Odor com cor.

O Desfavor é um blog sério para gente séria.

Tema de hoje: se colocassem na água uma substância que fizesse os peidos de todo mundo virarem uma nuvem cor-de-rosa, você seria a favor ou contra?

SALLY

Você seria contra ou a favor uma medida que coloque na água uma substância completamente inofensiva para a saúde, mas que faça uma nuvem rosa sair do cu de quem peida?

Questão relevantíssima a de hoje, não é mesmo? E sim, eu escolhi esse tema.

Totalmente a favor dessa medida. Quer privacidade? Peide longe dos outros. Seu direito à privacidade não pode ser argumento para violar os direitos alheios. Um sequestrador não pode impedir que entrem no cativeiro para resgatar um refém pedindo respeito à sua privacidade, pois ele está fazendo um mal a outra pessoa, violando os direitos dessa outra pessoa.

“Mas Sally, não é a mesma coisa”. Jura? Olha só, parece que tem um Sherlock Holmes lendo o Desfavor! Obviamente eu entendo que um sequestro e um peido não são a mesma coisa assim como entendo que peidar não é crime, entretanto, não é preciso que algo seja grave ou seja crime para que se tomem medidas para desencorajar essa conduta quando ela causa algum dano às pessoas.

Por exemplo, caixinha de som em ambientes públicos, como praias, são proibidas em diversas localidades. Ouvir música não é crime. Ter um mané ao seu lado ouvindo música alta não te coloca em nenhum risco grave. Mas torna a convivência difícil, é desagradável, portanto, ficou estabelecido que é proibido, sendo possível inclusive chamar força policial para obrigar a pessoa a parar com a música.

Se você parar para pensar, a proposta aqui é até mais branda, não é como se viesse um guarda e grampeasse o seu cu. Ninguém vai perder o direito de peidar, o que se perde é o direito a peidar anônimo. Assuma seus B.Os, assuma seus peidos.

Ainda continua sendo uma sagrada escolha da pessoa peidar perto dos outros ou não, ela que arque com a nuvem rosa que sairá do seu cu. Não quer passar vergonha? Olha que simples, basta se afastar das pessoas na hora de peidar, que é algo que já deveria ser feito normalmente.

Esse é o ponto: pessoas bem-educadas não vão se incomodar com esta medida, pois elas já se afastam dos outros quando vão peidar, não faria qualquer diferença em suas vidas. “Mas Sally, e situações nas quais a pessoa não pode se afastar, como por exemplo, pessoas acamadas?”. Nesse caso é possível pedir para que os demais saiam do quarto. Sempre tem um jeito, só peida no nariz do outro quem não tem educação.

“Ain mas a privacidade…”. Amigo, vamos combinar que a própria mãe natureza se encarregou disso. Se ela quisesse que peidos passassem desapercebidos, não teria colocado nem barulho nem cheiro. Se você peidar, vai ter um dos dois, se não ambos. Um peido não passa despercebido, só sua autoria. E isso dá margem para covardias, para peidar em grupo e sair impune. Podem me internar em um hospício no dia em que eu defender a impunidade de uma falta de educação.

Não é como se estivéssemos removendo algum direito. Não é como se a sociedade pensante te assegurasse o direito de peidar onde você quer. É socialmente reprovado. Esse direito não existe, é simplesmente absurdo advogar por um direito que não existe! O que existe é malandragem, jeitinho, dissimulação para fazer algo socialmente reprovável e tentar jogar a culpa em outra pessoa. E eu sou contra essa premissa.

Quem rouba um real ou quem rouba um milhão de reais é ladrão igualmente. Quem mente, manipula ou usa malandragem para imputar aos outros a culpa por aquilo que fez é desonesto da mesma forma. A favor de que as pessoas comecem a assumir as consequências dos seus atos: jogou coliformes fecais do seu intestino no ar e eu tive que cheirar? Muito que bem, que a autoria desta falta de educação seja pública.

“Ain Sally você é chata”. Sim, é bem esse o nome que se dá no Brasil para quem faz a coisa certa e cobra que façam a coisa certa. Chato, meu amigo, é o peidorreiro que deveria ter essa atitude humana de se afastar dos demais antes de peidar e não o faz, obrigando a que medidas como esta sejam necessárias. Francamente, a pessoa que não quer cheirar a merda alheia é chata agora?

“Mas Sally, e se a pessoa tem uma doença que peida muito, isso não acabaria estigmatizando-a?”. A doença impede a pessoa de se afastar de outras pessoas também? Pode peidar muito, só sai de perto quando o fizer. Mas, supondo que exista um caso super excepcional no qual de fato se estigmatizaria a pessoa, toda regra pode ter uma exceção, como de fato a lei brasileira prevê para quase todas as suas regras.

