Menine ou menine?

Existe um grupo considerável de pessoas nesse mundo que se encaixam na categoria de intersexo: pessoas que apresentam características sexuais de ambos os sexos, em proporções bem variadas. Também conhecidos como hermafroditas (é mais complicado, mas para o texto o termo serve), Sally e Somir concordam que a pior coisa é criar com gênero neutro, mas na hora de escolher com qual dos dois seguir, uma divisão. Os impopulares decidem a cor do quarto.

Tema de hoje: no caso de um filho hermafrodita que nem mesmo médicos sabem dizer de qual sexo será, é melhor criá-lo como homem ou como mulher?

SOMIR

Na dúvida, é mais eficiente escolher homem. Eu até entendo que mulheres tem mais proteções sociais, mas ainda existem muitas vantagens em ser homem no mundo moderno. Especialmente na hora de montar uma estrutura mental mais resistente, o que uma criança hermafrodita vai precisar, e muito.

Uma das maiores pragas da “modernidade de gênero” é a figura do homem claramente homem se dizendo mulher. Não estou falando daquele povo esforçado que tem tudo de mulher menos a vagina, e sim dos descompensados mentais que colocam uma peruca (quando colocam, tem um monte de trans carecas…) e querem ser tratados como mulher.

Em tese, desde que respeitem as mesmas regras de educação e leis que todos nós, podemos lidar até mesmo com o Mike Tyson se dizendo mulher sem grandes problemas. Mas tem um fator de insanidade política que acaba mexendo com o comportamento de trans muito masculinos, deixando-os especialmente problemáticos no convívio com o resto da sociedade. Sem contar os que passam batom e se dizem mulheres descaradamente para assediar mulheres biológicas.

Uma trans homem para mulher que se apresenta muito bem como mulher raramente é fonte de problemas pela sua identidade sexual. A maioria dos problemas com trans que “passam” são mais relacionados com marginalização social e dificuldades financeiras as colocando em ambientes perigosos e as forçando a se prostituir. Num ambiente mais bem controlado, com suporte em casa e oportunidades, um homem que transiciona para mulher e fica visualmente bem acertado no novo papel se adapta muito bem à sociedade.

Ou, de forma mais escrota: sempre tem um lugarzinho para uma mulher bonita na sociedade, e muita gente nesse mundo está de boa com a genitália que vier no pacote, masculina, feminina ou mista.

Parece que eu estou argumentando contra o meu ponto, né? Não, continua sendo melhor criar como homem, porque de seis cenários possíveis baseados na aparência externa da pessoa, cinco são melhores se criar como homem. Explico:

1 – Criar como mulher e virar uma mulher feminina: poucos traumas, vida relativamente tranquila. Vai sofrer na parte de ter filhos e com parceiros que aceitem o diferente, mas ela vai conseguir. Melhor criar como mulher.

2 – Criar como mulher e virar uma mulher masculina: não só vai ter sido criada sem a resiliência masculina para se virar sozinho, como ainda vai ter problemas terríveis de autoestima. Transicionar para homem é muito mais complicado se você tem uma mente feminina. Melhor criar como homem.

3 – Criar como mulher e virar um ser andrógino: se não tiver nada muito definitivo na aparência, a pessoa vai ter problemas de adaptação, mas um grande potencial de ser única o suficiente para gerar interesse em outras pessoas. O problema é que foi criada como mulher e vai sofrer por não ser totalmente tratada como mulher. Melhor criar como homem.

4 – Criar como homem e virar um homem feminino: ou seu filho se adapta num papel de homem afeminado (tem até os que se relacionam com mulheres e se dão bem), ou ele faz a transição para mulher, que por causa de sua aparência vai ser muito mais simples e vantajoso em relações sociais. Melhor criar como homem.

5 – Criar como homem e virar um homem masculino: foi treinado desde o começo a ser homem, não vai ter o choque de realidade horroroso de mulher tentando virar homem. Mulher e homem gay são muito generosos, certeza que dá um jeito de ter relações felizes.

