
Não quero ter filhos.
| Sally | Flertando com o desastre | 22 comentários em Não quero ter filhos.
Porque não quero a responsabilidade de ter filhos. Eu não quero a responsabilidade de ter que arrumar um carro quebrado, eu não quero a responsabilidade de escrever um artigo sobre física quântica, eu não quero nem a responsabilidade de fazer um bolo que vai ser vendido. Cada coisa que você se propõe a fazer vem com um pacote de obrigações, e a gente deveria prezar por cumprir essas obrigações.
Tempo de leitura: 15 minutos.
Resumo da B.A.: a autora ignora a causa trans que precisa de crianças abandonadas para poder adotar depois.
Voltando nos exemplos, eu escolhi coisas que geram alguma consequência na vida alheia. Se você resolve arrumar um carro sem saber o que está fazendo, mesmo que ele volte a funcionar por pura sorte, ainda pode estar colocando em risco a vida das pessoas no carro e na rua se ele quebrar de novo enquanto anda. Se resolve inventar ciência da sua cabecinha oca sem ter estudado o assunto, vai falar besteira, passar vergonha e desinformar os outros. Até no caso do bolo, se você está vendendo existem padrões de qualidade e asseio que podem até te colocar na cadeia se não cumpridos.
Quando você se propõe a fazer uma coisa que impacta na vida do outro, o mínimo esperado é entregar qualidade básica. Qualidade básica vem de estudo, vem de experiência e vem de esforço. O brasileiro tem o péssimo hábito de achar que desde que o outro não reclame, está bom. É um acordo perverso de incompetência onde é mais importante ser agradável do que fazer as coisas direito.
Eu não consigo fazer tudo o que eu quero no nível de qualidade que eu quero. Por isso, aprendi o valor de não me comprometer com o que não vou colocar energia de verdade para fazer. Tempo é o recurso mais escasso da vida de quem preza pela qualidade, porque tudo demanda tempo. Não existe arrumar carro, escrever artigo de física ou fazer bolo sem ocupar o seu tempo e sua atenção naquela tarefa. E quanto maior o seu grau de exigência interno, mais tempo é exigido.
Prefiro fazer poucas coisas bem-feitas a me dividir em inúmeras tarefas meia bomba. Pode ver como qualidade ou limitação, não me importa mais. A verdade é que décadas de experiência me provaram que eu vou ser decente numa quantidade limitada de coisas. Não para sempre, não estou pregando estagnação, você pode mudar o seu foco quantas vezes quiser, mas o dia continua tendo 24 horas e você vive nele.
Ter filhos significa criar uma responsabilidade. É um espaço na sua programação diária que não tem mais prazo para acabar. Podem ser uns dezoito anos de atenção constante e depois acalmar, mas podem ser todos os anos que você ainda tem nesse mundo de acordo com o que acontecer com esses filhos.
Eu prefiro não ter esse responsabilidade. É egoísmo de preferir gerenciar meu tempo como eu prefiro, mas é altruísmo no sentido de me preocupar com a qualidade da vida que eu vou providenciar para essa criança. Os exemplos do texto são todos brincadeira perto de um filho, o grau de responsabilidade aumenta num nível inacreditável, porque é algo que não pode dar errado.
Se o meu bolo for uma porcaria, eu posso fazer outro ou desistir de bolos. Se o meu filho for uma porcaria, não só vai me doer mil vezes mais a realização, como eu continuo com responsabilidade plena na situação. Pais podem passar a vida toda tentando lidar com problemas de criação, os que você causou e os que o mundo te deu de presente. Se você fizer direito, é seu filho a sua vida inteira, se você fizer errado, também.
Num universo paralelo, eu consigo me ver tendo filhos e colocando neles energia e tempo para ter algo que possa me orgulhar, mas não nesse. Nesse eu penso nos padrões mínimos de qualidade que eu devo oferecer para uma criança e como eu não teria alternativa senão me dedicar imensamente a esse projeto de gente. Com filho não existe ver se vai dar certo, não existe eu posso mudar de ideia, é comprometimento total.
Eu escolhi não ter filhos porque eu resolvi fazer outras coisas e acho inaceitável tratar outras coisas no mesmo nível que um filho. Ao contrário de pessoas que se dizem “childfree” e fazem disso um traço de personalidade, eu prefiro a realidade de que é só uma escolha. Patéticas aquelas mulheres que ficam se parabenizando pela esperteza de não ter tido filhos, não foi esperteza nem burrice, é bobagem achar que tem uma escolha certa e uma errada. É só uma coisa que você não está fazendo.
