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Má influência.

Má influência.

| Desfavor | | 22 comentários em Má influência.

Infelizmente, os influencers vieram para ficar. No Brasil, vários deles ganham a vida com a atenção de milhões, e no final das contas, realmente influenciam a sociedade. Sally e Somir acham o conceito um desfavor, mas na hora de achar o pior deles no Brasil, criam sua própria polêmica. Os impopulares curtem (ou não).

Tema de hoje: qual é o influenciador brasileiro que presta o maior desfavor no momento?

SOMIR

Eu vou votar na Luisa Mell. Se você está num grau de nirvana ainda maior que o meu e nunca ouviu falar, é uma ativista pelos direitos animais famosa pelos chiliques na internet e na vida real. Provavelmente o nome mais conhecido do país quando se fala do tema.

Eu vou tentar controlar um pouco a análise psicológica da sua imagem pública porque eu não acho que esse é o ângulo mais correto para olhar para esse tema dos influenciadores. Explico: é relativamente comum que o brasileiro seja meio descompensado, extremamente passional e orgulhoso disso. Se a gente começar a acompanhar de perto quase qualquer pessoa, vamos ver uma pilha de nervos surgindo diante de nossos olhos.

O brasileiro médio berra, grita, chora e briga por praticamente qualquer motivo, estabilidade emocional estacionada na primeira infância. Por mais que eu concorde que o escolhido da Sally passe uma imagem ruim, não é como se o público essencialmente infanto-juvenil da sua versão atual não tivesse outros exemplos por perto. Se desligar o vídeo dele, vai escutar os pais berrando, vai ver barracos e violência em tudo quanto é canto, especialmente na internet e nas notícias mais populares.

Em várias sociedades ao redor do mundo, você é ostracizado se demonstrar descontrole emocional, no Brasil você é celebrado. Luisa Mell vive dando exemplos de reações emocionais exageradas, talvez por não conseguir fazer diferente, talvez por motivos de ganhar mais atenção, mas apesar de achar isso péssimo, mantenho que esse ainda não é motivo da minha escolha.

E isso provavelmente vai irritar muita gente: escolho Luisa Mell pela causa que defende. Tenho dó de bicho sendo maltratado como qualquer outra pessoa, mas existem limites. Limites de importância, inclusive. Num mundo ideal, as pessoas tratam animais de forma ética tentando minimizar seu sofrimento. No mundo real, nem seres humanos tem esse direito.

Quer dedicar seu tempo a cuidar de animais abandonados ou salvar os que estão sendo abusados? Fique à vontade, é o seu tempo, e não tem nada de errado em querer fazer o bem para outros seres vivos. Mas saiba onde está o grau de importância das suas ações: abaixo de qualquer uma que cuide de seres humanos. Você vive numa sociedade que coloca direitos humanos acima de animais, até por isso nenhum governo pode deixar de te dar atendimento médico ou mesmo alimento para salvar um cachorro no lugar.

Eu acho que salvo casos de doença mental, todo mundo sabe dessa ordem de prioridades. É por isso que eu vejo a “causa animal” como uma droga de entrada para insanidade completa. Você começa a ignorar premissas básicas da sociedade humana para buscar um senso muito peculiar de justiça entre as espécies.

Mas o que realmente incomoda aqui é que esse tipo de causa é muito fácil de defender e dá muitos pontos de simpatia com a maioria das pessoas: quase todo mundo tem alguma memória afetiva com animais de estimação, especialmente os mais bonitos. Luisa Mell não escolheu defender os direitos das baratas, e sim de cachorros, gatos e outros seres mais simpáticos como vacas e galinhas.

Não é sobre os animais, é sobre os laços emocionais que temos com outras espécies. Esse tipo de causa é um atalho para o coração alheio. A pessoa está explorando o caminho mais curto para o sentimentalismo, certa de que por mais maluca que seja, sempre vai ter a presunção de ser uma pessoa boa. É ativismo de curtida.

E ativismo de curtida é um dos maiores cânceres atacando a humanidade no momento. Causas sem muita profundidade intelectual, mas com muito apelo emocional. Podemos criticar muita coisa na escolha da Sally, mas a pessoa pelo menos se enfia em algumas polêmicas realmente polêmicas. Mesmo que seja um exemplo ruim de como fazer por lacração estraga sua saúde mental, é um exemplo de posicionamento político.

Ser contra maltratarem bichinhos bonitos não é. É um reflexo quase que instintivo do ser humano a essa altura do campeonato. Evoluímos como sociedade ao redor de animais de estimação e outros mamíferos úteis. A pessoa que defende os animais está se retirando de qualquer risco de ser vista como ruim, e subindo num pedestal para construir uma imagem pessoal facilmente reconhecida como positiva.

