Injustiça.

Uma reportagem publicada na tarde desta terça-feira (13) pela “Folha de S.Paulo” afirma que o gabinete do ministro do STF Alexandre de Moraes usou mensagens, de forma não oficial, para ordenar que a Justiça Eleitoral produzisse relatórios sobre a atuação de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro. Documentos que, depois, embasaram decisões do ministro no inquérito das fake news no Supremo. LINK


Sua opinião sobre justiça não deveria mudar de acordo com o acusado. Desfavor da Semana.

SALLY

Primeiramente: esqueçam impeachment de Alexandre de Moraes. Não vai acontecer. O que estamos vendo é uma moeda de troca: jogaram merda no ventilador para conseguir algo, esse algo será dado e o Ministro vai ficar impune. Não deixe que seu desejo te cegue para a realidade, ele não será punido.

Segundamente: nós avisamos. O desrespeito à lei e ao Estado Democrático de Direito não é de hoje, mas parece que as pessoas não se importam quando esse tipo de ilegalidade é perpetrada por uma causa que a pessoa acha justa. Se você passava pano e agora condena, você é um imbecil. Se você condenava e agora passa pano, você também é um imbecil tão imbecil quanto o imbecil anterior.

Agora vamos ao tema em si. No Brasil, a lei é cheia de brechas, pode ser distorcida, interpretada para favorecer e usada para defender interesses pessoais. Sempre foi assim. E aqui nós temos dois caminhos que podem ser tomados: entender que é errado dar jeitinhos, fazer as coisas fora da estrita legalidade e condenar qualquer mijada fora da bacia OU entender que vale a pena flexibilizar um pouco as coisas pois na atual dinâmica social as mudanças acontecem tão rápido que seria impossível que a lei acompanhe.

Eu, pessoalmente, acho que não tem que mijar um milímetro fora da bacia, pois a coisa pode caminhar para abusos em um crescimento exponencial, mas esse nem é o ponto. A lei ordena que seja feito assim, sem flexibilidade. Você tem o direito a discordar da lei? Claro, porém isso não te exime de cumpri-la e se discordar dela, tem que discordar em todos os casos.

Se você acha que tudo tem que ficar dentro da estrita legalidade, tem que ser a favor da anulação de qualquer processo que desrespeite essa premissa, seja ele para punir Lula ou Bolsonaro, para punir petista ou bolsonarista. Por outro lado, se você acha que é admissível alguma flexibilização, tem que considerar todos os processos que podem ter sidos flexibilizados como válidos, inclusive as condenações do Lula e dos bolsonaristas.

O que não pode é defender ferrenhamente um ponto quando ele beneficia seu político de estimação e meter um “veja bem, é diferente” quando prejudicar o seu político de estimação. Não, não é diferente. São apenas situações diferentes, a norma é a mesma, o rigor no procedimento é o mesmo, as consequências têm que ser as mesmas.

E é preciso ter a consciência de que o fato de você discordar da lei não autoriza a que ela seja desrespeitada. Se querem uma sociedade minimamente decente e sem abusos, é preciso zelar pela lei, ainda que discordando dela. Não concorda? Utilize as vias corretas para tentar mudar essa lei, em vez de aplaudir quem pisoteia a lei.

Quando você manda investigar partindo da pessoa, e não de um ilícito, está mijando fora da bacia. Quando você desgosta de alguém ou quer prejudicar alguém e manda levantar a vida toda da pessoa em busca de algo que possa justificar um processo, não se está seguindo a lei. Quando se manda investigar e não se encontra nada e se escuta “use sua criatividade” de quem deveria ser imparcial e zelar pela lei, é hora de se preocupar. Meus queridos, não tem ginástica argumentativa que valide isso. Isso é perseguição.

“Mas Sally, é normal, esse tipo de fala e ordem sempre acontece nos bastidores”. Ok, é um ponto válido, pois realmente o Judiciário funciona desta forma. Não deveria, mas sabemos que funciona. Só que se você entende que esse tipo de flexibilidade não basta para configurar um problema, então não basta para anular os processos contra o Lula também. Pode jogar de volta na cadeia. Não, não é diferente, sinto muito. E mesmo que funcione desta forma, está errado, tem que se mexer para mudar isso, para fazer com que Executivo, Legislativo e Judiciário saibam que o povo considera isso inaceitável.

