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Bíblia Pilhada: Juízes Parte 2

Bíblia Pilhada: Juízes Parte 2

| Desfavor | | 6 comentários em Bíblia Pilhada: Juízes Parte 2

Para comemorar esta data tão cristã, vamos fazer uma postagem da Bíblia a quatro mãos. Isso mesmo, eu escrevo duas páginas, Somir escreve duas páginas. Deve ser um milagre de Páscoa ele topar escrever sobre a Bíblia…

Para respeitar o estilo de cada um, Somir está livre para escrever o texto dele como achar melhor, relatando a sua visão. Não vamos fazer exigência, afinal, eu já acho um milagre ele ter força de vontade e concentração para ler um livro inteiro escrito de forma chata e com um assunto que não é do interesse dele.

SALLY

Tempo de leitura: 7 minutos.

Resumo da B.A.: a autora é transfóbica ao se referir de forma pejorativa ao sexo vaginal entre homens.

POWERED BY B.A.

Paramos no final do livro Juízes, e hoje vamos encerrá-lo com chave de ouro, com a história “O levita e sua concubina”. Um levita (nome dado à pessoa da tribo de Levi) estava viajando com sua concubina. Ao anoitecer, estavam na cidade de Gibeá sem ter onde passar a noite, até que um idoso os abordou oferecendo hospedá-los na sua casa. Eles aceitaram.

No meio da noite, homens da cidade bateram na porta da casa do idoso gritando “Traga para fora o homem que está na sua casa! Nós queremos ter relações com ele”. O idoso tentou argumentar que isso não era correto e que o levita era seu hóspede, mas os homens estavam irredutíveis, queriam comer o cu do levita.

Então o idoso ofereceu aos homens sua filha virgem e a concubina do levita, dizendo que poderiam fazer o que eles quisessem com elas se, em troca, deixassem o levita em paz. Eu tenho muito a dizer sobre isso, mas calma que piora.

Como os homens não aceitaram a negociação e continuavam exigindo o cu do levita, o levita viu que a situação estava ficando bastante feia para o seu lado e, para tentar se safar, pegou sua concubina pelo braço e a atirou para fora da casa, no meio dos homens enfurecidos.

E aqui eu prefiro transcrever a Bíblia mesmo, pois eu não seria capaz de escrever melhor: “E eles a forçaram, e abusaram dela a noite toda, e só a deixaram de manhã. Ao amanhecer a mulher veio e caiu na frente da casa onde o seu marido estava. E ficou ali até clarear o dia. De manhã o marido se levantou para continuar a viagem. Quando abriu a porta, achou a sua concubina caída em frente da casa, com as mãos na soleira da porta. Aí lhe disse:
— Levante-se! Vamos embora!”.

Só depois de dar vários cutucos na sua concubina é que o levita percebeu que ela estava morta. Ele cortou o corpo em 12 pedaços com uma faca e mandou cada um deles para cada uma das 12 tribos de Israel, para que todos saibam o tipo de selvageria praticada na cidade de Gibeá. Obviamente ele omitiu o fato de ter jogado a mulher em uma multidão enfurecida para preservar as próprias pregas.

O ocorrido chocou a todos e as 12 tribos foram chamadas para se reunir na presença do Senhor, representadas por seus chefes, que não eram bobos nem nada, por isso levaram muitas pessoas armadas prontas para a guerra, afinal, na Bíblia, nunca se sabe quando alguém vai querer comer seu cu.

Foram até Gibeá, que ficava na Tribo de Benjamin, e exigiram que entreguem os criminosos que tentaram comer o cu do levita, mas não foram atendidos. Então, decidiram atacar a cidade até encontrar esses homens. Então, por causa do cu do levita, começou uma guerra entre israelitas: as 11 tribos contra a tribo de Benjamim.