É comodismo. É todo o destempero do brasileiro médio com a causa mais preguiçosa possível. Vou lançar um movimento contra os nazistas pedófilos então! Quem vai discordar da minha causa? Quem sabe consigo até uns patrocínios? O pessoal do Sleeping Giants não vai ter argumentos contra o meu objetivo. Se sua marca quiser ser vista como uma combatente dos nazistas que abusam de crianças, só mandar um Pix gordo para minha organização.

O ser humano médio não gosta de esforço ou confronto, por isso tende a orbitar ao redor da causa mais fácil de defender. Luisa Mell é um exemplo de sucesso dessa preguiça intelectual, dessa onda de politicamente correto com fins lucrativos que está deixando o mundo cada vez menos disposto a discutir assuntos difíceis e pensar em soluções impopulares. Cada grupo se esconde atrás da causa mais “apelação” que puder e fica xingando o outro sem nunca se expor a uma conversa mais complicada do que “todo mundo que eu não gosto é nazista pedófilo”.

Eu não odeio animais, mas a causa animal é o menor dos problemas do mundo moderno. Os cachorros e gatos vão estar aqui quando tivermos tempo de olhar para eles com a mesma atenção que damos para humanos, eles são bichos, eles se viram muito bem ao nosso redor. Quem talvez não esteja mais aqui daqui a algumas gerações são pessoas com coragem de não ficarem camufladas em causas fáceis de defender, protegidas por um grupo de histéricos que acham que seu interesse é a coisa mais importante do mundo.

Essa gente descompensada por animais é sintoma de uma doença muito maior, o desinteresse na evolução real da sociedade humana. Quase sempre é gente que está confortável com o resto da vida ou que está querendo fugir da realidade. Seja como for, é gente que não quer mais participar de uma forma que tenha qualquer desafio. Querem só as curtidas e os coraçõezinhos enquanto fingem que estão mudando alguma coisa.

Não estão. Vocês fazem isso por vocês, os bichos são apenas algo para explorar. Luisa Mell é pior que qualquer outro histérico barraqueiro não por não ser uma histérica barraqueira também, mas porque ela o faz pelos motivos mais imbecis…

Para dizer que tem dó dos bichinhos, para dizer que o tempo é seu e você joga fora como quiser (justo, mas não encha o saco dos outros), ou mesmo para dizer que também é contra os nazistas pedófilos (jura?): somir@desfavor.com

SALLY

No momento, qual é o influenciador brasileiro que presta o maior desfavor?

Felipe Neto. E nem me refiro a opinião política, pois cada um tem o sagrado direito de ter a sua. Ele representa tudo de ruim que emocionalmente prejudica essa nova geração. Poucas vezes na vida vi alguém emocionalmente tão fodido, perdido e, ainda assim, cheio de certezas.

Não sou uma pessoa que desgosta por princípios do Felipe Neto. Eu inclusive gostava de alguns vídeos antigos dele, um pouco depois do “Não faz sentido”, um pouco antes dele tentar preencher o vazio interno com militância e certezas. Foi uma fase boa. Ele sabe fazer vídeos bacanas, divertidos e interessantes. Mas, infelizmente, algo dentro dele sofreu uma detonação, ele começou a se levar a sério e, como toda pessoa que tem uma grande desordem interna, começou a querer resolver o mundo.

É sempre assim: a pessoa que tem um caos interno foca fora e começa a querer consertar o mundo, quando quem precisa de conserto é ela mesma. Talvez seja apavorante olhar para dentro e esse medo faça olhar para fora. A pessoa vai sentindo algum conforto em tentar “melhorar” o mundo, tal qual uma pessoa com TOC sente um alívio na sua mente transtornada quando arruma as meias por cor. O problema é que, como todo vício, a pessoa precisa de cada vez mais para acalmar a mente.

No começo, Felipe Neto era um sujeito engajado e bem-intencionado, mas, com o passar do tempo, se tornou um chato, um caga-regra, um fiscal da vida alheia, um tremendo desfavor que ensina à geração atual que é preciso “combater” o que não gostamos, acirra a polaridade e reforça a ideia de que, para ser bem-sucedido, você tem que ser cheio de certezas.

Quanto mais você “combate” algo, mais desse algo aparece na sua vida. A solução não é “combater”. A solução é integrar, é levar conhecimento, ferramentas para que, SE as pessoas quiserem, possam melhorar ou ter novos pontos de vista. E se elas não quiserem, sagrado direito delas.

Sinto informar a vocês e ao Felipe Neto (que nunca lerá este texto): não podemos mudar os outros, só podemos mudar a nós mesmos. E mudar a nós mesmos é o maior presente que você pode deixar ao mundo, pois é a única coisa que, em última instância, realmente faz diferença. Seja a mudança que você quer ver no mundo, esquece os outros, faz o seu.

