
Trabalho classe Z.
| Desfavor | Desfavor da Semana | 10 comentários em Trabalho classe Z.
A nova visão da Geração Z sobre o trabalho não é apenas uma tendência passageira, mas uma mudança significativa nas dinâmicas do ambiente profissional. Esse grupo traz uma mentalidade orientada por valores. Seus objetivos diferem dos das gerações anteriores. Mais do que (apenas) um salário, eles buscam propósito, impacto e significado no que fazem. LINK
O zoomer é o aquecimento global do mercado de trabalho. Desfavor da Semana.
SALLY
Tempo de leitura: 17 minutos.
Resumo da B.A.: a autora desrespeita a causa trans por ter uma vagina.
Nos últimos anos estamos acompanhando a entrada da Geração Z (pessoas nascidas a partir de 1995) no mercado de trabalho e, todos os meses, nos surpreendemos com o que vemos, não apenas nas notícias, mas na vida real. Já era um assunto sobre o qual queríamos falar faz tempo, então, vamos lá.
Como empregadora, eu acho ótimo que as novas gerações queiram melhores condições de trabalho, sejam mais criteriosas e não se arrebentem de trabalhar como eu faço. Minha geração (Geração X) foi treinada para ir além, para entregar mais do que é pedido, para que missão dada seja missão cumprida. E, mesmo adepta desse sistema de trabalho, eu sei que isso não é saudável.
Ocorre que, para poder exigir, demandar, negociar, você tem que oferecer uma contraprestação. Eu reduziria o horário de trabalho de alguém que me entrega excelência, prazos e consegue fazer as tarefas em menos tempo. Mas eu não reduziria o horário de trabalho de um folgado de cabelo colorido pois ele tem crises de ansiedade e quer aproveitar a vida.
Falta esse entendimento à Geração Z. Muita cobrança, muita seletividade, muita exigência e pouca entrega de volta. Natural, foi isso que aprenderam em casa, com os pais, traumatizados por um trabalho extenuante. Mimaram seus filhos com muito conforto. Normalmente a gente dá aos filhos o que gostaria de ter recebido e não recebeu.
A Geração Z quer horários flexíveis, quer conforto, quer bons salários, quer autonomia, não querem ser fiéis a uma empresa, querem liberdade criativa, querem uma série de coisas que você só alcança na sua carreira se ralar muito e se tornar uma referência no que faz. Em contrapartida, não parecem capazes de algum senso de sacrifício, esforço, de excelência no trabalho. Trabalho parece algo secundário, quase que um hobbie. E quando as coisas não estão como eles querem, pedem demissão.
A Gen Z pede demissão com tanta facilidade que eu recomendo não contratar. Na verdade, recomendo não contratar por outros motivos também: não entendem quase nada de computador, tem o foco de um peixinho dourado por causa desse vício em redes sociais, não são capazes de ficar horas em uma tarefa chata (spoiler: todo trabalho vai ter tarefas chatas), não parecem/querer saber estudar assuntos que não são do seu interesse e são muito ansiosos, nervosos, neuro divergentes. Isso quando não levam os pais na entrevista de emprego. Sim, já me aconteceu. No Brasil.
Em resumo, são péssimos profissionais. E são os mais exigentes com o empregador. Por qual motivo? Porque podem pedir demissão e têm uma rede de apoio do Papai e da Mamãe para segurar o rojão. Só que Papai e Mamãe um dia falecem. E quando isso acontecer, é bom que o filho tenha um patrimônio construído, se não, vai ter que se matar de trabalhar até os 120 anos aceitando qualquer tratamento degradante e salário baixo.
Parte da culpa disso é dos pais, pois não ensinaram aos pimpolhos algum senso de sacrifício. Os deixaram imersos nesse mundo ilusório onde eles não podem ser desagradados, onde apelido maldoso de colega na escola é bullying e leva a intervenção da mãe e da diretora, onde a roupa aparece lavada e passada magicamente no armário.
Mas a culpa não é só dos pais. Depois dos 20 anos de idade, você não pode mais culpar seus pais. Você é responsável por você e pelo que você é. Se os seus pais te ensinaram algo errado, te mimaram, te deixaram mal-acostumado, você tem total autonomia para recalcular a rota e ser diferente, nem que para isso você precise de ajuda. E você tem discernimento de olhar à sua volta e perceber que a vida não é bem aquilo que te falaram, que serão necessárias adaptações.
