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Colunas

Bullying eleitoral.

Feliz Dia do Bullying! O feriado da República Impopular do Desfavor existe para que lembremos da importância do reforço negativo no comportamento humano. E falando de negatividade… depois de apurados os resultados do primeiro turno, está na hora de falar sobre como o brasileiro é seu pior inimigo.


O nível dos candidatos, inclusive dos eleitos, é de fazer chorar. Desfavor da Semana.

SALLY

Hoje a informação que embasa a postagem não é uma notícia. É um Desfavor da Semana especial, para comemorar o Dia do Bullying. Hoje a informação é nossa, original.

Fizemos um levantamento de quais candidatos cujas fotos ilustraram a coluna Anula Eu conseguiram se eleger (ainda que como suplentes). E o resultado surpreendeu. Acompanhe a apuração Desfavor:

RIO DE JANEIRO: Soneca da Farmácia, Banha XV, Chokito, Keila Acaba Não Mundão, Coelhinho do Gás, Maradona de Bangu, Shrek, Tio do Cafezinho e Vampirinho.

BAHIA: Pinto de Playboy, Coringa do Hortifruti, Êei, Piroca Cabeleireiro, Tom Tico Mico, Neném Bocão, Zinho Caga Ovo e Kokoisa.

SÃO PAULO: Alemão Du Gás Tchêtchetcheeee, Antonio Opaitrocinadorevoltado, Kekinha Buda e Dog.

AMAPÁ: O Obreiro de Fé, Paulo Macaco e Lindo (a maior parte, inclusive Macaco, foram considerados Inaptos).

ACRE: Burrinho, Ronco do Porco, Moisés Mãos de Tesoura, Bradock, Madonna e Bebe Leite.

MARANHÃO: Gogó de Ouro, Porrudo, Magão da Pisadinha, Velho da Inchada, Reporter Poliça, Xaxim, Tchabal de Lauzinho, Arrumadinho, Cabeça de Pombo, João Mangueirão, Machão, Doidão e Nem Sextou.

RONDÔNIA: Fia do Maradona, Coro Grosso, Boi da Chacara, Lindomar Farofa, Jackson Lascado, Gargamel, Antonio Paraiboy, Pirulito, Charmoso e Zé Bota Branca.

SANTA CATARINA: Titicha do Martini, Milei de Floripa, Nego da Mula, Homem Aranha BC, A Gasparzinhoo Ramona Réus, Chico Norris, Papai Noel, Telefone, Alésio O Bruxo das Plantas, Palhaço Tete, Monguinho e Carlos Descobridor dos Fósseis.

AMAZONAS: Louro Rico, Belo da Hora, Simão Pedro O Homem do Interio, Pelado do Matá Matá, Keimado, Mamá Pirata, Macaquinho, Chuvisco do Morro, Machão, Perplexo, Macaquinho (sim, foram dois Macaquinhos eleitos), Toalha Podre e Zé Gotinha da Floresta.

Considerando que muitos não venceram pois foram considerados “inaptos” pela justiça eleitoral, podemos chegar à conclusão de que o povo votou em mais da metade das pessoas que apareceram na imagem da coluna Anula Eu. Isso mesmo, não estamos considerando todos os nomes, apenas os das fotos. Mais da metade.

Nessas horas sempre tem uma alma surpresa que não consegue entender como o brasileiro é capaz de depositar esse tipo de voto na urna. É bem simples: as pessoas votam naqueles que as espelham, que as representam, com os quais se identificam. Esses candidatos e suas vitórias são um espelho do que é o brasileiro.

Não custa repetir, caso algum desavisado romântico ainda tenha esperanças: não existe ideologia na política brasileira, existe disputa por poder. Se você vota achando que alguém tem ideologia, te sugiro tomar um choque de realidade e vir para a vida adulta.

Dito isto, entendam de uma vez por todas que o povo brasileiro não é um povo trabalhador, alegre e honesto sacaneado por um bando de políticos malvados. O povo é a exata mesma merda dos políticos e, justamente por isso, os elege.

Mesmo aqueles que têm a cara de pau de desfilar virtude em redes sociais, quando você vai olhar de pertinho, usa gatonet para não pagar TV a cabo, bate no retrovisor do colega e não deixa um bilhete para pagar o prejuízo, puxa o tapete do colega no trabalho, trai o parceiro(a) e é desonesto consigo e com os outros nos mais diversos níveis.

Roubar um real ou milhão de reais é mesmo em matéria de desonestidade. Honesto ou se é, ou não se é. Mas o brasileiro parece ter um rol de desonestidades aceitáveis. É muito bizarro. É algo que sempre me chocou muito e é tratado com normalidade, quiçá nem percebido no país.

Eu não sei que pacto coletivo vocês fizeram de combinar que todo mundo é bacana e só os políticos é que são corruptos, escrotos e cruéis, mas não está mais colando. O brasileiro é, salvo honrosas exceções, desonesto.

