Janja mandou Elon Musk se foder, de forma pública, em um evento pago com o seu dinheiro. Elon Musk, que será um membro importante do Governo Trump, uma pessoa conhecida por seu temperamento infantilóide e vingativo (bem como o próprio Trump).

Vai muito além da vergonha alheia e da falta de educação. Ela xingou um futuro integrante do Governo do segundo maior parceiro comercial do país. Tenho certeza de que se você possuí qualquer empresa ou comércio, ficaria muito puto se um parente seu xinga seu segundo maior cliente.

E dessa vez a coisa foi tão feia que nem mesmo o pessoal da esquerda aprovou. Nem mesmo o Lula aprovou (e olha que o Lula chamou o Trump de nazista na semana passada). Ele fez um discurso pedindo respeito e dizendo que não tem que xingar ninguém.

A fala da Janja veio em um momento péssimo, pois além de bater em alguém maior que acaba de ganhar as eleições, desgastou ainda mais uma relação que não era boa e da qual o Brasil depende. Não se engane, os EUA não dependem do Brasil, é justamente o contrário.

Além de bater em um membro do Governo (é questão de semanas), ela ainda bateu no homem mais rico e vingativo do mundo. Se você já leu alguma biografia do Elon Musk tem uma vaga ideia dos desdobramentos que isso pode gerar.

Para completar, Janja ainda tirou capital político do Governo, ofuscando o evento, chamando a atenção para a enorme quantidade de dinheiro gasto com essa inutilidade apelidada de Janjapalooza e criou um clima ainda pior para o anúncio de corte de gastos, que deveria ser amortecido pela atuação brilhante do Brasil no G20.

E não é a primeira vez, nem um ato isolado. Desde o começo do Governo Lula Janja abre a boca para falar merda ou para se comportar de forma inadequada. Quem não se lembra da sua declaração desastrosa para a página de fofocas “Choquei” dizendo que o imposto das compras importadas era para a empresa e não para o consumidor?

Tá bem fácil falar mal da Janja, o próprio pessoal dela o está fazendo. Por isso não vamos chover no molhado. Vamos aproveitar a oportunidade para te relembrar que essa inadequação não é uma característica isolada de uma deslumbrada sem noção, é um problema do Brasil: não saber separar o público do privado.

Ela deu uma opinião privada no público e causou um problema para o marido e para o país. Será que você não faz o mesmo, só que em menor escala?

Então, em vez de falar mal da Janja, que tal refletir onde você está senso Janja e corrigir?

O brasileiro não tem muito claro qual é a linha que deve separar o público do privado. Depois de muitos anos trabalhando com publicidade e redes sociais, eu arrisco dizer que mais de 90% das pessoas alimentam suas redes sociais profissionais com conteúdo que depõe contra elas.

Em parte isso acontece pela falta de reprovação social: se todo mundo faz, cria uma falsa sensação de que é aceitável e sem consequências. Mas isso não quer dizer que as pessoas não sejam impactadas: o brasileiro é hipócrita, ele pode mostrar o orifício anal em redes sociais, mas, se a vizinha o faz, ela é uma piranha. Então, mesmo que a pessoa fale o mesmo, ela vai jogar lixo em você usando isso se precisar.

Quando um país é uma zona, uma várzea, adepto de toda sorte de baixarias, a única coisa que freia alguém é uma forte e imediata reprovação social, pois consciência, dificilmente alguém tem. E, não existindo essa reprovação social imediata, se cria a falta ilusão que quando as pessoas misturam público com privado não tem problema, não depõe contra, não perdem clientes.

Isso é algo que eu repito muito para quem me contrata: cliente perdido, não convertido, você não vê. Se você conduz suas redes sociais ou qualquer atividade pública misturando público com privado, você deixa de ganhar clientes, mas provavelmente nunca vai ficar sabendo disso. E deixa de ganhar os bons clientes: aquelas raras pessoas com discernimento, com as quais será muito mais fácil e agradável lidar.

“Mas Sally, todo mundo faz, então eu posso fazer também”. Sim, se você quiser ser como todo mundo, profissionais medíocres, gente com seu negócio estagnado, gente que chega com a corda no pescoço no final do mês. Pesquisa aí que percentual de empresas abertas no Brasil sobrevivem ao primeiro e ao segundo ano de vida. Pesquisa aí quantos profissionais liberais estão financeiramente confortáveis. Quer mesmo ser como todo mundo?

