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Gosto supérfluo.

Gosto supérfluo.

| Desfavor | | 38 comentários em Gosto supérfluo.

Ninguém consegue gastar dinheiro só com coisas extremamente úteis, nem mesmo os mais pobres. Pensando nisso, Sally e Somir gastam seu tempo discutindo sobre quais elementos não essenciais tem o melhor custo/benefício. Os impopulares compram a briga.

Tema de hoje: qual é o bem supérfluo em que mais vale à pena gastar dinheiro?

SOMIR

Games. Como boa parte da população economicamente ativa já é composta de gente que cresceu com videogames e jogos de computador, o preconceito sobre jogos serem coisa de criança ou desocupado já está relegado às pessoas mais… limitadas… da sociedade moderna. É uma forma de entretenimento estabelecida e uma indústria bilionária que sustenta muita gente.

Apesar de existir um mercado de gente que ganha a vida jogando, seja de forma competitiva ou como suporte para produção de conteúdo (streamers, influencers, youtubers, etc.), não se pode negar que par a maioria de nós é apenas diversão. Ninguém morre se ficar sem seus games, evidente que é supérfluo. Mas é um supérfluo que pode aumentar bastante a qualidade de vida e até mesmo a saúde mental das pessoas, se usado com moderação.

Estimula resolução de problemas, coordenação motora, pensamento lógico, imaginação, curiosidade… são diversos benefícios mentais que vem junto no pacote da diversão, claro, desde que não se torne um vício. Mas isso vale para basicamente tudo nessa vida, se chegar no ponto de viciar é claro que é um mau negócio para a pessoa.

Mas eu vou além dos benefícios dos games, porque isso eu já acho que a média do leitor do Desfavor já sabe. Eu quero argumentar sobre a parte de gastar dinheiro. Porque sim, eu sei que estamos no Brasil, o paraíso da pirataria. As pessoas não gastam dinheiro com games porque baixam ou compram por uma merreca no camelô.

E isso causa dois problemas: o primeiro e mais óbvio é o impacta negativo que isso tem nas pessoas que produzem os jogos. Pirataria é diferente de roubo, evidente, mas é furado o argumento que todo mundo que pirateia não poderia pagar pelo jogo. O brasileiro médio adora jogar dinheiro pelo ralo com roupa, cerveja, balada, celular, etc. Tem renda sobrando sim, só se convencionou que no caso dos games (e entretenimento em geral) é só piratear que não dá nada.

Isso faz com o que o mercado brasileiro seja basicamente inconsequente para a maioria das empresas que produzem games, faz com que o mercado se concentre só nos países em que se paga pelo trabalho de produzir um jogo e acabemos com a cultura desses lugares sendo representada. Não, não estou sentindo falta de saci-pererê nos meus jogos, estou falando sobre lacração. O mundo menos contaminado por “precisamos de mais mulheres feias nos jogos” é justamente o que menos dá dinheiro para a indústria dos games.

Se o brasileiro, o russo e similares não pirateassem tanto, os acionistas e os gerentes dos estúdios de games teriam mais força para barrar imbecilidades lacradoras ou mesmo fazer versões com menos palhaçada para nossos mercados. É mais ou menos o que acontece no mercado da China: o chinês não liga pra diversidade e política nos seus jogos, e como o mercado deles é financeiramente viável, o grau de lacração lá é basicamente nulo. Eles pirateiam, é claro, mas os jogos feitos para o mercado deles rendem dinheiro suficiente.

E não é que eu realmente me importe se as pessoas do meu jogo são brancas, pretas ou verdes, é que como vimos em Hollywood, parece que a busca por mensagens políticas coloca gente MUITO RUIM no que faz para tocar os projetos. Checadores de privilégios profissionais ocupando lugar de gente que entende a parte mecânica do trabalho. O problema da lacração na indústria do entretenimento é que a qualidade técnica do trabalho caiu. Simples assim. Lacração bem-feita fura a bolha e dá lucro. Lacração malfeita desperdiça o tempo de todo mundo.

Quem pirateia fora dos mercados-alvo da indústria diz para a indústria que não vale a pena atender seus gostos. Então eles precisam focar nos mercados que já foram tomados pela insanidade para continuar lucrativos. Ou fazer versão para a China, que nunca sai da China.

O segundo motivo é que quando você gasta dinheiro com uma coisa, você faz o seu tempo valer mais, é mais crítico e ainda dá dados valiosos para a indústria saber no que focar. Além, é claro, de pagar pelo trabalho de quem fez algo que você gostou. Queremos que essas pessoas façam mais, não? Não adianta nada fazer um jogo maravilhoso se 90% dos consumidores potenciais não te dão dinheiro nenhum por esse trabalho.

E tem a parte pessoal da coisa: depois de uns anos comprando jogo por impulso no Steam, eu percebi quão pouco jogava a maioria deles, alguns eu nunca instalei! Quando eu mudei meu foco para comprar jogos que eu vou ocupar meu tempo para jogar, comecei a comprar um ou dois jogos por ano e sinceramente: eu me divirto muito mais. Eu já tinha essa experiência desde criança com os jogos caros de videogame em cartucho (não tinha pirata), fui buscar a experiência para melhorar minha relação com os games.

Quando você gasta dinheiro com o jogo e resolve jogar ele de verdade, é uma excelente atividade para a vida. Relaxa, diverte e considerando como eu tenho uma tara por jogos extremamente complexos (desnecessariamente até), até exercita o cérebro. Games vão ser minhas palavras-cruzadas da velhice.

