Diddy e amigos.

Sean Diddy Combs foi preso, na última terça-feira (17/9), em Nova York, acusado, entre outras coisas de tráfico sexual, associação criminosa e promoção da prostituição. O rapper ainda é alvo de várias ações civis que o descrevem como um “predador sexual violento” que usava álcool e drogas para subjugar suas vítimas. LINK


E todos os envolvidos vivem dizendo que são diferentes. Desfavor da Semana.

SALLY

Certamente todos vocês já leram alguma coisa sobre este escândalo. Se investigarem direitinho (talvez não o façam pois tem muita gente grande envolvida) certamente será o maior escândalo da história da indústria da música. As acusações fazem Harvey Weinstein parecer um santo.

O escândalo, como dissemos, envolve muita gente, não apenas da música, mas atores, empresários, políticos e muito mais. No entanto, as três principais figuras, apelidados de “trindade do mal” são P. Diddy, R. Kelly e Jay-Z (para quem não sabe, marido da Beyoncé).

Não é um escândalo padrão envolvendo assédio ou uns tabefes em alguém. São acusações de assassinato, tráfico de pessoas, tortura, estupros (em homens e mulheres) e coisas ainda piores. Não é um escândalo qualquer, é um escândalo no nível: os tios envolvidos teriam traficado a Rihanna. É outro patamar.

Como tudo ainda está muito nebuloso (e pode ser que nunca fique esclarecido), não vamos entrar no mérito nem nos detalhes das acusações, pois, até aqui, os detalhes são mais especulação do que certeza. Porém, é possível afirmar que sucessivos crimes graves foram cometidos, tanto é que P. Diddy está preso e corre o sério risco de ser suicidado para não contar o que sabe.

Enquanto os fatos não são apurados, eu quero trabalhar com a certeza que temos: que esses tios fizeram barbaridades. Os detalhes delas são irrelevantes para minha argumentação. Há evidências demais para tudo ser uma armação, um equívoco ou a onipresente cartada do racismo. Esses tios são criminosos do último escalão.

O que nos leva ao ponto do meu texto: o homem branco hetero é vilanizado e tratado como predador, tóxico e o mal da sociedade como se detivesse o monopólio dos crimes cruéis e que subjugam outras pessoas, mas parece que não é assim, não é mesmo?

Durante muitas décadas grupos como mulheres e negros não tinham poder suficiente para cometer atrocidades e por isso só tínhamos notícias de homem branco hetero fazendo. Mas não era por bondade dos demais grupos. Nem era por maldade do homem branco. Era simplesmente uma questão de oportunidade, pois o ser humano é um lixo. Salvo honrosas exceções, dada a oportunidade, tendo excesso de poder e um vislumbre de impunidade, o ser humano acaba se revelando escroto, cruel e abusivo.

Percebam que o tempo todo estou colocando mulheres (grupo ao qual pertenço) ao lado de negros. Durante muito tempo só se liam notícias de estupro perpetrados por homens. Muita gente chegou a pensar que o fato de ser homem já tornaria a pessoa um estuprador em potencial. Isso ocorria por mulheres serem mais bondosas, empáticas e corretas? Não. Mulheres não tinham poder suficiente para fazer.

Hoje toda semana aparece pelo menos uma notícia na nossa coluna A Semana Desfavor de mulher abusando sexualmente de criança ou até de bebê. Hoje, as mulheres ganharam condições de maior igualdade e principalmente independência financeira, agora elas têm pode para abusar. E o estão fazendo. Não é sobre querer ou não fazer, é sobre poder. Quando um grupo pode fazer, alguém acaba fazendo. Não todos, óbvio. Mas alguém acaba fazendo.

Nosso trio ternura provavelmente não teria nem direito a voto se tivesse nascido algumas décadas antes. Mas hoje, eles têm poder, tem dinheiro e tem acesso a impunidade. Bastou terem esses recursos para se comportaram como qualquer homem branco predador, ou seja, não é sobre cor da pele, não é sobre sexo, não é sobre nenhuma característica física. É sobre o ser humano.

E, não se enganem, os homens não são o único lixo nessa história. Tem muita bonita que prega sororidade e empoderamento feminino, (como por exemplo a própria Beyoncé) mas viu ao menos parte do que acontecia e calou a boca. Ninguém no mundo me convence que a Beyoncé não tem poder para, ao menos, se afastar dessas pessoas. Continuou casada, continuou conivente. Lixo tão lixo como eles.

