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Feliz ano novo?

Feliz ano novo?

| Desfavor | | 10 comentários em Feliz ano novo?

Ano novo está aí, todo mundo com energia positiva? Bacana.

Tema de hoje: qual vai ser o grande problema do mundo em 2025?

SOMIR

Eu tenho a impressão de que vai ser um ano marcado por guerras. Eu detesto argumentar por sensação, mas algo está desalinhado na ordem mundial e a humanidade tem essa tendência de precisar se assentar. As grandes potências estão em momentos conturbados…

Os EUA vão puxar o freio de mão de novo e mudar de direção com Trump. Enquanto a grande potência militar não se acalmar num caminho, gera instabilidade no mundo todo. O laranjão diz que não quer se meter em conflitos globais, mas estabilidade emocional não é seu forte. Não ajuda nada ter colocado ao seu redor pessoas com interesses explícitos em brigar com outros países, e menos ainda que nada indique que ele vai entregar suas promessas de melhorar os preços que os americanos pagam no supermercado. Podemos ver sua popularidade diminuir rapidamente, o que costuma influenciar ações externas para distrair o povo.

E falando nisso, a Rússia continua enroscada na operação especial de 3 dias, logo logo completa 3 anos. Perderam seu fantoche no Oriente Médio e o Irã, seu grande aliado, está bem acuado no momento. Começar uma guerra costuma gerar popularidade, mas manter uma guerra por tanto tempo tem o efeito oposto. Não me surpreenderia vermos um ano de ameaçar ao poder de Putin, e é claro, muitas mortes acidentais de detratores. Mas isso gera instabilidade. O acordo com os ucranianos gerenciado por Trump tem o pequeno problema de ser… gerenciado pelo Trump. Pode dar errado por mil motivos aleatórios.

A China, que estava bem confortável com os EUA sob Biden e com a Rússia dependendo absurdamente deles pode sentir a mudança dos ventos em 2025. Eu ainda não aposto que os chineses vão começar uma guerra ou mesmo entrar explicitamente em nenhuma externa, mas é importante lembrar que por mais pujante que seja, a economia deles é um castelo de cartas. O Partido Comunista equilibra vários pratos ao mesmo tempo, com projetos valiosos para o futuro como o investimento em carros elétricos e projetos fracassados cobrando a conta, especialmente a bolha imobiliária. Não seria uma surpresa ver o sistema chinês começando uma espiral de instabilidade da noite para o dia.

No Oriente Médio, o barril de pólvora usual está mais exposto às faíscas do que nas últimas décadas, e sim, estou contando até a era de invasões americanas. O envolvimento ianque diminuiu nos países árabes, deixando um vácuo de poder que incentiva grupos rebeldes e radicais islâmicos em geral. Israel sentiu o cheiro de sangue no deserto e está aproveitando a oportunidade para ganhar território e enfraquecer adversários. A verdade é que judeus e muçulmanos querem matar uns aos outros e nossas sensibilidades ocidentais não têm lugar na cabeça dos líderes locais.

E falando em muçulmanos, existem grupos cada vez mais ativos em outros continentes como África e Ásia, a coisa não está estável em muitos países que a maioria de nós nem sabe que existem, e basta um pedido de socorro aos russos ou chineses para as coisas ficarem complicadas de vez. Não que ninguém vá começar uma guerra mundial por causa da Eritréia ou de Myanmar, mas ajuda a criar um grupo de satélites das grandes potências que vai virando campo minado geopolítico. Precisaram fazer um malabarismo daqueles para derrubar o regime sírio, por exemplo. O ditador local era protegido de Putin, então países adversários como a Turquia precisaram armar grupos rebeldes internos para fazer o serviço sujo.

Numa era de muitas instabilidades e três potências militares claramente definidas (embora a China ainda use mais seu poderio econômico), o mundo vai gerando um potencial de divisão por procuração, algo muito comum durante a Guerra Fria entre americanos e soviéticos. Nada explícito, mas sempre com o suporte de uma das potências.

