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Bíblia Pilhada: Números

Bíblia Pilhada: Números

| Sally | | 14 comentários em Bíblia Pilhada: Números

Números é uma espécie de IBGE da Bíblia: estatísticas, CENSO, contabilidade. Um saco. Justamente por isso, vamos poupá-los de toda a parte chata (99% do livro) e matar essa desgraça em uma única postagem. “Mas Sally, um livro inteiro em quatro páginas?”. Sim. Por nada.

No livro anterior (Levítico), os israelitas conseguiram sair do Egito e tivemos toda aquela cagação de regra do que podia e não podia fazer, as leis que seriam a base da nova sociedade a ser fundada pelos israelitas. Pois bem, a cagação de regras continua, mas desta vez é numa pegada estatística: dados, logística e coisas do tipo.

No segundo anos após a saída dos israelitas do Egito, Deus chamou Moisés e ordenou que ele faça um inventário de pessoas, bens e outros itens. Começou pedindo que faça uma lista com todos os homens com mais de 20 anos. Moisés então reuniu o povo e os dividiu por grupos de famílias, contabilizando quantas pessoas teriam disponíveis para uma eventual guerra.

A porra da Bíblia narra, família a família a contagem? Sim. Dói fisicamente ler um troço tão chato? Sim. Os nomes são todos muito escrotos? Sim. Por isso vamos poupá-los e ir direto para o resultado: são, ao total, 603.550 homens com mais de 20 anos, que estariam aptos para uma guerra.

Porém, por motivos que desconheço, Deus pediu para deixar de fora dessa contagem os homens da tribo de Levi, chamado Levitas. Os Levitas não iriam para a guerra, eles ficariam encarregados apenas de cuidar da tenda sagrada e tudo correlacionado (sacrifício de animais, objetos, etc.). E o Senhor deixou muito clara a exclusividade: quem não for Levita e chegar perto da Tenda, será morto.

Os Levitas eram, ao todo, 7500, contando todos os homens com mais de um mês de vida. O que nos leva a duas perguntas: por qual motivo contabilizar crianças com meses de vida que não podem ajudar em nada e será que realmente eram necessários 7500 homens para manter a dinâmica de adoração ao Senhor? Queimar bicho e venerar uma caixinha? Esse Deus era mais oneroso do que político brasileiro.

Deus também determinou onde cada família/tribo deveria acampar (eles estavam no deserto, indo em direção à terra prometida, lembra?), ordenando ainda que cada grupo se identifique com uma determinada bandeira. E estabeleceu, com detalhes excruciantes, a função de cada um. É de fato um capítulo difícil de ler, recomendo em dias de insônia.

Depois Deus mandou que Moisés expulse todos os “impuros” do acampamento. E era milhões de regrinhas para determinar quem estaria impuro. Zilhões de coisas poderiam te deixar impuro, desde uma menstruação, uma doença de pele, encostar em algum ser que estivesse morto e muito mais. Quem estivesse impuro teria que sair do acampamento. Imagina que delícia, ser excluído no meio do deserto!

“Mas Sally, como Deus dava as ordens para Moisés?”. Essa parte é sempre meio nebulosa, em todos os livros. Consta na Bíblia que, quando estavam acampados no deserto, Deus falava com Moisés “de cima da tampa da arca da aliança, do meio dos dois querubins”, então, basicamente Moisés conversava com uma caixa e distribuía ordens.

Deus também estabeleceu rituais para tudo quanto é situação que poderia acontecer nessa andança no deserto. Sempre muito complexos. Ritual para purificar quem está impuro, ritual para dirimir um conflito, ritual para curar unha encravada. Todos os rituais são compostos por uma série de regrinhas muito chatas.

Já seria difícil por si só executar rituais dessa complexidade em um ambiente de escassez como o deserto, mas, para piorar, eles ainda eram extremamente injustos. Citando apenas um exemplo, observem o ritual para saber se uma esposa estava traindo o marido, obviamente, bastante simplificado, para não aborrecê-los com detalhes: o marido que estivesse desconfiado deveria levar sua mulher ao sacerdote, que a colocaria no altar sagrado e obrigaria a beber água suja (o sacerdote colocava terra do chão na água). Se a mulher passasse mal por beber água suja, seria uma prova clara de infidelidade.

A jornada dos israelitas até a terra prometida obedecia à seguinte dinâmica: eles andavam quando Deus mandava andar e paravam quando Deus mandava parar. Deus se manifestava como uma nuvem que cobria a Tenda Sagrada durante o dia e, à noite, ele adquiria o aspecto de fogo, para que pudesse ser visto no escuro.

Quando a nuvem andava, todo mundo pegava suas coisas e andava junto. Quando a nuvem parava, todo mundo parava junto. E quem não o fazia, era morto na hora. Pior Waze que já vi.

Uma parte que vale menção é a que esclarece a dinâmica do dízimo. O trecho se chama “O sustento dos sacerdotes”. Para que os sacerdotes possam se dedicar exclusivamente a cuidar da tenda sagrada, eles tinham direito a receber o dízimo que o povo doava para o Senhor, ou seja, um décimo de tudo que produziam. Mas única e exclusivamente pelo fato deles serem proibidos de fazer qualquer outra coisa que não passar o dia inteiro em função da tenda sagrada.

Além disso, não poderiam ter nenhuma propriedade e, se errassem em seus trabalhos eram mortos, fulminados, na hora pela fúria de Deus. Parece que a coisa ficou muito mais fácil hoje em dia, não é mesmo? Pegaram a parte do dízimo, mas a parte das obrigações e o rigor com que devem ser cumpridas (inclusive a parte da proibição de ter bens) foi ignorada.

