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Limpinhos? – Parte 2

Limpinhos? – Parte 2

| Sally | | 40 comentários em Limpinhos? – Parte 2

Continuando na nossa série sobre limpeza e higiene pessoal, vamos falar sobre roupas hoje. Infelizmente, no Brasil, muita gente é flexível demais quando falamos sobre higiene pessoal, inclusive no quesito roupas, nem parece que é um país tropical tão quente: se não tiver uma grande mancha de lama visível, a pessoa acha que ainda não é hora de lavar.

O que será dito aqui não é a minha opinião, um capricho meu ou um exagero, é a frequência e forma de lavar as roupas que, à luz da ciência e da química são necessárias e eficazes. Portanto, se você discorda, não está discordando de mim, está discordando da ciência.

Não há qualquer contraindicação em lavar as peças com uma frequência maior do que a que está aqui (que é a frequência mínima para ser uma pessoa limpa e não colocar em risco a sua saúde), mas lavar as peças com uma frequência maior pode comprometer a sua saúde e também sua vida social, já que muitas vezes peças de roupa estão com cheiro ruim e quem as usa não percebe.

É o mesmo mecanismo do cecê: quem está fedendo nunca sente, pois o cheiro irrita o bulbo olfativo e, por um mecanismo involuntário, o corpo “desliga” a percepção daquele cheiro. É o mesmo mecanismo que faz com que você pare de sentir o perfume que passou mesmo que as outras pessoas digam que você está cheiroso. Então, sim, se você lava a roupa com menos frequência do que o indicado, você pode estar fedendo e nem percebendo.

Vamos começar pela roupa de baixo: calcinha, sutiã e cueca. Nem deveria ser preciso falar sobre isso, mas eu já vi coisas demais nessa vida para esperar bom-senso de todos os seres humanos: calcinha e cueca é uma usada, uma lavada. Simples assim.

“Mas não está sujo”. Novamente isso. Sujeira não é apenas aquilo que você consegue ver ou cheirar. Nem sempre sujeira é visível. E nem sempre o motivo pelo qual se lava algo com frequência é por sujeira propriamente dita. Em outro texto desta série explicamos que boa parte do peso do seu travesseiro pode ser de ácaros ou de cocô de ácaros e você não pode vê-los.

Leve esta premissa para qualquer peça de roupa citada no texto: você não pode saber se está sujo ou não, pois nem toda sujeira é visível ao olho humano e nem toda sujeira é detectável pelo olfato humano. Além disso, existem outros problemas além da sujeira, como ácaros, bactérias e fungos. E já que estamos falando em premissas gerais, por caridade: colocar a roupa ao sol não a deixa limpa. A roupa se lava com água e sabão.

Então, é inegociável se você quer ter higiene: calcinha e cueca, usou lavou. Nada de usar duas vezes seguidas. Nada de virar do avesso e usar novamente, nada que de alguma forma flexibilize essa regra. Não importa se está nevando, não importa se você não transpirou, não importa nem se você usou Carefree, pois o resto do corpo entrou em contato com a peça.

Mesmo que pareça limpíssimo para você provavelmente tem microrganismos ali que você não consegue ver, como bactérias ou fungos, que além de ter o potencial para causar doenças, não deixarão o cheiro da região muito agradável.

“Eu não sinto o cheiro”. Vamos começar novamente com isso? Já explicamos que o fedido nunca sente o cheiro. E agora falo por todas as mulheres do Brasil, pois certas coisas precisam ser ditas e é muito mais fácil se for de forma anônima: 90% dos homens tem cheiro de saco em algum momento do dia, sobretudo em dias quentes.

Suou? Sobe cheiro de saco. Que depois a pessoa vá para o ar-condicionado e o suor evapore todo, o cheiro de saco continua, o cheiro de saco é uma maldição. E pior: todo saco cheira exatamente igual. Não importa se você é branco, azul ou alienígena, cheiro de saco é a forma que a mãe natureza encontrou para emitir esse alerta universal: “esse não, esse é um porco do caralho”.

Então, não adianta seguir os conselhos daqui sem levar em conta o contexto: “ok, cueca eu lavo todo dia, mas calça, bermuda e short não precisa”. Depende. Mas olha, depende muito. Vamos desenvolver o tema, por amor a todas as mulheres do Brasil. Eu espero de coração que este texto eduque os rapazes daí, ninguém merece conviver com cheiro de saco.

Aquela calça de moletom que você usa sem cueca e acha que tá ok usar por uma semana seguida… ela tem cheiro de saco. E é nojento. Aquele pijaminha que você usa sem cuequinha? Cheiro de saco, certamente. No nosso texto sobre cecê explicamos por qual motivo algumas regiões do corpo humano soltam odores, mesmo quando não transpiramos e a virilha é uma delas.

Isso significa que qualquer coisa colocada em contato com as partes íntimas diretamente, seja pijama, calça de moletom ou sunga, tem que seguir a regra de uma usada uma lavada. Não quer? Use uma porra de uma cueca. Usou qualquer peça, mesmo que seja um Kilt (uma saia escocesa) sem cueca? Uma usada, uma lavada. Não seja mané, não saia por aí com cheiro de saco.