Então, eu vejo muita culpa sendo atirada nos pais, de forma injusta. Não importa o que seus pais fizeram, o que eles te ensinaram ou como se comportaram com você, o que importa é o que você faz com isso. Não é exigível que pais possam educar hoje um filho para um mercado de trabalho de 20 anos depois, pois no patamar de mudanças sociais rápidas que estamos, não podemos antever hoje o que será valorizado em 20 anos.
Então, este texto é para libertar os pais. Não, a culpa não é de vocês. Gen Z são adultos e responsáveis pelas próprias escolhas. Porém, se gostam dos seus filhos, é hora de um “hard love” e de não endossar esse comportamento inviável, cheio de exigências e com pouco esforço. Como? Não resgatando ou sustentando eles cada vez que pedem demissão, pois um dia vocês de fato não poderão mais fazê-lo.
À Gen Z, quero dizer que é muito legal que vocês queiram qualidade de vida, tempo livre, conforto e salários altos. Mas, para ter isso, vocês terão que ser os melhores do mercado. Não basta ir e fazer seu trabalho como qualquer outro faria. Qual é o seu diferencial? Por qual motivo uma empresa te daria reconhecimento, flexibilidade de horários e um aumento? Essas coisas não são direitos seus, são conquistas. O que você está fazendo para conquistá-los?
E, uma rápida pincelada ética: pesquisas mostram que 95% dos entrevistados da Gen Z acha que é aceitável condutas que não são aceitáveis no mercado de trabalho como enganar o empregador usando IA para fazer seu trabalho sem admitir que o fez e dormir durante o expediente. Deixa eu contar uma coisa para vocês: a maior parte dos empregadores, atualmente, ou é Baby Boomer ou é Gen X. E esse comportamento não é aceitável para nenhum dos dois. Melhorem.
Por um lado, acho graça em concorrer no mercado de trabalho com gente que acha que pode trapacear, dormir durante o horário de trabalho e leva os pais para entrevista de emprego. Mas por outro, me preocupa o que vai acontecer quando esses floquinhos de neve assumirem o volante. Eventualmente Baby Boomers e X vamos morrer ou ficar velhos demais para trabalhar, e os Millenials estarão debaixo da mesa em posição fetal tendo crise de ansiedade, como sempre. O que vai acontecer quando a Gen Z assumir os cargos de liderança?
Ou se mostrarão hipócritas e cobrarão dos funcionários dentro de padrões mais rígidos dos que eles defendem ou vão gerir empresas nesse modo kumbaya e causar um enorme prejuízo. Não seria melhor começar a recalcular a rota agora, enquanto ainda têm uma rede de apoio?
SOMIR
Tempo de leitura: 15 minutos.
Resumo da B.A.: o jovem troca de sexo em números recordes, então só pode ser transfobia criticar elu de qualquer forma.
Eu sou bem mais permissivo com o zoomer do que a Sally. Já tem até texto falando sobre o que eu enxergo como a crise de esperança que caiu sobre essa geração. Você consegue entender por que eles tem alguns desses comportamentos se prestar mais atenção no tipo de mundo que eles enxergam, especialmente quando pensam no futuro.
O propósito que muitos deles dizem procurar vinha mais… “de fábrica” em gerações anteriores. Foi uma transição alucinante entre a ideia de ter um emprego para a vida e a economia do século XXI. De repente a própria ideia de se adequar ao sistema deixou de ser uma opção. Hippies e punks diziam que era careta arrumar um emprego, casar e ter 2.5 filhos, mas eles tinham essa opção bem mais clara.
É mais fácil ser adolescente rebelde se existe um sistema claro para se rebelar. O zoomer foi chegando na vida adulta, perguntou para os mais velhos qual era o sistema… e a gente não sabia responder. Para onde vai a chama da revolução jovem se você não tem muita clareza sobre contra o que está lutando? Não à toa, vivemos numa era de lutas confusas contra ou a favor de ideologias de gênero, seja lá o que isso quer dizer na prática.
Essa é a minha parte compreensiva. Até por ser uma pessoa com foco errático e baixa disciplina, eu entendo pessoalmente muitos desses problemas que os empregadores estão vendo nessa geração. Sei que às vezes a pessoa quer fazer melhor, mas não funciona como ela pensou. Agora, algo que vir de outra geração e lógica de mundo me ensinaram é que a ideia de construir aos poucos funciona.
Conversando com a Sally, eu falei que via uma geração de pessoas cuja esperança era o Jogo do Tigrinho. Não especificamente essa modalidade de golpe online, mas a ideia de tudo ou nada quando se pensa em sucesso na vida. Tento me colocar no lugar de quem recebeu influência demais da cultura online logo nos primeiros anos de formação, quem ficou sendo impactado por casos de extremo sucesso, extremamente rápidos.
Existe um risco considerável de você achar que a vida é feita desses momentos de grande impacto. Que você só está esperando até ter o seu enquanto isso. Apesar dos exemplos que vimos de celebridades instantâneas de startups bilionárias, isso é a minoria dos casos. A maioria das pessoas não vai ter essas situações na vida, porque tem muita sorte envolvida. Se você não entende probabilidade, loteria parece uma boa ideia.
Dito isso, não dá para só ficar passando a mão e entendendo os problemas. Ninguém melhora só com compreensão, existe esforço envolvido em tudo na vida. A minha ideia aqui é que o zoomer no mercado de trabalho precisa ter mais noção sobre construção etapa a etapa, sobre como esforço acumula com o tempo e não existe isso de estar apenas “esperando sua chance”.
Porque são essas ideias que combatem melhor a dissonância cognitiva de achar que o mundo te deve conforto e propósito. A pessoa vê que o mundo mastiga e cospe gente todos os dias, vê até em casa como as coisas podem dar errado, mas em algum lugar da mente a mentalidade lotérica típica do marginalizado assume o controle.
Enquanto o miserável se prende à esperança de dar sorte na vida por total falta de opção num sistema de extrema desigualdade econômica, o zoomer com um pouco mais de qualidade de vida entregue pelos pais cai na mesma armadilha porque talvez nem saiba que existe retorno em fazer as coisas um passo por vez.
É uma falha de criação, a terceirização para a internet contribui bastante, mas não adianta ficar só reclamando, porque eventualmente eles vão estar em posições de poder real (a vida não é só a internet) e podem realmente ficar travados diante da necessidade de esforço contínuo e consistência de foco para conseguir resultados.
Não quer dizer que todo zoomer seja um caso perdido, eu nem acho que a maioria seja, mas vai ser um grupo bem mais limitado de pessoas que desenvolveram essa capacidade de ter paciência e disciplina que vão acabar no topo do mundo tocado por eles. O risco é que não tenhamos muitas opções nesse grupo mais limitado, se um filho da puta muito focado estiver próximo do topo, vai faltar concorrência de gente menos escrota pelo mesmo poder.
E some isso à tendência incutida na cabeça deles de soluções rápidas e “fáceis” para os problemas da vida, o risco de uma guinada autoritária aumenta consideravelmente. Talvez seja aquele discurso de “tempos difíceis criam homens fortes, homens fortes criam tempos bons, tempos bons criam homens fracos, homens fracos criam tempos difíceis.” Um ciclo que precisa de sua próxima etapa. A verdadeira bomba dos millenials pode muito bem estar prestes a explodir.
Enquanto isso, para nós resta esperar e incentivar o zoomer “do bem” a ser mais disciplinado, mesmo sem achar que é culpa dele. Existe um risco inerente a uma geração que está esperando darem um propósito para eles, você não sabe qual vai ser. Propósito se constrói durante a vida, ele pode até te chamar a atenção num momento aleatório, mas é só um despertar de algo que é interno mesmo.
O mercado de trabalho é um indicador forte sobre como as pessoas pensam sobre a vida em geral. O risco de esperar te darem um objetivo na vida, seja pelo empregador, seja por criar algum negócio na internet (o que inclui até mostrar a bunda em troca de dinheiro) é o mesmo risco de ouvir um discurso horrível vindo de uma pessoa carismática e começar a viver em volta disso.
Se você enxerga a vida como uma série de descargas de dopamina, momento a momento, perde o foco na construção do mundo no qual vai viver.
Eu vejo isso como uma resposta ao mercado de trabalho. Porque a geração Z pode ter sido a primeira a usar IA para tentar enganar patrões, mas não fomos nós que inventamos o trabalho ruim e mal feito. No meu último trabalho formal, eu chegava a ganhar meu salário triplicado em bônus porque o pessoal, que no geral era mais velho que eu, não estava disposto a fazer o mínimo. E uma das pessoas que mais nos deu problemas com insubordinação, trabalho mal feito e fora do prazo era boomer. Ela não cumpria nenhum requisito pra ter o cargo de liderança e nem trabalhava direito, mas achava um absurdo ser subordinada a pessoas mais novas.