Mas o ego não deixa, né? Tem que ser o Arauto da Verdade, da Justiça e do Combate. Não me espanta que esteja com tantos problemas mentais, como depressão e síndrome do pânico, imagina o inferno que deve ser viver na cabeça do Felipe Neto.

Meus amores, não somos heróis, não somos deuses, não somos donos de ninguém, a vida do outro é problema do outro. Foquem em vocês mesmos e a mudança para melhor no seu mundo vai acontecer. E, se todos focarem em si mesmos, a mudança para melhor no mundo vai acontecer.

É importante deixar bem claro aqui que, mais do que criticar o que o Felipe Neto fala, eu estou criticando de onde vem. Mais importante do que as palavras, é de que lugar elas vem: quais sentimentos, intenções ou pensamentos as criam. Eu posso falar uma exata mesma frase vinda de um lugar de medo e despertar sensações horríveis em mim mesma e nos outros ou vinda de um lugar de consciência e levar paz e serenidade a mim mesma e a quem me escuta. E o lugar desde o qual o Felipe Neto fala é bem ruim.

Tanto é que a saúde mental dele está deteriorada. Ninguém que viva consciente, sereno, completo e feliz se filma tendo uma crise de síndrome do pânico no aeroporto e posta para que outras pessoas vejam. Desculpas, motivos nobres e justificativas a gente arruma para tudo, para qualquer ato, mas, como eu disse, o que importa é o lugar desde o qual se fala. E esse rapaz está em um dark dark place.

Não é à toa que ele “dá liga” com milhões de pessoas no Brasil, o país que mais consome Rivotril no mundo, campeão de doenças da mente, repleto de pessoas despreparadas para lidar com emoções e sentimentos básicos. Óbvio que nesse cenário as coisas que ele fala, vindas do lugar desde onde ele fala, iriam reverberar. Reverberam e acentuam isso na nova geração que o segue.

E, vejam bem, nem de longe eu acho que a Luisa Mell esteja melhor do que ele. Ela é o clássico caso de pessoa quebrada por dentro que projeta isso em animais e se porta de forma histérica, resgatando bicho por precisar ser resgatada de alguma coisa. Eu não sei que tipo de abuso aconteceu na infância ou na vida dessa moça, mas é hora dela se tratar e ter um pouco mais de equilíbrio emocional, perspectiva e consciência.

Luisa Mell é apenas um péssimo exemplo. Nada além disso. Se você não tiver um histórico muito forte de abuso, abandono e rejeição não vai se comportar assim. O que ela faz não induz ninguém a se comportar assim.

Já Felipe Neto é formador de opinião, ele conclama as pessoas para segui-lo nas suas cruzadas. A postura dele vista como bem-sucedida é realmente um desfavor, pois impulsiona jovens que já estavam meio capengas de uma boa estrutura emocional a se jogar de vez nessa cruzada por consertar o mundo lá fora na base do combate, quando o mundo lá dentro está desmoronando.

Ostentar virtude, se ocupar do erro alheio e estimular essa postura “combativa” são extremamente nocivos para essa nova geração, que já não vem muito bem da cabeça. Se você sabe olhar um pouco além, consegue pensar “esse sujeito se porta assim e está todo fodido de cabeça, então, não deve ser uma boa escolha”. Mas, um adolescente olha para isso, vê o cidadão rico, cheio de seguidores, famoso e deseja ser como ele.

Nada é mais tentador para um desempoderado do que se sentir especial, do que sentir pertencimento a grupo ou sentir que está cumprindo uma missão. E Felipe Neto dá justamente esses ingredientes a pessoas que de alguma forma acabam encontrando nisso um remendo para uma autoestima cagada, uma insegurança ou até um ego inflado. Se tem uma coisa que a idade me ensinou é que não tem nada mais cafona e cansativo do que querer ser especial.

Enquanto Luisa Mell grita, faz vídeo de si mesma aos prantos e reveste toda sua histeria, neurose e traumas de “causa nobre da proteção animal”, Felipe Neto fornece “drogas emocionais”, mecanismos viciantes que fazem pessoas se sentirem especiais, importantes, úteis. Mecanismos mesquinhos, focados em criticar os outros, em combater os outros, em “fazer justiça”. Tenha santa paciência, quão importante se acha uma pessoa que se julga capaz de fazer justiça?

Francamente, Felipe Neto já está bastante velho para esse papel que está protagonizando, não tem mais idade para ficar vomitando esse terraplanismo emocional. Hora de superar essa fase. Gostaria de voltar a ver os vídeos divertidos, sem essa carga pesada e neurótica atual.

Para dizer que a escolha hoje está particularmente difícil, para dizer que eu tenho inveja do Felipe Neto ou ainda para dizer que o Desfavor é pior do que eles dois: sally@desfavor.com


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