Eu fui criada por pais que colocaram em mim o esforço e o tempo necessários para eu crescer vendo amor em casa e achando inacreditável como existem outras casas onde os filhos têm raiva dos pais. Eles deram o jeito deles e eu nem sei como começar a conversar com alguém que odeia a mãe ou o pai. Eu entendo em tese, mas ainda parece que tem algo errado na realidade. Pais e mães não podem atacar a autoestima dos filhos, não podem abusar deles, não podem enganar, trair confiança, pelo menos é como eu saí da minha criação.
Erraram? Erraram. Eu acabei na terapia com alguns traumas de infância, é claro que alguma coisa vai dar problema e é claro que tem coisa para resolver na vida adulta, coisa que de uma forma ou de outra começou com falhas ou distrações dos seus pais. Mas eu tenho um centro emocional absolutamente cego para más-intenções de pais e mães.
E eu entendo que isso pode estar distorcendo meu padrão de qualidade mínimo. Na minha casa as coisas saíram do jeito certo para que eu, na vida adulta, minimizasse os problemas e valorizasse os acertos. Eu não consigo me ver entregando algo pior que isso, e talvez tenha algo de pressão autoimposta por qualidade superior na criação dos meus filhos.
Mas continua sendo uma escolha baseada em quanto você está disposta a se dedicar. Se colocar as horas e o esforço, com certeza sai algo de qualidade. Com certeza sai um conserto caprichado de carro, um artigo de física coerente e um bolo que vende muito bem. Hoje você aprende como fazer mais rápido e a informação está em todos os lugares. Mas se eu não escolhi doar minha energia nem para a vida de confeiteira profissional, com certeza não é um filho que vai caber.
É uma conversa muito maior que instinto, por isso não tem distinção de querer ser mãe ou pai neste texto. Não querer ter filhos, pelo menos para mim, é sobre os filhos. O sonho de ser mãe ou pai sem o foco no filho é de um egoísmo horrível. Não basta querer, tem que ter condições de assumir as responsabilidades. Um ser humano não pode ser um meio para um fim. Se você não enxerga o filho como o centro das coisas, já começa tudo errado.
Eu tenho asco de gente que não se responsabiliza pelos seus animais de estimação muito por causa desse egoísmo. Adotar um bicho é assumir a responsabilidade por uma vida, não é a mesma coisa que criar um ser humano, mas mesmo sem nenhum documento, você se colocou na posição de controle sobre a vida e a morte de um ser. É feio não dar atenção para um fuckin’ cachorro que depende de você, imagina só uma pessoa?
Eu fico mal se meu bicho está precisando de alguma coisa e eu não atendo; digo isso porque a mentalidade de ser responsável por outra vida vem muito antes da complexidade das relações humanas. É fundamental se entender como provedor ou provedora e agir de acordo. Você se prontificou a cuidar? Cuide. Enquanto aquele ser vivo estiver vivo, sua promessa está de pé e não é tolerável quebrá-la. Falhar por motivos alheios à sua vontade acontece, mas nesse contexto, ainda deve ser uma dor horrível.
E se eu ficar doente, tem rede de segurança para a criança? O universo não liga se você realmente está impedida por fatores externos, a criança ainda está lá. Outra forma irresponsável de criar um filho é não ter o suporte social para ter um filho. Não basta ter renda, tem que ter braços, pernas e colos para cuidar da criança quando você não puder. Para ter filhos, você precisa de uma família. Pode até não ter dado certo com o pai, mas alguma alternativa precisa funcionar.
Eu não acredito em famílias de duas pessoas quando uma delas é uma criança. Não por falta de amor e esforço, mas por falta de redundância. A responsabilidade pela criança é tão grande que não cabe numa só pessoa. Ter um filho para mim significa virar a vida na direção de uma família de tamanho médio, que seja. Vai ter que socializar bastante, com gente que nem tem tanta afinidade com você, mas que te permite essa rede de apoio.
