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Introdução às plantas.

Introdução às plantas.

| Sally | | 28 comentários em Introdução às plantas.

Este texto é para pessoas que não entendem nada, nada, absolutamente nada de plantas. É para pessoas que cogitam regar planta com Coca-Cola. É para pessoas que precisam do conhecimento mais básico, rasteiro e óbvio sobre o assunto. Portanto, se você tem algum conhecimento de plantas, já deixamos o aviso de que este texto vai ser um amontoado de obviedades.

Feita a ressalva (o tempo do leitor vale muito para a gente, não queremos fazer ninguém perder tempo), agora eu quero falar com você, que assim como eu faz poucos anos, não sabe absolutamente nada sobre plantas, mas quer começar a saber. Vou escrever um pequeno manual do que eu gostaria que alguém tivesse me dito um ano atrás.

Vou começar com uma regra de ouro, inegociável, que vai te poupar muito tempo e dinheiro: não se adapta a casa à planta, e sim a planta à casa. Isso quer dizer que você não deve comprar uma planta que não terá facilmente as condições básicas para crescer saudável no ambiente em que você está, pois se você o fizer, vai virar babá de planta e o que deveria ser um hobbie, um prazer, vai se tornar um inferno, um dreno de dinheiro e de tempo.

Então, por exemplo, se você mora em um apartamento que não tem sol pleno (que significa sol o dia inteiro, 8 horas de sol), você não vai poder ter certas plantas que precisam de muito sol, pois elas vão morrer, ou vão adoecer ou vão crescer muito feias e atrofiadas. A pergunta de ouro que você tem que se fazer é: o quanto eu posso emular o habitat natural desta planta na minha casa?

Uma planta que gosta de frio é inviável no Rio de Janeiro. Uma planta que gosta de calor é inviável no Canadá, e assim por diante. “Mas Sally, meu sonho é ter a planta tal”. Querido leitor, você está no Brasil, um país que permite uma variedade de plantas imensa. Procure, certamente você vai achar outra no mesmo estilo e que se adapte à sua casa.

Segunda regra inegociável: comece pequeno. Não no tamanho na planta, mas na quantidade. Adquira uma quantidade de plantas que você possa cuidar sozinho, sem comprometer a sua rotina. Planta é como tatuagem e luzes no cabelo: quando a gente toma o gosto, quer mais e mais e não sabe a hora de parar.

Eu sugiro que comece com duas ou três, não mais do que isso. Quando você ficar craque, entender como funciona, conseguir perceber os sinais de que as plantas te dão sobre suas necessidades e aprender na prática a cuidar delas sem esforço, aí sim você pensa em adquirir mais. Sendo bem sincera aqui, quanto menos plantas você tiver no começo, menos plantas você vai matar.

O que nos leva a outro aviso: plantas morrem. Se você é muito sensível com isso, recomendo ficar com as plantas permanentes (um nome chique para plantas de plástico). Hoje existem modelos quase idênticos às plantas reais e elas estarão lindas sempre, sem dar trabalho e sem morrer. Repito: plantas morrem, às vezes morrem mesmo sem você fazer algo errado. Se não estiver preparado para isso, nem comece.

Mais um item inegociável: estude sobre a planta que você pretende adquirir. Assim como cuidar de pet não é só dar comida, cuidar de planta não é só regar. Cada planta tem necessidades especiais (sol, luminosidade, temperatura, tipo de terra, rega, poda e outros) que precisam ser conhecidos e aprendidos. “Mas Sally, eu tenho uma planta aqui que eu só rego e está ótima”. Ok, você deu sorte, isso é uma exceção. A regra é que se você não der um cuidado mais específico, a planta ou morre, ou adoece ou fica horrível.

Muito bem, agora você já tem ferramentas para decidir conscientemente se quer e pode cuidar de uma planta. Se você não quer, volta amanhã que vai ter um texto ótimo. Se você quer tentar, vem comigo.

A maioria das plantas “domésticas” que morre, morre por problemas ligados a luz e sol. Então, se você acertar o lugar para colocar a planta, de modo a que ela receba o que precisa em matéria de luz e sol, vai excluir a maior parte dos problemas. Entenda: a planta tem necessidades e não está nem aí para suas regras de decoração, então, não importa o que você quer e sim o que a planta precisa. E toda planta precisa de luz solar.

