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Oscar 2019

Oscar 2019

| Sally | | 53 comentários em Oscar 2019

Se você não assistiu à cerimônia do Oscar, fez muito bem. Se poupe desse tipo de coisa. Um culto ao lacre, com formato, pessoas e conjunto da obra decadentes, que mascaram essa decadência (tudo que existe de bom migrou para seriados) querendo fazer parecer que cinema é uma grandes bosta para poucos intelectuais privilegiados.

Nada contra utilizar a lógica do clubinho esnobe para fazer um grupo de pessoas se sentirem especiais, porém, para que não fique tão patético, é preciso sustentar isso com atos muito além do discurso. Não dá para revestir cinema dessa aura nobre e premiar filmes bostas como Pantera Negra. Ou é cult, cabeça, intelectual ou bota filme de super-herói no rol de indicados/vencedores.

O Oscar tentou fazer ambos, e não acertou em nenhum. Não é um clubinho intelectual, pois, em troca de popularidade premia filme de super-herói que sempre desprezou abertamente, e também não é popular, pois no final das contas, ainda valoriza pseudo-intelectuais que compactuem com sua agenda, fechando as portas para quaisquer outras obras que não sigam sua cartilha. Mas, vamos à cerimônia em si, esse show de horrores que não valeu um minuto do meu sono.

O cenário por horas parecia um cabaré de quinta categoria, por horas um pano de funda para uma apresentação de teatro infantil. Não que alguém espere bom gosto de algo historicamente brega como o Oscar, mas este ano se superaram. Nos anos anteriores, ao menos, havia um alívio cômico para aplacar a vergonha alheia: apresentadores, geralmente comediantes, faziam piadas que tornavam a cerimônia menos nauseante.

Graças à histeria do lacre, o apresentador deste ano foi banido e nenhum outro comediante quis aceitar o papel, considerando a quantidade de censura e proibições impostas. Acho que apenas um tema de piada seria permitido: esculachar o Trump. Graças a essa recusa, tiveram que fazer uma cerimônia sem um apresentador fixo.

Coube à organização do evento escolher pessoas que representem cada categoria. O que fizeram? Cagaram e andaram para a pertinência temática: se você é negro, oriental ou algum tipo de minoria, pode vir apresentar. Foda-se se é esportista e não ator, foda-se se o auge da sua carreira foi apresentar vídeocassetada de bichinho no Animal Planet, é minoria? Sobe aqui e lê esse envelope.

Se o critério fosse apenas para os apresentadores… Parecem ter usado os mesmos critérios para a premiação. Sempre que dava para premiar uma minoria, era essa a escolha. A minoria subia ao palco, pegava o Oscar, discursava sobre igualdade, superação, alfinetava o Trump e descia. Foi basicamente isso a noite toda. Uma panelinha nojenta, que nem ao menos era formada por afinidade e sim para criar uma imagem de lacre aos olhos do público.

Quem vota nos vencedores não são negros, latinos, orientais ou trans. São homens brancos, são judeus, são heteros que provavelmente já assediaram violentamente mais de duas dúzias de mulheres cada. Essas pessoas escolheram minorias para saírem vencedoras não por merecimento, mas pela imagem que querem passar ao público. Uma manipulação descarada, na qual os fantoches negros e latinos dançaram lindamente puxados pelas cordinhas, em troca de cinco minutos de fama. Muito triste ser tão carente de reconhecimento a ponto de se prestar a esse papel.

A coisa começou cagada com o show do “Queen” na abertura. Entre aspas mesmo. Havia especulações sobre fazer uma apresentação com o Freddie Mercury como holografia com o resto (sim, sem o Freddie eles são resto) tocando. Não fizeram, sabe-se lá o motivo. Colocaram o Adam Lambert como vocalista. Desculpa, mas sem o Freddie, não é o Queen. Ele era o Queen. Desrespeitoso colocar outra pessoa no lugar cantando. Mas o pior ainda estava por vir, ele seria ainda mais vilipendiado nessa noite.