E sim, que seus filhos vivam em grupos maiores. Criança perde demais quando não tem esses estímulos desde cedo, fica atrofiada. Eu gosto do meu tempo solitário, de situações bem intimistas, isso não pode mais funcionar com filhos: você precisa ficar se movendo e levando os catarrentos para ver gente, lugares, lidar com outras crianças, pegar imunidade para doenças comuns e tudo mais. Filhos ficam mais neuróticos quando convivem apenas com os pais.
Se você não gosta dessa vida de ficar falando do tempo e do BBB com outros pais inúteis para estimular seu cérebro, mas que oferecem crianças para a sua interagir, azar. É egoísmo não fazer. Eu não quero viver em função social de uma criança, e não acho que seja uma escolha.
Muita gente lê um texto desses e pensa que não precisa ficar com esse trauma todo de ter filhos, que na prática é bem mais fácil. Não é não. Se você tem filhos, provavelmente já adaptou sua vida para fazer essas coisas. Se não adaptou, sinto muito te dizer, mas você está fazendo isso num nível de qualidade que eu não considero aceitável. Fazer de qualquer jeito não funciona comigo nem com peixe beta, coloco no jarro de conserva de palmito mais limpo que tiver. É minha responsabilidade.
Criar uma pessoa saudável no corpo e na mente é possível, eu vi acontecer e conheço muita gente que faz direito, mas acho que os hormônios entopem a parte do bom senso dessas mães e pais, fazendo eles acharem que não estão literalmente dando sua vida para outra pessoa. A pessoa acha que não dá tanto trabalho assim porque se o ser humano médio percebesse quanto custa a espécie acabava. Spoiler: está acabando, quase todos os países ricos estão com taxa de fertilidade abaixo da reposição.
Essa acaba sendo um tema recorrente na discussão sobre ter filhos, o quanto isso custa para os pais. Até aqui eu estou falando sobre o custo psicológico e físico, mas é claro que existe o custo financeiro. Se eu fosse ter um filho, estaria pensando seriamente em quanto dinheiro isso vai demandar. Não adianta caber no seu salário atual, você se comprometeu com uma vida humana e precisa ter recursos para dar conta dela. Ter filhos sem uma boa reserva? Ter filhos sem uma família que possa segurar as pontas no caso de desemprego ou crise? Impensável, mas muita gente sai fazendo filho mesmo assim.
Se você vai oferecer excelência para uma criança, que não tem nada a ver com luxo e presentes, você precisa ter como pagar por um excelente tratamento de saúde, nutrição de qualidade e uma nota em educação. O Estado brasileiro não te oferece isso em troca dos impostos, a maioria dos países desse mundo idem. No Japão ou na Suécia é concebível confiar na estrutura disponível, mas em países com menos rede de segurança você precisa de suporte particular em uma área ou outra.
Não entregar esses elementos básicos para a criança é baixar a qualidade de vida dela agora e no futuro. Se você errar nos cuidados da primeira infância, isso vai gerar sequelas para a vida toda. Como eu já disse, erros são inescapáveis, mas tem limite. Se você não está disposto a usar o máximo possível dos seus recursos para entregar excelência para seu filho, não deveria ter filhos. Tem gente mais pobre que consegue criar ótimas pessoas para o mundo na base do esforço mesmo. Vai achar tudo o que puder achar de graça para melhorar a vida do filho, mas é custo do mesmo jeito. Você deveria pagar em dinheiro ou em esforço.
Eu não me vejo com renda e tempo suficientes para dedicar para um filho de verdade. Não porque acho impossível virar a vida toda nesse sentido, mas pela plena capacidade de entender que precisa virar a vida toda nesse sentido. Pessoas que acham que é só não deixar morrer de fome contaminam a opinião sobre o tema, exagerando no egoísmo de quem não quer ter filhos e dividir o que tem. Claro que elas pensam assim, afinal, com o nível vergonhoso de esforço que colocam nas crias, é bem mais fácil não ter que fazer escolhas difíceis.
Mãe que deixa criança pequena em casa para ir vagabundear, pai que some quando quer e acha que pagar pensão já é fazer muito, um bando de gente fazendo tudo errado e enchendo a boca para chamar quem escolhe não ter filho de egoísta. Como eu já disse, eu escolhi um caminho egoísta por não querer me concentrar nessa tarefa de criação, e fazer como tanta gente faz simplesmente não é uma opção.
