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Descult: The Elder Scrolls: Skyrim

| Somir | | 20 comentários em Descult: The Elder Scrolls: Skyrim

Sim, eu vou fazer uma análise de um jogo. Não, não adianta reclamar. E só para tirar o comentário de alguns: Não foi por causa disso que demorou para o desfavor voltar.

Numa era de jogos cada vez mais voltados para múltiplos jogadores disputarem o tamanho de seus pênis virtuais atirando uns nos outros, The Elder Scrolls: Skyrim prova que aquele jeito “autista” de jogar ainda não está morto.

Para quem acompanha minimamente as notícias sobre games, Skyrim era um dos jogos mais aguardados do ano, sequência de jogos famosos como Morrowind e Oblivion. Pessoalmente, e isso é uma vergonha do ponto-de-vista nerd, esse é o primeiro da série que eu jogo. Mas isso não chega a ser um problema para a história, por dois motivos: Primeiro que acontece séculos depois do anterior (não precisa saber da história pra nada), e segundo porque você basicamente corre por aí matando coisas e torce para dar certo no final (não precisa saber da história pra nada).

Eu pirateei o jogo, botei para rodar, e oito horas depois, que pareceram oito minutos, achei de bom tom tirar o escorpião do bolso e pagar pelo original, porque apesar dos pesares, vale a pena.

Basicamente, Skyrim é um RPG/Ação com muita ênfase na ação. Baseado num daqueles cenários medievais com elfos, orcs e anões (em termos), onde sua função é usar diversos poderes e golpes para matar quase tudo que vê pela frente. Ah, temos dragões também. Muitos dragões. E a história (que vale meia paçoca mordida) gira ao redor deles.

O cenário é um extenso continente montanhoso, frio pra caralho, chamado… Skyrim. Terra natal dos “nórdicos” do jogo, é um festival de referências vikings para onde quer que se olhe (metade dos capacetes tem chifres, o que pode parecer meio suspeito para jogadores tupiniquins). Apesar de 90% do cenário estar coberto de rochas, gelo e neve, até que não é cansativo, dado o esmero dos programadores na hora de montar as locações. Vira e mexe você encontra estruturas naturais e construídas de cair o queixo, mesmo debaixo de toneladas de neve.

Visualmente, o jogo é excelente. Tem sim jogos melhores, mas a relação entre escala, variedade e qualidade do que é exibido compensa um ou outro efeito “da moda” deixado de lado. Precisa de um computador bom para rodar direito, ou um meia boca (ou um dos consoles atuais) para quebrar o galho. Mesmo no modo “quebra-galho”, ainda é impressionante na maioria das vezes.

O sistema de jogo parece que caiu dos céus para quem nunca teve muito saco para RPG, eu achei meio simplista, mas não se pode negar que é divertido. Um botão do mouse controla a mão direita, outro a mão esquerda. Você não clica nos inimigos e fica assistindo a luta, você tem que executar cada movimento, e no “ponto certo” entre seu poder e o poder dos inimigos, a luta é bem interessante. Se o morto-vivo na sua frente resolve te dar uma espadada, você pode levantar seu escudo com um braço, defender o golpe e enquanto isso, armar o contra-ataque. Lindo na teoria, na prática a tendência é que você acabe lutando feito uma criança enraivecida, tentando matar o adversário com dezenas de pancadas desconexas e torcendo para que elas funcionem. É especialmente vergonhoso quando você se desespera e começa bater até na parede…

E não tem dessa de experiência, nível e classe da forma tradicional (eu sou nerd e gosto, mas sei que muita gente acha mala), você começa podendo fazer de tudo e termina do mesmo jeito. Dá para aprender a lançar bolas-de-fogo e enfiar marretada em esqueleto do mesmo jeito. Lutadores, magos, arqueiros, ladrões… você não precisa nem saber o que cada arquétipo significa. Se quer aprender alguma coisa, aprende.

E temos o elemento mais importante da série Elder Scrolls: A história principal serve só para quebrar o galho. 99% do que tem para fazer no jogo não vai te fazer “dar final”. O mapa tem centenas de locações, centenas de personagens, e uma enormidade de micro-histórias para vivenciar. São as chamadas “side-quests”, você sai do objetivo principal e resolve que ganha mais ajudando uma mulher aleatória a recuperar seu bode de um gigante mau-humorado. Também é um ponto positivo do jogo, você não é forçado o tempo todo a completar um “objetivo maior”.