Durante a jornada, eventualmente, surgiram alguns descontentamentos. Não deve ser fácil zanzar por anos no deserto. Por exemplo, em um local chamado Taberá o povo começou a reclamar das dificuldades que estava passando. Futilidades como não ter o que comer e o que beber. O Senhor Deus, por sua vez, em resposta, “ficou irado e fez cair fogo em cima deles”. Imagina o clima ótimo do resto da viagem.

Moisés, como interlocutor oficial entre o povo e o Senhor, também teve seus colapsos. Em determinada ocasião, fez o seguinte desabafo com Deus: “Eu não fiz este povo, nem dei à luz esta gente! Por que me pedes que faça como uma babá e os carregue no colo como criancinhas para a terra que juraste dar aos seus antepassados? (…) Eles vêm chorar perto de mim (…) sozinho não posso cuidar de todo este povo; isso é demais para mim! Se vais me tratar desse jeito, tem pena de mim e mata-me!”.

Estes estresses eventuais entre o povo e Deus e Moisés e Deus ocorreram várias vezes durante a jornada. Teve terra se abrindo e engolindo pessoas que deixaram Deus descontente, teve epidemia que matou quase 15 mil pessoas, teve todo tipo de punição que se possa imaginar. O que no leva ao seguinte ponto: que povo chato do caralho, não? Tá certo que deve ser duro vagar no deserto, mas porra, se eu estou em uma situação desagradável e o colega do meu lado que reclama é queimado vivo, eu aprendo que tem que calar a boquinha e fico na moral o resto da jornada!

O atrito não ocorreu apenas por reclamações, mas também por desobediência. Um exemplo: em determinado momento, Deus mandou que ataquem e tomem uma cidade que ficava no caminho. O detalhe é que a cidade era habitada por descendentes de gigantes, os Anaquins (Geroge Lucas, shame on you!). O povo ficou puto e nervoso, choramingando que apanhariam e seriam mortos. Deus ficou mais puto ainda e meteu um “vocês sabem com quem estão falando?” e ameaçou matar todo mundo com frases como “Vocês serão mortos e seus corpos ficarão espalhados pelo deserto”.

Moisés intercedeu, pedindo perdão pela pirraça do povo. Deus disse que ok, não mataria todo mundo naquele momento, mas, por causa da malcriação e falta de fé, os infelizes que estavam vagando ali não chegariam vivos à terra prometida, apenas seus filhos. Ou seja, agora temos pessoas vagando pelo deserto cientes de que nunca usufruirão da recompensa prometida. O clima ficou cada vez melhor…

No caminho, Deus também matou Arão por considerar que foi indisciplinado, o que mandou um recado contundente: ninguém está a salvo, não mijem fora do penico. As punições continuaram. Só para citar um exemplo, o Senhor mandou cobras venenosas morderem os israelitas quando eles estavam reclamando pela milésima vez das condições da jornada. Ele fez até uma jumenta falar para esculachar o sujeito que estava montado nela.

Pensa que o povo sossegou? Não. Continuaram fazendo merda. Israelita pior do que funcionário brasileiro. A maior taxa de mortes do livre ocorre quando, mais uma vez, os israelenses decidem adorar outro Deus. Porra, já não viram que dá merda quando fazem isso?

Aí Deus matou com força. Mandou uma epidemia tão fodida, que dizimou boa parte deles. Não julgo, receberam as instruções, não seguiram. Fizeram bosta reiteradamente. Se eu pudesse faria o mesmo com quem se comporta assim, infelizmente não posso, pois mortal e zelando pelo réu primário.

Deus matou tanta gente, que lá pela metade do livre Números, ordenou uma segunda contagem. Ninguém merece toda essa chatice novamente. Matou inclusive o próprio Moisés, por ele não ter sido capaz de controlar o povo, que reclamava muito e duvidava do Senhor. Já dou spoiler que, no lugar de Moisés, vai ficar Josué.

E mesmo quando não matou, Deus sentenciou à morte. Em determinado momento, o Senhor ficou puto pois o povo queria estabelecer moradia em uma cidade, depois de muitos anos peregrinando. Ele achou que era uma desfeita que não queiram continuar andando até chegar na terra que ele prometeu para o povo e sentenciou todo mundo à morte, obrigando-os a vagar pelo deserto até o último fdp que duvidou dele morrer.

Nas palavras da Bíblia: “O Senhor ficou irado com o povo de Israel e os fez andar pelo deserto quarenta anos, até que morresse toda a gente daquele tempo, isto é, o povo que havia desagradado a Deus, o Senhor.”

Obviamente este livro prolixo faz questão de citar com detalhes todo o trajeto dos israelitas, durante os 40 anos, até chegar à terra prometida. Cidade a cidade. E mesmo quando chegaram na porcaria da terra prometida, Canaã, a palestrinha não acaba.

Longos parágrafos narrando onde ficavam as fronteiras, como deveriam habitar nessa terra e muitas outras informações desinteressantes são esmiuçadas.

Adiantou tudo isso? Não adiantou. Tem conflito até hoje. O povo não está em paz até hoje. Parabéns, não é qualquer um que consegue elaborar com essa riqueza de detalhes um plano que falha por tantos séculos!

Não vamos listar os nomes deste livro, pois ele cita os nomes de tanta gente, que ocupariam as quatro páginas da postagem.

Mês que vem retornamos com o livro Deuteronômio!

Para dizer que se pudesse você faria o mesmo que o Senhor, para dizer que sem Iron Dome deve ter sido mais difícil manter a terra prometida ou ainda para dizer que tá demorando a chegar a parte de JC: comente.


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