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Falando demais.

Falando demais.

| Desfavor | | 29 comentários em Falando demais.

Que não é realista esperar que a pessoa que está com você não ache outras pessoas atraentes Sally e Somir concordam, mas na hora de expressar essa opinião, a coisa fica feia. Os impopulares falam sem medo de repercussão.

Tema de hoje: é errado elogiar a beleza de outra pessoa na frente do seu parceiro(a)?

SOMIR

É sim. E antes que alguém saia pela tangente, estamos falando de beleza dentro de um conceito de atração física. Se uma namorada minha diz que achou uma outra mulher muito bonita, a não ser que eu saiba que ela é bissexual, obviamente não levantaria nem uma sobrancelha. Vou usar um casal homem e mulher heterossexuais como base, mas sinta-se livre para recombinar o casal como achar melhor na sua cabeça. O conceito aqui é universal. E que fique claro também que estamos falando de comentário espontâneo, sem uma pergunta direta. Se eu pergunto para uma namorada se ela acha cidadão A ou B atraente, estou assumindo o risco.

E porque eu digo que é errado fazer esse tipo de comentário? Evidente que por mais bem sucedida que seja uma relação, é impossível acreditar que ambos os integrantes do casal não possam sentir atração (principalmente física) por outras pessoas. A verdade é essa, nem faz sentido brigar por isso. Que eu sei que uma hipotética namorada minha vai se sentir atraída pela aparência de outros homens, eu sei. Mas essa não é uma informação construtiva numa relação. Não que seja algo horrível de saber, mas está na mesma categoria de saber o que a pessoa acabou de fazer no banheiro.

Saber que ela acabou de cagar é uma informação nova para mim? É. Eu posso tirar algum aprendizado disso? Talvez, no máximo evitar o banheiro por algum tempo. Construiu alguma coisa na relação? Não. Eu só fiquei sabendo de uma merda. Eu entendo a importância da franqueza num namoro, que a verdade tem o potencial de aproximar ainda mais o casal, mesmo que incomode na hora, mas… nem toda verdade é relevante para esse processo. Algumas são só fatos banais. Saber que ela acha uma pessoa qualquer bonita nada mais é do que um fato banal. Porque era algo óbvio, não no específico daquela pessoa, mas no geral. É algo com o qual se vive.

Óbvio e banal… então, por que não poder dizer? Simples: é incompatível com o objeto do contrato! Uma relação monogâmica (porque outras claramente não cabem nessa discussão) presume uma escolha clara e definida por uma pessoa diante da infinidade de possibilidades disponíveis no mercado. Não sou doente mental de dizer que quebra o contrato só mencionar que acha outra pessoa bonita, mas demonstra um descaso, mesmo que pequeno, com o objetivo estabelecido lá no começo do namoro ou casamento.

Cuspir uma informação besta dessas é tão importante assim para a pessoa? Ela acha que não tem outra pessoa ouvindo? Isso soa como desinteresse na reação alheia ou mesmo rebeldia explícita: tem gente que acha que se valoriza ao demonstrar que não está fechada naquela relação. Não digo sempre, porque já tive exemplo de uma pessoa que simplesmente não pensa antes de falar na minha vida, mas não é incomum uma mulher falar algo do tipo com o infantil interesse de causar um ciúme no namorado. Por mais que eu peça iluminação para essa pobre alma nesse momento, também soa como um desafio. Namoros já são tão complicados, precisa carregar essa chatice para dentro dele? É tão mais óbvio não falar uma coisa dessas para um parceiro que me surpreende até como não passa pela cabeça da pessoa. Tem algo de torto aí.

E se você quer me dizer para ser mais seguro, vai tomar no cu parte 1: não é sobre uma fantasia de ser a única pessoa atraente do mundo, muito menos medo imediato de ser trocado pela pessoa, é decência básica. Ser seguro é diferente de ser bunda-mole. Vai ser seguro até quando? “Ela está pegando no pau daquele cara, mas eu me garanto!”. Como não pretendo ser cantor de música sertaneja, ser corno orgulhoso não me soma nada na vida. As pessoas tendem a misturar uma insegurança interna latente dentro dessa pose de bem resolvidas: se fingirem que não se importam e são superiores, estão seguras. Pose não deixa ninguém seguro, as coisas só explodem na sua cara de forma mais inesperada. Fica a dica. E outra: sagrado direito de alguém não querer escutar isso e ficar putaço. É doença ficar obcecado pela possibilidade da sua companheira achar outros homens atraentes, mas é pra lá de humano não querer ouvir a descrição explícita disso.