Mas nem tudo são flores. O jogo é divertido, mas é um festival de bugs e programação preguiçosa. É fácil “quebrar” o jogo, deixando-o ridiculamente fácil ou inacreditavelmente difícil com algumas decisões tortas.

Como com exceção de “você”, TODOS os personagens do jogo falam de verdade suas falas, devem ter passado meses gravando todo aquele falatório. Mas mesmo assim, num jogo do tamanho que é Skyrim, você vai acabar escutando frases e vozes parecidas em tudo quanto é lugar.

Quando você começa a jogar e TODO MUNDO tem alguma frase para te dizer, mesmo que seja uma bobagem qualquer, é impressionante. Os vendedores na rua ficam chamando compradores, os bêbados ficam te pentelhando, os brigões ficam te provocando… Parece uma cidade muito viva. Mas depois de algumas horas de jogo, eles já não tem muito de novo para dizer. O que cria uma situação curiosa: Começa interessante, vai ficando chato pra cacete, mas depois de um certo ponto, é praticamente impossível conter o riso, já que as frases das pessoas começam a soar como uma daquelas piadas ruins repetida diversas.

Eu começo a rir toda vez que um dos guardas (e pode ser de qualquer cidade, já que a frase é aleatória) olha pra mim e diz: “Eu costumava ser um aventureiro como você, mas aí eu levei uma flechada no joelho…”. Você não precisa nem “interagir” com ele, basta passar perto. O estoque de frases esgota nas primeiras horas do jogo, e depois disso ou você fica de saco cheio ou começa a levar na esportiva. Pelo menos as pessoas reagem de forma distinta de acordo com a sua imagem. Se você estiver com as armas em punho, ou mesmo pelado, as pessoas te dizem coisas diferentes. (Novamente, é bacana das primeiras vezes, mas enche o saco, rápido…)

Outro motivo para conter o falatório no jogo é o fato de que quase todo mundo com quem você conversa te dá alguma missão. Alguns só te pedem para levar um livro de uma cidade para outra, mas a maioria te pede mesmo para matar algum grupo de pessoas ou recuperar um item perdido em algum dos inúmeros locais do continente. O que às vezes deixa dúvidas no ar: Uma velha caquética te pede para recuperar seu amuleto, que perdeu numa caverna apinhada de bandidos armados até os dentes do outro lado do mapa… Como é que a véia foi parar naquele lugar para começo de conversa? Amiga dos bandidos não pode ser, porque acaba de enviar alguém para matá-los. E, porra, qual que é o lance de todos os personagens de jogo de RPG ficarem perdendo coisas em lugares extremamente perigosos? Algumas das missões são muito bem boladas, como uma em que você tem que descobrir porque você acordou num templo todo bagunçado, cheio de freiras raivosas, depois de uma bebedeira.

Mas na média, é simplesmente “vá até tal lugar, mate todo mundo, recupere uma porcaria com valor sentimental e volte até onde você me encontrou”. E como tem uma porra de uma setinha que te indica EXATAMENTE onde você tem que ir, EXATAMENTE quem você tem que matar e EXATAMENTE o que você tem que pegar, é mais cumprir tabela do que efetivamente solucionar um caso. Dá para desligar a setinha, mas como o jogo descreve as missões que nem o nariz, não adianta ficar pensando no que fazer, sem a seta, só acha o que precisa na base da sorte.

(Bug escroto: Se achar algum item estranho depois de moer vinte bandidos numa ruína estranha, NÃO PEGUE. Se no futuro alguém te pedir para pegar esse mesmo item para completar uma missão, ela não vai mais funcionar…)

Uma pessoa te pede para investigar um assassinato, e te pede provas que condenem tal pessoa. Você segue a seta até um lugar inimaginável, acha um pedaço de papel, e pronto, Sherlock! Eu poderia viver com menos missões (teoricamente são infinitas, já que podem ser criadas aleatoriamente pelo jogo), mas com um pouco mais de complexidade.

Skyrim é um lugar perigoso, infestado de dragões, mortos vivos, animais selvagens e o caralho à quatro, por isso é provável que você contrate (ou ganhe) mercenários ou convoque amigos (controlados pelo computador) para te ajudar durante as missões. Esse companheiros são um outro festival de bugs e frases repetidas, mas é muito fácil se afeiçoar a um (ou mais) deles e aceitar a encheção de saco só para carregá-los de um lado a outro (além disso, eles carregam as porcarias que você pega por aí).