Não falha: a militância é sempre a mais podre em essência. O discurso de sororidade, empoderamento e girl power ela pode enfiar bem no meio do cu dela. Mulher que assiste esse tipo de coisa ser feita com outras mulheres e acoberta, na minha opinião, é tão merda como o homem que pratica essas barbaridades pois, apesar de não ser uma criminosa ativa, ela sabe exatamente como a vítima se sente e é convivente.

Não digo que essas mulheres tenham que denunciar, peitar, jogar merda no ventilador, cada um sabe o quanto pesa uma consciência tranquila X um risco de vida. Mas ficar ao lado, ser conivente, fingir que nada estava acontecendo? Não existe a menor possibilidade de que, sob nenhuma circunstância, eu não repudie isso com muita força. Mas a sociedade tende a colocar mulher como vítima e provavelmente vai fazê-lo dessa vez. Repito: parem de fazer disso algo sobre cor de pele, sobre sexo, sobre religião, é sobre o ser humano.

Não é sobre cor de pele. O pessoal de Wakanda fazendo a mesma coisa que sempre vilanizou no homem branco não surpreende. Negro traficando negro, que coisa inédita! O papel de eternas vítimas vai aos poucos ruindo, a gente vê que não faziam barbaridades por pura falta de oportunidade. Não é sobre cor de pele, é sobre o ser humano. Tem psicopata de todas as cores. Ninguém é mais bondoso, mais malvado, mais vítima ou mais vilão pela cor da sua pele. E esse caso veio para escancarar isso.

Inclusive na parte da impunidade. Se negros fossem tão perseguidos, esses três monstros não teriam cometido sucessivos crimes hediondos por décadas. Mas as pessoas insistem em trazer a cor da pele para a mesa de discussão. Sempre. E se você não abaixa a cabeça para esse modus operandi, você é racista. Vai lá, me explica por qual razão o tão opressor racismo estrutural não impediu esses três vermes de vilipendiar, matar, estuprar, dopar e torturar pessoas por décadas.

Fiquem putos o quanto quiserem, me acusem de racismo o quanto quiserem, mas racista é quem traz cor de pele para a discussão: são três psicopatas que perpetraram horrores dignos de filmes de terror por muitos anos. Racista é quem acha que pela cor de pele dá para classificar a pessoa como vítima ou como opressor.

Eu espero que o caso seja investigado apesar de todos os grandes nomes envolvidos, que todos sejam punidos e que a Beyoncé nunca mais pise em um palco na vida. “She Knows”.

Para me chamar de racista (senta lá, Claudia), para dizer que o cabeça é o Jay-Z (também acho) ou ainda para dizer que quer os detalhes sórdidos: comente.

SOMIR

Essa gente está sempre fazendo pose, se dizendo super engajada em causas nobres, arrotando superioridade moral. Mas quando um deles faz alguma coisa errada, ficam todos quietinhos. Estou falando dos negros? Claro que não. Estou falando dos super ricos.

Existem características de personalidade mais talhadas para o sucesso exponencial na nossa sociedade. Sim, ser talentoso e obstinado ajuda muito, mas ter no mínimo uma “cegueira conveniente” para os sentimentos alheios ajuda muito mais. O caminho sociedade acima exige escolhas difíceis, muitas deles danosas para outras pessoas.

Psicopatas e sociopatas conseguem isso naturalmente, lembrando que ao contrário do mito, não existe nenhuma prova que pessoas assim sejam mais inteligentes que a média. Mas quando a pessoa tem algo valioso nela e não fica presa nos mesmos dilemas éticos e morais que o resto, tem uma prioridade na escadaria social.

Então, não me surpreende que pessoas muito ricas e poderosas como Diddy sejam capazes de transformar seu sucesso em abusos do tipo. Não me surpreende nem como depois de tantos anos, outras pessoas ricas e famosas ao redor dele não o denunciaram. Quem está no topo normalmente é quem faz muita questão de continuar no topo.

Me preocupa a quantidade de pessoas que continuam venerando celebridades, mesmo com o véu sobre suas personalidades caindo desde a popularização da internet e das redes sociais. Era tudo muito mitológico antigamente, mas hoje? Estão todos muito expostos como as pessoas que são. E ainda tem legiões de fãs. Gente que admira qualquer saco de lixo com muitos seguidores.