Os EUA ainda são a única superpotência, mas não é mais um mundo indiscutivelmente deles como vimos desde os anos 90. Eu vejo perigo de guerra para o ano que vem porque vai ser uma prova de fogo para esse vácuo de poder. Um líder mentalmente instável em Trump, um sistema instável ao redor de Putin e uma economia instável para Xi Jinping.

Uma combinação que não inspira confiança. Embora eu ache que a Terceira Guerra Mundial ainda não vem em 2025 (e talvez nunca venha como se imaginava no século passado), há uma tendência maior do que a do ano passado de conflitos ao redor do globo. E mais interesses das potências em participar deles (Trump pode até não mandar o exército, mas os mercenários vão), às vezes nem pelos interesses próprios, mas mais para impedir o avanço dos adversários. É assim que países sem petróleo acabam no tiroteio.

E é claro, sempre tem o risco de alguém cometer um erro de cálculo gigantesco e botar fogo no mundo mesmo não sendo a melhor estratégia, para falar a verdade, boa parte das guerras mais sangrentas são frutos de erros crassos de estratégia militar. Ainda não estamos livres desse tipo de falha. E num mundo com os países mais poderosos militarmente em situações arriscadas, até um ditador norte-coreano por começar uma cadeia de eventos que termina em guerra de larga escala.

A opção da Sally faz sentido também, só não acho que 2025 vá ser um ano onde isso é especialmente perigoso. Não mais do que sempre foi.

Para dizer que vai rir de mim no final do ano (tomara), para dizer que vai torcer por bombas atômicas, ou mesmo para dizer que eles que explodam: comente.

SALLY

Qual vai ser o grande problema do mundo em 2025?

Na minha opinião, será a desigualdade.

Não que seja novidade, o mundo já é bastante desigual, mas acho que a tendência é que a coisa comece a pesar cada vez mais, até se tornar um problema insustentável.

Já vimos um ensaio disso na pandemia: uma situação na qual, para que os países ricos estejam bem, todos teríamos que estar bem. E foi um fracasso. Mais da metade da África não tem vacinas em dia até hoje e vírus circulando é vírus com chances de mutação.

Já deveríamos ter evoluído o suficiente para saber que para que cada um de nós esteja bem, todos temos que estar bem. Esse bem-estar individual, encastelado, protegido por grades, fronteiras ou armas não se sustenta. E algo me diz que em 2025 vamos ter vários aprendizados nesse sentido.

Em um mundo tão interconectado como o nosso, com amplo acesso a informação, a desigualdade vira uma bomba relógio. Às vezes, literalmente. Excluídos e marginalizados podem aprender tudo, inclusive como fazer uma bomba, online. Não é viável fiscalizar tudo e todos ao mesmo tempo. Em algum momento alguém que está por baixo vai corongar e reagir com raiva, alcançando quem supostamente estava bem.

Não que eu endosse essa atitude, não concordo. Mas sei que acontece. Quanto maior a desigualdade, maior a revolta. E pessoas revoltadas perdem com facilidade o limite entre o certo e o errado.

E não é apenas sobre desiguais se revoltando. É sobre as consequências naturais de manter tanta gente na desigualdade. Isso implica condições ruins de higiene, saúde, saneamento, educação e civilidade. E quanto piores os índices nessas áreas, maiores as chances de vermos guerras, pandemias ou ignorâncias que coloquem a todos nós em risco.

Não dá mais para correr sem olhar para os que ficaram para trás, pois estamos todos interligados com uma corda amarrada na cintura. Hoje você corre, deixa alguns colegas para trás, acha que se deu bem, mas em pouco tempo quem ficou para trás acaba gerando um tranco e te derrubando. Já deveríamos ter aprendido isso.

E, que fique claro, a desigualdade não é só econômica. Enquanto tiver gente que fica para trás negando a ciência, se recusando a vacinar seus filhos, tomando remédio para verme na esperança de curar covid, diabetes e autismo, estamos empacados com eles. Tem que pegar essas pessoas pela mão e trazer para a luz em vez de chamar de burro e abandonar.