Para que vocês tenham uma ideia, o “ponto alto” da noite foi considerado a Lady Gaga cantando. Lady Gaga parecia uma cruza de Temer com Trump: as feições do Temer, com a cor de pele do Trump. Como sempre, cafonérrima, com um cabelo descolorido oxigenado que não orna com seu visual latino. Tem gente que é assim, por mais cara que seja a roupa, a pessoa é tão ralé de layout que sempre parece estar usando coisas de camelô.

Lady Gaga pode se vestir toda de ouro que ainda assim fica com cara de gentalha. Por isso, sabiamente, seus empresários sempre a mandaram fazer a linha exótica. Quando ela estava coberta de plumas, pedaços de carne e máscaras, sua cara de favelinha não contaminada o look. Quando ela sai vestida de gente sempre fica com essa cara de Creuza, por mais cara que seja a roupa. E olha, não tem raça mais chata que fã da Lady Gaga, um bando de adultinho adolescente com Daddy Issues, se caírem alguns aqui, pau no cu de vocês e dos seus pais ausentes, não me encham o saco.

Todos os apresentadores fizeram piadinhas idiotas, infantilizadas, caricatamente coreografadas e artificiais. Era uma festa para lacradores isolados em suas bolhas, sem qualquer noção da realidade ou do ridículo. Pior: era uma festa arquitetada para fazer parecer que essas pessoas têm algum poder ou relevância pois no atual contexto convém exaltá-los. Se amanhã algo mudar, os homens brancos e heteros por trás do evento vão descartar essas minorias feito fralda suja. Não é algo conquistado, é prêmio para inglês ver.

Mas ninguém ali parecia se importar. Pessoas cada vez mais desacreditadas, desempoderadas e ridicularizadas por seus excessos pareciam se agarrar com unhas e dentes ao único evento que ainda os prestigia. Foda-se se aquilo é uma puta hipocrisia, eles queriam os cinco minutos de fama ganhando um Oscar e discursando sobre como a vida de todos os negros vai ser melhor agora. Spoiler: não vai. É sobre ego, não sobre lutar por um grupo.

Já na entrega do prêmio de melhor atriz coadjuvante começamos a ver quais eram os reais critérios. A excelente e muitas vezes indicada Amy Adams branca, cabelo liso, loira, olhos claros) perdeu para Regina King, gerando uma enxurrada de Memes nas redes sociais de tão ridícula que foi esta decisão. Mas tudo bem, até veteranas peso pesado, como Glenn Close perderam a estatueta por serem brancas demais e loiras demais. Se você não era negro, gay, latino, feminista, ou qualquer outra categoria do lacre, sem chances.

Não, não é exagero. Estamos falando sobre uma cerimônia que premiou filme sobre menstruação. Um filme feito por mulheres, que quando subiram ao palco para pegar o prêmio, fizeram questão de se portar de forma a reforçar o estereótipo da mulher histérica e debilóide: discurso aos berros, choro, postura infantilizada. Obrigada por mais esse desfavor, como mulher, estou envergonhada.

Aliás, os discursos de agradecimento eram praticamente um palanque. Até onde eu entendo, aquele espaço é para comemorar os frutos de um bom trabalho com todos aqueles que contribuíram para ele. Mas parece que não, parece que é para levantar bandeiras, lacrar o máximo possível, como adolescentes rebeldes que desafiam o Papai Trump e se acham o máximo por isso. Não era sobre comemorar nada, era sobre antagonizar. Que triste dar tanto ibope para posicionamentos e pessoas que se despreza, não?

Durante a cerimônia, em redes sociais, famosos negros contavam e estimulavam a que outros contem quantos negros ganharam Oscar até então. Realiza se fosse ao contrário, a merda que não ia dar. E cada vez que um negro ganhava, vinha um discurso inflamado e provocativo contra brancos. Sim, a palavra é “contra”, pois eram coisas como “morte aos brancos”. Inverte essa frase, só em pensamento, que o Ministério Público bate na sua porta em cinco minutos.

Os Chicanos também estavam assanhados. E, que fique claro, para os EUA, todos nós somos Chicanos, independente de cor de pele. Somos “sand monkeys”, como eles costumam dizer. Javier Bardem foi convidado para apresentar a premiação de melhor filme estrangeiro e, não contente em falar em espanhol.