Não estamos falando de situações especiais, estamos falando da regra geral, daquele filho da puta que não pode esperar dez segundos para sair do elevador e peidar, daquele mal-educado que tem o desplante de não levantar o cuzinho da cadeira e ir banheiro peidar no seu ambiente de trabalho, obrigando os colegas a aspirarem seu cheiro a merda. Para esses, nuvem rosa.

Desculpa, mas povo mal-educado se trata assim, com normas que obriguem as pessoas a se policiarem e fazerem a coisa certa, até que isso se torne um hábito e seja reproduzido por repetição pelas próximas gerações.

“Mas Sally, você mesma diz que não se educa com humilhação e castigo”. Não tem nenhuma humilhação e castigo imposta, a pessoa só peida ao lado dos colegas se quiser. Ela tem a opção.

Peidar é um risco, já em sua forma original. Pode acabar saindo um barulho traiçoeiro que vai te humilhar, pode ter um cheiro tão forte que desperte uma comoção e caça às bruxas no entorno ou a pessoa pode até mesmo se cagar. Então, não me venham com essa conversinha chorosa sobre perder direitos, sobre privacidade e sobre humilhação.

Se tem algo que essa medida causaria é reduzir a humilhação, pois obrigaria as pessoas a peidarem longe da sociedade, como tem que ser, impedindo, entre outras coisas, que ela seja vítima de um barulho de lambreta vexatório ou que se cague nas calças em público.

Francamente, só fica contra esta medida quem tem por hábito peidar nas proximidades de terceiros. Uma ótima semana para todos nós.

Para dizer que o brasileiro criaria uma máscara anal para burlar isso e ele seria vendido em camelô, para dizer que está rindo pela forma como levamos assuntos ridículos a sério e assuntos sérios ao ridículo ou ainda para dizer que essa última frase minha te constrangeu de deixar sua opinião nos comentários (não seja criança): comente.

SOMIR

Contra. Eu não preciso gostar do que você diz para ser a favor de liberdade de expressão, eu não preciso gostar de cheiro de peido para ser a favor de privacidade e direito ao anonimato. Sim, é irritante e nojento que pessoas peidem próximas umas das outras, mas a coisa vai muito mais fundo… do que uma mera nuvem de gás anal, incolor ou cor-de-rosa.

Eu vivo dizendo aqui que não é só porque uma coisa parece certa que ela é certa, e que tem portas que não se abrem. As portas do cu com certeza seriam mais agradáveis se fechadas em público, mas não as do nosso sagrado direito de não nos destacarmos se não quisermos.

Sally está preocupada com o agora, eu estou preocupado com o desenrolar desse tipo de ideia. Sim, parece inofensivo ter apenas uma indicação momentânea de quem peidou perto dos outros, mas são nessas pequenas inofensividades que se começa a flertar com ideias muito mais perigosas.

Provavelmente o número de peidos públicos diminuiria por um tempo (mais sobre isso depois), e isso criaria um reforço positivo na mente das pessoas sobre marcar visivelmente quem as incomoda de alguma forma. Se existe a tecnologia de forçar as pessoas a se denunciarem quando peidam, existe a tecnologia para criar vários outros tipos de marcas visíveis de acordo com o que o corpo de cada um está fazendo.

E quem topou essa invasão colorida da sua privacidade talvez nem perceba quando começarem as próximas. E se quem estiver com o desodorante vencido ficar meio azulado? E se quem estiver gripado ficar com um símbolo na testa? E se passarem uma lei que muda a cor desse símbolo se você tiver descendência africana? Com certeza vai ter uma defesa bem razoável para o bem coletivo a cada uma dessas intervenções.

E eventualmente, você vai se tornar um perfil de Tinder ambulante, cheio de informações sobre você, mas sem a oportunidade de controlar essas informações. O ser humano é uma praga quando abre essas portas. A gente gosta de ter informação sobre o outro na hora de interagir, e isso pode turbinar todos os seus preconceitos quanto mais “especializada” for a imagem daquela pessoa.

O peido é ruim, mas é um grande unificador. Todo mundo peida. Justamente por causa dessa universalidade que ficamos em dúvida sobre quem praticou o terrorismo anal. Eu sei que vai parecer maluco dizer isso, mas o peido é algo que nos faz enxergar o outro ser humano como ser humano. A nuvem cor-de-rosa adicionaria uma camada lúdica em cima do ato que nos distanciaria dessa ideia. Quanto menos humanidade você enxergar no outro, pior o mundo fica.

Eu quero que as pessoas aprendam a não peidar perto de outras, mas não quero que o preço seja abrir uma porta para identificação visual do outro, uma caracterização que deixa o outro diferente demais. Começa na nuvem rosa, termina em faixas com estrelas de David. O ser humano é uma merda desse jeito. A gente precisa controlar o ímpeto de criar essas divisões se quisermos um futuro menos… merda.