6 – Criar como homem e virar um ser andrógino: é meio que o padrão dos seres andróginos serem homens femininos. Vai ter a mente do homem que pode “brincar” de ser mulher quando quiser. Aguenta mais pancada, consegue se impor, mas quando quiser ser vulnerável, vai ser aceito. Melhor criar como homem.

Se alguém te dissesse que a escolha A funciona 1/6 das vezes e a escolha B funciona 5/6 das vezes, o que você escolheria para o seu filho? Homens tem uma criação diferente, a pressão para se virar sozinho e aguentar o tranco da agressividade alheia dá um pouco mais de resistência e calos emocionais. Homem acaba entendendo desde cedo que não é inerentemente desejável (o que é um problema que deveríamos corrigir, mas é a verdade atual) e que precisa se impor e conquistar para ser feliz.

Quando a vida joga um desafio como ser hermafrodita no seu caminho, é melhor ter esse tipo de mentalidade desde cedo. Porque a rejeição vai acontecer, e vai acontecer bastante. Homem tem um estado mental mais acostumado com levar fora e não ser desejado. Como isso vai acabar acontecendo com o intersexo, acho muito mais eficiente colocar isso na cabeça dele. Se quiser transicionar para uma identidade feminina, a base já está lá para proteger a pessoa das dificuldades.

E eu repito o que eu sempre digo nesses temas onde se pode escolher ser homem ou mulher: fico muito feliz que mulheres existem, elas entregam um afeto e uma atenção especial, mas eu não entendo como alguém poderia escolher ser mulher se pudesse ser homem. Não troco minha força maior, menor sensibilidade, foco em objetos e imunidade a engravidar por nada! Obrigado por existirem, mulheres, mas, Gezuiz… ser homem me parece muito melhor.

E eu quero o melhor para o meu filho. Ser mulher só me parece melhor se seu corpo for obviamente feminino e você puder ter todo o pacote de benefícios de mulher para compensar as dificuldades.

Para me chamar de machista, para dizer que eu ofendi o mundo inteiro, ou mesmo para dizer que só um homem faria uma análise matemática do tema: comente.

SALLY

No caso de um filho hermafrodita que nem mesmo médicos sabem dizer de qual sexo será, é melhor criá-lo como homem ou como mulher?

Ambos concordamos que criar como gênero neutro seria o pior dos mundos, então, meio que tem que decidir entre homem ou mulher. E eu sei que existem testes de cromossomo e uma infinidade de recursos para tentar entender o sexo, mas, querido leitor, são 15 anos escrevendo esta coluna toda semana, chega uma hora que os temas começam a esgotar, por favor, colabore: é uma situação na qual ninguém pode saber o sexo e ponto final.

Eu escolheria criar como mulher, por um somatório de fatores. Se eu escolher mulher e for homem, o peso do erro me parece menor.

Primeiro pelo fator físico. Em hermafroditas muitas vezes os genitais podem parar no meio do caminho, não virando nem uma coisa, nem outra. Se uma mulher tiver uma pepeca meio avantajada, quando de fato se definir que é mulher, faz uma cirurgia e corrige. Se um homem tiver um bilau atrofiado, isso provavelmente vai tornar sua vida muito mais difícil.

E mesmo quando falamos do corpo como um todo… Se uma mulher tiver um pouco mais de testosterona, toma hormônios femininos e regula (no mundo atual, voz grossa e músculo não geram tanto bulling e sim cargo de rainha de bateria). Se um homem tiver a voz fina e o corpo curvilíneo, já será tarde demais quando derem testosterona, todo o bullying e o dano à autoestima estarão feitos na primeira infância.

Além disso, em um mundo cruel que lida muito mal com crianças e jovens que são diferentes do padrão esperado, eu prefiro que seja mulher, pois me parece que a carga de violência e agressividade que sofrerá será menor. Pensando desde o colégio até locais públicos (principalmente banheiros públicos), acho que mulher corre menos risco de sofrer violências por seus pares.

