma criança não vacinada. Lembra lá no começo, quando não tinha vacina? Lembra os cuidados que eram necessários? Pois é, crianças sem vacina ainda estão naquela época, mas, no geral, com zero cuidados.

Então, assim que for liberada a vacina para crianças menores, não pense, não “estude”, não duvide: vacine. A vacina já se provou segura e eficiente, perder tempo neste momento é colocar a vida do seu filho em risco. Vacinas são seguras para todas as idades, apenas vacina. O que mata, o que deixa sequela, é covid. VACINEM SEUS FILHOS.


Estou com coriza, nariz escorrendo, um pouco de dor de garganta, mas nenhum sintoma grave. Vale à pena fazer teste para covid?

Vale, mas não teste de farmácia, que serve apenas para jogar dinheiro fora, já que não dá para confiar no resultado. Se for viável para você, faça um PCR.

Saber que você teve covid pode ser muito importante no futuro: se, dentro de alguns meses, você começar a apresentar determinados sintomas, saber se teve ou não covid será muito importante para saber se o que você está sentindo pode ou não ser Covid Longa.

Além disso, também é importante para saber se você deve ficar em isolamento. Por exemplo, se na sua casa ou no seu convívio existem crianças não vacinadas, você não pode conviver com elas ou com quem convive com elas (mãe, pai ou quem mais more com a criança).

Eu sei que seu nariz escorrendo parece uma besteira, mas, se uma pessoa não vacinada por contaminada, pode não ser apenas um nariz escorrendo. Pode ser hospitalização, pode ser morte, pode ser Covid Longa, podem ser sequelas para o resto da vida. Tenha empatia, comporte-se com os outros como você gostaria que se comportem com você quando você ainda não estava vacinado.

E, para terminar, saber se tem covid também é uma informação relevante para quem vai tomar dose de reforço da vacina: essa informação é crucial para determinar quando você deve se vacinar.

Mas, como eu disse, se for viável para você. Se um PCR compromete 50% do seu salário, se na sua cidade não tem, se por algum motivo há um impedimento intransponível ou que vai te causar grandes problemas, não faça. Porém, se comporte como se estivesse com covid: fique isolado, não saia e controle a sua saturação (oxigênio no sangue), pois muitos doentes acham que estão ótimos, não sentem falta de ar mas estão com oxigenação do sangue baixíssima e precisam sim de hospital e oxigênio. Oxímetro vende baratinho no Mercado Livre.

Uma ressalva: se for o caso, se você estiver com covid, vale lembrar que infecção por Ômicron não protege contra infecção por Ômicron. Você pode ser contaminado novamente, portanto, nada de achar que está imunizado. Estudos recentes mostram que não é incomum que uma pessoa pegue covid (e hoje o mundo todo é Ômicron) e, no mês seguinte, pegue novamente. Portanto, mesmo que você faça o PCR e descubra estar contaminado, continue se cuidando, pois quanto mais covid você pega, maiores as chances de desenvolver Covid Longa.


Precisa mesmo toma a quarta dose?

Precisa. Se você quer ter um regime de vacinação completo, estar realmente protegido, você precisa de 4 doses de vacina. Vou te passar alguns dados para que você entenda a importância.

Segundo dados do CDC (dos EUA), quem tomou a quarta dose tem quatro vezes menos risco de morte por covid do que quem tomou três doses. Isso quer dizer que três doses não bastam mais, tem proteção melhor. Não sei você, mas eu prefiro reduzir em quatro vezes meu risco de morte. E, quando comparamos com não vacinados, eles têm 42 vezes mais risco de morte do que quem tomou as quatro doses. Quem, em sã consciência, pode reduzir em 4 vezes o risco de morte, de graça, e não o faz?

Vi muita gente comentando que não tem vacina. Se alguém te falar isso, saiba que é mentira. O Brasil tem 28 milhões de doses de Pfizer e Astrazeneca (que custaram mais de um bilhão de reais) e que vencem em AGOSTO, ou seja, vacinas que tem que ser aplicadas nos próximos 20 dias, caso contrário terão que ser jogadas no lixo. Então, tem vacina sim, inclusive quarta dose liberada para pessoas a partir de 40 anos. Tome. Já. Ontem. O quanto antes. Já que vocês, no Brasil, não tomam mais nenhum outro cuidado (nem máscara o pessoal está usando mais), pelo menos estejam em dia com a vacinação.

Só não vale tomar quarta dose e se comportar como se não tivesse pandemia. Pela milésima vez: vacina é feita para você não morrer. Para não adoecer existe máscara, distanciamento social, lavar as mãos e juízo.

A proteção que a quarta dose dá contra morte e hospitalização é excelente, mas contra contágio não. Você estará bem protegido contra contágio por um ou dois meses, depois essa proteção cai drasticamente. Ou seja, você pega, não morre, não fica seriamente doente, mas pode ter Covid Longa, pode contaminar outras pessoas e estas sim, se não puderam se vacinar, podem morrer.


Não surgiu outra variante, né? Ainda é a Ômicron. Isso é bom, né?

Não necessariamente. A Ômicron continua gerando variantes de Ômicron, cada vez mais contagiosas e cada vez mais propensas a escapar do nosso sistema imune. Se a coisa continuar nesse rumo, pode acontecer que uma derivação da Ômicron um dia chegue ao escape total às vacinas. Tomara que não. Pode nunca acontecer. Mas pode acontecer também. O que quero dizer é que para ter problemas sérios não é necessário que a OMS designe uma nova letra para uma variante.

A versão dominante hoje é a Ômicron BA.5, que está causando bastante problema – e mutando. Mas, já tem variante da variante pronta para destroná-la, como por exemplo a BA.2.75, que parece ter surgido na Índia e estar chegando com muita disposição. Ela veio da BA.2, que provavelmente foi a que causou o grande pico de covid no Brasil em janeiro, só que a BA.2.75 parece ser uma versão ainda mais potente.

Então, mesmo sem ter um nome autônomo, as variantes da Ômicron preocupam e acumulam mutações em dois pontos importantes: na região em que o vírus usa para reconhecer as nossas células (o que faz com que ele possa nos infectar cada vez melhor e mais rápido) e na região que ele usa para se conectar às nossas células (o que faz com que seja cada vez mais difícil para nosso sistema imune reconhecê-lo).

Todos esperamos, de coração, que o vírus nunca consiga chegar ao ponto de um escape vacinal completo, mas, certeza ninguém tem. O que podemos fazer é tenta evitar ao máximo a circulação do vírus, pois, quanto mais ele circula, mais chances damos para que ele possa mutar.

Para dizer que o Brasil tem uma única grande onda desde 2020, para dizer que está curioso para ver em quem vão colocar a culpa quando Bolsonaro sair ou ainda para dizer “esperem o reset”: sally@desfavor.com

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Comments (8)

  • No Brasil tudo é avacalhado: saúde pública, governo, educação, comportamento, cuidados com os filhos….

  • “O Brasil é um ponto fora da curva quando falamos de criança morrendo de covid”. Sem dúvida, Sally. Mas o Brasil também é “um ponto fora da curva” – e BEM fora, para dizer a verdade – em um monte de outras coisas, especialmente nas que causam tragédias absurdas que seriam perfeitamente evitáveis se os problemas fossem encarados com um pouco mais de seriedade e de zelo.

    • Ainda sobre mortes de crianças por covid e vacinação: é no mínimo curioso constatar que a Sally, que não tem filhos e nem pretende ter, saiba melhor como proteger a petizada do que muitos papais e mamães metidos a zelosos que tem por aí.

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