E essa era a parte ideológica da coisa, porque minha previsão para os resultados reais da medida são ruins até mesmo para o problema que em tese corrigiria: eventualmente seria mais fácil aceitar a nuvem colorida do que ter todo o trabalho de esconder seus peidos. O ser humano segue pelo caminho do menor esforço.

Seria vergonhoso no começo, mas quando você percebesse que qualquer lugar fechado estaria da “nova cor” do peido, você perderia muitas de suas restrições. O ser humano médio peida constantemente. São litros e litros de gás emitidos. Vocês não tem ideia de quanto peido tem nesse mundo. O motorista do ônibus precisaria usar um óculos para filtrar luz rosa para poder dirigir. Todo comércio teria uma aura cor-de-rosa.

Quando o humano médio perceber que só espaços muito abertos não estão coloridos com peidos, ele perderia totalmente a inibição. A verdade é que a maioria da flatulência do mundo é quase inodora. Quase. Porque sim, seu nariz já se acostumou com cheiro de peido e filtra a “radiação anal de fundo” que permeia todos os ambientes fechados.

Talvez nos primeiros meses tivéssemos muita gente envergonhada peidando longe dos outros, mas quanto mais cor-de-rosa ficasse nosso mundo (tem gente que não se controla ou simplesmente não liga), mais normalizado seria peidar em público. Eu argumento que ao VER quanto se peida de verdade nesse mundo, o cidadão médio perderia a pouca inibição que tem.

Se você está num ambiente com umas 20 pessoas, é quase certeza que não passa um minuto sem um peido ao seu redor. Sally não está fazendo as contas sobre a quantidade avassaladora de gases que as pessoas realmente soltam diariamente.

Então, ideologicamente eu sou contra qualquer tipo de “marca” em pessoas por coisas que são inatas (como peidar), mas na prática daria errado mesmo, porque as pessoas peidariam muito mais, seu nariz começaria a filtrar mais e o grau de tolerância subiria. Se você quer um mundo com mais peidos, claro, deixei colorido. Mas eu não quero. O mistério nos protege.

Para dizer que finalmente um tema importante, para me chamar de peidorreiro (a palavra não foi corrigida… ela existe mesmo!), ou mesmo para dizer que seria viadagem demais: comente.

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Comments (10)

  • A favor da fumaça rosa, se possível, para peidos mais leves.

    Uma ideia mais radical seria como aquelas bombas de tinta rosa que inutilizam cédulas na tentativa de roubo de caixas eletrônicos, para quem soltasse aquele peido com dolo eventual.

    Assim, se a pessoa peidasse, soltaria uma bomba de tinta rosa que mancharia a princípio apenas a roupa de baixo.

    Caso essa pessoa quisesse se sentar, a mancha se espalharia pelo resto de suas roupas (e pernas, a depender do vestuário), sem chance de ser limpa de novo. Assim como sua honra.

  • Isso estragaria relacionamentos, porque quando eu peidar não vou poder botar a culpa no cachorro. Além do que rosa é cor de mulher e pra homem tinha que ser azul ou então escolhesse uma cor neutra.

  • Contra. Deixa eu peidar no anonimato. Homens não prendem peidos. Pergunta pro Alicate se ele segura peido. Já chega o Google me rastreando, agora ainda querem rastreamento de peidos? Felizmente isso é impossível de fazer, senão eu seia contra.

    • O Alicate, para mim, é um modelo reverso a ser seguido: o que quer que ele faça, deve ser feito o contrário para um mundo civilizado.

  • Cantando sobre a melodia de “Twist And Shout”, dos Beatles:

    “Não peide aqui, baby (não peide aqui, baby)
    Num é legal (num é legal)
    Olha só o cheiro disso, mulher (cheiro disso)
    Parece até bacalhau (bacalhau)
    Isto saiu de seu cu? (De seu cu)
    Ninguém mandou tu bufar (tu bufar)
    Agora respira sozinha (respira sozinha)
    Ninguém mandou tu peidar (tu peidar)
    Uh
    Uh
    Ah, ah, ah, ah, au
    Não peide aqui, baby (não peide aqui, baby)
    Num é legal (num é legal)
    Olha só o cheiro disso, mulher (cheiro disso)
    Parece inté bacalhau (bacalhau)
    Isto saiu de seu cu? (De seu cu)
    Ninguém mandou tu bufar (tu bufar)
    Agora respira sozinha, desgraçada (respira sozinha, desgraçada)
    Ninguém mandou tu peidar (tu peidar)
    Uh
    Uh
    Vamo lá, galera
    Ah, ah, ah, ah, ah….”

    https://www.youtube.com/watch?v=eh3WqDLPwSo

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