O Senhor, obviamente, estava ao lado das 11 tribos que buscavam justiça. Ele ordenou que a primeira a atacar fosse a Tribo de Judá. Não deu muito certo, morreram 22 mil homens. Se reuniram novamente com o Senhor para perguntar, com muita educação, se não seria melhor mudar a estratégia. Deus disse que não, que era para continuar atacando. Novo massacre: mataram 18 mil soldados.

Novamente o povo se reuniu, um pouco mais puto desta vez, questionando o Senhor sobre o que fazer, pois estavam ficando sem soldados. Deus disse que deveriam atacar mais uma vez e que na próxima vez Ele ajudaria e por isso venceriam. Ou seja, nas anteriores ele não estava ajudando, foda-se que morreu muita gente.

Agora, com poucos soldados, Deus fez sua mágica. Naquele esquema de que se deixar ganhar quando tem muita gente lutando não fica claro que a vitória se deu por intervenção do Senhor, sabe? Tem que deixar morrer muita gente para que fique bem claro que a vitória foi obra de Deus. E de fato venceram. Invadiram a cidade e mataram todas as pessoas da cidade.

Agora entramos no livre Rute, que é uma enorme perda de tempo. Um livro inteiro pode ser resumido em um parágrafo: Rute era uma mulher muito legal pois depois que seu marido morreu, ela se recusou a abandonar a sogra e partir procurando por um novo casamento. Como recompensa, o Senhor permitiu que case com um homem bondoso e tenha um filho chamado Obede. Obede não era ninguém na fila do pão, mas o filho dele (Jessé) teve um filho importante: o rei Davi.

Passamos agora para o primeiro Livro de Samuel, que conta a história de… Samuel. Samuel foi um milagre do Senhor, pois sua mãe, Ana, não podia ter filhos, mas orou muito para Deus pedindo que lhe conceda esse milagre.

Noto um padrão aqui: percebem que na Bíblia é sempre a mulher quem não pode ter filhos? Nunca é o homem. Viajavam 14 dias no lombo de um jumento no deserto esquentando os testículos 20h por dia na cela ou no pelo do animal, mas quem não podia ter filhos era a mulher.

E se… e se na verdade que não podia ter filhos era o homem, e as esposas pulavam a cerca, engravidavam de outro e diziam que foi um milagre do Senhor? Essa graça de concepção milagrosa é muito estranha, pelo visto foi uma estratégia que as mulheres da época criaram (não ter filhos era uma vergonha, um demérito) e deu muito certo, tanto é que até a mãe de Jesus se valeu dela.

Mas, enfim, voltando para Samuel. Como ele havia sito um “milagre” do Senhor por Ana “não podia” ter filhos, ela decidiu entregar o menino ainda criança ao “santuário de Deus, o Senhor” para que fique lá para o resto da vida, ao que tudo indica, como um sacerdote ou algo parecido. Muito bonito, mas tenho para mim que Ana não queria que o marido descobrisse que Samuel era japonês ou alguma outra característica que denuncie o chifre, por isso se livrou do moleque.

Então, Samuel dedicou sua vida ao Senhor e desenvolveu um elo muito especial com ele, chegando a ouvir a voz de Deus e até a vê-lo em algumas ocasiões. A história de Samuel continuará na segunda parte deste texto, escrita pelo Somir

Nomes que podem ser usados para mascotes: Fineias, Eleazar, Arão, Elimeleque, Noemi, Malom, Quiliom, Orfa, Rute, Boaz, Judá, Tamar, Peres, Esron, Rão, Aminadabe, Nason, Salmom, Elcana, Jeroão, Eliú, Toú, Zufe, Ana, Penina, Hofni. Não vamos cair em tentação de sugerir o nome Salmom para um peixinho de estimação, pois não somos tão óbvios. A sugestão de hoje é o nome Rão, para um cachorro: Rão, o cão.

SOMIR

Tempo de leitura: 8 minutos.