Quer colocar a planta debaixo de uma escada? Quer colocar a planta em um banheiro sem janela? Quer colocar a planta no hall do elevador? Você vai ter problemas. Mesmo as plantas menos exigentes precisam estar a, pelo menos, um metro e meio de uma boa fonte de luz, ou seja, de uma janela grande, sem obstáculos que impeçam a chegada da luminosidade a ela. Só tem uma planta que vive bem em um ambiente escuro ou sem janela: a de plástico.

“Mas Sally, eu vejo lojas e lugares fechados que tem plantas lindas”. Sim, esses lugares fazem rodízios: tem outros três vasos como aquele que você viu e cada planta fica alguns dias no ambiente fechado e depois volta para um local aberto para tomar o seu solzinho. Se você estiver disposto a fazer isso, pode funcionar.

“Mas Sally, não existe uma lâmpada que eu possa colocar para simular a luz do sol?”. Existe, mas você não vai querer isso, por dois motivos: é cara e é feia. O nome técnico dela é “Grow Light” e você vai ver que a maior parte dos anúncios mostra apenas desenhos delas, ilustrações e imagens muito photoshopadas, justamente por esse motivo: a porcaria da lâmpada é horrorosa. Se você olhar ao vivo, garanto que não compra.

A luz dessa lâmpada tem uma tonalidade meio avermelhada, meio rosa, que deixa qualquer ambiente com cara de prostíbulo ou de motel de beira de estrada. Acredite, não tem beleza de planta alguma que valha ter essa lâmpada na sua casa. Mas, se ainda assim você quiser, compre online ou em lojas de aquários (é usada para fazer crescer as algas em alguns aquários).

Antes de adquirir uma planta se informe se ela precisa de luz solar direta ou se apenas com luminosidade ela fica bem. Se precisa de luz solar direta, descubra de quanto tempo de luz ela precisa. Sol pleno = pelo menos 8 horas de luz solar. Meia sombra = 4 horas de luz solar. Luminosidade = ficar no máximo a um metro e meio da janela.

Não confunda sol com luminosidade. Não confunda sol com calor (na sua casa pode fazer um calor dos infernos e não bater luz solar). Não confunda luz solar com nada, luz solar é o raio de sol batendo diretamente na planta. Nada substituí isso, a não ser a hedionda lâmpada de prostíbulo.

Uma vez que você determinou um local adequado às necessidades da planta em matéria de luz solar, é hora de entender o que ela precisa na terra. E aqui eu vou te fazer um pedido, encarecidamente: não invente.

Não faça receita caseira de adubo, de remédio para isso, de estimulante para aquilo. Atualmente, a internet no geral (inclusive redes sociais) é um mar de informações erradas sobre plantas e você não tem o discernimento para filtrar informação falsa de verdadeira. Então, até ficar bem especialista, compre tudo pronto. Não é tão caro assim para justificar o risco. “Mas Sally, é natural”. Muita coisa natural pode matar a sua planta. Sério mesmo, não invente.

Procure saber que tipo de vaso e de que tamanho a planta precisa. Seja qual for o vaso, ele tem que ter furos na parte de baixo (se não nem vaso é, é cachepô). Mas, não faça como a palhaça aqui, que rodou todos os viveiros procurando por vasos com furos: quando estão na prateleira ou na vitrine, os vasos não costumam ter furos, o vendedor faz os furos depois que você compra, de acordo com a necessidade de drenagem da planta (mais furos, ou furos maiores). Então, depois de comprar o vaso, peça para furarem.

Com o vaso certo e os furos feitos, é hora de preparar o vaso para receber a planta. E a forma como você vai preparar esse vaso depende das necessidades de cada planta. Posso te dar uma receita genérica, mas é importante que você pesquise as necessidades específicas da sua planta, pois esta informação que eu estou te passando pode não ser suficiente.

No fundo do vaso, onde estão os furos, coloque uma camada de pedrinhas (de um tamanho que não saiam pelos furos) para promover a drenagem, isto é, a água em excesso que a planta não absorver, vai sair por ali. Se tiver terra na parte de baixo, a água pode empoçar e vai matar a sua planta. Então, uma camada de pedrinhas e só depois a terra com um bom substrato.