A mais famosa se chama Lydia, uma espécie de escrava branca que você ganha nas primeiras missões do jogo. Lydia é um caso de amor e ódio. Ela luta ao seu lado, pula na frente de qualquer inimigo para te proteger, mas sofre com a inteligência artificial maluca do jogo. Lydia, ou qualquer outro acompanhante (sem relax), tem uma tara incontrolável de acionar armadilhas, entrar na frente dos seus golpes ou magias, pular que nem uma maluca numa sala cheia de inimigos que você queria que não te vissem e ainda por cima SEMPRE, SEMPRE, SEMPRE fica na porta de algum lugar apertado bloqueando seu caminho.

Lydia não costuma morrer fácil, os inimigos deixam ela pra lá quando ela apanha demais e pede penico. Mas você pode matá-la “sem querer”, seja com uma magia sem noção, seja com um golpe errado. E acredite, se você joga usando magias, você vai matá-la dezenas de vezes. E quando ela morre, morre de vez. Sabem o que é mais triste? Eu e muita gente recarregamos o jogo num ponto anterior só para tentar de novo, dessa vez sem matá-la. Não é a mesma coisa explorar uma masmorra antiga sem ela pisando em todas as armadilhas e soltando um discursinho passivo-agressivo toda vez que você pede para ela carregar as toneladas de porcarias que pega pelo caminho.

Essa é uma das grandes jogadas de Skyrim, a proposta de jogo muito aberto torna até os bugs e a programação nariz em possibilidades de situações hilárias e desafios impensáveis: Metade da minha diversão ao explorar agora é manter Lydia viva. Os companheiros dos outros jogos servem para te ajudar, os desse mais aprontam que resolvem. E se você não achar graça nisso, pode jogar sozinho de vez.

Aliás, se você quiser jogar para caçar borboleta e colher flores, você pode. Se você quiser montar sua casa e decorá-la, você pode. Poucos jogos de vikings matando monstros são tão amigáveis com jogadores e jogadoras viadinhas.

E falando em monstros, temos os dragões. Existem vários voando por aí, e eles adoram pousar na sua cabeça nas horas mais impróprias. As primeiras lutas são épicas, juro. Depois começa a ficar meio repetitivo, o verdadeiro mal de Skyrim (e olha que tem bug pra tudo quanto é canto). O pior é descobrir que você é capaz de dar conta de um dragão, mas tem que correr feito uma vadia se der de cara com um urso. Os programadores piraram em algum momento, ou foram coagidos por ursos. A única tática boa para enfrentar um é não estar perto dele.

Mas voltando aos dragões, tem um sistema bacana de “gritos”, que você vai desbloqueando enquanto explora, um lance nerd de “língua dos dragões” que você aprende a falar. Cada berro faz alguma coisa, mas o mais bacana é o Fus-Ro-Dah. Aprenda esse grito, entre numa cidade populosa, veja todo mundo sair voando. Só lembre de salvar antes, os guardas do jogo são metidos a clarividentes e vem te pegar se você machucar ou matar alguém “inocente”. E por mais fodão que você seja, a tendência é acabar morto ao enfrentá-los. Dá para subornar os guardas ou matar as testemunhas (bacana!), mas não aposte sua sorte nisso.

Outra coisa que eu gostei muito foi o sistema de moralidade do jogo: Que não existe. Ajudar uma pobre criança ou matar monges pacíficos dentro de um tempo não vão criar nenhum tipo de karma para você. Você é tão ruim quanto as testemunhas que deixa. Só fica o aviso: Não dá para matar ou machucar crianças, viadagem da empresa que fez o jogo. Se uma for testemunha das suas maldades, já era.

Concluindo: Skyrim é um festival de pequenos problemas dentro de um dos jogos (do gênero) mais divertidos já lançados. É simplificado em relação aos jogos que eu costumo jogar, mas pelo menos tem MUITA coisa para fazer. Se você ficar jogando sempre do mesmo jeito, fica chato, mas se você aprender a se rir quando uma Lydia da vida tropeça numa panela enquanto você tenta se esgueirar por trás de um grupo de bandidos raivosos, vai aproveitar.

Pirateie ou compre, não estou sendo pago para escrever isso mesmo. Recomendado.

Para me chamar de nerd (eu costumava ser fodão que nem você, mas aí levei uma flechada no joelho), para dizer que doeu menos do que você esperava, ou mesmo para dizer que eu já fui mais cult: somir@desfavor.com


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