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Masculinismo.

Masculinismo.

| Sally | | 10 comentários em Masculinismo.

Começa hoje a semana temática que prometemos no sábado passado, com a intenção de tentar contribuir para um problema que julgamos não estar sendo discutido da melhor forma possível: como grupos tóxicos fazem lavagem cerebral em jovens online, tornando-os impermeáveis aos conselhos e ensinamentos dos pais.

Tempo de leitura: 10 minutos.

Resumo da B.A.: a autora pratica opressão descarada ao fazer divisão de sexos de acordo com a genitália, mostrando toda sua limitação intelectual e preconceito.

POWERED BY B.A.

Se você não leu o texto de sábado, recomendo que leia antes de entrar neste, pois vai te dar um contexto importante.

Hoje vamos falar sobre como surgem esses movimentos e por qual motivo tem tanta gente caindo nessa armadilha. Especificamente do “masculinismo”, um movimento que supostamente se propõe a defender os “direitos dos homens” e geralmente vem carregado de discursos de ódio, preconceito e generalizações burras.

Começou, como sempre, com excluídos. Nada une mais um grupo do que a sensação de rejeição e exclusão, pois ao se reunirem, eles sentem que agora pertencem a algo e isso neutraliza o sofrimento da rejeição e da exclusão. Só que esse grupo se uniu de uma forma muito tóxica, buscando vingança e falando mal daqueles que acreditam serem os responsáveis por todo o mal-estar que experimentaram. Delegam a culpa de todos os supostos fracassos da sua vida a terceiros. E o alvo principal são as mulheres.

Então, para entender como tudo começou, temos que entender de onde surgiu essa sensação de inferioridade, de exclusão, de rejeição e de fracasso. E sim, as mulheres (ou ao menos um grupo delas) tem boa parte de responsabilidade nisso. “Ain Sally, você está culpando a vítim…”. NÃO. Leia o texto até o final. Estamos só começando essa conversa.

O movimento feminista começou muitas décadas atrás, pleiteando igualdade entre homens e mulheres, o que seria muito bom, mas, com o passar dos anos, saiu do controle. O termo “feminismo” foi sequestrado por mulheres amargas, vingativas e cruéis que começaram a usar essa bandeira para se vingar de homem, para trucidar homens, para responder com opressão a toda a opressão que receberam do sexo masculino.

E, para piorar, durante um tempo foi considerado muito bem-visto ser “feminista” (esse tipo de extremismo, que na minha opinião nem feminismo é). Então, mesmo as mulheres que não eram militantes ativas, acabavam tendo algumas atitudes nessa linha, pois além de ser normalizado, ainda gerava aplausos e uma série de vantagens. Era legal ser assim. Era na moda. É como um Mullet comportamental: na época parecia muito bacana, depois de uns anos se percebeu como aquilo era horrível.

Veio do nada? Não. Veio de muita opressão e escrotização feminina pelo homem. Está correto? Não. Não se rompe um ciclo de injustiças atacando de volta, essa mentalidade vingativa não gera qualquer coisa boa, apenas mais animosidade entre as partes. E gerar animosidade com quem é mais forte do que você é, além de tudo, muito burro.

Para toda ação tem uma reação. Passar anos escrotizando homem, acusando de serem todos estupradores em potencial, pedindo morte de homem, esculachando pessoas do sexo masculino por sua aparência, poder aquisitivo e escolhas de vida tem consequências.

É isso o que a maior parte das mulheres faz quando está com raiva: é má, fala mal, desmerece, ofende. Só que, até aqui, as mulheres faziam isso com outras mulheres, então, todos os envolvidos tinham testosterona baixa, pouca força física e menos agressividade. A partir do momento em que isso se voltou para os homens, a resposta veio, digamos, um pouco mais física e enfática.

Mulheres podem ser muito cruéis. Temos a aptidão para isso: nossas habilidades verbais, de observação e de percepção de sentimentos costumam ser mais aprimoradas do que a dos homens. Isso nos faz uma máquina de magoar, de manipular e de humilhar quando queremos. Habilidades que em tese foram selecionadas pela natureza para acolher, para cuidar de família, foram usadas para trucidar de volta quem já nos trucidou em outros tempos.

E com esse discurso muito equivocado de “dívida histórica”, isso foi mais tolerado socialmente do que deveria. Recebeu holofotes, recebeu aplausos. Homens foram injustiçados, tiveram suas reputações moídas, foram humilhados publicamente, por pessoas que reclamavam justamente dessas mesmas atitudes para com elas. As mulheres se tornaram o que elas tanto criticavam nos homens.

Após anos de uma construção social com discurso, leis e atitudes voltadas a humilhar os homens, a resposta veio. Os homens que se sentiram humilhados, excluídos, sacaneados ou oprimidos se uniram online, formando diversos grupos (red pill, incel e muitos outros) e se dedicaram a destilar seu ódio por mulheres. A esses grupos se convencionou chamar de “masculinistas”, muda a alegoria, mas a essência é a mesma: responsabilizam mulher por tudo de ruim.