Quando um juiz ordena que o seu gabinete levante a vida das pessoas, produza relatórios que as incriminem e até que altere fatos e datas para embasar a sua decisão judicial que vai condenar alguém, há abuso. Há ilegalidade. Por mais que você ache que as pessoas que foram condenadas mereciam pois realmente eram culpadas e cometeram crimes, o fato de terem sido condenadas desta forma tem que ser repudiado e a pessoa que arquitetou isso não tem qualquer condição de se manter em nenhum cargo de poder. É imoral. É indecente. É ilícito.

A realidade hoje é essa: o Judiciário escolhe um alvo, alguém que fala mal deles, alguém que incomoda ao PT, alguém que incomoda algum amigo deles, e coloca seus funcionários para vasculhar a vida da pessoa até encontrar indícios que possam prejudicá-la. Depois essa pessoa é julgada com base nos indícios que o próprio juiz mandou encontrar, muitos deles severamente distorcidos e já entra no processo condenada, pois foi um processo criado exclusivamente para isso. São pessoas que não recebem um julgamento imparcial e isso vai contra tudo que existe de civilizado no mundo.

“Mas Sally, se a pessoa for inocente, não vão encontrar nada e nada será feito contra ela”. Você está esquecendo o fator Brasil. Juiz tem discricionariedade e livre convencimento. Se as provas forem forjadas, forem poucas ou forem falsas, ainda assim, o juiz pode se convencer e condenar, a pessoa que recorra depois. O juiz que quer condenar acha qualquer prova suficiente, inclusive uma testemunha que mente, um e-mail falso com denúncia ou um vídeo que nunca existiu. E todo recurso acaba no STF, ou seja, se o STF não for imparcial e quiser te condenar, você não tem para onde fugir.

Nós repudiamos Bolsonaro e bolsonaristas desde sempre, mas nos causa espanto ver tia que cagou na mesa de juiz pegando pena maior do que de as de crime de estupro e de homicídio. Nos causa espanto que tanto a polícia como os vídeos do aeroporto italiano provem que não houve qualquer agressão e a decisão ignorar estas provas. Nos causa espanto que pais sejam ameaçados de prisão se a filha postar algo em redes sociais.

Nos causa espanto que gente que fez brincadeira com a eficiência do governo diante das chuvas seja incluída em inquérito. Nos causa espanto que um juiz possa ser parte e julgador de um mesmo processo. Nos causa espanto que um juiz se sinta apto a absolver a si mesmo. Nos causa espanto que um juiz peça a uma rede social para remover perfis pelos quais ele antipatiza, sem decisão judicial nem processo e ainda peça que isso seja mantido em sigilo.

Bom, poderíamos ficar dez páginas dissecando todas as aberrações jurídicas já cometidas, mas não faz diferença, por aquele motivo de sempre: dissonância cognitiva. Quando é contra a pessoa que eu não gosto, acho tudo válido, afinal, a pessoa era culpada mesmo. Quando é contra uma pessoa que eu gosto, é um absurdo, um atentado à democracia e precisa ser punido. Assim fica difícil, Brasil.

“Todo castigo para Bolsonarista é bem-feito”. Eu concordo, o problema é que esse tipo de condução do Judiciário castiga um país inteiro junto. É uma afronta ao Estado Democrático de Direito, à democracia, às instituições. Não pode ser normalizado nem justificado, não importa quão feliz você fique com os resultados imediatos disso. Eu te garanto: no longo prazo você não vai gostar do que vai acontecer.

O exercício é o seguinte: pega o que o juiz fez e imagina que ele tivesse feito isso contra sua mãe, contra você, contra sua filha, contra seu amigo. Você acharia justo? Se não acharia, meu amigo, não passe pano. Os fins não justificam os meios. E um dia essa injustiça pode acabar chegando em você, ou beneficiando injustamente o outro lado que você não gosta.

