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Série de abusos.

Série de abusos.

| Desfavor | | 18 comentários em Série de abusos.

Danilo Gentili usou o seu perfil no Instagram para rebater as acusações de que não teria defendido Juliana Oliveira na denúncia de estupro contra Otávio Mesquita. O apresentador do “The Noite”, do SBT, gravou um vídeo na última quarta-feira, 16, dando detalhes de como tudo aconteceu e comprovando, através de prints de conversas, que quis fazer a denúncia antes da ex-assistente de palco, mas foi impedido por ela. LINK


Resumindo: não contrate mulher. Não, espera… Desfavor da Semana.

SALLY

Tempo de leitura: 3 minutos.

Resumo da B.A.: a autora é transfóbica pois defende Danilo Gentili que é transfóbico.

POWERED BY B.A.

Para quem não acompanhou o caso, um resumo resumidíssimo: a assistente de palco do programa The Noite, Juliana, acusou Otavio Mesquita de uma série de crimes sexuais pela postura do convidado no palco quando foi ao programa e, depois de fazer essas acusações, disse que nem Danilo Gentili nem a produção do programa a apoiaram por ela ser negra.

Então, Danilo Gentili fez um vídeo que eu considero o melhor vídeo de resposta que já vi.

O vídeo é longo, mas eu sugiro que quem tem interesse em aprender como se dá uma resposta com classe, com firmeza e com dignidade assista. É uma aula.

No vídeo Danilo prova que ele e toda a produção do programa prestaram todo o apoio a Juliana, inclusive incentivando a ela a denunciar Otavio Mesquita no SBT e judicialmente. Danilo inclusive se ofereceu para pagar um advogado. Além disso, quando ele soube como Juliana se sentia, proibiu a entrada de Otavio Mesquita no seu programa alegando que ele, Danilo, não o queria ali, para não expô-la. Ele também mostra um áudio dela dizendo que ela mesma não sabia que havia sofrido assédio e demorou anos para perceber, portanto, se nem ela sabia, muito menos Danilo e sua equipe.

“Ain Sally só escolheu esse tema porque é o Danilo”. NÃO. Em que pese me deixar muito furiosa que uma pessoa pela qual eu ponho a minha mão no fogo de ser correta, leal e querida como o Danilo ser alvo de uma sacanagem dessas, não é esse meu foco. Eu, como mulher, me sinto na obrigação de repudiar quando qualquer mulher faz algo que nos tira voz, que enfraquece nossa credibilidade, que de alguma forma nos prejudica a todas.

O vídeo não deixa qualquer margem para dúvidas. Quando teve ciência da situação, no minuto em que soube como Juliana se sentia, Danilo e o diretor do programa não apenas asseguraram que ela não sofreria represálias por denunciar, como ainda a encorajaram a fazê-lo, se oferecendo para ajudar e para arcar com todos os custos, inclusive de advogados.

Quando uma mulher é acolhida, bem tratada e respeitada dessa forma (spoiler: isso é raro) e, em troca, paga com traição, mentira e difamação, ela afeta a todas as mulheres, pois isso rapidamente pode virar um “tá vendo? Não presta, não pode ajudar que depois faz isso” ou “tá vendo? Na dúvida melhor contratar homem que não cria essas confusões de assédio”

Quando uma mulher mente para prejudicar um ex-empregador para agradar a sua bolha de amigas militantes que a pilharam para que ela faça isso, por achá-lo um escroto, ela abre portas para que as pessoas cada vez menos queiram contratar mulheres. Problemas com amigo ou com ex-empregador se resolvem pessoalmente, olho no olho, com conversa, não com vídeo público. Isso só aumenta a fama de histéricas e descontroladas que mulheres temos.

E quando uma mulher negra usa de forma mentirosa, leviana e manipuladora a carta do racismo, ela desacredita todo um grupo que tem uma demanda legítima, verdadeira e importante, banalizando e tirando a credibilidade de algo que deveria ser levado muito a sério. Se eu fosse do movimento negro, estaria muito puta.

No entanto, não vejo muitas críticas à Juliana. Não por parte de mulheres. Não por parte de movimento negro. Vi sim muitas críticas ao Danilo, apesar dele ter uma tonelada de provas que mostram que ele não só ficou ao lado dela, como ainda a incentivou a denunciar e levar isso adianta.

A conclusão que a gente chega é que o brasileiro está cagando para fatos e provas, ele quer apenas idolatrar e odiar. Se surgiram dezenas de provas de que o seu político de estimação é corrupto, a pessoa vai refutar todas e continuar idolatrando esse energúmeno. E se surgirem dezenas de provas de que o Danilo Gentili fez a coisa certa, a pessoa vai continuar odiando-o e falando de como ele é macho tóxico e escroto. As pessoas estão impermeáveis a argumentos, a mudar de ideia, a analisar.

Some-se a isso uma mentalidade equivocada que prega o silêncio quando alguém do seu grupo, da sua panelinha, da sua bolha faz uma cagada. Se criticar você é traíra. Eu não sei com que consciência essas pessoas botam a cabeça no travesseiro e dormem se calando diante desse grau de sacanagem. Não criticar uma postura filha da puta não é sororidade, é falta de caráter.

Mas, é uma espécie de caução: a pessoa sabe que se ela não criticar a colega do grupo que faz merda, ela também será poupada de críticas quando fizer meda. É uma espécie de máfia, de gangue ideológica. Mulher não pode criticar mulher? Te cu. Juliana foi uma filha da puta, sem caráter, escrota e ingrata.

Teve gente fazendo a cabeça dela? Sim, teve. Mas, independentemente do que coloquem na sua cabeça, a pessoa tem que ter uma falha de caráter para partir para cima de colegas que foram leais e a protegeram. Então, mesmo que ela tenha sido influenciada, tem uma trava ética da cabeça dela que está frouxa.

Ver uma sacanagem dessas e calar é ser conivente. Eu sou mulher, eu defendo mulher, mas eu não vou defender falta de caráter vinda de mulher (ou de homem ou da classificação que vocês quiserem). Apoio entre mulheres tem um limite ético. Falta de ética a gente não tem que tolerar de ninguém.

Uma mentira dessa arruína vidas. Se não existissem as infinitas provas apresentadas no vídeo, era possível que fossem todos processados, que o programa acabe, que dezenas de pessoas fossem demitidas, que as famílias de todos os envolvidos paguem um preço. Tem que ser muito filha da puta para desgraçar a vida de tanta gente só para lacrar no seu grupo.

Mais uma vez, o Danilo está sendo cancelado. E, ainda assim, apesar da traição, da ingratidão, da sacanagem, ele manteve o vídeo em um tom sóbrio, não a atacou e não duvidou ou questionou a acusação de estupro. Daí eu te pergunto: se ele fosse um sujeito escroto, grosseiro e agressivo, será que a Juliana teria se arriscado a vomitar esse tipo de acusação em público só para ser aplaudida pelas amigues?

Provavelmente não. O que nos leva à péssima conclusão que, em um mundo de mulher filha da puta, convém ser um homem escroto, grosseiro e agressivo. Ou não contratar mulher, pois dez anos depois, do nada, ela pode se voltar contra você, mesmo que você tenha dado todo o apoio e suporte.

Mulheres, pensem bem na mensagem que estão passando para o mundo. É hora de que nós mesmas nos encarreguemos de repudiar as que nos prejudicam. Não é falta de sororidade, é caráter que chama.

SOMIR

Tempo de leitura: 30 minutos.

Resumo da B.A.: o autor justifica o comportamento tóxico masculino, e pior ainda, nem diz que a alternativa é fazer a transição para mulher.

POWERED BY B.A.

Não acredite na mulher. Não acredite no homem. Não acredite em qualquer variação também. Acredite em pessoas e evidências. Quando o caso estourou com a acusação de Juliana contra Otávio Mesquita, eu até achei estranha a demora entre o fato e a ação, mas é bem razoável que uma pessoa demore para entender o que aconteceu, e mais ainda que tome coragem de denunciar.

Então, sagrado direito de tomar seu tempo antes de denunciar. Mesmo aquele monstrinho que fica na cabeça do homem dizendo que tem mulher que faz essas coisas quando quer atenção e dinheiro se calou. Pronto, time Juliana, Otavio Mesquita que pague, ele abusou da posição de poder. Resolvido, agora é ir para a Justiça.

Mas Juliana continuou falando, e aí a história começou a ficar estranha de novo. Era algo presumido para quem não estivesse muito por dentro: ela não deve ter acusado o golpe na hora, ninguém ao redor percebeu e ela ficou sozinha se sentindo abusada. Pela dinâmica das aparições dela no programa, tinha toda aquela pegada de “menina que é um dos moleques”, algo que homem costuma reconhecer, às vezes encontramos esses tipos.

Às vezes esse tipo de mulher que se enfia na cultura tosca de um bando de homens acaba reagindo que nem a gente na hora que algo começa a mexer com a saúde mental: abafa tudo, que nem bicho que tem instinto de nunca demonstrar dor para não parecer fraco para o predador. Não é algo saudável que fazemos, mas fazemos. Eu já vi mulher se contaminar por isso em turmas mais masculinas, e depois de um tempo se sentirem mal pela quantidade de abusos que toleraram.

Quando você é “um dos moleques”, pega o defeito de fingir que nada te afeta e sofrer em silêncio. E como homem tem esse hábito de não cutucar demais se outro parece não querer conversar, eu já tinha toda a história escrita na cabeça: ela fingiu que não se sentiu mal e os homens ao redor acreditaram.