E não me venha com papinho de pobre trabalhador. Para ser desonesto não é preciso assaltar alguém. É desonesto falar mal dos outros pelas costas. É desonesto receber troco errado para mais e não devolver. É desonesto sonegar imposto. O que acontece é que vocês recobrem as desonestidades corriqueiras ou que não parecem tão graves com um manto de normalidade aberrante.

Para que o Brasil melhor, primeiro o povo precisa melhorar. E isso não se consegue apontando o dedo para o colega e desfiando um rosário de críticas. Isso se consegue com cada um fazendo uma autoanálise, autorreflexão e percebendo onde está sendo babaca, corrupto, preconceituoso, injusto e malandro. Faz o teu. Melhore você.

Mas isso ninguém quer. A pessoa tem sempre meia dúzia de motivos para justificar seu próprio comportamento escroto. Se o brasileiro fosse tão bom em perdoar o outro como é bom em perdoar a si mesmo as brigas no país acabavam.

O quer esperar de um povo focado em melhorar nada em si mesmo e apontar, atracar, humilhar o colega para se sentir melhor, para se sentir menos merda, para seus defeitos ficarem menos visíveis? Que vote direito? Não vai acontecer.

O que esperar de um povo que vive de se distrair com novela, com reality show, com jogo do tigrinho ou com o que for para não olhar para dentro, refletir, entender suas questões e melhorar? Que vote direito? Não vai acontecer.

O que esperar de um povo ignorante por natureza, já que hoje todo mundo pode ter acesso à informação, mas preferem postar foto de biquíni na laje, fofoca sobre a vida alheia ou stalkear os outros? Que vote direito? Não vai acontecer.

O brasileiro não é vítima de políticos nem é vítima de ninguém a não ser dele mesmo, que voluntariamente se coloca nesse lugar medíocre de ignorância, brutalidade e corrupção. Não adianta olhar em volta e ficar reclamando e apontando os problemas e defeitos dos outros. O que adianta é você melhorar.

Vai acontecer? Não vai acontecer. Sabe o que pode acontecer? Ao menos compreender o cenário. Entender que o voto é um reflexo do povo. Entender exatamente o que é o brasileiro e, de posse dessa informação, escolher se quer viver no meio desse povo.

Eu sei que é mais agradável pensar no brasileiro como o bom selvagem, como um povo guerreiro, alegre e criativo, como gente de bem. Pois é, mas a maior parte das pessoas não são. O percentual de crimes inaceitáveis que ocorrem no país (muitos deles dentro da própria casa) mostra que não são.

Um país com um estupro a cada seis minutos não é um país composto por gente de bem, principalmente quando a gente sabe que esses dados oficiais não representam nem 10% dos números reais.

Um país recordista em golpes (2800 tentativas de fraudes financeiras por minuto), um país recordista mundial em assassinatos (dados da ONU), um país com tantos recordes negativos que não caberiam aqui neste texto, não é um país com gente de bem. Chega de romantizar o brasileiro.

Mas ninguém nunca faz nada, né? Só quem erram são os outros. Os erros de ética, de caráter e toda a corrupção encontram inúmeras justificativas quando partem de si mesmo e inúmeras acusações quando partem dos outros. É patriota estuprando mulher, é pessoal do amor dizendo publicamente que dá gosto de ver mulher apanhando. Continuem assim, tá dando certinho.

O que está nas urnas é o que está no povo, ou seja, uma bosta. Alguém precisava dizer.

Para se ofender, para se ofender e me ofender ou ainda para dizer que eu tenho preconceito (quando você mora 40 anos no lugar é pós-conceito): comente.

SOMIR

Com a apuração do DataSally em mãos, começo a aceitar que no Brasil o problema é muito maior que o povo escolher mal seus representantes… é que não tem muita escolha mesmo. É isso aí. Da parcela da população com estômago para encarar a vida política, sai isso.

O passar dos anos me fez mudar um pouco a visão sobre o que consideramos pessoas ruins: ruindade tem níveis diferentes de acordo com a inteligência disponível na cabeça da pessoa. Um comportamento sociopata pode ser resultado de uma decisão racional de quem não se importa com o sentimento do outro, mas pode ser também algo quase que instintivo de alguém que não compreende consequências de seus atos.

Não é a conversa de tratar bandido como coitadinho: todo mundo deve pagar pelos crimes que comete, mas perceber a diferença entre quem tem cérebro para enxergar o futuro e quem não tem é essencial para tornar a sociedade mais segura. Sim, coitado do cidadão brutalizado que viveu sob as garras de psicopatas e nunca teve suporte do Estado, mas é uma questão prática de segurança evitar que essa pessoa aja livremente.

E é essencial saber o quanto se pode corrigir o comportamento criminoso. Tem capacidade intelectual de melhorar? Adianta conversar? Adianta explicar alguma coisa? Porque tem um grande grupo de pessoas que não são portadores de algum transtorno mental, mas infelizmente não conseguem entender o que exatamente estão fazendo de errado.

“Tá, mas o que isso tem a ver com gente de nome bizarro sendo eleita?”

