Ministério do Assédio.

SALLY

Hoje tem mais uma para o pessoal do “mas problemas todo país tem”: Ministro dos Direitos humanos praticando assédio moral e assédio sexual contra várias pessoas, inclusive contra outra Ministra. Diz que em todo país isso acontece, diz…

E, por incrível que pareça, o fato de o Ministro assediar geral, inclusive a Ministra da Igualdade Racial, nem é a pior parte. A pior parte é o contorcionismo da esquerda e sua militância para lidar com a situação. “Mas Sally, tem que ver se ele é realmente culpado”. Exato, tem que ver, investigando. A militância já decretou que ele é inocente ou que, se culpado, não se deve falar no assunto. Sinceramente, depois de ver postagem da Janja defendendo a Anielle, as chances desse tio der inocente são remotas.

Não haveria problema algum em dizer “erramos, achamos que era uma boa pessoa, infelizmente pode não ser, vamos investigar e tomaremos as providências”. Mas não, eles nunca podem admitir um erro. Eles nunca erram. Se você acha que houve um erro, tem que ficar calado, se não dá munição para a “extrema-direita”, nunca é hora de criticar o Governo, se não _______ (insira alguma ameaça tipo “se não o Bolsonaro volta”). Quando eles fazem qualquer das coisas que criticam, é sempre relativizado.

Você já se perguntou por qual motivo isso acontece? Eu já, e, entre muitas conclusões, cheguei a uma especialmente ofensiva que, justamente por seu caráter magoatório, foi a escolhida para o texto de hoje.

Quem é leitor sabe que frequentemente nos acusam de sermos bolsonaristas, não importa que tenhamos passado um ano defendendo vacina com textos que demandaram um trabalho enorme para elaborar, não importa o quanto defendemos aborto consistentemente nos últimos 15 anos, não importa o quanto a gente bata em religião, não importa que tenhamos feito um texto explicando legalmente o motivo do Bolsonaro ser genocida. Continuam nos chamando de Bolsonaristas.

Nós mudamos uma linha do que escrevemos por causa disso? Não. Nós deixamos de criticar o PT para que não pensem que somos Bolsonaristas? Não. Sabe por qual motivo? Porque nós não somos bolsonaristas, então não dói. Quando te acusam de algo que você tem certeza de que não é, não dói e você não move uma palha por causa disso. É como se eu te dissesse “você é ridículo por sair na rua com essa ovelha azul do seu lado, está passando vergonha!”. O que você vai fazer, além de rir da minha cara e me chamar de maluca?

O brasileiro médio é estelionatário, machista, agressivo, mal-educado, corrupto, infiel e mentiroso. Obviamente disfarça e adora se dizer correto e virtuoso (e apontar seus defeitos nos outros), mas no fundo, bem lá no fundo, ele sabe a bostinha que é. Então, ele precisa parecer boa pessoa. Ele precisa fazer um esforço ativo para isso. E hoje, o caminho mais rápido para ter essa presunção de superioridade moral é defendendo a esquerda, não importa o que ela faça. Se você fizer isso, eles vão te defender de volta e você pode continuar fazendo suas merdas impunemente.

O brasileiro médio, por ser a bosta que é, precisa passar o tempo todo uma imagem de boa pessoa, de superior, de virtuoso. É uma tentativa desesperada de encobrir a podridão que existe dentro dele. Usa aparelho pirata para não pagar TV a cabo? Não faz mal, vai lá e fala mal de político corrupto. Bate no retrovisor de carro estacionado e não deixa um bilhete com contato para pagar o prejuízo? Trai a esposa? Bate nos filhos? Não faz mal, se diz temente a Deus, posta foto de família feliz em rede social e critica o vizinho pelas mesmas coisas que ele faz.

Eu acredito que esse mecanismo seja uma das molas propulsoras dessa defesa descabida da esquerda no Brasil. O PT está fazendo tudo o que criticava no governo anterior, desde queimadas, vacinas, até tratar mulher como lixo. Só que o PT reveste tudo que ele faz com um manto de nobreza, inclusão e superioridade – e isso basta para que brasileiro queira aderir, não por ideologia, mas para ter um atestado de boa pessoa.

Convencionou-se que esquerda é o mocinho e direita (ou melhor, extrema-direita, pois tudo agora é extrema-direita) são os vilões. Se a pessoa se porta mal, de forma escrota, de forma desonesta, de forma reprovável, o que ela faz? Adere publicamente ao lado dos mocinhos, para tentar se sentir melhor com ela mesma e para tentar vender à sociedade seu atestado de superioridade moral.