Resumo da B.A.: o autor perpetua a mensagem de um material que ignora a existência da pessoa trans.

POWERED BY B.A.

O lance da Bíblia é que as pessoas escreviam mal naquela época. A minha teoria é que na verdade o livro sagrado dos cristãos é um compilado de comentários de internet pré-internet. Sem foco, passam parágrafos falando de coisas inúteis, repetição extrema, incoerência e baixaria sem fim… aliás, a Bíblia nada mais é do que o “Ei, Você!” da antiguidade.

Mas se você passar pelo aperto da péssima escrita, consegue pegar algumas histórias interessantes. A de Samuel é recheada de dificuldades, uma série de desafios que discutem sobre a natureza humana sob pressão. Tudo, é claro, sob a tutela do Senhor, que por vezes é entidade intocável nos céus, por vezes é assistente virtual do celular.

Samuel passa os primeiros anos da vida sob a tutela de sacerdotes regionais, que recolhiam tributos para o Senhor com a anuência dos líderes “políticos”. A primeira história reconhecível debaixo de descrições e listas inúteis tem a ver com uma mulher abandonada pelo marido por não conseguir ter filhos que foi pega roubando do templo para ter o que comer.

Os sacerdotes estavam prontos para matá-la, recitando a palavra divina como defesa. Samuel, mesmo sendo apenas uma criança, se colocou diante dela, na frente de uma turba enfurecida. Os sacerdotes disseram para ele se afastar, pois ela merecia a morte por ter roubado de Deus.

Samuel disse que não foi isso que o Senhor lhe mandou fazer. Uma voz divina o disse que o templo do Senhor é o templo daqueles que precisam, e aquela mulher, fraca pelo abandono, precisava de Deus mais que tudo. E que Ele o prometeu que enquanto defendesse ela, nada poderia lhe fazer mal. Quando um dos sacerdotes ameaçou Samuel com um golpe, ele não vacilou. A coragem da criança foi vista como prova de fé inabalável, e a mulher foi liberada.

Já adolescente, Samuel havia se tornado respeitado na vila como o filho mais fiel, o que despertou ciúmes nos sacerdotes mais antigos. Ele foi acusado de se deitar com a filha de um comerciante poderoso, o que era duplamente proibido, pela sua função e por não estar casado. O pai dela exigiu compensação do templo, e os sacerdotes ofereceram a vida de Samuel ao invés de pagar com cabras ou seja lá o que usavam naquela época. Não foram específicos.

O jovem jurou pelo Senhor sua inocência, o sacerdote-chefe, Atalas, não quis saber, mandou-o arrastado para ser morto pelo pai da moça. Samuel avisou novamente que Deus não deixaria essa mentira impune, os sacerdotes riram dele. Chegando na praça no centro da cidade, Atalas entregou Samuel para o pai dela, dizendo que os homens de Deus pagam suas dívidas.

Samuel levantou a cabeça e disse que o Senhor o protegeria. Um escravo do comerciante amarrou suas mãos e o colocou em posição para ser chicoteado. O comerciante, que não dão nome (falha de escrita, hein?) o chicoteia seguidas vezes, rasgando a pele de Samuel. Samuel berra de dor, perguntando para os céus por que não estava sendo protegido se era tão fiel.

Enquanto a vida se esvai do adolescente, ele ouve uma voz poderosa, dizendo que apenas a verdade pode salvá-lo. Samuel, já com a visão embaçada e uma dor terrível, confessa que havia se deitado com a moça. Pede perdão para o pai dela, diz que pretende se casar, que vai dar muitos herdeiros para ele, que só teve uma filha em vida.

O comerciante se compadece. A jovem, Esinia, corre ao seu resgate. O sacerdote-chefe, Atalas, diz que Deus não aceita esse perdão, e pega um punhal ele mesmo para terminar o serviço. Pela posição de prestígio de Atalas, todos ficam sem reação, Esinia até tenta conter o homem, mas é empurrada. Samuel, fraco demais para se defender, diz que agora a verdade é dele e o Senhor há de proteger a verdade contra a mentira.

Atalas desfere um golpe, mas Esinia consegue se enfiar na frente. Ela toma a punhalada por ele. O comerciante, furioso com o ataque à filha, manda seus escravos atacarem Atalas. Esinia morre ali, Atalas logo em seguida. Samuel passa longos meses se recuperando, e resolve sair do templo para buscar iluminação em outras terras. Ele nunca mais se casaria, prometido a Esinia para sempre por ela ter sacrificado sua vida.

Deus passaria anos sem se comunicar com Samuel, e ele vaga pelas cidades aprendendo na pele o que é ser pobre, mortificado por ter deixado uma mentira covarde levar a vida de uma jovem e ter sido arrogante de acreditar que o Senhor o protegeria sem que ele fosse verdadeiro.

Adulto, ele se encontra com um grupo de fugitivos de um reino próximo, que haviam sido expulsos por venerarem um deus diferente. Ele os encontra num momento de imensa sede, perdido entre cidades nas colinas secas da região. O líder do grupo, Orbala, o oferece da própria água ao encontrá-lo quase morto no chão. Samuel rejeita, por enxerga nele símbolos de não crentes no Senhor.

Orbala oferece água mais uma vez. Samuel rejeita, dizendo que Deus não permitiria que ele se misturasse com infiéis, que fora punido por não ser digno. Orbala diz que todos são dignos, e que ele precisa de água para cumprir sua missão no mundo. Samuel sente que está passando por uma provação, e se recusa novamente.

Orbala e seu grupo se resignam e partem, mas não sem antes deixar uma bolsa de couro cheia de água, dizendo que não podia falar pelo Deus dele, mas podia falar pelo seu, que para ser salvo você precisa salvar. Samuel passa longas horas ali olhando para a água, sem forças para ir buscar mais, sem coragem de aceitar o presente de infiéis.

O Senhor quebra o silêncio depois de muitos anos. Aparece para Samuel como uma estrela cadente, e diz que criou a água para aplacar a sede de todos. E que através dela ele aprenderia a lição mais importante de todas. Ele finalmente cede e começa a beber daquela água. Suas forças retornam, ele se sente conectado com o Senhor novamente.

Depois disso, Samuel passa a ser um forte defensor da união entre todos os povos da região, explicando para quem quisesse ouvir que o ódio e a mentira nos afastam da salvação. Ele inclusive arrisca sua vida ao dizer para o rei local que aquele povo expulso o havia salvado e ensinado uma lição poderosa sobre o que Deus realmente queria dos homens.

E… é tudo mentira. Eu inventei tudo isso. Claro que o deus bíblico não dá lições sobre ser uma pessoa melhor, ele só quer ser venerado. Samuel provavelmente matou umas 500 pessoas que não vestiam a roupa com a cor exata que seu Senhor queria, porque é basicamente essa a lição do livro sagrado dos cristãos. Acredite em Deus acima de tudo ou seja torturado pela eternidade. O deus bíblico é um psicopata e os religiosos modernos são pessoas escrevendo cartas de amor para um maluco na cadeia.

Eu não podia terminar uma semana com Dia do Troll e Semana Anta de outro jeito. Serve para as duas coisas: para reforçar que é sempre importante prestar atenção se o que você está lendo ou ouvindo faz sentido, e que não existe nenhuma redenção possível na religião. São valores de gente brutalizada com menos de 70 pontos de Q.I. Crianças modernas são mais éticas e inteligentes que o Deus bíblico. O simples fato de um bostinha como eu ser um Deus melhor que Deus em 20 minutos escrevendo um texto tirado da cartola deveria ser prova suficiente.

E para a Sally, que não sabia disso: Feliz Semana do Troll! Agora sim podemos parar de enganar até ano que vem!


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