Aparentemente o C.U. ficou fã da série sobre a Bíblia que a Sally fez. Tão fã que ele pediu um texto especial falando da escritura sagrada… mas com o Alcorão no lugar. Então, desde já agradeço a vocês a atenção e os comentários nesses últimos 15 anos, porque eu não devo durar muito tempo vivo depois de falar o que penso sobre as escrituras sagradas dos islâmicos…

O que o nosso leitor terrorista não estudou antes de me sugerir o tema é que a religião muçulmana é basicamente uma fanfic do judaísmo e do cristianismo (que é fanfic do judaísmo). Os mitos de criação e boa parte da história contada no Velho Testamento são as mesmas. Tanto que o Alcorão parte do princípio que você já sabe sobre Adão, Moisés, Abraão e cia.

Resta-me fazer uma espécie de Desfavor Explica sobre o Alcorão, porque a história geral você já conhece ou vai conhecer nos textos da Sally sobre o livro inventado dos cristãos.

O que é o Alcorão?

O livro é uma coletânea de “revelações” “recebidas” de “Deus” por Maomé, o profeta da religião islâmica. Maomé decidia que tinha ouvido seu deus falando alguma coisa para ele e começava a repetir ou a escrever. O Alcorão foi escrito em etapas, cada vez que dava na telha de Pil… Maomé, ele dizia alguma coisa nova e escrevia (ou escreviam para ele) no material disponível na hora. Dizem que o original estava em pergaminhos, panos, pedras e até mesmo costelas de animais…

Ou em bom português, Maomé era um líder carismático que convenceu as pessoas ao seu redor que ouvia a voz de Deus e ia inventando as coisas na hora de acordo com sua conveniência. Se você ler o Alcorão, vai ver como as coisas não tem muita ordem, é claramente alguém falando o que dava na telha a cada momento.

Tanto que se você não conhece as histórias dos povos do Oriente Médio (que viraram o livro sagrado judaico e cristão), fica perdido. Adão aparece do nada nas escrituras, Moisés e o resto dos famosos bíblicos também. Fanfic da braba: é uma história do Harry Potter que nem explica quem é Harry Potter, você tem que ter lido o livro original para saber o que está acontecendo.

A ideia geral é que Maomé é o último profeta do verdadeiro Deus, o que veio para explicar as regras reais e fazer uma revisão do que se dizia antes. Os muçulmanos reconhecem Jesus como um profeta, mas dizem que ele estava com a versão antiga da palavra de Deus, a nova e correta é a deles, dita por Maomé. Já me deixa confuso, porque o deus dos muçulmanos também deveria ser perfeito, esse lance de ficar mudando de ideia não combina, né?

O argumento que Maomé foi inventando na hora fica muito forte quando logo no primeiro capítulo do Alcorão começa a falar sobre o que é sagrado ou não na hora de pegar mulher divorciada… você começa a ler, e logo na página 17 (versão traduzida) já está falando de divórcio? Cidadão estava louquinho para resolver esse problema.

“Vossas mulheres são vossas semeaduras. Desfrutai, pois, da vossa semeadura, como vos apraz; porém, praticai boas obras antecipadamente, temei a Deus e sabei que compareceis perante Ele.”

Essa parte vem ANTES de:

“Observai as orações, especialmente as intermediárias, e consagrai-vos fervorosamente a Deus.”

Ou seja, Deus achou relevante falar primeiro para Maomé que mulher era para ser desfrutada, e dias depois lembrou de falar sobre orações. Curioso como as prioridades do ser mais poderoso do universo são parecidas com as do seu profeta, não?

E aparentemente Maomé não tinha boa memória, a quantidade de vezes que as mesmas coisas são repetidas páginas depois é impressionante. Só nos primeiros capítulos, as mesmas frases são repetidas em ordens diferentes umas 100 vezes. Eu já entendi que debaixo dos jardins do Paraíso correm rios, precisa repetir essa informação cinco vezes por página?

Não tinha um para dizer para ele: “Maomé, você já disse isso…”, ou talvez Deus já estivesse meio gagá naquela época. Coitado do Maomé, imagina ficar ouvindo seu deus repetindo as mesmas coisas sem parar na sua cabeça, numa vibe meio Biden? “Maomé, diz para eles que tem rios correndo debaixo dos jardins”. Maomé, sem graça, repetia… cinco minutos depois, Deus Biden começava de novo: “ah, Maomé, tem rios correndo debaixo dos…”

Ah, eu sei por que tanta gente é muçulmana: tem um capítulo só para cagar regra sobre mulher. Se você quer defesa teológica para controlar as fêmeas da espécie, é um festival! Sim, eu li o capítulo, eu sei que se você levar a sério não é para maltratar mulher como fazem no islamismo fundamentalista, mas é uma baita de uma brecha para abusos separar mulher num capítulo próprio.

“Quanto aos fiéis, que praticam o bem, introduzi-lo-emos em jardins, abaixo dos quais correm rios, onde morarão eternamente, onde terão esposas imaculadas, e os faremos desfrutar de uma densa sombra.”

Não sei de onde tiraram as 72, mas são imaculadas. O cristianismo te promete anjinhos, o islamismo te promete várias mulheres. É por isso que funciona. Eu não sei o que acontece com mulher na mesma situação, será que morre, fica virgem de novo e é enviada para um homem? E que mania de falar sobre os rios abaixo dos jardins!

Mas eu achei meio sacanagem dizer que Deus perdoa se você não conseguir tomar um banho antes de transar com sua mulher. Tem o trabalho de explicar que é sagrado passar uma água antes de “desfrutar” dela, mas logo depois diz que se for muito trabalho, de boas? Achei sacanagem com elas.

