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Aurora Boreal

Aurora Boreal

| Sally | | 16 comentários em Aurora Boreal

Este fenômeno óptico raro deslumbra o ser humano por séculos. Imprevisível e impactante, é muito difícil conseguir vê-lo e mais difícil ainda explicá-lo. Mas nós vamos tentar. Desfavor Explica: Aurora Boreal.

O nome “Aurora Boreal” foi criado por Galileu Galilei, que batizou o fenômeno, inspirado na deusa romana do amanhecer (Aurora) e no deus grego dos ventos nortes (Bóreas), mas, este não é o nome mais correto para o fenômeno. Na verdade, o nome técnico é “Aurora Polar”, por se tratar de um fenômeno que acontece nos polos, ou seja, nas duas pontas do planeta.

Quando ele ocorre no hemisfério Norte, ou seja, na parte de “cima” é chamado “Aurora Boreal” e quando ocorre no hemisfério Sul é chamado “Aurora Austral”. Mas, como o termo mais conhecido é “Aurora Boreal”, vamos utilizá-lo como referência neste texto, independentemente do local.

A Aurora Boreal é um fenômeno óptico, ou seja, é um evento observável a olho nu resultante da interação da luz com a matéria, criando um resultado visível pelo olho humano. Ela deixa o céu iluminado de uma forma muito diferente e bonita, com faixas de luz de diversas cores que mais parecem um sombreado de desenho animado.

Não existe um padrão de Aurora Boreal: às vezes ela faz desenhos nos céus, como arcos, listras e outras formas, outras vezes é apenas um brilho difuso com uma ou mais cores. E esse é um dos seus maiores atrativos: uma nunca é igual à outra, o que torna a todas especiais.

Seu impacto é tão grande que autoridades de alguns países (como por exemplo a Islândia) já fizeram campanhas pedindo para que a população não olhe para as Auroras Boreais enquanto estão dirigindo, pois elas estavam se tornando uma causa frequente de acidentes nas estradas: pessoas que alegavam que ficavam tão fascinadas que não conseguiram parar de olhar – e acabavam batendo em outros veículos ou atropelando pessoas.

Graças às imagens espetaculares e grandiosas que proporcionam e à alta complexidade dos fatores que a causam, a Aurora Boreal ainda é revestida de muito misticismo. Demorou muito para que o ser humano compreenda sua causa e, enquanto isso não era desvendado, todo tipo de explicação mística foi criado para explicar as luzes no céu.

As lendas explicavam de formas variadas o fenômeno: as luzes seriam uma ponte entre a Terra e os Deuses, as luzes seriam fogueiras criadas por ancestrais que já morreram e até que as luzes seriam obra de uma raposa de fogo que criou luzes no céu com faíscas que saíam do seu rabo (porra, Finlândia!). Mas, a verdade é que Aurora Boreal não é nada de divino, não é nada alienígena (até existe em outros planetas também, mas não é obra de vida extraterrestre) e pode ser perfeitamente explicada pela ciência.

Tudo começa no sol. O sol, como vocês sabem, é uma grande bola em combustão. Isso faz com que a temperatura e a pressão no seu interior sejam tão altas que os átomos de hidrogênio se fundem e formam gases. Durante esse processo de fusão muita energia é gerada. Essa energia vai se acumulando, até que “explode” e é liberada em forma de luz e calor, que empurram gás para a superfície, em uma espécie de “pum cósmico”: a pressão faz com que partículas sejam ejetadas para fora do sol, na forma de plasma.

Vamos falar sobre plasma. Plasma é o quarto estado físico da matéria. Certamente você sabe quais são os três estados da matéria: sólido (gelo), líquido (água) e gasoso (vapor). Mas também existe o plasma.

A matéria se torna plasma quando ela está em estado gasoso, mas sofre um aquecimento tão grande que, mesmo em estado gasoso, acaba separando as moléculas. Isso acontece porque o calor extremo provoca “agitação” das moléculas e, se o calor for muito, elas acabam se agitando até se separar. Então, plasma é, perdão pela simplificação, um estado gasoso no qual as moléculas acabam se separando, resultando em uma massa disforme.