E, se você for esperto, vai escutar até mesmo pela grande oportunidade que este texto traz. No Brasil, você pode ter um puta diferencial, ser muito bem-sucedido, apenas por fazer o mínimo: saber manter uma postura profissional, separar o público do privado, passar uma imagem de credibilidade.

O que nos leva ao maior problema de todos: o brasileiro não sabe onde traçar a linha entre o público e o privado, pois, em sua maioria, não tem a consciência, inteligência, senso do ridículo, adequação e vergonha na cara para estabelecer isso sozinho de forma minimamente decente.

É um país onde os outros sempre estão te dizendo o que fazer e como fazer. A religião te diz o que te torna bom ou mau, o que pode e o que não pode. O patrão te diz o que fazer no trabalho e, geralmente, como fazer, pois se der uma vírgula de autonomia, as pessoas abusam ou fazem merda. O cônjuge te diz o que fazer em casa e no relacionamento. O brasileiro é uma criança com boletos para pagar, sempre mandada por alguém. Aí, quando precisa estabelecer um limite sozinho, se embanana todo.

É difícil, depois de adulto, desenvolver algum senso crítico e estabelecer linhas que não devem ser cruzadas, dentro de um padrão de qualidade razoável. Sobretudo para aqueles que cresceram vendo zero separação entre o público e o privado em casa: a mãe contando detalhes da intimidade do lar em festas, o irmão alardeando o que fez ou deixou de fazer com a namorada, os colegas de trabalho metendo um oversharing todo santo dia durante o expediente. Isso dessensibiliza, normaliza essa evasão de privacidade.

Até alguns anos atrás, eu pararia este texto por aqui, deixando essa confusão entre público e privado como uma mera questão de dignidade e redução de lucro. Mas hoje temos que ir mais além.

Hoje redes sociais são seu segundo RG. Você não é contratado por uma empresa sem que vasculhem tudo. Você não começa um relacionamento sem que a outra pessoa vasculhe tudo. E, em breve, você não entrará nos EUA sem que vasculhem tudo.

Marco Rubio, o futuro Secretário de Estado dos EUA, afirmou publicamente que quem tiver qualquer postagem em suas redes sociais que de alguma forma minimize ou defenda o Hamas (ainda que seja um simples like em postagens desse cunho de outras pessoas) não só não terá visto concedido para entrar nos EUA, como terá seu visto cancelado se em algum momento ele foi deferido. Sim, o que você fala em rede social pode te tornar persona non grata em outros paíeses.

“Mas Sally, eu não quero ir para os EUA”. Meu anjo, é só um exemplo do impacto que falas públicas podem ter hoje. Todo dia eu vejo pessoas perderem oportunidades de emprego, perderem empregos que já haviam conquistado, perderem relacionamentos e até perderem a guarda dos filhos por não saberem separar vida pública de vida privada.

Não se engane: todo mundo faz, mas ninguém vai hesitar em usar contra você o que você mostra publicamente mesmo assim. Misturar público e privado é se expor a riscos constantemente. Expor a você e a pessoas que te cercam, pois muitas vezes o esmerdeio respinga em quem está próximo.

E o que seria público e o que seria privado? Complicado sequer tentar explicar o conceito de privado em um país onde tudo é público. Público é algo que você pode compartilhar com todas as pessoas do mundo por ter alguma utilidade/interesse para eles e sem ter qualquer risco ou desdobramento negativo para você. Privado é todo o resto.

Rede social é uma via adequada para expressar conteúdo público. Não importa quantos recursos de segurança você use, o quanto você restrinja quem pode ver, é público.

Não diga nada em rede social que você não diria na cara da pessoa sobre a qual está falando ou que não gritaria em praça pública. Não diga nada que não possa passar no Jornal Nacional, ser assistido pela sua família, pelo seu chefe e pelo seu sacerdote sem causar qualquer constrangimento. Não diga nada que não gostaria que um sequestrador, um estuprador ou um pedófilo soubesse sobre você e sua família. Não diga nada que não gostaria que um inimigo seu que vai tentar de tudo para te prejudicar saiba.

Justamente por ser algo público, não é para expor nada seu. Nem sua família, nem seu relacionamento, nem nada da sua vida. Projetos, desejos, medos, raivas… nada. O único uso consciente de rede social é para falar de coisas não pessoais suas, assuntos gerais, de domínio e interesse público.