Pensa comigo: se um ator americano que mora e trabalha no Brasil apresenta um prêmio brasileiro falando em inglês, chamam de filho da puta para baixo. Ainda fez picuinha com o muro do Trump. Amigão, é o presidente do país, eleito democraticamente por uma maioria de americanos, se você não gosta, faz as malas e volta pra casa. Agora está em alta fazer esse tipo de antagonismo, mas as coisas mudam. Quando tudo mudar, essa gente vai ter que pedir esmola debaixo da ponte. Não é possível que sejam tão burros.

Obviamente premiaram Roma em mais de uma categoria. Roma é uma das coisas mais chatas já filmadas, porém com diretor mexicano, então, ele tinha o Selo Lacre de Premiação. Não me espanta, ano passado premiaram outro mexicano que apresentou um filme comprovadamente plagiado (“A forma da água”) e ninguém se incomodou com isso.

O diretor de Roma, Alfonso Cuarón, é um homem que teve a capacidade de fazer um filme NO ESPAÇO e COM A SANDRA BULLOCK ficar chato pra caralho. A julgar por Roma, que supostamente retrata suas origens, tá explicado, ele teve uma vida chata pra caralho. Tá de parabéns. Acho que deveríamos mudar o ditado popular: quem tem boca vaia Roma.

Mas o que mais me agrediu foi o discurso do Rami Malek, premiado como melhor ator pelo filme Bohemian Rapsody (imigrante, tinha o Selo Lacre de Premiação). Ele resumiu Freddie Mercury e o filme sobre a história do Queen como “a história de um imigrante gay”. Puta que me pariu, o maior cantor de todos os tempos, uma banda que fez história e o cara resume a imigrante gay? Foda-se se onde ele era ou o que ele fazia com seu cu, Freddie Mercury é muito maior do que todos esses rótulos. Lamentável.

Depois não entendem por qual motivo o público migra para seriado. A indústria do cinema é um adolescente fazendo pirraça, são pessoas que vivem em um a bolha, incapazes de se atualizar, de entender o público e de se adaptar a novos tempos. Parece que qualquer um que entre nesse meio tem que passar por um processo de lavagem cerebral, de propagar o medo, o antagonismo, a dualidade. Não estão combatendo nada, estão apenas criando mais dualidade e piorando o que já está bem ruim.

E, não me entendam mal, não quero aqui defender “o outro lado”, quero defender que não exista lado. Quanto mais você antagoniza, mais alimenta que exista esse “outro lado”. Artes são um excelente veículo para unir pessoas e esses merdinhas estão utilizando para separar ainda mais, acentuando uma polaridade que já é suficientemente nociva.

Gostaria de pontuar também que eu teria tudo para me beneficiar dessa onda de “empoderamento”. Sou mulher, sou filha de imigrantes de outro país. Mas não vou, me recuso a fomentar diferenças. Foda-se de onde eu sou, foda-se a cor da minha pele, foda-se quem é meu parceiro. Não é assim que se premia ou se avalia um ser humano, muito menos que se melhora o mundo.

Não se muda o mundo combatendo nada. Se muda com informação, com conhecimento, com diálogo. Para cada filme ou discurso lacrador, surgirão centenas de americanos conservadores ainda mais putos, reforçando ainda mais o Trump Way Of Life. Para cara discurso de empoderamento negro surgirão mais Jussie Smolletts, simulando agressão de brancos opressores para capitalizar a seu favor. A indústria do lacre presta um enorme desfavor e o Oscar, por oportunismo/desespero de encontrar um nicho, a está alimentando de forma patológica.

Chega de aplaudir guerrinha de lado, chega de incentivar ou estimular o empoderamento de alguns grupos. Quanta merda ainda vai ter que acontecer para que estas supostas “cabeças pensantes” percebam que não é por aí?

Já vivemos o bastante para saber que a história é um movimento pendular. Quando esse pêndulo virar e voltar no sentido contrário, essas pessoas serão varridas com uma violência proporcional ao lacre que estão fazendo agora. Parem. Apenas parem.

Para me chamar de racista, para me chamar de fascista, para me chamar de qualquer outro “ista”: sally@desfavor.com


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