Se você quer valor numa coisa, ela tem que ter valor real. Não pirateie, ou pelo menos não pirateie a maioria dos jogos que gosta. Até porque se continuar desse jeito, a indústria toda vai virar jogo de azar no celular, e aí diga adeus a uma das novas artes. Os quadrinhos basicamente morreram por causa da internet, não vamos perder os games também…

Para dizer que só otário compra o que é de graça (não é de graça), para dizer que videogame é coisa de criança e desocupado, ou mesmo para indicar jogos que precisam de mestrado para jogar (adoro): comente.

SALLY

Qual é o bem supérfluo em que mais vale à pena gastar dinheiro?

Um planner, uma agenda ou qualquer ferramenta de planejamento que estimule e ajuda a organizar seus horários, seu trabalho, sua vida.

Eu defendo especificamente planner ou agenda por ser o que melhor funciona para mim e por uma série de benefícios que já expliquei neste texto mas talvez algo online com um aplicativo funcione melhor para outras pessoas.

Não importa o formato da ferramenta, o ponto é que investir em algo que te ajude a se organizar é o melhor investimento que você pode fazer, pois em retorno, isso te gera mais paz, mais saúde, mais produtividade e mais dinheiro.

Não é apenas sobre reunir todas as informações da sua vida em um único lugar (contatos, tarefas, prazos), é sobre ser um estímulo para manter sua rotina organizada. É sobre tornar organização algo que te dá prazer, assim fica mais fácil dar continuidade ao processo.

Gosta de desenhar, pintar, colar adesivos? Faz um bullet journal. Gosta do prazer de riscar tarefas cumpridas? Uma agenda comum resolve. Gosta de manter tudo online e ver na tela do computador? Qualquer aplicativo de gerenciamento e organização ajuda. É questão de descobrir o que mais te motiva e abraçar essa ajuda.

Não serve apenas para organizar sua semana e cumprir seus prazos, serve como um arquivo da sua vida. O que quer que você precise de informação, está lá, tudo em um único lugar, não precisa gastar tempo procurando nem tentando lembrar.

Pode parecer pouco, mas não é. Quanto mais coisas você guardar apenas na sua cabeça, mais sobrecarga para o seu cérebro e menos disponibilidade ele tem para realizar outras tarefas. Por isso muita gente reclama que não é “criativa” ou que não consegue produzir muito. Você está usando seu cérebro de forma errada.

Ao anotar todas as informações em um único lugar alivia seu cérebro, lhe poupa tarefas e energia, sobrando muito mais capacidade para criar, trabalhar e produzir. Mas, não basta anotar em papel de pão, tem que ser uma ferramenta inteligente, bem pensada e desenvolvida para ser realmente útil e não só facilitar o processo, mas também estimulá-lo, te gerando algum prazer em fazê-lo.

Eu sou paquita da Paperview, todo ano mando vir do Brasil os planners deles (que por sinal me foram indicados aqui, no Desfavor). Tornam minha vida muito mais fácil. Você só precisa encontrar a sua ferramenta, que além de te ajudar a organizar tudo, ainda te dá vontade de planejar, de organizar de alimentar diariamente com informações. Infelizmente, é caro, mas é um investimento que vale à pena. Como é uma despesa anual, dá para encarar.

E, que fique claro, não é necessário o modelo x ou y para se organizar. Tem gente que se organiza perfeitamente bem com um caderno simples. Não estou aqui para militar por marcas. Meu ponto é: invista o que precisar em uma ferramenta de organização que te permita concentrar todas as suas informações importantes, tarefas, pendências e prazos em um único lugar. Se for em um caderno ótimo, se for preciso algo mais caro, gaste. Divida por 12 (meses do ano que a ferramenta vai ser útil) e o preço nem fica tão ruim.

Se você estiver com seus horários otimizados, seu compromissos planejados e seus prazos em dia, as chances de ter mais tempo e dinheiro para todo o resto aumentam. Aí você faz o que quiser com esses “mais tempo” e “mais dinheiro”. Aprendi desde pequena que o caminho lógico é priorizar as obrigações e, quando estiver tudo em dia, aí sim me dedicar ao lazer.

E nem é um discurso moralista, é apenas lógico. Por mais que você não perceba, quando existem pendências que precisam ser cumpridas, elas tomam parte do seu cérebro, do seu inconsciente, da sua paz. A coisa fica rodando, como um aplicativo secundário, sem estar aparente, mas consome bateria.

Se for algo sem prazo então… um horror. Acaba empurrado, empurrado, esquecido e lembrado em um processo ruim de consumo de energia e culpa. Não faça isso com você mesmo, funcione no seu melhor potencial, tenha tudo anotado, planejado e organizado para estar sempre em dia não apenas com as suas obrigações, mas também com sua saúde e bem-estar.

Organizar a própria vida não é fácil. Até eu, que me considero uma pessoa organizada preciso de ferramentas para não me perder (e demorei até encontrar as ferramentas certas). Com a carga de obrigações que um adulto médio tem hoje em dia, é até questão de saúde mental contar com a ajuda de uma ferramenta.

“Mas Sally, não serve para mim, eu compro e não uso”. Se isso está acontecendo, você está usando a ferramenta errada. Tente outro planner, outra agenda, outro aplicativo, outro sistema. Uma hora você acha a ferramenta que dá “match” com você e aí sua vida vai melhorar muito.

Você vai passar a ter mais capacidade criativa, mais energia e produzir muito mais quando essas questões secundárias estiverem devidamente registradas em algum lugar. Não desista, priorize e procure até encontrar o que dá certo para você.

Para dizer que organização é frescura (não é), para me contar que planner você usa ou ainda para dizer que se estamos falando em supérfluo prefere gastar tudo em bebida: comente.


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