Você vai tirar a planta com o torrão de terra do vasinho em que ela vem (se for daqueles molinhos de plástico, corte em várias partes para abrir como uma casca e banana) e colocar na terra. Quanto mais inteiro estiver o torrão de terra, melhor. Não cubra a planta com terra acima do torrão, ele é seu guia para saber até onde preencher o vaso. Terra, substrato, um buraco onde caiba o torrão de terra e pronto, é só colocar no lugar escolhido (com um pratinho embaixo, pois pode vazar água) e regar. Sempre se rega depois de passar a planta para um vaso.

Se você mora em casa, tem a possibilidade de plantar diretamente na terra, mas, se eu fosse você, eu começaria com vasos. Plantar diretamente na terra é muito mais difícil na hora de corrigir problemas. Só quem já viu seu jasmim amarelar por clorose férrica e perder suas folhas sabe o inferno que é como é difícil corrigir o PH do solo sem matar a planta do lado. Comece no vaso, até a planta cresce e ficar bem forte, aí sim você a passa para a terra.

E sempre procure saber como a raiz dessa planta se comporta antes de passar para a terra, pois se ela for muito agressiva e expansiva, pode detonar canos, chão de cimento e até a estrutura da sua casa. Não acredite no tio do viveiro, que te garantiu que tá tudo bem plantar ali. Estude. É a estrutura da sua casa que pode ficar comprometida, não a dele.

Colocou a planta no local escolhido? Ótimo, deixe ela lá, deixe a coitada da planta em paz. Eventualmente, as folhas podem girar na direção da luz solar. Isso não significa que a planta está sofrendo, é um mecanismo natural. NÃO VIRE A PLANTA. Plantas não gostam de ser viradas. Não faz bem para a planta ser virada. “Mas Sally, eu não quero uma planta torta”. Beleza, coloca ela de um jeito que ela receba luz de cima, centralizada, e ela não vai ficar torta.

Ao contrário do que muita gente acha, virar a planta não ajuda, muito pelo contrário, é uma agressão. É como se você estivesse na praia, deitado de barriga para cima, tomando sol e viesse um gigante e colocasse sua bunda branca para tomar sol. Vai torrar, vai queimar, vai gerar desconforto. Pelo amor de Nossa Senhora dos Vegetais, pense comigo: plantas não tem pernas, as plantas na natureza não se deslocam. Em que mundo o humano sem noção acha que está fazendo um bem em rodar a planta? Deixe sua planta em paz.

“Mas Sally, como vou saber se estou fazendo tudo certo?”. A planta vai te indicar. Só que o tempo da planta não é o mesmo tempo dos humanos, tudo é mais lento. Então, não vai ser em poucos dias. Fique atento à saúde da sua planta observando a cor, textura e posição das folhas. Se você se sentir inseguro para fazer esta avaliação, tire uma foto semanalmente da sua planta e compare, lado a lado. Você vai perceber quando a planta estiver “triste”.

Se a sua planta não está bem, algo tem que ser corrigido. Como já dissemos, o principal problema costuma ser a exposição inadequada ou insuficiente a luz solar e luminosidade, de acordo com a necessidade de cada planta. Mas, se você tem certeza de que a planta tem essas necessidades bem supridas, vamos à causa número dois de morte de plantas: excesso de água.

Sim, excesso de água mata mais do que falta de água. E é uma morte horrível, a planta praticamente vai apodrecendo na sua frente. Como muitas plantas reagem ao excesso de água com sinais similares aos de falta de água (folhas secando, folhas caindo, etc.) não é raro ver pessoas que estão matando as plantas com excesso de água regando mais ainda na tentativa de salvar a planta.

Cada planta tem uma necessidade de água mensurável em litros ou mililitros, então, você não tem que adivinhar nada, basta pesquisar. A regra geral diz que, para saber se é hora de regar, você precisa enfiar o dedo na terra onde a planta está (seja vaso, seja no quintal) e sentir se ela está úmida. Se você enfiou o dedo todo e está seco, tem que regar.

Todos estamos de acordo que a força da gravidade puxa a água para baixo? Então, a primeira parte a secar é a superfície. Mas isso não quer dizer que nas raízes esteja seco. Uma planta pode ter a terra seca na superfície e estar encharcada nas raízes. Então, se você enfiou seu dedo todo viu que a parte de baixo está molhada, via de regra, ainda não é hora de regar.