Enquanto tiver gente que fica para trás abraçada com religião, acreditando que alguém é inferior por orientação sexual, escolhas de vida, cor de pele ou etnia, estamos empacados com eles. Tem que pegar essas pessoas pela mão e trazer para a luz em vez de chamar de burro e abandonar.

Enquanto tiver uma quantidade enorme de crianças sofrendo abuso sexual na infância, estamos empacados com elas. Não há qualquer chance de construir uma sociedade decente com seres humanos que já começam suas vidas com esse patamar de trauma, medo e danos psicológicos. Tem que resolver o problema em vez de fingir que ele não existe e varrer para debaixo do tapete.

Enquanto tiver grande empresa poluente destruindo o planeta, deixando resíduo de plástico no que comemos, sujando a água que bebemos, estamos todos empacados com eles. O conforto que temos hoje não é sustentável, mas ninguém quer abrir mão dele ou encarar essa realidade: para não destruir o planeta não basta reciclar seu lixo ou usar canudo de papel, é preciso um decréscimo considerável em conforto e qualidade de vida, abrindo mão de boa parte do que a indústria poluente produz.

E esses são apenas alguns exemplos, tem muita coisa empacando a humanidade. Estamos todos amarrados por uma corda na cintura e, além de deixar uma parcela para trás, ainda corremos cada um para um lado. Não vamos chegar a lugar nenhum assim.

Em vez de se unir, parece que a humanidade se fragmenta cada vez mais, sempre tendo quem é diferente como inferior ou inimigo. Chegará um ponto no qual isso será insustentável. Nenhuma espécie animal sobrevive bem sem um senso forte de coletividade, ainda que ele seja meramente instintivo.

Ninguém quer lidar com essas questões diretamente. As pessoas fingem que não existem ou se apegam a pequenos paliativos que não fazem a menor diferença. África colapsando? Doei 50 reais. Crianças sendo estupradas? Subi uma hashtag para combater. Planeta colapsando? Reciclei meu lixo. Cegos, burros e negadores. Nada disso vai resolver. E uma hora a realidade vai bater à porta. Talvez, em 2025.

Quando se ignora a realidade, ela cedo ou trade cobra o preço. Você pode acreditar de coração que reciclar seu lixo vai fazer alguma diferença, mas a realidade não está nem aí para aquilo que você acredita. A trolha das consequências dificilmente chega lubrificada. E estamos cada vez mais perto dela. Não quero te desesperar nem te meter medo, muito pelo contrário, quero te preparar para isso. Estar ciente de que vai acontecer te dá uma vantagem enorme.

Enquanto a humanidade está em total estado de negação, seja fechando os olhos para o problema, seja achando que um Band-Aid em tiro de fuzil vai fazer alguma diferença, o caldo está fervendo e, graças a essa inércia, vai entornar. Quem sabe que o caldo vai entornar reage melhor, pois se prepara, e reage mais rápido, pois não demora a ver o que está acontecendo.

E quando o caldo entornar, os anencéfalos vão repetir seu discurso de “muito estranho isso do nada” e atribuir o caldo entornado a alguma teoria da conspiração, ou seja, nem quando der merda as pessoas vão se conscientizar e tentar corrigir os problemas que geraram a consequência. Não há esperanças, apenas métodos contraceptivos: não deixem filhos neste mundo cagado.

Guerra é um problema sério e escroto? Sim, com certeza, quase tão grave quanto. Mas guerra se resolve com dinheiro ou com força bruta. O problema que eu estou trazendo não. Francamente, talvez nem tenha solução. Apensas tenham consciência dele e não se deixem cegar pela negação e vocês sairão na frente de todo o resto quando o caldo entornar.

Para agradecer por virar o ano nesse clima de alto astral, para dizer que quer mais é que o mundo acabe mesmo ou ainda para dizer que o pior problema do mundo em 2025 será a inveja: comente.


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