Sim, se fosse para ser uma relaxada que toca a vida como tocava antes e coloca um tablet na frente da criança para me distrair eu poderia ter filhos facilmente. Nessa comparação com quem acha que na hora vai resolver e não tem plano B para nada, eu não me considero egoísta. Debochei um pouco do movimento childfree pelos excessos de autoimportância, mas ao assumir que não querem o esforço, fazem muito mais bem para o mundo do que quem acha que dá para fazer de qualquer jeito.
Eu quero que este texto explique direito que quanto mais você acha importante o filho, mais difícil é ter um. Ainda bem que tem gente que topa o desafio e quando está nele, se entrega de corpo e alma. Mas estou muito tranquila sobre as opiniões de quem trata criança de qualquer jeito, porque é muito mais egoísta fazer alguém sofrer sabendo que vai fazer a pessoa sofrer.
Somir, pode deletar depois se quiser: https://odysee.com/@AlphaNerd:8/how-to-torrent-anonymously-with-mullvad:7
Complemento de por que eu gostodo Mullvad (apesar de não ter os meios financeiros para tal). Um que é bom (mas nem tanto) é o ProtonVPN
Eu até vou deixar público, porque acho saudável que mais pessoas conheçam essas ferramentas. Eu, caso baixasse qualquer outra coisa que não conteúdo com liberação completa de direitos autorais e em total respeito às regras da indústria de Hollywood™, gostaria de saber essas opções, então que fique aqui. Se um dia eu quiser baixar algum torrent com liberação completa do STF e em total respeito ao estado democrático de direito™, eu também posso pensar em usar a rede I2P (https://geti2p.net/pt-br/), que tem especialização em transmissão P2P.
Lado bom de Linux é que a maioria das distros já tem isso.Lado ruim é que você se vira pra configurar
Algo que lembrei agora: quad9. Da pra configurar a IPV4 e IPV6 sem instalar, basta abrir as configurações de rede.
Ajuda bastante pra diminuir a invasão de privacidade.
E tu ainda pode ter filhos? Menopausa não chegou?
Nem perto, todo ano faço exames e minhas taxas estão altíssimas
Depois de assistir “Adolescência”, identifiquei-me plenamente com a mãe e o pai do rapaz feioso protagonista. Ter filhos transcende a questão de fazer direito: é aumentar os riscos e as incertezas da vida para si, para os filhos e para todos os demais nessa geração e nas futuras, por mais alto que seja o sarrafo e por mais que tenhamos superado traumas, problemas e restrições das gerações passadas.
Inicialmente fiz teste genético pois, caso fosse portadora de um gene defeituoso, filhos biológicos estariam fora da prateleira, pois incorreria em custos e sacrifícios adicionais para todos (a sociedade inclusive), mas, mesmo saudáveis ou adotados, isso não afastaria o perigo de ter em casa, no limite, psicopatas/sociopatas que, invariavelmente, trariam traumas e desgraças para tantas pessoas por aí e sabe-se lá por quantas gerações dessas pessoas.
Tanto que priorizo agora o objetivo de que os filhos não sejam a péssima escolha de alguém algum dia, convivendo 24/7 com eles (sem qualquer garantia de eficácia e só restando ter fé no resultado). E torcendo para que as próximas gerações deles (caso venham a existir) tenham essa mesma preocupação.
É o mínimo a ser feito diante do ônus de incertezas que acarretei ao mundo, embora seja grata pelo bônus.
Lembro da psicóloga me perguntando, na avaliação da vasectomia do meu marido, se eu não tinha medo de não ter ninguém pra cuidar de mim na velhice (um dos muitos argumentos usados pelos BMs pra botar criança no mundo). Respondi que sim, tenho, mas que não é justo botar uma criança no mundo já achando que ela vai crescer com o trabalho de cuidar de um velho. Quem faz isso está tendo filho pelos motivos errados. Expliquei outras coisas também, lembro de ter falado muito sobre um artigo aqui do Desfavor, que eu não queria o risco de ter um filho doente que eu não desse conta de cuidar (tive a experiência de um sobrinho doente também), e falei da disponibilidade emocional que eu não tenho pra oferecer a qualidade de vida que uma criança deve ter. No fim, a psicóloga deu laudo favorável e meu marido fez a operação mesmo sem filhos.