Os muros que protegiam muitos desses psicopatas e sociopatas caíram, e mesmo assim as pessoas não aprendem. São naturalmente atraídas por essa luz feito mariposas tontas. São só outras pessoas. Podem ter características positivas e negativas como qualquer um de nós. Não consigo entender a admiração que tanta gente tem pelos ricos e famosos… talvez seja um gene que quase todo mundo tem e eu não. Ou talvez eu faça parte da maioria e a minoria desesperada por venerar outra pessoa seja só muito barulhenta.

Seja como for, é importante prestar atenção em como tem um ponto de status social em que pessoas que conseguem muito dinheiro, poder e admiração se tornam perigosas. Porque tudo acontece muito mais rápido e de forma mais intensa se você tem os recursos para manipular outros seres humanos. E considerando que quem chega nesse nível de recursos normalmente precisou agir de forma meio psicopata para chegar lá, talvez até o conceito de moralidade desse 1% esteja fundamentalmente contaminado.

A sociedade no mínimo concorda que temos que prestar atenção em coisas viciantes como drogas, sexo, comida, jogos… como lidar com isso varia muito e é difícil achar uma linha guia de como controlar esses impulsos que podem se tornar destrutivos, mas mesmo o mais libertário dos libertários vai concordar com você que existem comportamentos humanos que não devem ser incentivados. Pode até ser do time que não acha que tem que proibir, mas incentivar parece totalmente contraproducente.

Eu acredito que em algum momento futuro, o ser humano vai ter que lidar com o problema de idolatria. Não daquela forma religiosa de querer que seja só uma figura central adorada, mas de forma mais prática: tem algo perigoso em deixar solto nossos impulsos de veneração do outro. Eu iria até o ponto de dizer que ser muito fã de outra pessoa é uma espécie de vício. Mesmo que pareça inocente e não esteja fazendo mal para outras pessoas, no mínimo não poderíamos ter uma sociedade que incentiva isso.

Porque essa idolatria fatalmente se concentra em pessoas mais populares, seja por talento, beleza ou dinheiro; e torna a pessoa encantada em um ser mais vulnerável. Ela e as pessoas que percebem como o objeto da idolatria se torna poderoso. Diddy conseguia fazer o que fazia porque muita gente estava enfraquecida contra seu poder, seja por verem ele como um ídolo, seja por saberem que ele era adorado por tantas outras pessoas.

A pessoa vai tolerando muito mais do que toleraria normalmente porque o ser idolatrado está na sua frente. Perde muito da capacidade de autoproteção e do bom senso. Muita gente passou pelas festas de Diddy, quase ninguém abriu a boca. Os famosos provavelmente porque tinham seus próprios esqueletos no armário, mas a maioria eram pessoas comuns sofrendo dessa incapacidade de proteção diante da celebridade.

É poder demais para se dar na mão de uma pessoa média, e mais ainda se para chegar nesse poder o cidadão precisou se comportar de forma sociopata. O ser humano tende a ser muito pior quando acredita que não vai ter consequências negativas pelas suas ações. É juntar gente vulnerável com gente que não entende mais o conceito de autocontrole.

Eu não sei como criar na sociedade um programa de controle do vício em idolatria, especialmente porque seria quase impossível começar algo assim: as religiões dependem desse vício para funcionar. Mas eu sei que com tanta comunicação em tempo real e com o advento de inteligências artificiais para simular relacionamentos, tem uma tempestade se formando no horizonte. Esse desequilíbrio de poder entre o cidadão comum e a celebridade coloca ovelhas e lobos no mesmo cercado, e ninguém parece estar preocupado com as consequências.

O ser humano pode até lidar com mitos relativamente bem, mas ídolos são muito mais preocupantes, especialmente numa era onde qualquer pessoa pode se colocar nessa posição. Adoração à distância meio que funcionou até aqui, mas e quando os ídolos estão todos próximos? E quando puderem conversar pessoalmente com mil pessoas ao mesmo tempo (IA)? Nunca testamos a humanidade com tantos lobos tão próximos das ovelhas ao mesmo tempo. Eu acho que não vai dar certo.