O mercado que encontramos não é bom e é armado contra nós. Muitas vezes, no início da faculdade, gastei dinheiro que não tinha em condução e roupas para entrevistas, só pra escutar desabafos sobre como minha geração era horrível e não iam me contratar por causa da idade. Ou queriam uma estagiária no segundo de faculdade, mas com 5 anos de experiência na área, para pagar menos de um salário. Podiam especificar antes de chamar pra entrevista, né? Trabalhei de graça pra ganhar experiência mais de uma vez, maioria dos jovens que conheço está no mesmo barco e acabamos abrindo nossos próprios negócios depois. Espero que possamos fazer nossa parte de uma forma melhor.
O problema da Gen Z é que a regra é trabalhar mal. A exceção é trabalhar bem. Quando a regra é trabalhar mal, ser mimado e ser exigente, tem algo muito errado com a criação desse grupo.
> “Em resumo, são péssimos profissionais. E são os mais exigentes com o empregador. Por qual motivo? Porque podem pedir demissão e têm uma rede de apoio do Papai e da Mamãe para segurar o rojão. Só que Papai e Mamãe um dia falecem.”
Ainda não entendo os(as) que serão do aluguel, mas o tipo com casa (literalmente não-apê) própria por herança (real expectativa segundo o famosinho millenial Cristiano Almeida)…
> “Ninguém melhora só com compreensão, existe esforço envolvido em tudo na vida.”
Por isso eu, “classe Y”, já também assistia a magistral Jéssica Câmpara…
Na época da minha mãe, ela contou que a empresa uma vez ligou 10hs chamando pra entrevista presencial gastando passagem às 13hs e ela foi correndo nem almoçou pra ganhar salário mínimo escala 6×1. Duvido que algum gen Z faria isso atualmente! Vcs deveriam agradecer a geração Graças aos jovens os empresários que tinham escravos estão desesperados por falta de mão de obra pros seus sub empregos. Boa hora pra aproveitar e fazer média contratando os idosos, pois só eles se sujeitam a isso.
Existe um mar de diferença entre querer melhores condições de trabalho e frescura: se ofender pois o coleguinha não falou contigo com voz doce e colocando “por favor” em toda porra de oração (ocorreu ontem comigo – mandei reclamar com a supervisão e RH), faltar pois está estressado ou qualquer outra merda e querer que o dia seja abonado, ignorar resposta da chefia sobre performance e fazer como quer…
Essa geração não quer trabalhos melhores, eles querem coçar o cu e serem aplaudidos por isso.
Sim, é por isso que eu não contrato genzeiro para nada, nem para cortar grama. Essa crença de que o mundo deve coisas a eles e que tudo precisa ser sem causar desconforto são incompatíveis com o que eu quero de um prestador de serviço.
Sei como você se sente, Sally. E penso da mesma forma.
Hoje o pessoal quer o emprego. Mas precisa dele? Porque se não der, tudo bem, tem toda uma rede de segurança como plano B.
Antigamente, isso não existia.
Antigamente, se você não tinha recursos para pagar uma faculdade (e parte considerável das pessoas não tinha), tinha que sair procurar emprego tão logo saísse do ensino médio – às vezes antes mesmo de terminar! E lembro até hoje da minha mãe falando para o meu irmão, e depois para mim, que “8h da manhã não é horário de sair procurar emprego, tem que sair antes”.
Quem tinha condições de montar essa “rede de seguranca” para os filhos não terem de sair “se quebrando” pra arrumar qualquer (sub) emprego, era justamente quem tinha dinheiro pra uma faculdade, e consequentemente, criar uma carreira digna lá na frente.
Acho que as gerações antes dos Millennials tinham algo de brio, de honra, de vergonha de viver às custas dos pais. Dos Millennials para cá isso foi normalizado e eles não se incomodam, até acham que os pais devem isso a eles.
Pagar faculdade também inclui os custos com uma federal, né? Porque mesmo sendo gratuita, não pagar mensalidade, os gastos são bem altos pra dar conta num curso superior.
Curioso que eu vejo movimento parecido também no ensino superior: galera hj não quer estudar, quer um emprego bom, mas não quer se esforçar, se especializar, se aprofundar na área, ser um bom profissional enfim.
Na contramão, as licenciaturas vão de mal a pior, pq ninguém mais quer ser professor graças às mas condições de trabalho e salário precário, e tem curso de licenciatura por aí que ameaça até o mec fechar por falta de alunos ingtessantes.