Percebam que, mesmo sendo mulher, eu consigo ver claramente de onde surgiu e a parcela de erro das mulheres. Mas, precisa de dois lados insanos para se chegar a um resultado tão doentio como o que temos hoje. Não importa quem está sendo oprimido no momento, homem ou mulher, se o grupo decide reagir batendo de volta, com agressividade, com raiva, com vingança, ele é parte do problema também.

Em tese, somos seres racionais e quando nos deparamos com um conflito complexo, deveríamos sentar, conversar, ouvir, argumentar, tentar entender e tentar chegar a uma solução que seja boa para todos. Agressão gera agressão. Raiva gera raiva. Ódio gera ódio. E ninguém ganha com isso, nem mesmo aquele grupo que está desempenhando o papel de opressor no momento. É uma vida extremamente infeliz, frustrante, triste e solitária. Não compensa a ninguém: um lado acaba morto, o outro na cadeia.

Mas, faltam ferramentas às novas gerações para ter esse entendimento ou se portar de acordo com ele, como detalhamos no texto de sábado. Pais que só sabiam proteger os filhos dos perigos das ruas não formaram sua educação pensando em protegê-los dos perigos online e, sem ter ferramentas para lidar com esses sentimentos negativos que surgiram da rejeição e da humilhação, a reação natural foi o ódio.

E é preciso, além de dar ferramentas aos filhos, e estar constantemente ensinando e estimulando seu uso. Não é, como muitos pensam, apenas transmitir a lição e o dever está cumprido. Tem que ser reforçando constantemente. Mesmo nós, que somos adultos formados, temos que nos policiar para não cair na raiva, no ódio, na vingança quando alguma situação ou pessoa pisa no nosso calo.

Não é como se alguns fossem “superiores” ou “evoluídos espiritualmente” e simplesmente fossem bons enquanto o resto é um lixo cheio de sentimentos negativos. Todos nós somos seres humanos, portanto, todos nós somos um lixo cheio de sentimentos negativos e é nosso dever trabalhá-los, sublimá-los, resignificá-los e transcendê-los. Só que para isso são necessárias ferramentas complexas, difíceis de usar e que requerem muito treino. É impossível que um adolescente sozinho tenha sucesso nessa tarefa.

E os pais, como estão alheios a essa realidade online de ódio, agressividade e violência, não estão percebendo que precisam aprender a usar essas ferramentas para depois ensinarem os filhos. Sabem vagamente que acontece, mas não tem a menor ideia dos mecanismos que são utilizados para lavar os cérebros dos seus filhos. Não dá para proteger do que se desconhece, então, os jovens estão tendo que lidar sozinhos, sem ajuda, com algo muito difícil.

“Mas Sally, eu converso com meu filho, ele me garantiu que não participa de nada disso”. Sendo bem sincera aqui, ele não vai te contar, adolescentes mentem, principalmente para escapar de sermão e problemas. Ele não vai te contar, primeiro por saber que você reprovaria, segundo por não querer passar pela humilhação de se declarar um rejeitado por mulheres. Seus filhos nunca irão contar ou admitir, vocês, pais, é que tem que perceber.

Mas, perceber um adolescente pode ser uma tarefa quase impossível. Um bicho que passa o dia trancado no quarto, que responde com resmungos, que quer a maior distância possível dos pais não é exatamente um livro aberto para se ler. Então, minha sugestão é: faça de forma preventiva. Crie um ser humano que, desde pequeno tenha essas ferramentas. Fale sobre elas, encoraje o uso. E, acima de tudo, seja o exemplo, pois não adianta nada falar uma coisa e fazer outra.

Seja o exemplo. Mostre, através da sua vida, que saúde mental, controle emocional e solução civilizada de conflitos é um bom caminho. Mostre através dos seus atos e falas que polarização é burrice, que ódio é perda de tempo e que permitir que outro te afete é uma fraqueza. Seja como um farol. O farol brilha, indicando o caminho, mas não leva o barco à força até ele. O farol apenas brilha o suficiente para indicar ao barco, caso ele queira ir, onde é o caminho.

“Mas Sally, tudo muito bonito, porém ainda não sei o que fazer”. Primeira coisa: cuide da sua saúde mental. Só podemos dar o que temos. Saúde mental e maturidade emocional em dia? Ótimo. Agora é hora de ensinar, desde cedo, que se seu filho ou filha tiverem uma boa autoestima, ele está blindado contra grupos extremistas e de ódio. Repita comigo o mantra: retirar culpa, elevar autoestima. Tudo que você falar ou fizer tem que ser guiado por esses dois princípios básicos: retirar culpa, elevar autoestima.