Só espero que casos como esse abram mais os olhos das pessoas sobre como celebridades podem ser perigosas. Mas é mais provável que só achem que o seu ídolo é diferente e continuem buscando a próxima dose. São todos pessoas, nada mais do que pessoas. E considerando a posição que estão, é importante desconfiar e muito se são boas pessoas. Desconfie muito de celebridades. E se possível, não idolatre ninguém, é um vício menos escandaloso que os outros conhecidos, mas tem todos os indicadores de um.

Para dizer que é meu fã (que bom que eu sou anônimo), para dizer que por você trazemos de volta as guilhotinas, ou mesmo para dizer que Diddy vai ser suicidado logo logo: comente.

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Comments (8)

  • O mundo pop (e aqui se incluem também vários outros gêneros que bebem do pop hoje, até mesmo o rap e hip hop, r&b e afins) me cansa com todas essas polêmicas inúteis, e que a meu ver, são só pra gerar cliques e comentários em redes sociais. Me irrita também o fato de que a apreciação musical propriamente dita (que, diga lá, nem existe mais hj em dia) esteja tão atrelada a essas polêmicas e à vida dessas grandes personalidades e figuras mídiaticas.

    No mais, concordo com com o Somir que idolatrar alguém demais chega a ser um vicio, e diria também, chega a mostrar uma imensa falta de personalidade, pra não dizer também carência e necessidade de se apoiar numa imagem do outro que não é a sua, e que é bem difícil de alcançar. Triste perceber que muita gente pauta sua vida assim, projetando coisas e ideais nos outros.

    • “O mundo pop (e aqui se incluem também vários outros gêneros que bebem do pop hoje, até mesmo o rap e hip hop, r&b e afins) me cansa com todas essas polêmicas inúteis, e que a meu ver, são só pra gerar cliques e comentários em redes sociais. Me irrita também o fato de que a apreciação musical propriamente dita (que, diga lá, nem existe mais hj em dia) esteja tão atrelada a essas polêmicas e à vida dessas grandes personalidades e figuras mídiaticas.”

      Até porque, só na música mesmo (técnica, talento, inventividade, originalidade), nenhum desses se garante…

  • Tendo em vista as tretas do meio rapper dos anos 90 (tempos de Gangsta Paradise), isso NÃO me traz nenhuma surpresa.

  • Até minha tia ficou de cara com isso e comentou ” será mesmo que um negro está fazendo isso?” Pois é, negros e mulheres são santos na opinião da maioria. Também acho que vão suicidar o Didi, senão mais gente “de bem” vai pelo ralo junto com ele. Eu não leio os desfavores da semana, só o top des, mas vou pesquisar que as mulheres andam fazendo pra jogar na cara dessa minha tia.

  • Eu consigo entender admiração por excelentes artistas e até sinto bastante, mas nunca consegui entender o que é ser fã. Idolatrar uma pessoa nunca me pareceu muito saudável, soa um pouco carente até.

    O advogado do Diddy disse que ele tinha tanto óleo de bebê em casa por só gostar de fazer compras em grande volume no mercado Costco. Um dos porta-vozes do Costco anunciou, no mesmo dia, que a rede não vende aquele óleo de bebê em nenhuma de suas lojas, nem nos EUA e nem em lugar nenhum do mundo.
    Acho muito difícil todos os envolvidos serem presos, mas espero que percam tudo o que têm durante o processo.

  • Esse tipo de situação é um indicativo do quanto negros são iguais aos brancos, ou de como mulheres são iguais aos homens, ou ainda de como os LGBTQIALSD são iguais aos héteros.

    Todos podem escolher fazer o bem ou o mal, de oprimir seus próximos ou de recuar do poder e dos holofotes. Todos possuem capacidade de raciocínio para isso. Todos podem sofrer com falta de empatia e terem as mesmas limitações morais. Até os desejos são os mesmos: adulação, sair impune, se sentir um semideus.

    Acreditar que uma mulher, negro ou gay não possa ser uma pessoa má ou que sempre é vítima mesmo quando pega no erro, ou que tem que “pegar mais leve” com ela, é preconceito benevolente.

  • Fazer parte de uma minoria jamaaaaaais foi ou vai ser atestado de caráter. E quem acha que deveria ser julgado(a) com menos veemência por ser minoria deveria tomar vergonha na cara

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