E… logo depois Maomé para de falar de mulheres e começa uma longa série repetitiva de falas sobre quando pode ou não matar o amiguinho e um bloco enorme sobre herança. Deus Biden deve ter esquecido que mandou chamar o capítulo de “As Mulheres”.

No capítulo seguinte, que deveria ser sobre o que pode comer ou não, Deus Biden esquece de novo sobre o que estava falando e começa a falar sobre jogos:

“Ó fiéis, as bebidas inebriantes, os jogos de azar, a dedicação às pedras e as adivinhações com setas, são manobras abomináveis de Satanás. Evitai-os, pois, para que prospereis.”

Eu acho saudável proibir bebidas e jogos de azar, mas as adivinhações com setas? Sacanagem. Eu não sei o que é uma adivinhação com seta, mas parece um jogo interessante. Se bem que Deus gagá pode estar confundindo com alguma outra coisa. Seja como for, podemos ficar tranquilos que não vai aparecer nenhuma Alah Bet.

Deus Biden e o pobre Maomé passam vários capítulos repetindo as mesmas coisas sem parar, de cada 10 versos, 9 são sobre como essa versão da escritura sagrada que é a certa. Um padrão para a maioria dos textos sagrados. Mas quando começam a falar sobre a criação do mundo (fora de ordem, eu sei, mas deixa o velho gagá em paz!), eu achei interessante essa parte:

“Criou o homem de uma gota de sêmen, e o mesmo passou a ser um declarado opositor.”

Finalmente alguém fala sobre como Deus criou o homem! Não foi mágica, foi falha no método anticoncepcional. O ser humano foi um erro, está nas escrituras. Quer dizer, eu acho que foi camisinha furada… porque a outra opção é ainda mais assustadora. Imagina cada vez que bater uma aparecem bilhões de filhos?

Ah, mais uma prova do Deus Biden gagá:

“O decreto de teu Senhor é que não adoreis senão a Ele; que sejais indulgentes com vossos pais, mesmo que a velhice alcance um deles ou ambos, em vossa companhia; não os reproveis, nem os rejeiteis; outrossim, dirigi-lhes palavras honrosas.”

Advogando em causa própria. Maomé pensou em conversar com Deus sobre a repetição e talvez escolher um candidato mais novo para o cargo dele, mas tomou essa na orelha para continuar transcrevendo.

A minha conclusão aqui é que é uma religião extremamente derivativa, com algumas boas ideias: caridade é um preceito fundamental e regra obrigatória para todo muçulmano. Já tem uma revisão com o conceito de divórcio, e tirando a forma como “esposas” e “gado” são usados em contextos muito parecidos, é bem menos terrível com as mulheres do que é praticado nos países mais radicais. O Alcorão é só uma parte do quebra-cabeças: desde a antiguidade, sempre teve gente analisando o material para criar “jurisprudências” religiosas que formam o grosso dos comportamentos horríveis dos muçulmanos vivendo sob teocracias violentas.

E digo mais: em tese a violência no Oriente Médio não é culpa do Alcorão, Deus Biden repete várias vezes que judeus e cristãos serão perdoados por ele se forem boas pessoas. Os muçulmanos reconhecem outros profetas e não precisam sair matando ninguém por causa de religião. Tem muita discussão sobre “etiqueta da guerra” no Alcorão, mas foram os muçulmanos que revisaram o conteúdo que criaram essa mentalidade de matar todo mundo que não é muçulmano.

Maomé, até onde eu percebi, tinha as noções de humanidade comuns na sua época, e parecia estar mais nessa pelas esposas do que por qualquer outra coisa. Inclusive as bem novas. Não é certeza que desposou uma menina de 9 anos, mas é algo presumido pelos registros históricos. Claro que é incômoda a ideia de que tinha gente consumando casamentos com meninas de 9 anos, mas a análise histórica sugere que não foi Maomé que inventou isso, e nem era algo tão estranho na época.

Como sempre nas religiões antigas, não é tanto sobre a mentalidade da época, porque as pessoas eram diferentes, é sobre como essas histórias chegam até o presente. Eu até posso argumentar que a religião muçulmana puxada para o secularismo seria até mais saudável que a contraparte cristã. Algumas coisas estão mais bem definidas na parte ética, até porque foi escrita em cima da base das religiões do Oriente Médio.

Claro, não ter um código de conduta para a vida escrito há milhares de anos atrás seria muito melhor, mas infelizmente ainda vai precisar de muito tempo até a maioria da humanidade vencer os contos de fadas.

O Alcorão é um amontoado de ideias que Maomé foi dizendo na hora, com provavelmente muita coisa adicionada na surdina nos séculos posteriores, afinal, só compilaram o livro depois de sua morte. Repetitivo, joga um monte de regras sem explicar muito bem o motivo, preocupa-se com questões bem mundanas para a suposta palavra de Deus, tem todos os vícios de pensamento da época sobre escravidão, preconceito e sexismo…

O que se convencionou chamar de fundamentalismo islâmico não é exatamente uma interpretação literal do Alcorão, como existem contradições entre ora ser justo e caridoso, ora ser escravagista e intolerante, os líderes religiosos mais podres escolheram tratar o Alcorão como uma sugestão e seguir mesmo as interpretações mais raivosas e restritivas de estudiosos islâmicos posteriores.

Achei um pouco menos chato que a Bíblia, mas porque o tempo todo eu fiquei imaginando Deus Biden repetindo coisas para Maomé, muito de saco cheio daquilo tudo e sonhando com mais e mais esposas.

Para dizer que não foi igual os da Sally, para dizer que tem o suficiente para me matarem, ou mesmo para dizer que o Oriente Médio foi um erro: comente.