Pode ser que as mulheres lendo não entendam isso bem e achem que é só macaquice masculina, e não estão erradas. O problema é que entender tudo isso como macaquice não salva ninguém na hora do aperto. Cada um sabe o seu limite, e a não ser que isso seja explicitamente conversado antes, fica outra dica para as mulheres: SEMPRE presuma que seu homem detesta ouvir você elogiando a beleza de outro homem. E voltando ao ponto anterior: como não é uma informação que vai gerar alguma vantagem na relação e tem o risco de emputecer alguém que estava quieto no canto dele, não parece errado simplesmente falar?

Na caso de você defender que a gente tem que falar tudo o que pensa, vai tomar no cu parte 2: não, não tem. Está achando que é o Einstein e se deixar de falar algo a humanidade vai perder algum avanço imenso? A mente do cidadão médio é uma torrente de merdas impulsionadas pelos mais diversos sentimentos e instintos, normalmente pouco conhecidos até mesmo por quem lida com eles todos os dias. Não é só porque você pensou em algo que os outros tem que ouvir. Sim, é perigoso deixar de falar o que é essencial para você, mas vamos concordar que falar da bunda de outra pessoa para seu namorado ou namorada está bem baixo nessa lista de prioridades.

Manter a comunicação aberta e valorizar a verdade não é sinônimo de total falta de filtros. Algumas informações são só suas, outras não são relevantes em qualquer situação. E não é nenhuma violência contra si deixar de comentar esse tipo de coisa para a outra pessoa. Pra falar barbaridades temos amigos, e se te faltam amigos, corra para arranjar alguns, não use um namorado ou namorada para cumprir essa função de ouvir tudo o que você pensa, é cansativo e perigoso no curto, médio e longo prazo. Relações são mantidas com uma boa dose de bom senso, e se quer uma dica de onde está o bom senso: fale tudo o que for necessário para que você se sinta feliz numa relação, mas no resto, pense bem se o seu comentário sobre bundas alheias não está mais em casa num bar com seus amigos.

Acho bem fácil de entender. Discrição > Descrição.

Para dizer que eu pareço puto hoje, para dizer que não vai tomar no cu nem 1 nem 2 (larga de ser viado), ou mesmo para dizer que eu sou insegurooooo lalala(só aceito com lalala): somir@desfavor.com

SALLY

É deselegante com o parceiro falar abertamente que outra pessoa do sexo oposto é muito atraente sem que isso tenha sido perguntado?

Olha, eu mais do que ninguém deveria responder que sim a essa pergunta, pois uma porra dessas arruinou meu casamento, mas me sentiria muito hipócrita, porque eu faço isso bastante. Então, vou de “não” e que o universo me dê forças para defender o indefensável.

Por mais monogâmico que você seja, você deve saber que o conceito de monogamia é não se envolver com outras pessoas. Achar outras pessoas bonitas pode, certo? Ninguém aqui ainda está naquele dark place onde quase todos já estivemos de achar que apenas nós podemos ser atraentes para nossos parceiros, confirma? Todo mundo já superou essa esquizofrenia de querer controlar o pensamento alheio, certo?

Beleza. Concordamos que temos o direito de achar outras pessoas atraentes, ou, conforme a pergunta de hoje, muito atraentes. Isso precisa ser dito? Não, normalmente, não tem a menor necessidade de dizer uma merda dessas para alguém, até eu que sou No Notion Queen sei disso. Guarda, e, se um dia a pessoa te perguntar, confirma com tato, com sutileza, com cuidado. Dica: o termo correto a se dizer é “bem apessoado”. Diga com tom meio que de desdém que “É, Fulano é bem apessoado”. E só.

Acreditem, eu já testei toda sorte de eufemismos, o que menos dispara o gatilho da putez é o “bem apessoado”. Há sempre a opção da onomatopeia também, a pessoa pergunta e você faz apenas um ruído: “mmmâââmmmmpffff”. Mas enfim, estamos falando de uma situação onde nada, absolutamente nada te foi perguntado. Você gratuitamente externa sua predileção pelo layout de outro indivíduo. Tá ficando ruim pra mim…

Em minha defesa, eu tenho um puta telhadão de vidro chamado “Desfavor”, escrito, em sua maior parte, por uma Sally solteira. Vocês sabem que eu não sou ponderada nem de medir palavras, então, não importa qual a barbaridade que cruze minha mente, em algum momento ela foi escrita aqui, ao longo destes dez anos.

