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Solidão cósmica?

Solidão cósmica?

| Desfavor | | 4 comentários em Solidão cósmica?

O universo parece ser imensamente grande e antigo, e até segunda ordem, vida só se encontra neste planeta. Sally e Somir até concordam que essa é uma realidade chata, mas ao calcular o custo/benefício de termos companhia nas estrelas, perdem o contato. Os impopulares olham para os céus.

Tema de hoje: o que te parece pior, existir ou não existir vida inteligente em outros planetas?

SOMIR

Eu vou fazer a análise fria da coisa: provavelmente não é uma boa ideia termos companhia no universo. Sim, com certeza é a alternativa mais sem graça de todas, bilhões de anos-luz para qualquer lado que se olhe e nada de outras espécies inteligentes? Seria o resultado mais tedioso.

Porém, esse é um jogo de números: só temos certeza de que uma espécie alienígena não vai nos fazer mal se elas não existirem. Quando o total de vidas inteligentes no universo passa de um, o risco aparece. E todo mundo que começar a fazer as contas vai perceber isso. Nós e os supostos eles.

Por mais que eu ache improvável os cenários mais comuns da ficção onde alienígenas vem para a Terra buscar recursos que abundam em basicamente todos os lugares como água e ouro, no quadro geral toda espécie inteligente tem potencial para disputar recursos com você dado tempo suficiente.

É insano achar que alienígenas viriam ao nosso planeta pegar as coisas que temos se a matéria-prima de tudo o que temos existe em quantidades imensas em planetas, luas e asteroides totalmente desocupados. E eu nem estou considerando que com tecnologia avançada, você pode simplesmente pegar tudo o que quiser diretamente de estrelas, em volumes incalculavelmente maiores que todo o resto combinado.

Se tivermos problemas como aliens, dificilmente vai ser por causa de recursos. Mesmo que eles quisessem algo que só existe aqui neste planeta, como suas espécies vivas, quem tem tecnologia para nos visitar agora com certeza tem tecnologia para pegar alguns exemplares vivos e clonar até cansar. Não valemos nem um tiro.

Dito isso, uma das soluções possíveis para o Paradoxo de Fermi, ou seja, por que num universo tão grande e antigo não vemos aliens, é justamente o conceito de Floresta Escura: a cadeia alimentar universal se desenvolveu de tal forma que é perigoso declarar sua existência. Outras espécies inteligentes podem ter chegado à conclusão que a única forma de evitar que outra se desenvolva mais rápido e tome conta de tudo (ou se torne perigoso) é eliminar todos que não sejam… eles.

Lembrando que estamos num mundo que se comunica na velocidade da luz com aparelhos que cabem no bolso e ainda nos matamos porque pessoas não entram em consenso sobre qual deus inventado é o que realmente vale. Você pode ter muita tecnologia e ideias imensamente estúpidas ao mesmo tempo. Se uma espécie muito inteligente ou uma inteligência artificial alienígena fizer as contas mesmo, é mais lógico explodir a Terra agora do que torcer para não nos tornarmos fanáticos irracionais com armas de destruição em massa em escalas planetárias.

0,1% ainda é uma chance infinitamente maior que 0%. Uma análise fria diria que em todos os cenários é mais inteligente destruir qualquer outra forma de vida inteligente que vir pelo caminho. Por isso a Floresta Escura: não vemos outras inteligências porque todas com capacidade de aparecer para nós acham uma péssima ideia chamar atenção. Nós podemos ser incapazes de fazer algum mal para eles, mas outros podem interceptar a comunicação e acabar com eles.

Ou seja, ninguém confia em ninguém. Teoria dos jogos em escala cósmica. É por isso que numa análise fria eu também acho menos pior que sejamos a única espécie inteligente no universo todo. Porque aí garantimos o 0% de risco sem esforço extra. Se você quer zerar a chance de uma pessoa morrer por ataque de tigres, a única alternativa perfeita é extinguir os tigres para sempre; e mais: ficar de olho se alguma outra espécie está desenvolvendo características de tigres, assim você pode causar a extinção dela antes dela ter qualquer chance de te morder.