Certamente todo mundo já viu ou ouviu falar de um caso de um rapaz que, por não atender aos padrões de “masculinidade” socialmente esperados já foi hostilizado e até apanhou. Mas você já ouviu alguma história de mulheres que se juntaram para bater em uma mulher não tão feminina que entrou em um banheiro de shopping? Não ouviu nem vai ouvir, inclusive pelo fato dessa mulher ser muito mais forte do que as supostas agressoras.

Por outro lado, a questão emocional também me aponta para uma criação como mulher. Mulheres costumam ter, socialmente, mais liberdade para seres frágeis, para sofrer e para compartilhar seus sentimentos. E certamente essa criança vai precisar disso.

Não se engane: não basta criar em casa um ambiente seguro. Quando a criança é escrotizada fora da casa, ela precisa criar uma armadura para se defender, precisa vestir uma couraça de forte que não se importa com nada, precisa sufocar os sentimentos e empurrá-los para algum lugar no qual tente não ter contato com eles para conseguir ir à escola todos os dias.

É melhor ter uma vida difícil sendo uma mulher muito forte fisicamente, com permissão para sofrer, desabafar e sentir insegurança do que ter uma vida difícil sendo um homem com físico mais fraco que os demais e sem a permissão social para sofrer, desabafar e sentir insegurança.

Eu concordo que, como regra geral, a vida costuma ser mais fácil para homens do que para mulheres, o patriarcado blá blá blá. Mas é mais fácil para homens que se encaixem no padrão socialmente imposto. Para os que não, é muito maios difícil.

Mulheres são mais acolhedoras com diferentes, com fora do padrão, costumam ser menos cruéis, por exemplo, não apelando para violência física. Eu sei que não é uma regra absoluta, tem de tudo no mundo, mas é uma tendência. Tanto é que será muito mais fácil ver uma mulher com um sujeito mais fora do padrão do que o contrário. Pode reparar que todos esses desconstruídos feministos estão sempre com uma belíssima namorada padrão ao lado.

Então, se é para jogar uma criança diferente em algum grupo no qual tenham que socializar (crianças tendem a socializar mais com colegas do mesmo sexo), eu escolho o das mulheres que, no melhor dos mundos, serão mais acolhedoras e, no pior dos mundos, ao menos não vão espancar. Sim, minhas expectativas são baixíssimas.

O momento da verdade, da percepção sobre seu sexo, também me parece mais fácil se for de mulher para homem. Na sociedade lixo que vivemos é considerado demérito, fraqueza ou até doença ir de homem para mulher em muitos ambientes.

Não venham pagar de desconstruidões não, pois o Brasil ainda é muito homofóbico. Eu teria medo de que meu filho acabasse tendo preconceito contra ele mesmo, medo ou até vergonha de migrar de homem para mulher. Como eu disse, tem um limite do que se pode oferecer em casa, a sociedade e as pressões que ela exerce moldam demais crianças e adolescentes.

Além disso, se crescer e se descobrir homem, se de fato desenvolver um pênis, se de fato se sentir do sexo masculino, será traumática a transição, mas apenas a transição. Não será uma vida toda de trauma.

Porém uma infância de desaforos, esculachos e espancamentos por ser “viadinho”, me parece algo muito mais pesado. Isso é traumático, desumano e extremamente nocivo para a autoestima.

Basicamente, não tem para onde correr: o momento de transição de um sexo para o outro (caso os pais escolham o “sexo errado”) sempre será traumático. A pergunta é: antes disso, qual é a melhor opção?

Eu já vi como homens tratam homens que não se adequam ao que eles esperam e como mulheres tratam mulheres que não se adequam ao que elas esperam. Se você acha mulheres cruéis, nem queira saber como agem os homens.

Para sentir pena da gente e enviar sugestões de temas, para dizer que criaria como gênero neutro (infância traumática 100% garantida, ao menos escolhendo você tem 50% de chance de acertar) ou ainda para dizer que somos algumacoisafóbicos: comente.

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