Tem diferença entre votar em alguém merda por uma convicção e votar em alguém merda porque é incapaz de ver que esse alguém é… merda. Posso não concordar com quem vota em político conservador porque quer impedir o aborto, mas é uma pessoa fazendo algo ruim que eu consigo entender. Se você votou no PCO porque não vê a hora de começarem a cortar as cabeças dos bilionários e tomar os meios de produção, eu acho que seu objetivo vai dar terrivelmente errado, mas eu sei o que você quer fazer.

Depois dos resultados, muitos analistas começaram a se perguntar para que lado pendia o brasileiro. É um povo de esquerda ou de direita? Bom, se você estiver em dúvida basta reler a apuração feita pela Sally. O brasileiro não é de esquerda nem de direita, ele vota em qualquer coisa por qualquer motivo. A imensa maioria dos eleitores não tem sequer interesse em posicionamento político. Se você fizer as perguntas certas, consegue fazer quase todo esse povo parecer estar de um lado ou de outro, e é bem isso que os políticos profissionais fazem: o brasileiro vai dizer que é contra forçarem crianças a serem gays se ouvir essa pergunta. E se perguntado se quer que o presidente mande matar todos os negros, vai dizer que não (na maioria dos casos).

Em países com um pouco mais de educação e incentivo intelectual, talvez a pessoa perceba a manipulação barata e não dê bola para isso, mas como eu estou dizendo aqui desde o começo do texto: precisa de um pouco de competência para ser ruim com convicção. Povo analfabeto funcional vota por medo ou vota aleatório. Dificilmente o seu vizinho tem alguma pretensão fascista, nem entende o que significa ser fascista.

É bullying pisar na cabeça de um povo sacaneado feito o brasileiro? É, mas voltando à analogia do criminoso dos primeiros parágrafos: podemos até entender que a pessoa não tem a total compreensão da coisa ruim que faz, mas a coisa é ruim do mesmo jeito. Se deixar solto, é Lula ou Bolsonaro para sempre. É essa gente bizarra sendo eleita que nem sabe o que vai fazer.

E a Sally me fez pensar num ponto muito interessante conversando sobre esse tema: tem um grau de sofrimento até para quem vence o concurso de popularidade e acaba eleito. A pessoa vai sentir a inadequação. Vai descobrir na hora que o cargo político que ganhou exige muito mais capacidade da que já desenvolveu na vida. Ninguém colocou na cabeça do brasileiro que ser político é servir a sociedade com trabalho competente.

E as leis foram escritas presumindo que nossos representantes entendam o parágrafo que acabaram de ler. O sistema todo é de alta complexidade, muito acima da cabeça de quem meteu um nome maluco e acabou eleito porque o povão achou graça. Não só isso gera um péssimo serviço (a maioria dos vereadores não vai fazer quase nada na carreira, quando muito dar nome para uma praça) como também vai criando um ressentimento com a máquina pública. O burro pode não conseguir assumir/articular sua burrice, mas sente.

Mais uma vez: ser ruim de propósito e ser ruim por incapacidade de fazer melhor são monstros bem diferentes. Cada vez que o brasileiro médio coloca um desses seres bisonhos no poder, cria mais um ponto de falha na sua cidade, estado ou país. Mais uma pessoa que não tem capacidade de estar lá, ficando cada vez mais incomodada e descontando em vantagens ilegais que aparecem com o cargo.

Gente estúpida demais para fazer o trabalho é um problema sério porque faz os serviços do Estado falharem, mas também porque acaba encurralando aquele ser numa visão de que não existe função para cumprir. Parece tudo burocracia, confusão. Não é. O Estado precisa de regras para funcionar, e se a pessoa é limitada demais para entender, isso não faz delas menos importantes.

Incapaz votando em incapaz, e o incapaz eleito fica tão frustrado com sua incapacidade que acaba desvirtuando o sistema todo com ineficácia e corrupção. E aí o povão se desencanta mais e mais, e acaba votando pior ainda. Eu quero que todos esses imbecis corruptos sofram com inadequação, mas é um alento que não gera melhorias práticas em nossa vida.

A resposta é proibir o brasileiro de votar? Eu jamais iria por esse caminho, historicamente termina pior para o país, mas eu realmente acho importante ter exigências mais duras para quem quer se candidatar a qualquer cargo público, especialmente os que detém tanto poder como os do Legislativo e do Executivo. Um político escroto que sabe o que está fazendo causa menos estrago do que um cabeça-oca, porque pelo menos com a pessoa ruim racional existe uma chance de conversar e negociar.

O imbecil, mesmo que bem-intencionado, é uma bomba-relógio: rouba a vaga de alguém que pelo menos entenderia o que lesse e quase sempre acaba metido em algum esquema corrupto porque o trabalho de verdade é frustrante demais para seu cérebro de azeitona.

Não dá para eleger essa gente e achar que vai mudar alguma coisa.

Para me chamar de elitista, para dizer que deveriam proibir o brasileiro de tudo, ou mesmo para dizer que o problema da ditadura é que o ditador seria brasileiro: comente.

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