Levantando a bandeira da esquerda, você é bom, não importa o que você faça. Pode fazer anúncio para a Blaze, pode bater em mulher, pode chamar mulher de puta (inclusive se for sua madrasta), pode assediar mulher, que ainda assim você preserva seu atestado de boa pessoa. Basta se unir com outras “boas pessoas” e ficar o tempo todo reforçando o papel de vilão da (extrema) direita e pronto, a dualidade está garantida, bem como seu assento no lado dos moralmente superiores virtuosos. Muito conveniente: ficar com fama de bom sendo um lixo de pessoa.

Só por isso esse mecanismo prospera: ele convém a uma maioria lixo que habita o Brasil. É uma garantia de impunidade, coisa que o brazuca mais ama: pode fazer a bosta que você quiser, que estou te dando este manto da intocabilidade e você sempre será considerado boa pessoa.

Olhar para si mesmo e para suas escolhas e fazer um exame de consciência ninguém quer, né? No longo período do qual fui funcionária pública no Brasil eu via meus colegas embolsando dinheiro das formas mais ilegais possíveis. Nunca falei nada, apenas me recusava a participar dos esquemas. E mesmo assim sempre vinha um me dizer “sabe o que é, é que eu tenho filho para criar”. Nenhum escroto se acha uma escroto, todo filho da puta sempre tem uma ótima justificativa super válida na cabeça dele para fazer o que faz. Autocrítica e brasileiro são incompatíveis.

E assim, em um misto de medo (de ser taxado de bolsonarista ou extrema-direita) com conveniência (poder fazer a merda que for e continuar com presunção de boa pessoa), o povo vai aderindo à esquerda. Uma esquerda imunda, que consegue ser muito pior e muito mais nociva do que a oposição, pois ao menos os outros eram constantemente criticados pela imprensa e pela própria esquerda.

Quem é boa pessoa não precisa ter medo nem precisa aderir a grupos para ostentar isso. Não precisa ser da religião X, do partido político Y, do ramo Z da espiritualidade. Quem é boa pessoa usa um peso e uma medida para avaliar a realidade. Quem é boa pessoa observa o que se faz e o que se fala, não quem faz e quem fala.

Mas imagina se o brasileiro vai desenvolver retidão, ética, coerência e vergonha na cara… Vai não, vai continuar abraçado ao grupo que lhe assegurar presunção de virtude/impunidade para continuar vivendo no jeitinho, na mentira e nos atalhos.

Tudo bem, eu não moro mais no Brasil mesmo… vendam liberdade de expressão, abram mão de rede social, tenham o cu socado de imposto, respirem fumaça de queimada, aturem assediador no poder, barganhem o que quiserem para continuar com essa suposta garantia de superioridade moral. Era mais fácil realmente ser uma boa pessoa, mas a maioria não está preparada para essa conversa.

Obs: não dou nem 24h para o Ministro usar a carta do racismo, de modo a intimidar quem estava pensando em criticá-lo.

Para dizer que somos bolsonaristas, para perguntar por que não se fala em “extrema-esquerda” ou ainda para dizer que agora a militância vai mandar matar Anielle: comente.

SOMIR

Ontem eu estava vendo um jornal da Globo e começou uma discussão sobre o caso de Silvio Almeida: discussão sobre a possibilidade de uma mulher mentir. Não sobre o caso específico, mas sobre o conceito mesmo. De um lado, dois comentaristas homens embasbacados com a existência dessa discussão, do outro, mulheres e lacradores só faltando acusar os dois de serem nazistas por mencionarem a ideia de presunção de inocência.

É por esse ângulo que eu quero começar: quando você se pauta pelo emocional, começa a falar bobagem. Direita e esquerda são mestres nisso, de pegar temas, jogar fora toda a racionalidade, e depois ficarem surpresos porque ninguém se entende e o “outro lado” é tão raivoso.

Oras, o que mais se pode esperar de política populista? A ideia da coisa toda é mexer com os sentimentos do povão para gerar respostas mais rápidas e mais intensas. O maluco de direita vai te dizer que os comunistas querem forçar seu filho a ser gay, o maluco de esquerda vai te dizer que devemos fazer um homem provar que não cometeu um crime se uma mulher o acusar. Evidente que não param de brigar, é um campeonato de maluquice. E maluquice é infinita.

O que me leva de volta a Silvio Almeida. Eu mantenho a lógica primordial de presunção de inocência e necessidade do acusador provar, mas podemos fazer uma análise mais social do caso: são muitas mulheres denunciando e muitas outras questões compatíveis com a probabilidade do assédio sexual. Os que trabalhavam com ele descrevem o tipo da personalidade abusiva típica de quem sai falando besteira e passando a mão em mulheres aleatórias.