Um universo onde a humanidade está sozinha é o cenário ideal para crescermos sem limites e garantirmos nossa sobrevivência em qualquer linha temporal. Se o número de vizinhos for maior que zero, o risco de sermos o tigre de outros povos também vai ser maior que zero. É frio, é chato até, mas é matematicamente consistente.

“Mas Somir, não é o mesmo papo furado da Igreja Católica que para evitar gravidez indesejada basta não fazer sexo?”

Sim. É um papo furado por motivos práticos, mas a lógica é indiscutível. Se as pessoas simplesmente não fizerem sexo, a chance de engravidar sem querer desaparece. Se estivermos sozinhos no universo a chance de aliens nos destruírem desaparece. E se você está pensando agora que somos porcaria demais para merecer atenção de espécies mais avançadas, saiba que merecer atenção não é um requisito.

O ser humano aqui mesmo na Terra ajudou a sumir com milhares, talvez milhões de espécies que nem dava bola. O simples fato de existirmos e compartilharmos território e recursos é suficiente. Você mata formigas sob seus pés o tempo todo, não porque queria matar a formiga, mas porque simplesmente ela estava sob seu pé na hora daquele passo. Nossos antibióticos podem ter eliminado de vez várias bactérias que nem sequer sabíamos que existiam. Construir um resort numa área remota pode acabar com uma espécie de sapo que só existia ali e ninguém tinha catalogado antes.

Esses possíveis alienígenas não precisam nem querer acabar com a gente. Uma das ideias mais engraçadas do Guia do Mochileiro das Galáxias é que iam destruir a Terra para passar uma estrada no lugar. Às vezes a gente é só pequeno demais para ser notado. Se outras espécies começaram bilhões, milhões ou milhares de anos antes da gente, já podem estar numa escala de poder que simplesmente não nos enxerga mais. Ou talvez saibam que macacos pelados com nosso tipo de DNA são comuns e não terem nenhum problema em acabar com uma infestação aleatória. Matar um formigueiro não é destruir todas as formigas do mundo, não tem o mesmo peso.

Eu acharia fascinante ter contato com uma espécie alienígena inteligente que nos trata de forma ética, ou mesmo que nós que encontrássemos outros nas nossas viagens futuras, mas historicamente não é uma boa ideia para a espécie mais atrasada dar de cara com alguém muito evoluído. Lembrando que salvo todas funcionem diferente da humanidade, sociedades alienígenas podem ser compostas de 99% de seres éticos e caridosos e 1% de psicopatas. Se o 1% psicopata chegar primeiro…

O pior cenário é não estarmos sozinhos. Mesmo que demos sorte de sermos os mais avançados agora, não quer dizer que isso vai continuar para sempre. Basta um salto tecnológico na antiga espécie mais atrasada e de repente podemos ver o jogo virar de forma impossível de lidar.

O universo não parece ser infinito, então até segunda ordem temos que olhar para as estrelas e enxergar um perigo real de sermos competidores ou formigas para outros povos. Não muda o fato que eu prefiro morrer espetacularmente conhecendo tecnologias superiores do que viver nesse marasmo cósmico, mas a lógica é sólida no sentido de ser melhor estarmos sozinhos.

Para dizer que não merece esse tema hoje, para dizer que prefere ser pisado(a) também, ou mesmo para dizer que justamente nesse tema eu sou pessimista: comente.

SALLY

Curto e grosso: Que hipótese te parece a pior, existir ou não existir vida inteligente em outro planeta?

Me parece pior se não existir. Querido leitor, se o ser humano for o melhor que o universo conseguiu produzir em matéria de inteligência… que bosta de universo!

Na minha cabecinha inocente, a existência de vida inteligente deve ser celebrada. Não consigo sentir medo, por achar a humanidade e o planeta Terra pouca bosta. Não acredito que ninguém tenha interesse em nada por aqui, caso contrário, já teriam nos invadido, nos arrombado e nos saqueado.