Como se ter filhos fosse alguma garantia de cuidados na velhice…
O filho pode ir morar em outro país, pode brigar com os pais, pode ele mesmo precisar de cuidados… tanta coisa pode acontecer. Parece que as pessoas precisam desse conforto, de acreditar que estão criando enfermeiros, por causa do medo que tem de envelhecer.
Conheço tantos que tiveram filhos pra ter quem cuidasse deles na velhice e, que, ao envelhecerem, acabaram esquecidos em asilos por seus próprios e ingratos rebentos…
Pois é, arrogância pensar que você consegue planejar o que seu filho vai fazer 40 ou 50 anos depois
Sally, tu ressuscitou esse texto? Eu acho que já li ele aqui no desfavor, só não lembro especificamente quando…
Tem um texto muito antigo, mas é um pouco diferente
Vocês já pensaram em fazer remakes de textos? Só pra ver como vocês mudaram como escritores e como pessoas, acho que seria interessante.
Pode ser uma ideia bem interessante!
> “Debochei um pouco do movimento childfree pelos excessos de autoimportância, mas ao assumir que não querem o esforço, fazem muito mais bem para o mundo do que quem acha que dá para fazer de qualquer jeito.”
Peço desculpas por ter sentido que o deboche (me) é cabível, se bem que sinto que geralmente acerto quando me identifico com outras “críticas sociais (feitas) fora desta RID”, mesmo com outra(s) forma(s) de imensidão de autoimportância(s), obviamente no sentido bacana (ou quase).
Resumindo: se não for pra fazer direito, é melhor nem começar. Só que, infelizmente, o que mais tem por aí é gente que é completamente incapaz de dar conta até de si mesmo, que dirá de um filho. Ótimo texto, Sally. Até pensei em mandar o link pra algumas pessoas, mas temo que já seja tarde demais, porque a cagada já está feita e agora estão sentindo na pele os efeitos de uma criação deficiente dos filhos.
É que o parâmetro de “Fazer direito” das outras pessoas é bem abaixo do meu…
Eu tenho dois filhos, e concordo plenamente com tudo oq vc falou. Não, não é nada fácil criar um ser humano com excelência. Tenho certeza que erro em muitos aspectos, mas não tenho dúvidas da minha doação para meus filhos, eles sempre, em primeiro lugar. Inclusive eu e meu marido mudamos de cidade pensando na qualidade de vida deles. A parte financeira me pega um pouco, não conseguimos pagar escola particular (por isso a mudança de cidade, escolas públicas melhores) mas tento compensar ensinando em casa o que acho que falta na escola.
Enfim, acho que é muito corajoso quem decide não ter filhos e sustenta essa decisão, é um Amor indescritível, mas é a tarefa mais desafiadora e ao mesmo tempo mais incrível da minha vida! Espero que eu esteja fazendo um bom trabalho!
Não ter filhos é uma escolha. Não um fracasso. Não um erro. Não um egoísmo.
Essa mentalidade de que mulher só é feliz com filhos precisa acabar, isso está escravizando e adoecendo mulheres que acabam tendo filhos porque acham que tem que ter e depois ficam exaustas com casa, marido, trabalho, estética e filhos.
Concordo com você, Sally.
Eu gosto muito de crianças na teoria. Elas podem ser divertidas e são muito fofinhas, adoro ser titia dos filhos das minhas amigas. E até que posso ser rede de apoio em alguns aspectos. Mas não consigo me imaginar feliz e responsável por um filho permanentemente, além de ter pavor de gravidez.
Segundo uma psicóloga que acompanho, é inevitável que toda criança seja traumatizada em algum momento, até mesmo por causa da fisiologia do cérebro e das emoções. Eu não sei se conseguiria lidar com isso ao mesmo tempo em que abro mão de parte da minha vida social, do meu tempo sozinha e ainda preciso manter me manter financeiramente bem de forma estável. Ajudar meus pais idosos a se virar no mundo moderno já me deixa um pouco cansada e eles são adultos que nem dependem tanto assim de mim, não acho que daria conta de uma criança do zero.
Ainda tem isso, Paula. A maior parte de nós (os que forem bons filhos) terão que ajudar os pais, pois as pessoas estão morrendo muito mais tarde. Além de toda a rotina da vida, trabalho, marido, casa, autocuidado e o que mais houver, ainda ter que se dividir no cuidado de idoso e filho me parece inviável.