“Mas Sally, eu quero opinar sobre coisas, e eu não sou famoso, ninguém vai se importar”. Mesmo que você não seja famoso, em algum momento todos nós vamos atritar com alguém, e basta uma pessoa para sentar e escrutinar suas declarações públicas, sobretudo em redes sociais, para que o caldo entorne. Então, se você quer opinar, tome estes cuidados:

Antes de opinar em redes sociais se faça três perguntas: 1) Isso me impacta diretamente? 2) Minha opinião sobre isso vai ajudar alguém? e 3) Se essa opinião fosse lida em voz alta pelo William Bonner no Jornal Nacional, me prejudicaria?

Se não te impacta diretamente, não há motivos para gastar seu tempo e energia naquilo. Achou a roupa de alguém feia? Conhecido mentiu sobre estar viajando e fez uma montagem no Photoshop? Esposa comemorou que o marido comeu brócolis pela primeira vez? Nada disso te impacta diretamente. Não comente. Viva sua vida, foque na sua vida. Faz o seu, esquece os outros. Segue o baile.

Item 2. Se sua opinião não vai contribuir para nada, não vai ajudar, não vai tornar o mundo um lugar melhor, guarda ela para os seus amigos, para seus parentes, para uma mesa de bar. Não jogue em redes sociais. O que você pensa não é tão importante, você não tem que opinar sobre tudo e se não contribuí para melhorar algo, só serve para te expor.

E, por fim, se não é algo que possa ser lido no Jornal Nacional sem arruinar sua vida, simplesmente não poste, pois você nunca sabe a dimensão que aquilo vai tomar, quem vai ser e como vai reagir.

Então, sobre sua família, seus amigos, sua casa, seu relacionamento, seu voto, seu posicionamento político, sua rotina, seus clientes, seus sentimentos… nunca. Nada. Nem bom, nem ruim. Nem vitória, nem derrota. Nem reclamação, nem elogio. Nada. Isso são assuntos para conversar com terapeuta ou com bons amigos. E é uma baita red flag que você queira expor isso no público. Inclusive te indico procurar terapia.

E mesmo em postagens supostamente neutras, nunca se deve postar nada que não possa ser mostrado a sua mãe, ao seu pai, a sua avó, a um sacerdote religioso e a um juiz. Foto com drogas? Não. Foto com bebida? Não. Foto com pouca roupa? Não. Foto contendo qualquer baixaria? Não. Foto malhando? Não. Foto de si mesmo chorando? Não, mil vezes não. Foto no hospital com soro na veia? Não, dez mil vezes não. Sua vida não tem que ser objeto de postagem em redes sociais. Ponto final.

E a gente fala em redes sociais por ser a forma mais comum de evasão de privacidade, mas o mesmo vale para conversar com pessoas que não sejam amigos de longa data e extrema confiança. Não exponha sua vida, sua família, seu relacionamento, seu trabalho para ninguém, mesmo que seja para contar coisas boas.

Que as pessoas saibam tanto sobre a sua vida quanto sabem sobre a de uma celebridade discreta. O que você sabe sobre a vida do Messi? Talvez a cor atual do cabelo dele. Talvez onde ele trabalha. Seja como o Messi. Ninguém sabe se ele está puto com um colega de trabalho, se está de saco cheio de algo que sua mãe faz, se está chateado com a esposa ou preocupado com os filhos. Que as pessoas, no público, saibam o mínimo possível da sua vida.

Não quer pensar no Messi? Pense na gente aqui do Desfavor. Você sabe algo sobre Somir e sobre mim, mas quase nada. Esse é o patamar saudável para redes sociais. Que as pessoas saibam de você tanto quanto você sabe da nossa vida privada atualmente.

E, se estiver mostrando a cara, cuidado com as opiniões, mesmo as solicitadas. Não se fala mal de ninguém em público, muito menos se a pessoa é do seu convívio, não importa o que ela tenha feito. Isso depõe contra você, não contra a pessoa, novamente, não importa o que ela tenha feito. Resolva seus B.O. diretamente com os envolvidos.

Seguidor de rede social não é amigo. Colega de trabalho não é amigo. Não se conta detalhes da sua vida para nenhum dos dois. Não se abre o coração com nenhum dos dois. Não se compartilham problemas com nenhum dos dois.