Como eu me recuso a sustentar uma mentira/omissão enorme como o Desfavor, fatalmente, quem estiver comigo vai saber do blog. Se for uma pessoa com um mínimo de interesse em mim, vai dar uma passada por aqui e ler o que eu escrevo. Se for uma pessoa com um mínimo de inteligência, vai usar aquele buscador maroto que a gente tem, por palavra chave, para encontrar os mais diversos assuntos que sejam do seu interesse e entender como eu penso a respeito deles. Então, não tem muito pra onde correr.

Seria feio se eu ficasse, por exemplo, indo ao cinema ver filme com um ator como se nada, fazendo cara de normalidade, e depois a pessoa encontrasse aqui comentários excessivos, desnecessários e de baixo calão a respeito do ser humano em questão. Algumas pessoas provavelmente prefeririam nem ver um filme com esse ator se soubessem da… intensidade das minhas opiniões. Por isso, eu sinto mais honesto falar logo, blindar meu telhado de vidro e sair bostejando sem ter sido perguntada. É inteligente? Talvez não, mas garante minha paz de espírito.

Daí, querido leitor, você pode pensar “Mas isso é uma peculiaridade sua, Sally. Eu não sou um corno maldito que escreve um blog há dez anos, portanto, eu posso fazer o que é certo e calar a porra da minha boca, para não ter problemas desnecessário, não é mesmo?”. Não. Não é mesmo.

A menos que você seja uma pessoa muito, muito, muito especial, em algum momento você já deixou merda registrada para a posteridade. Seja por ter falado na frente de um amigo Alicate, que vai soltar a informação na hora menos apropriada, seja por ter deixado escrito em alguma rede social, facilmente pesquisável pela sua atual namorada(o), mesmo que você tenha apagado as postagens, seja por qualquer outra forma de registro de inconveniências que esta maldita civilização não para de inventar. Então, talvez você não tenha percebido, mas tamo junto.

Por isso, acho que a maior parte de nós tem telhado de vidro aqui. Se é feio ficar falando sem o outro perguntar, mais feio ainda é o outro achar impropérios seus eternizados na internet. Sim, eu sei, fuçar passado é feio, mas tão feio quanto é se expor em um meio público, de modo a que qualquer pessoa do mundo possa ler, então, nós não temos muita moral para reclamar. Áudios de whatsapp, bobagens faladas em grupos de whatsapp, vídeos de uma festa, desabafo em comentários do blog dos outros, postagem de rede social… vai por mim, em algum momento você já falou algo “chateável”.

Tentando um olhar menos passional, o fato da pessoa achar outro bonito, ok, muito bonito, não quer dizer que você seja feio. Não quer dizer que a pessoa queira estar com aquele ser humano… “bem apessoado”. Provavelmente esse outro ou a outra é muito mais bonito que você? Infelizmente sim, mas é um ídolo distante com o qual a pessoa nunca terá contato, logo, não ativará nenhum gatilho mais problemático (a menos, é claro, que o universo tenha senso de humor de fazer a pessoa te chamar para trabalhar com ela, ai cêis tão tudo fudido pacarai).

Voltando ao assunto, ser atraente, ok, muito atraente, é apenas uma parcela do que seu parceiro(a) representa para você. Então, ok, Jason Momoa é bem apessoado, mas porra, certamente ele não tem um monte de coisas bacanas que o seu namorado tem. Não é apenas o físico o determinante para estar com alguém, certo? (se discordar, apenas fique calado, para seu próprio bem, abafe isso dentro de você e negue isso até para seu terapeuta).

Pergunta: alguém aqui se ofenderia se o namorado falasse “nossa, a Angelina Jolie é mais caridosa que você, ela dá dinheiro para a África e adota crianças africanas”. Provavelmente não. Ser caridosa é apenas mais uma qualidade, assim como ser bonita, ser legal ou ser inteligente. Por qual motivo algumas qualidades podem ser ditas e outras não?

As coisas tem a importância que a gente dá a elas. Você dimensiona isso como quiser, mas, pode ter certeza de que, por mais incômoda que seja, a verdade é melhor sempre. Pode ser que você não fale, mas deixe transparecer com um olhar, com um comentário em rede social, com um amigo sem noção que fale demais… aí sim fica ruim. Se é para saber (e hoje e dia, é praticamente impossível não saber), que seja pela sua boca e não de terceiros. É chato, é desagradável, mas é menos pior.

Para dizer que surpreendentemente eu me saí bem, para dizer que o argumento de ambos está uma merda ou ainda para dizer que seu namorado não tem que achar mais ninguém bonito não: sally@desfavor.com


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