Mas quando ela disse que tinha reclamado sim e nada aconteceu, algo começou a ficar estranho. Não porque eu tenha opiniões muito profundas sobre o apresentador ou sua equipe, mas porque eu conheço essa dinâmica da “menina que é um dos moleques”. Ela é, mas não é. Quando alguém mexe com ela, tem um grau de putez diferente na turma. Um misto de preocupação instintiva com mulher com espírito de tribo de homem.

Quando aparece o vídeo de Danilo dizendo que ele e o time se prontificaram a brigar com Otávio Mesquita, a estranheza passou. Sim, era isso que eu presumia que aconteceria nessa dinâmica. Francamente, até considerando os fatores que Juliana usou para bater neles, seria bem fácil comprar essa briga: o pessoal da equipe defendendo uma mulher negra mais pobre contra um homem branco rico que muita gente já acha bem babaca? Sério, não custa nada comprar essa briga, só traz simpatia.

Mas Juliana não quis a briga. Longe de mim criticar essa parte, porque como disse no começo do texto, pessoas podem demorar para sequer entender o abuso; mas pelos materiais trazidos à tona, está na cara que ela não quis. O grupo não forçou a barra, o tempo passou, ela resolveu denunciar e rapidamente usou cartas de misoginia e racismo para bater até na equipe que se prontificou a ajudar. Isso que foi feio. Lembrando: não muda o fato de que está gravado em vídeo um abuso e que ela tem o mesmo direito que sempre teve de buscar justiça. Podemos até criticar o que ela fez depois da denúncia, mas não muda o fato.

O que alguns podem estar pensando, especialmente mulheres, é que o abuso foi tão óbvio que foi uma falha séria não tomar as dores de Juliana mesmo ela dizendo que não era para fazer isso. Era uma pessoa fragilizada que precisava de acolhimento. Infelizmente isso é mais difícil quando você está cercada de homens. E não é exatamente por achar que a mulher não merece ser defendida, é porque… honestamente, homem não parece sentir a mesma coisa quando sofre esse tipo de abuso.

Tem muito a ver com nossa segurança maior que podemos controlar a situação se quisermos. A opção da violência está quase sempre aberta, e se não estiver, é porque realmente perdemos feio. Nesse ponto, a mente masculina é muito mais utilitarista: se pegarem em mim de um jeito que eu não quiser, eu me afasto, eu reclamo, eu brigo… e está resolvido. Não fica o mesmo tipo de trauma. Na prática só encostaram numa parte do seu corpo que normalmente você nem liga mesmo se encostarem.

Entendam que não é uma comparação direta: você pode ser homem, mulher ou sei lá o quê e não querer que encostem nem na sua mão para te cumprimentar. Escolha sua e é trivial respeitar se você não for um cretino, mas como no homem isso não gera um alerta muito maior do que o momentâneo, a gente tende a acreditar de verdade se uma mulher disser que está tudo bem, que passou, que não vai ficar sentimento ruim.

Porque para a gente, salvo no caso de um estupro, normalmente fica bem mesmo. Não tem a sensação de impotência e vulnerabilidade que uma mulher sente quando um bicho que não consegue vencer na porrada se aproveita dela. Quando Juliana diz que não é para comprar a briga, por mais que você mulher não ache razoável acreditar… homem acredita. Internamente entendemos que é algo que passa e não deixa marcas.

Todo mundo pode melhorar, todo mundo pode se beneficiar de um pouco mais de empatia, mas é um bom conselho para as mulheres presumirem que homem não sente o mesmo incômodo inerente com o abuso desse tipo. Já é uma espécie de abstração da mente masculina perguntar se uma mulher está sofrendo porque alguém passou a mão nela. É se colocar no lugar dela para racionalizar um sentimento que não costuma existir com homens adultos (que não sofreram abusos na infância).

E transformar essa história num circo com acusações até de racismo só reforça uma péssima ideia na mente masculina: é melhor evitar mulher na sua turma, social ou de trabalho, a não ser que você esteja especificamente tentando alguma coisa com ela sexualmente. Se fosse a conversa pura do abuso, homens entendem mesmo que de forma indireta, mas quando começa a virar algo sobre cultura de estupro ou racismo anos depois, com jeitão de lacração por atenção ou ganho financeiro, não se espantem quando homem não quiser contratar mulher.

Ou quando não estiver com boa vontade de acreditar nelas. Se você não oferecer ou oferecer ajuda, dá no mesmo? Péssima imagem. Os incels estão todos babando em cima dessa história, e com um argumento razoável o suficiente para atrair mais gente para o seu grupo. Nos ajudem a te ajudar.


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