Se seu filho souber o valor que ele tem sem precisar do olhar de terceiros para medir isso, as chances de ele não pegar para si qualquer ofensa jogada na sua direção são maiores. Em tempos de redes sociais é indispensável ensinar a filhos a não se abalarem com nada que falem sobre eles, a não se importar com as opiniões ou desaforos de estranhos e a entender que quando você se importa com elas, está dando poder a esses estranhos. Mas para isso você não pode se importar com a opinião de terceiros. Não pode se ofender. Não pode se desestabilizar. É pelo exemplo, lembra?

Também é importante ensinar que as pessoas que aparecem na vida dele não são ao acaso e sim fruto de um reflexo do que tem dentro dele, assim, as chances de ele não generalizar coisas negativas sobre mulheres são maiores. Se seu filho souber que uma pequena bolha que ele vê de forma alguma reflete a realidade ou o mundo todo também. E se seu filho souber que quem bate se faz tanto mal quando quem apanha, você zera as chances disso acontecer. E, novamente, é pelo exemplo. Não é para discursar, é para nortear sua vida para mostrar isso diariamente a ele com atos.

Se você recitar esse discurso acima para o seu filho, ele vai rir de você, te chamar de maluca ou de hippie. E com toda a razão! Isso não tem que ser um discurso. Tem que ser uma atitude sua, consistente. Você tem que se portar assim, para que ele assimile que esse é o padrão de normalidade. Seja o farol, não uma pessoa caga-regras. Ninguém gosta de caga-regras. Adolescentes vão para o sentido oposto do que caga-regras dizem.

Então, não adianta fazer esse discurso e depois, por exemplo, dar um esculacho porque ele tirou notas baixas e assim ele “não vai ser ninguém na vida” (spoiler, ele já é, independente de nota). Se você condiciona o valor do seu filho a algo externo, como desempenho escolar, desempenho em competição ou qualquer outra coisa, ensina a ele que isso é normal e, quando for adolescente, ele vai procurar pessoas que também condicionem seu valor a algo externo (corpo, dinheiro, carro), e geralmente essas pessoas são péssimas.

E não me refiro a nada cármico ou místico de “atrair”, isso é coisa de gente débil mental. Me refiro a o seu filho internalizar que recebe recompensa, afeto e aplausos quando performa bem em algo externo a ele. É isso que ele vai reproduzir quando quiser recompensa, afeto e aplauso dos amigos e das mulheres. E, ao reproduzir isso, vai atrair pessoas interessadas nisso, que, como já dissemos, geralmente são péssimas pessoas. Ao só atrair isso, ele vai achar que no mundo só tem isso, que todas as mulheres são iguais, pois adolescente, além de burro, é autocentrado. E aí, meus amigos, ele será presa fácil dessas seitas.

“Então quer dizer que eu tenho que aplaudir meu filho ser um vagabundo que não quer estudar e só tira nota ruim?”. Não, Pessoa Quer Dizer, não é isso. Você pode e deve incentivar seu filho a estudar e até mesmo impor consequências negativas caso ele não o faça, afinal, a vida impõe consequências negativas a quem não trabalha. Você só não pode condicionar o valor dele a isso. Tem muitas formas de estimular e até repreender sem destroçar a autoestima de alguém.

Todas as pessoas da casa devem se comportar, de forma constante, consistente e sem contradições, de forma a retirar a culpa, elevar a autoestima, ensinar que devolver com a mesma moeda ou com ódio é nocivo, ensinar que se atraímos pessoas ruins ou filhas da puta é porque de alguma forma temos algum problema dentro de nós mesmos que precisa ser corrigido e ensinar que generalizar qualidades negativas em grupos não é aceitável. Não só na interação com os filhos, mas em todas as interações da vida. O tempo todo. Tem que ser isso, tem que sentir isso, tem que emanar isso.

Não adianta fazer discurso bonito e depois ficar antagonizando dizendo que todo _____ (petista/bolsonarista) é algo ruim. Não adianta fazer discurso bonito e depois soltar falas agressivas contra o chefe, o vizinho, o colega de trabalho. Não adianta nada fazer discurso bonito e depois contradizê-lo com atos, pois são os atos que ficarão na cabeça dos filhos.

Ninguém disse que seria fácil. Muito pelo contrário, nós sempre dissemos que era muito difícil e uma responsabilidade enorme. Não consegue? Não tenha filhos. Já tem filhos e não fez nada disso? Bem, sugiro que passe amanhã, no texto do Somir, que vai falar um pouco sobre os mecanismos que essas seitas usam para atrair e fidelizar adolescentes. Leia com muita atenção o texto dele, é uma rara oportunidade de ouvir quem já nadou de braçada dentro desse mundo. Não é todo dia que a gente tem um informante interno trazendo tudo mastigado.


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