Agora que sabemos que quando se esquenta um gás o suficiente para “desfazer” as ligações entre suas moléculas, temos o plasma, não fica difícil de imaginar que isso acontece no sol. A coroa solar, parte mais externa do sol, pode chegar à temperatura de um milhão de graus celsius. Dificilmente algo saia inteiro daí: até mesmo os gases se desmembram quando expostos a esse tipo de temperatura.

Esse plasma ejetado para longe do sol vaga pelo espaço e acaba “aterrissando” em alguns planetas, um deles, a Terra. Como essas partículas na forma de plasma possuem uma carga elétrica, elas acabam atraídas na direção dos polos, já que a Terra possuí um campo magnético próprio.

Pense no planeta como uma bola de futebol com dois imãs nas extremidades. Agora jogue na direção desta bola de futebol pequenas bolinhas de metal. Onde elas vão grudar? Nas extremidades onde tem o imã. É exatamente o que acontece com esse plasma ejetado do sol.

Estima-se que, em média, as partículas decorrentes de tempestades solares demorem apenas horas para chegar na Terra. Durante seu trajeto elas vão acelerando cada vez mais, como se estivessem surfando uma onda, até entrarem na atmosfera terrestre a uma velocidade enorme. Uma tempestade solar de respeito pode desprender bilhões de toneladas de plasma, então, por mais longe que estejam, é quase que inevitável que alguma parte disso chegue ao nosso planeta.

Quando essas partículas entram na atmosfera terrestre, atraídas pelos polos, elas se chocam com as moléculas que existem no ar (oxigênio e nitrogênio) e esse choque produz uma energia na forma de uma radiação eletromagnética que gera as luzes, cores e formatos da Aurora Boreal.

É difícil de visualizar, pois é uma explicação muito abstrata: é como se as partículas desse plasma que sai do sol e chega na atmosfera terrestre (papo técnico: elétrons) fizessem as moléculas gasosas do ar ganharem energia e essa energia é liberada na forma de luz. Ok, continua difícil… Sabe aquelas pulseirinhas de evento, que quando você torce, se quebram por dentro e emitem uma luz? É basicamente isso, só que no céu e de forma menos uniforme, pois não estamos falando de um gás, que cobriria tudo e sim de plasma, uma massa disforme.

Então, além de ser um espetáculo lindo de ser ver, a Aurora Boreal também é o resultado de um sistema de proteção altamente eficiente para a vida na Terra: essas partículas viajam a 400km/h e, se não fosse o campo magnético da Terra, que as para, gerando a Aurora Boreal, elas provavelmente causariam sérios problemas aos seres vivos do planeta. Quando olhar para uma Aurora Boreal agradeça, pois tudo aquilo poderia ter “caído na sua cabeça”.

Existem relatos bastante antigos sobre Auroras Boreais, o que indica que elas acontecem desde sempre, pois, durante a maior parte da existência do planeta estavam os fatores necessários para que ela ocorra: sol + ar. Existem textos de datas Antes de Cristo (ou seja, mais de 2023 anos atras). Então, não acredite nessa balela de que a poluição está causando luminosidade no céu. É algo natural, é algo que existe antes mesmo da primeira indústria.

No planeta Terra, a Aurora Boreal só é visível à noite, já que a luminosidade do sol nos impede de percebê-la durante o dia. Quanto mais escuro, mais nítida ela ficará. Então, não é que ela não aconteça de dia, é perfeitamente possível, o problema é que, mesmo que aconteça, ela não será visível, a menos que o observador esteja no espaço.

Não se sabe exatamente quando elas vão acontecer, portanto, como turista, você precisa ter muita sorte para presenciar uma ao vivo e a cores. Se você quer ver Auroras Boreais, a indicação é que vá para o hemisfério Norte, que tem áreas de mais fácil acesso e com mais infraestrutura do que a Antártida. Fatores que tornam mais provável sua aparição: vá nos meses de março, abril, setembro ou outubro. Nestas datas, a probabilidade é maior em noites frias (quanto mais frio, melhor) e o horário ideal para ver varia entre 18h e 1h, mas as chances são mais altas por volta das 22h. Porém, que fique claro, nada disso é garantia. O principal fator é a sorte.