Medo de alienígenas me soa como o brasileiro médio com medo dos EUA invadir o país para roubar suas “riquezas naturais”. É se superestima duplamente: primeiro achando que o que tem é grande merda e segundo negando a verdade de que se quisessem, já tinham entrado e levado tudo.

Na sua mentalidade humana, talvez as pessoas ou os bens do planeta Terra pareçam bem valiosos, mas, para outras espécies provavelmente são porra nenhuma.

O que faz o ouro ser caro é o valor que atribuímos a ele. Talvez seres de outro planeta caguem ouro e queiram despejar seus dejetos aqui. Talvez nada do que temos seja valioso ou interessante. Talvez eles nem possam nos ver ou nos ouvir – e nós a eles.

Não acho razoável que a ideia de vida inteligente em outro planeta esteja sempre vinculada ao conceito de embate, dominação e extermínio. Nada até aqui aponta para esse caminho. Muito pelo contrário, quem está promovendo embate, dominação e extermínio é o próprio ser humano, contra o ser humano.

Vida inteligente em outros planetas me parece algo a ser celebrado, talvez pela desesperança que sinto pelo ser humano. Que bom há opções. Podem invadir, estou aberta a abduções, inclusive.

Vão aniquilar a gente? Nada indica que tenhamos tanta importância, mas, se for o caso, tá tudo certo também. Eu não sou tão importante. Merece prevalecer aquele que for mais evoluído, é assim com qualquer ser vivo, por qual motivo eu, floquinho de neve especial, seria a exceção?

E consigo ver muitas vantagens em vida inteligente em outro planeta. Vantagens além das imediatas, como aprender com eles ou ter algum tipo de benefício direto.

Eu acho que faria bem à humanidade um pouco de concorrência, um leve piscar de cu. Quem sabe assim as pessoas se unem e percebem que somos todos uma única coisa: humanos. Independentemente da cor da pele, do que faz com o cu ou do político que vota. Nada como um agente externo para unir um povo.

Finalmente as pessoas teriam foco no coletivo. Seria preciso se unir como humanidade. Seria preciso unir esforços, metas, objetivos. Talvez fosse movido pelo medo? Sim. Mas, ainda assim, ensinaria uma nova forma de pensar que eu considero valiosa.

Também acho que daria uma lição de humildade. Vai fazer bem ao ser humano não se achar a última bolacha do pacote. Vai encarar a vida, a verdade e o universo de forma um pouco mais pé no chão. Não somos os chefões de nada, não somos o topo de nada, não somos essa coisa toda que nos achamos. Faz bem. Faz muito bem esse tipo de tapa na cara.

Tem também a parte da troca. Talvez nós tenhamos algo a oferecer a eles em matéria de conhecimento, bens ou espiritualidade que os ajude. Talvez eles tenham algo a nos oferecer. Vai muito além de escambo de bens de valor. Pode nos agregar muito como civilização.

E não por ser vida inteligente precisa ser vida agressiva, dominadora ou bélica. Isso pode ser apenas característica lixo do ser humano. Talvez as habilidades que eles decidiram desenvolver sejam outras. Talvez os objetivos sejam outros. Talvez as prioridades sejam outras.

Seu ego é tão frágil que uma possibilidade (entre muitas) de que sejam mais fortes e bélicos que você te faz desejar que não existam? Eu estou aberta, gostaria de conhecê-los e ver como se comportam outras formas de vida inteligentes. Eu me recuso a sentir medo do que nem sei como funciona. Eu me recuso a esperar pelo pior.

E sim, eu acho que deve ter vida inteligente lá fora em algum lugar, seria muita arrogância pensar que nesse universo infinito só o ser humano chegou lá. E se a gente partir da premissa que tem vida inteligente fora da Terra, eles não são tão tenebrosos como os filmes de ficção mostram e incutem no inconsciente coletivo, tanto é que não nos atacaram uma única vez.

Ninguém quer essa bola azul úmida cheia de favelado saindo na porrada e sujando tudo. Caiam na real.

Para dizer que agora está com vergonha de opinar, para dizer que quer encontrar vida mais burra para escravizá-la ou ainda para dizer que se sentiria mais especial se fosse a única vida inteligente do universo: comente.


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