Bem, como já dissemos no começo do texto, não haverá nenhuma punição formal para os envolvidos. O que não quer dizer que não existam consequências. Será necessária alguma moeda de troca: deixar a família Bolsonaro impune? Renunciar à regulação de redes sociais? Reverter a inelegibilidade de Bolsonaro? Não sabemos. Mas que vem troca, vem. Podem observar.

Vem troca e paranoia, afinal, como é que tanta informação veio a público? Tem alguém espiando, ou tem alguém vazando. E um passarinho verde me contou que vai vazar coisa pior. No aguardo. Tomara que não se feche o acordo antes do vazamento das coisas piores.

Alexandre de Moares vem cometendo atentados contra o Estado Democrático de Direito há anos, mas como era contra bolsonarista, todo mundo riu e achou graça. Não tem graça. Não tem a menor graça ver um Ministro da mais alta corte de um país promovendo perseguição, forjando prova e ameaçando com prisão quem fala mal dele. Em qualquer país sério esse sujeito já tinha sido retirado do cargo, mas o Brasil é o país do rabo preso.

Não importa contra quem, esse tipo de condução do Judiciário tem que ser inadmissível em qualquer país democrático. Pensem dez vezes antes de defender esse tipo de absurdo.

Para dizer que somos bolsonaristas (que saco), para dizer que Xandão vai mandar me prender (não sou assim tão relevante) ou ainda para dizer que Xandão vai mandar derrubar o Desfavor (espero que não sejamos assim tão relevantes): comente.

SOMIR

O parte mais difícil de tentar manter uma postura centrada é quando você se vê obrigado a defender os direitos de pessoas que não gosta. Esses blogueiros bolsonaristas são umas antas e/ou escrotos que realmente desinformam a população e pioram a já baixa qualidade do discurso político brasileiro. Que eles sejam responsabilizados não é uma coisa ruim.

Mas fazer isso na base do jeitinho é sim. Jeitinho que venta lá, venta cá. Eu considero uma doença mental coletiva essa mania de ver as coisas só no curto prazo, como se justificar algo errado que te beneficia agora não fosse receita de desastre no futuro.

Eu ainda tenho uma putez enorme com Sergio Moro, Deltan Dallagnol e cia. pelas besteiras que fizeram na Lava-Jato. Sim, era um bando de corrupto, inclusive o presidente atual do Brasil, mas esse povo começou a pegar atalhos e misturar desejos pessoais de poder com seu trabalho e deixou a brecha necessária para desfazer um dos movimentos anticorrupção mais valiosos da nossa história.

O preço do jeitinho lá foi a volta da bandidagem toda, e aproveitaram o ensejo para enfraquecer vários dos mecanismos para pegar corrupto na virada de mesa. Os bandidos ficaram mais fortes porque a forma de combatê-los não foi correta. Então, mesmo que no caso de achar esses blogueiros bolsonaristas uns merdas que nem o Alexandre de Moraes acha, eu não posso ser imbecil de concordar que dessa vez vale a pena quebrar as regras.

Não precisa nem querer ser arauto da correção e se dizer idealista, por um ponto de vista frio, calculista e estratégico, cada um dos jeitinhos que o sistema dá para pegar um desafeto dá uma chance para reverter o jogo depois. Parece atalho, mas é só um retorno. Pior, um retorno que te coloca ainda mais atrás na estrada do que estava antes.

Típica burrice de quem só pensa no curto prazo ou típica esperteza de quem só está pensando no próprio benefício. E com a união dos poderes de um povo que não pensa no futuro e de políticos que sabem disso, vamos mantendo esses ciclos de esperança e fracasso intermináveis. Evidente que o Brasil é assim.

E existe uma solução testada e aprovada para controlar esse combo maligno: seguir a porcaria da lei. É chato, é restritivo, mas funciona agora e vai funcionar no futuro. Se você pegar os corruptos sem dar jeitinho, eles tem muito menos chance de escapar. Se você fizer essa gentalha bolsonarista pagar o exato custo legal de suas ações, fica menos vantajoso para eles continuarem explorando o gado.