“Mas Sally, isso é excessivo”. Não, meu anjo, isso é um mínimo de preservação. Um mínimo de adequação. Vocês vivem em uma bolha brasileira de evasão de privacidade e qualquer cuidado soa como exagero. Mas não é. Se preserve. Aprenda a ter amigos reais e compartilhar sua vida com eles, assim não vai sentir necessidade de desabafar em redes sociais.

Em última instância, se pergunte de onde vem essa necessidade de mostrar sua vida, suas dificuldades, suas conquistas e suas opiniões em redes sociais ou para pessoas que não sejam amigas íntimas. Tem algum buraco mal resolvido aí, caso contrário essa necessidade não existiria e fazer isso nem passaria pela sua cabeça.

Por qual motivo as pessoas sentem tanta vontade de compartilhar com desconhecidos momentos de suas vidas, viagens e conquistas? O que se espera daí? Elogios? Passar uma imagem bem-sucedida? Pertinência? Aceitação? Uma vida mais interessante do que sua vida real? Isso grita “falta de saúde mental”, ninguém com a cabeça em um bom lugar compartilha sua vida com desconhecidos ou erra a separação entre o público e o privado.

Pensem antes de abrir a boca ou postar algo. Ainda mais se for para mandar se foder em um evento pago com dinheiro público uma pessoa que pode dificultar muito a vida do seu marido e do seu país. Pensem. Não é tão difícil.

Para dizer que é exagero (vai lá, confia no seu potencial), para dizer que sem evasão de privacidade uma conta no Instagram não é viável (por isso não tenho) ou ainda para mandar eu me foder: comente.

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Comments (10)

  • Vamos aproveitar a oportunidade para te relembrar que essa inadequação não é uma característica isolada de uma deslumbrada sem noção, é um problema do Brasil: não saber separar o público do privado.

    O pai do Bico Chuarque já cantava essa bola há quase um século… Literalmente.

  • Eu me pergunto se a equipe de relações públicas da Janja e do Janjo recebe adicional de insalubridade, eles precisam. Se quem não é da área já quase sente dor de vergonha alheia, imagina quem tem o pesado e inútil dever de cuidar da imagem dos dois?

    Em redes sociais, as pessoas não têm o mínimo de senso. Compartilhar opiniões polêmicas é o menor dos problemas, tem várias mães postando fotos dos filhos de fucking uniforme escolar, gente colocando foto da fachada ou janela de casa, que é o mesmo que jogar o endereço no Instagram… já vi até mesmo psicólogos dando detalhes sobre pacientes. Fora que assumem que tudo que você posta é pessoal. Uma vez, postei um meme com um trocadilho sobre festas a caráter e pessoas sem caráter, tive de explicar para mais de um amigo que não era indireta pra ninguém. O bom é que dá para bloquear algumas das coisas que você não quer ver.

    • E quando é médico mostrando paciente desacordado, anestesiado?
      Eu fico para morrer com as coisas que vejo. Mas, cada vez mais essas pessoas estão se arriscando a ter sérios problemas. Não pelos motivos certos, mas por caírem em mãos de inimigos, picuinhas e pessoas que querem passar uma rasteira.

  • Dez lições de vida a serem aprendidas com a postagem de hoje:

    1 – Jamais faça na sua vida pública aquilo que faz na privada. Costuma dar merda…
    2 – Opinião é que nem cu: não é porque você tem que precisa dar.
    3 – Se você não tem nada de bom pra dizer, então é melhor que não diga nada.
    4 – Sua vida e o que você faz não são, no fundo, tão interessantes assim…
    5 – Tenha muito cuidado com o que dizer, quando dizer e como dizer. Não dá pra prever como os outros vão reagir e infelizmente o mundo tá cheio de burros e de “pessoas-quer-dizer”.
    6 – É melhor permanecer calado e deixar os outros só achando que você é um idiota, do que abrir a boca e dar-lhes certeza.
    7 – O mundo de verdade lá fora não é a sua pequena e frágil bolha digital e a realidade, essa chata de galochas, tá cagando e andando pro que você quer, acha, pensa ou sente.
    8 – De certas coisas suas o resto do mundo não precisa saber.
    9 – Nunca esqueça que tudo o que vai, volta: todas as coisas que a gente diz e faz nesta vida tem contrapartidas e consequências.
    10 – Guarde suas ideias, crenças, planos, desejos e sentimentos só pra você mesmo.

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