Outra regra geral (que também tem exceções) na hora de regar: não fique regando um pouquinho todo dia. É preferível deixar a terra secar e fazer uma rega abundante uma ou duas vezes na semana, por exemplo. Regar todo dia só se a terra estiver seca (enfiando o dedo, não apenas na camada superficial). E, se você puder recolher água da chuva, sua planta vai ficar muito mais feliz, plantas reagem muito melhor a rega com água da chuva.

Dependendo da planta, água na terra não é o bastante. Pode ser necessário borrifar água nas folhas. Percebam que eu disse “borrifar” e não fazer do seu regador um chuveiro e jogar água do topo da planta para a terra. Quando você rega com regador ou mangueira, deve regar rente ao chão, para que não respingue nas folhas água com terra e sujeira do solo, pois isso pode trazer problemas para a planta. As folhas se molham com um borrifador, de preferência com água da chuva.

Tanto para regar como para borrifar água nas folhas tem hora certa: em lugares quentes, o ideal é regar de manhã bem cedinho ou no fim do dia, pois se você regar em uma hora de muito calor, a água vai esquentar debaixo da terra e pode “ferver” a raiz e matar a planta. E borrifar água ou qualquer coisa nas folhas enquanto está batendo luz do sol nem pensar, você pode queimar as folhas.

Tenha em mente que, se sua planta está mal, triste ou doente e você tentou resolver, o resultado não vem em poucos dias. Tenha paciência. Observe se há melhora (pode continuar fotografando para comparar). E tome uma providência por vez: não troque a planta de lugar, adube, troque o vaso e faça simpatia. Uma coisa de cada vez, se não as chances de você fazer mais mal do que bem, estressando a planta, é enorme. Se, depois de um mês a planta não apresentar nenhuma melhora, aí você repensa a estratégia e tenta outra coisa.

Repita comigo: não se aduba uma planta doente. A menos que a planta esteja doente por falta de nutrientes, o que não vai acontecer com você, pois vamos falar de adubação, não se aduba planta doente.

Por acaso quando um ser humano adoece e vai para o hospital alguém serve um rodízio de carne? Você já viu uma pessoa hospitalizada comendo três pratos de feijoada? Não, né? Uma planta doente precisa de descanso, sossego e eventualmente de remédios, mas não de adubo. Adubo só vai estressar a planta, nada de “bem alimentada ela vai ficar mais forte”.

A necessidade de adubo em plantas é muito relativa, depende do tipo de planta, do clima, da idade da planta e de muitos outros fatores. Por isso não posso te dar um conselho específico, apenas dizer que, como regra, plantas devem ser adubadas uma vez por ano, preferencialmente na primavera, pois é quando tem o melhor ambiente para se desenvolver. Novamente, pesquise sobre as necessidades específicas da sua planta.

Também é bom trocar o vaso da planta uma vez por ano, se ela cresceu bastante. Mas, atenção: nada de tirar ela de um vaso pequeno e jogar em um vaso enorme. “tem bastante espaço agora, ela vai gostar”. Não, não vai. Você gosta de usar uma roupa 10x o seu tamanho? Fica confortável? Essa mudança radical de tamanho do vaso vai obrigar a planta a uma adaptação enorme para extrair água da terra. Aumente o vaso um número por ano, ou um aumento que acompanhe o tamanho da raiz da planta.

Poda: não é para iniciantes, esquece isso. Se for imprescindível podar a planta, chame um especialista. Acredite, além de não ter o conhecimento necessário, provavelmente você não terá a coragem de fazer uma poda bem-feita, pois é preciso tesourar a planta de um jeito que dá vontade de chorar.

Por fim, quero relembrá-los que plantas, como todo ser vivo, não é imortal. Algumas podem viver centenas de anos, mas outras não vivem mais do que cinco anos, então, saiba que, dependendo da planta que você escolher, eventualmente ela vai morrer, mesmo que você a trate muto bem. Portanto, não fique frustrado nem chateado, saiba que você pode acabar sobrevivendo à sua planta.

Espero que este texto ajude a alguém e que meus erros tenham alguma utilidade neste mundo.

Para dizer que vai na planta de plástico mesmo, para perguntar se eu posso te ensinar a plantar maconha (não posso e não quero) ou ainda para perguntar por qual motivo eu torno tudo tão difícil (fazem bem-feito dá trabalho): sally@desfavor.com


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