Não é mesquinharia pura, prometo: Anielle não é o que se esperaria de uma mulher que “enlouquece homens”. Eu até diria que basta olhar para o rosto dela para encontrar toda a sobriedade necessária na vida. O layout da ministra meio que entrega como o comportamento é patológico. Cidadão que resolve abusar de uma fuckin’ ministra já não tem muito limite na vida, cidadão que arrisca tudo por uma passada de mão na Anielle?

A pessoa tem que ser fundamentalmente podre. Novamente, eu sei que parece um argumento escroto, mas ele tem lógica: eu não sou um homem especialmente atraente, se uma mulher aparece desesperada para fazer sexo comigo do nada, é claro que tem algo fora do padrão nela. Ou quer meu rim, ou é uma condição do tipo de ninfomania. A gente sabe quando faz sentido e quando não faz.

Se Silvio realmente fez o que fez, tem algo a mais nele do que mero descontrole hormonal. Vai além até da ideia de masculinidade tóxica. A mulher parece o Bussunda magro em metade das fotos que tira! Falo sobre isso porque se você cria um ambiente de insanidade política como esquerda e direita fazem atualmente, você cria um ambiente perfeito para esconder os membros mais disfuncionais da sociedade.

E pessoas como Silvio Almeida podem passar anos camuflados nesse sistema. Ontem Sally e eu estávamos conversando sobre o caso e ela me abriu os olhos para algo: para saber se uma pessoa é problemática, basta ver a posição dela sobre censura nas redes sociais. Se defende, quase sempre é alguém maluco e/ou podre. Silvio não só defendia controle nas redes como foi um dos pais do projeto de tornar humor agravante em casos de injúria racial.

Quem é ruim presume isso no outro. Tanto que costumam tratar mal as pessoas, estão sempre tentando estar um passo a frente na maldade, para não serem vítimas de quem, presumem, pensa como eles. Silvio passou a imagem de um ativista sério pelos direitos humanos enquanto tudo indica que maltratava qualquer um no seu caminho, especialmente aqueles que considerava mais fracos.

Uma pessoa dessas seria exposta muito mais rápido se não fosse o verniz de santidade que sua política aparente demonstrava. E quando o governo todo é montado feito um castelo de cartas de virtudes, acontece justamente o que aconteceu: Lula e cia. sabiam dos abusos do ministro há muito mais tempo, mas só se mexeram quando o caso explodiu na mídia.

O degenerado se diz de direita para disfarçar, o abusador se diz de esquerda pelo mesmo motivo. Lobos vestidos de ovelhas, berrando para outras ovelhas, predadores camuflados por política populista. E como o povão engole essa passionalidade descompensada como algo valoroso, eles são incentivados a continuar. Um cidadão que não se aguenta e vai abusar da fuckin’ Anielle é incapaz de ser diferente. Talvez só com muita terapia.

Mas enquanto esse jogo de aparências continuar, vai ter ovelha dizendo que o lobo é melhor que a ovelha do outro lado da cerca. Que é melhor ficar com malucos e doentes que se dizem do seu lado do que ter o trabalho de descobrir quem é quem e reduzir a infestação de lobos.

Quanto mais radical a pessoa em sua posição política, mais devemos desconfiar de quem ela é de verdade. Política de lados virou uma das melhores formas de esconder psicopatas, abusadores e estelionatários, só perdendo para a religião. E isso só funciona porque o cidadão médio parece ter aversão a lidar com o tédio de fazer análises racionais sobre os temas que impactam sua vida. Em troca da diversão dos fanáticos carismáticos, toleram viver cada vez mais sob as garras dos lobos.

Gente assim não para, não tem limite. Cada milímetro que cedemos para os malucos não volta sem uma briga das feias. Não precisa tomar um lado, na verdade, eu estou argumentando para evitar os lados, porque é lá que os lobos estão concentrados, é onde a roupa de ovelha engana mais gente.

Inacreditável que alguém como Silvio Almeida tenha durado tanto tempo fazendo o que fazia, tão sem limites como parece ser. Se isso e a ascensão de Pablo Marçal não são sinais que nossos alarmes para malucos estão falhando em massa, não sei mais o que poderia ser.

Para dizer que eu fui mesquinho, para dizer que eu estou justificando alguns abusos (é sempre crime, mas tem gente mais patológica que precisa de mais atenção), ou mesmo para dizer os lobos te avisaram sobre ovelhas como eu: comente.

Desfavores relacionados:

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Tchau, otários!

Pancadas.

De novo?