Não é perfeito, porque nada vai ser perfeito, mas é estável. E como eu vivo dizendo nos meus textos: coisas bem-feitas de forma estável acumulam. Não se arruma o Brasil em um ou quatro anos, mas as coisas melhoram significativamente se a gente não ficar se sabotando dia sim, dia também. É um dos poucos países do mundo com recursos para aguentar os próximos séculos com tranquilidade. Mas o povo não se aguenta, tem que fazer besteira imediatista para ficar se sabotando.

Parece aqueles testes que fazem com crianças: ela recebe a escolha de ganhar uma bala agora ou cinco daqui a 15 minutos. Quanto mais nova a criança, mais ele escolhe uma bala agora. O brasileiro médio fica escolhendo a bala agora, toda vez. Você quer ver um imbecil se fodendo agora ou cinco daqui a 15 minutos? Surpresa: se você escolher um se fodendo agora, ele e os outros cinco escapam daqui a 15 minutos.

Não adianta fazer as coisas assim. Goste ou não. Pessoas como Alexandre de Moraes em tese são capazes de enxergar isso, mas como provavelmente acham que o país é uma bandalheira mesmo, preferem sacanear o desafeto agora para ter alguma coisa. Pode ser ego, pode ser algum esquema nefasto, pode ser um monte de coisa, mas duvido que seja a limitação média do brasileiro. Essa gente sabe o que está fazendo e escolhe a via do jeitinho para gratificação imediata por motivos que não ficamos sabendo.

Sabendo que não vai dar em nada no futuro. Mas, o futuro de quem só pensa nos próprios interesses não pertence a ninguém: amanhã eles podem estar querendo defender o outro lado. Melhor demonstrar poder agora para poder negociar melhor amanhã.

Excelente que o juiz tenha colocado vários limites no golpismo maluco dos bolsonaristas, mas isso nunca quis dizer que ele estava do lado da democracia. Só que o adversário da vez queria melar o sistema eleitoral, e o melhor jeito de pegar o adversário da vez era defender o sistema eleitoral. Nunca confunda interesses convergentes com ideais convergentes.

Xandão e Lula adoram um autoritarismo, só não querem que se volte contra eles. O fato de Bolsonaro e seu clã também gostarem não torna válido entregar poder para eles. Grandes coisas trocar um inimigo da liberdade por outro, o resultado vai ser sempre essa roleta russa de torcer para o poderoso da vez concordar com o que você diz.

Não me espanta que tantos tenham vindo defender Alexandre de Moraes: colocar limite nele é forçar o sistema a fazer as coisas direito, pensando no futuro. E a maioria das pessoas no poder nesse país querem mesmo é poder resolver seus problemas agora. O futuro é problema da próxima administração, depois que eles já estiverem ricos e não dependerem mais do Estado.

Defenda até mesmo quem você não gosta de quem abusa do sistema, porque o sistema pode se voltar contra você a qualquer momento, e você não vai gostar de descobrir que não tem como escapar dele…

Para dizer que o futuro não existe, para dizer que o crime dele é amar demais, ou mesmo para dizer que poderiam censurar a internet toda: comente.

Se você encontrou algum erro na postagem, selecione o pedaço e digite Ctrl+Enter para nos avisar.

Etiquetas: , , , ,

Comments (2)

  • A chance do Xandão sofrer qualquer tipo de sanção é negativa, mas se viesse a sofrer, não seria por causa do congresso. O Conselho do Mal sabe que se algum deputado ou senador começar a fazer gracinha é só ameaçar desengavetar algum inquérito do sujeito ou então de algum graúdo do congresso que eles ficam quietos.

    Aposentar o Lex Luthor só aconteceria se o escândalo dele crescesse a ponto de começar a reverberar demais no exterior e repercurtir por mais tempo do que o tolerável no Cupretil mesmo com a imprensa defendendo o que consegue e abafando o que não consegue.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Relatório de erros de ortografia

O texto a seguir será enviado para nossos editores: