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Crianças birrentas.

Crianças birrentas.

| Somir | | 13 comentários em Crianças birrentas.

Ontem o Brasil tomou um baile dos argentinos no futebol. Não só tomamos uma goleada no esporte, como uma de maturidade…

Tempo de leitura: 90 minutos com prorrogação.

Resumo da B.A.: o Brasil perdeu por causa do racismo, se o time fosse branco ganhava!

POWERED BY B.A.

Sabe quando uma criança é um nojo perto da mãe, mas quando está longe parece uma pessoa bem mais legal? Eu lembro de perceber isso ainda criança, observando um parente que era a frescura em pessoa do lado da mãe, mas que se arrebentava e se sujava “normal” quando estávamos em um bando de crianças na rua.

Eu tenho essa mesma sensação com a Seleção Brasileira. Nos clubes os jogadores parecem moleques mais normais, mas quando colocam a amarelinha, ficam que nem aquele moleque chorão e cheio de não-me-toques na barra da saia da mãe.

A polêmica da vez aconteceu por causa de uma entrevista que Raphinha, um dos atacantes, deu para o Romário. O baixinho, que calado também é um poeta, ficou provocando o jogador, um dos melhores brasileiros em atividade que joga no Barcelona, a falar que ia “enfiar a porrada” nos argentinos e outras gracinhas.

Se Raphinha estivesse no Barcelona e alguém tivesse colocado pilha nele para xingar o Real Madrid, por exemplo, eu tenho certeza que ele pensaria dez vezes antes de falar o que falou. Porque no time europeu que ele joga, não tem a mamãe por perto fazendo ele ficar nojentinho. Pensaria como homem adulto e não ia animar o time adversário com uma provocação besta dessas.

Mas como ele já estava no contexto da amarelinha, a mente regrediu. Resultado? Tomou várias porradas dos argentinos no jogo, mas porradas inteligentes que não geraram expulsões. E jogar bola? Não fez. A seleção brasileira como um todo parecia um apanhado de menininhos frescurentos do lado da mãe contra um time profissional do outro lado.

Faz tempo que se reclama como os nossos jogadores vão muito bem nos campos europeus, mas que quando chegam na Seleção, não são os mesmos jogadores. Eu acompanho quando posso as ligas do velho continente, e realmente tem uma diferença gritante. Parece que lá eles são mais controlados dentro e fora de campo.

Desfavor não é lá o lugar para fazer análises táticas, mas para complementar melhor o argumento, até mesmo na forma de jogar parece que tem algo errado quando estão na Seleção Brasileira. Os jogadores de ataque não voltam para ajudar os defensores, nem mesmo se movimentam direito para ajudar na sua função principal.

No Real Madrid, Vinícius Júnior é conhecido por pegar a bola no seu canto e sair driblando, mas se você olhar melhor, percebe como ele sempre aparece no lugar certo durante os contra-ataques, isso quer dizer que antes do momento de receber a bola e tomar uma decisão, ele estava buscando o melhor lugar e pensando no que fazer quando fosse sua vez de participar. No time brasileiro ele quase sempre está abandonado na parte lateral esperando para fazer uma jogada bonita.

Tem problemas de organização que vem de cima para baixo, é claro, mas as escolhas do técnico funcionam apenas se os jogadores estiverem fazendo as coisas conforme combinado. E isso se repete para os outros jogadores mais badalados da Seleção. Ficam muito mais individualistas, como se o mundo girasse ao seu redor.

Isso é mentalidade, bem mais do que organização tática. Há uma regressão clara na capacidade mental deles quando não estão sob a pressão por jogo coletivo de seus times europeus. Não existe esse clima quando estão jogando aqui, começam todos a ficar com características do… Neymar.

Talentosos, mas com extrema tendência de autossabotagem. Neymar ficou “grande” demais para ser controlado por qualquer um, e seguiu sua carreira pós-Barcelona (última vez que jogou em alto nível) sempre buscando lugares onde poderia manter o futebol em segundo plano. A Seleção sendo um dos lugares mais permissivos para o comportamento.

Meu argumento é que o que vemos em campo atualmente é resultado direto dessa “geração Neymar”, jogadores contemporâneos e fãs dele repetindo o comportamento descompromissado e mimado quando se juntam no time brasileiro. Neymar é um ex-jogador em atividade que ainda tem vaga cativa no selecionado tupiniquim, e todo mundo por lá ainda vive em sua função. O técnico tem que convocar, até porque os outros jogadores se rebelam se ele não for.

A única liderança do time é o Neymar. O time precisa dele porque o time todo se enxerga nele, é o objetivo final da maioria dos jogadores, e se alguém pensa diferente provavelmente nunca vai falar. A gente fala mal dele fora da Seleção, mas lá dentro ele é intocável. Ídolo, modelo, exemplo.

E o que acontece quando mais de uma geração tem o Neymar de ídolo? Muito papo, muita festa, pouco esforço. Nos clubes em que jogam, jogadores como Raphinha e Vinicius Júnior não podem ficar agindo dessa forma mimada e egoísta, mas quando tem a “mamãe” Neymar por perto, eles soltam sua pior parte para o mundo.

Eu sei que tem muita discussão sobre o fenômeno do Menino Ney quase de meia idade, mas eu até relevo uma boa parte sobre jogador de futebol ser mais infantilizado. Primeiro que não eram pessoas que fariam terapia e focariam em inteligência emocional para começo de conversa. O foco quase que exclusivo em praticar esporte mexe com seus desenvolvimento intelectual. Pode ser preto, branco, rico, pobre, homem, mulher… atleta de alto rendimento não é o tipo de pessoa com tendência a desenvolver muito outras coisas.

Eu não ligo tanto assim para uma infantilização do atleta, desde que não se torne a criança nojenta e chorona que fica grudada na mãe. Os jogadores brasileiros de eras melhores não eram poços de sabedoria, viu? Crianças em vários aspectos intelectuais e emocionais, mas crianças que brigavam na rua, rolavam na lama e aprendiam a se virar sem tanto choro. Todo mundo que lembra ainda fala do Sócrates por um motivo: é raro um jogador de futebol ganhar fama de intelectual, são agulhas num palheiro de atletas, que por definição trabalham a vida toda com o corpo.

É por isso que eu falo dessa geração Neymar: porque a criancice nem é o fim do mundo, é a frescura mesmo. Criança frescurenta que resolve provocar o maior rival antes de jogar na casa dele, que acha que vai dar tudo certo independentemente do seu grau de esforço, que acredita piamente que basta reclamar para tudo sair do jeito.

Se o “Menino Ney” fosse só um merdeiro que faz filho aleatório e perde algumas chances por ficar na balada, não seria muito diferente de tantos outros jogadores de sucesso brasileiros. Mas na hora de encarar a bronca, eles não espanavam, não corriam para a mamãe. O que ainda acontece com os jogadores argentinos, não é que eles sejam exemplos de autocontrole e saúde mental, é que eles não ficaram tão estragados quanto os brasileiros. O Messi é um exemplo muito mais saudável de ídolo, e vemos isso na prática: ele ajudou a nova geração. Aqueles meninos da Seleção Argentina veneram o Messi, e alguma coisa de “ser homem adulto” passou para eles.

Esse papo de querer que jogador de futebol seja exemplo de maturidade é maluquice de blogueira lacradora de futebol. Tem limite de até onde esses cidadãos podem ir, e não sendo completos descompromissados que só funcionam quando tem um europeu ameaçando colocar no banco de reservas ou mesmo demitir é algo razoável de se esperar. Os argentinos cobrem essa exigência mínima, por isso a seleção funciona.

E aqui, é importante colocar em perspectiva o Neymar também: ele não assinou nenhum contrato com o brasileiro médio para ser herói. Deram dinheiro e fama para ele porque quiseram. O “menino Ney” está ganhando rios de dinheiro e tocando a vida numa boa porque é isso que o brasileiro médio deu para ele. Porque quando eu falo de gerações estragadas por ele, tem contexto: Neymar não colocou uma arma na cabeça de ninguém. Ele virou o que virou porque deram esse caminho para ele.

Poderia ter sido mais profissional como o Messi? Sim. Ele deve isso para mim ou para você? Não. Eu não gasto dinheiro com o Neymar, são outros brasileiros carentes de ídolos que colocam ele onde está, e isso faz girar a economia ao redor dele. Reconhecer que o Brasil perdeu umas duas gerações de jogadores pelo exemplo horroroso e mimado de Neymar ainda não significa que precisa bater nele. Ele é só uma pessoa meio limitada das ideias alçada à posição de ídolo por um povo igualmente limitado.

Se você passa mais de uma década dando aumento para um funcionário que não trabalha direito, deixa de ser culpa do funcionário, não? De alguma forma, formou-se na cabeça do brasileiro médio o clima para manter Neymar como ídolo e herói por todo esse tempo, e os outros jogadores pegaram isso.

Foda-se, é só futebol, eu sei. Mas se for para fazer a análise do que anda acontecendo com a Seleção Brasileira, está na cara que temos jogadores que foram contaminados pelo clima de permissividade e desespero por ídolos que fez de Neymar a figura que é.

Passaram uma vergonha daquelas na Argentina, não exatamente por perder o jogo, porque de tempos em tempos rivais dão uma sapatada um no outro, vira piada por um tempo e vida que segue. Mas dessa vez foi a arrogância e as provocações de meninos contra homens que fizeram da coisa algo ridículo. Aquele moleque que fica insuportável do lado da mamãe.

Fale o que quiser dos cabeças-ocas de outrora, pelo menos bancavam a marra. Geração bunda-mole, isso que fica feio de verdade.


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