Países onde é mais provável ver uma Aurora Boreal no hemisfério Norte: Islândia, Noruega, Suécia, Finlândia, Dinamarca, Alasca, Escócia, Groenlândia, Rússia e Canadá. Já no hemisfério Sul, onde tecnicamente ela recebe o nome de Aurora Austral, é preciso estar a 66 graus de latitude Sul, o que significa que você deve ir para a Antártida ou ficar bem na pontinha do Chile ou da Argentina (Ushuaia fica a 4000 km da Antártida). Na Nova Zelândia e na Austrália também podem ocorrer, mas será uma visualização menos intensa e menos bonita.

Se Elon Musk estiver lendo isto, saiba que também tem Aurora Boreal em Marte, Vênus, Júpiter e Saturno (pode ir de Space-X assistir). Por isso, muitos cientistas chamam o fenômeno que acontece aqui de “Aurora Boreal Terrestre”, para especificar que é no planeta Terra.

Não é preciso estar em determinado local exato para ver o fenômeno, basta estar no entorno. Se você estiver nas proximidades, vai conseguir vê-la, pois o fenômeno acontece entre 50 a 200km acima da Terra, o que o torna visível em um raio considerável.
É possível criar Auroras Boreais artificialmente em grande escala no céu, entretanto, nós não recomendamos, já que seria necessário realizar explosões nucleares a 400km de altura. Em 1962 de fato fizeram um experimento nuclear chamado “Starfish Prime”, que gerou uma bela Aurora Boreal com sete minutos de duração. Esperamos nunca ver uma dessas.

Uma Aurora Boreal pode ter muitas cores. Se você colocar o temo no Google Imagens verá todo tipo de cor e forma. As cores variam de acordo com o tipo de átomo que colide com o elétron e com a altitude em que ocorre essa colisão.

Quando o gás terrestre da colisão é o oxigênio, são emitidas luzes verdes e vermelhas, e quando é o nitrogênio, surgem luzes azuis e roxas. Porém, pode haver uma mistura, uma combinação ou uma sobreposição, gerando ainda mais cores. E como estamos falando de plasma, os formatos também podem ser infinitos.

Existem inclusive relatos de sons vinculados a Auroras Boreais. Seriam sons similares a um aplauso, a uma única palma. Nunca foram cientificamente comprovados, porém, existem relatos suficientes para que isso seja, no mínimo cogitado.

Tecnicamente, é bastante improvável que qualquer som que o processo desencadeie seja audível para quem observa o fenômeno da Terra, então, caso estes sons sejam algum dia comprovados, a melhor hipótese seria que eles não sejam frutos da Aurora em si e sim de fenômenos eletroestáticos desencadeados pela Aurora na Terra. Se você tiver curiosidade de ouvir o som, clique aqui.

As Auroras Boreais, por si, não causam mal algum ao planeta ou aos seres humanos, são meras consequências de uma tempestade solar. Porém, as tempestades solares sim podem causar alguns transtornos, sobretudo no que diz respeito ao funcionamento de eletrônicos (mas isso é assunto para outro texto). Como só existe Aurora Boreal se antes existir tempestade solar, é comum que, por causa da tempestade solar eventuais falhas ocorram em sistemas de comunicação, prejudicando as telecomunicações e sistemas de GPS, por exemplo.

É mais fácil observar uma Aurora Boreal através de uma câmera, seja como foto, seja como vídeo. Isso ocorre porque as cores presentes nas auroras estão quase no limite do que os olhos humanos conseguem enxergar. Se você quer tirar uma boa foto, uma dica: fotos feitas com maior exposição à luz permitem que mais elétrons – e a luminosidade emitida por eles – cheguem à câmera. É um dos raros eventos que ficam melhor na foto do que ao vivo.

Ficou com vontade de ver uma? Se você, assim como eu, não tem qualquer condição de ir ao topo do mundo para ver céu coloridinha, saiba que existem câmeras que transmitem ao vivo, online e sem parar, como é o caso da Skyline, através das quais você pode ver uma Aurora Boreal ao em tempo real. Vale a experiência. Fique ligado nas previsões e avisos e em algum momento você vai conseguir. Algo tão grandioso merece a sua atenção.

Para dizer que esperava por um Ei Você, para dizer que odeia quando ficamos científicos ou ainda para dizer que prefere acreditar que é uma raposa soltando faíscas pelo rabo: sally@desfavor.com


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