Depois do esporro nos rapazes, vamos ao esporro nas meninas. Calcinha é uma usada, uma lavada, mas não basta lavar depois de uma usada, é preciso saber lavar. Se o ginecologista de vocês nunca avisou, aviso eu: é prejudicial para a sua saúde lavar a calcinha no banho e deixar pendurada no box.

Calcinhas, cuecas ou o que quer que se esteja usando como roupa de baixo não devem secar em um ambiente úmido, pois é um ambiente propício para a proliferação de bactérias e fungos. Sem contar a dose cavalar de deselegância que é ter uma calcinha pendurada no box, coisa mais ordinária, por favor, vamos ter mais dignidade!

Vamos trabalhar para um país melhor. Chega de casal composto por Mr. Cheiro de Saco e Miss Calcinha no Box. Não sejam essas pessoas, tenham dignidade, respeitem seus parceiros, respeitem sua casa, respeitem a vocês mesmos. Você não tem que viver como um animal, é possível ser uma pessoa melhor!

Prosseguindo… quando falamos em meias e sutiãs, o ideal é uma usada e uma lavada também, porém, aqui existe uma remota possibilidade de ser mais flexível. Se você usou meia ou sutiã o dia todo, não tem conversa: tem que lavar, mesmo que esteja frio, mesmo que você não tenha transpirado, mesmo que qualquer coisa. Encostou na sua pele? Tem que lavar após uma usada.

Mas se você fez um uso pontual, ou seja, usou por um curto período de tempo (ex: colocou uma meia e um sapato apenas para ir na portaria pegar uma encomenda ou colocou uma meia para assistir a um filme sentado no sofá pois estava com frio nos pés), é possível flexibilizar – mas que nunca passe de três usadas, por mais pontuais que elas sejam, sem lavar.

Pijama, camisola ou o que quer que você use apenas para dormir: se usar a parte de baixo sem cueca/calcinha, lavar todo dia. “Mas aí eu vou ter que comprar um monte de pijamas!”. Usa cueca então, desgraça. “Mas a cueca me aperta!”. Compra cueca samba-canção. Haja paciência…

Se você usa roupa de baixo com o pijama, com sorte, pode ser que ele só precise ser lavado após uma semana de uso. Mas pode ser que seja necessário lavá-lo antes, caso você transpire muito durante o sono. “Mas eu não transpirei nenhuma noite!”. Ok, mesmo sem transpiração, em uma semana a roupa tem um acúmulo de sujeira/ácaros/bactérias/secreções corporais e sabe mais o quê… tem que lavar.

Roupas básicas: saias, calças, camisa, camiseta, vestidos etc. Se foi um uso por um período prolongado, por exemplo, uma roupa que você usa como uniforme no trabalho, com a qual você ficou das 9 da manhã até as 18hs, sinto muito, mas é uma usada e uma lavada sim, pois é humanamente impossível que ela esteja limpa.

Mesmo que você não tenha transpirado a ponto de molhar a roupa, nenhum ser humano passa 8 horas (ou mais) sem soltar pele morta na roupa, sem soltar algum tipo de secreção ou até sem sentar ou encostar em um ambiente com ácaros ou coisa pior. Então, aquela roupa que “vai para a guerra” com você, é uma usada, uma lavada. E, a menos que a roupa seja de um tecido muito resistente, eu recomendo que essa lavada seja à mão, pois todo santo dia na máquina de lavar vai detonar a sua roupa.

Mas, se estamos falando de uso esporádico, como por exemplo uma roupa que você usou para um compromisso curto e de uma roupa que não encostou diretamente na sua pele (por exemplo, a pessoa usou uma camiseta de algodão por baixo da camisa social), pode ser que a peça ainda renda mais uma ou duas usadas antes de precisar ser lavada. Alguns fatores precisam ser observados.

Nosso corpo possuí dois tipos de glândulas sudoríparas: as écrinas e as apócrinas. As écrinas estão espalhadas pelo corpo todo e secretam apenas água e sais minerais, não causam mau cheiro. Porém, as apócrinas, que estão em apenas algumas partes do corpo, jogam no suor restos do metabolismo do corpo, o que torna a transpiração mais “sujante”, mais fedida.

Por isso, quando a roupa entrar em contato direto com um local que tenha glândula apócrinas e for usada por um tempo considerável, ela deve ser lavada, mesmo após um único uso. As regiões com predominância de glândulas apócrinas são: axilas, virilha, genitais, períneo e peito. Sua roupa foi usada por muitas horas e encostou diretamente em uma delas? Tem que lavar, mesmo após uma única usada.

Vamos supor que sua roupa não encostou diretamente em nenhuma dessas regiões, pois havia outra roupa por baixo. Vamos supor que você não usou a roupa por muitas horas, não transpirou, não se sujou, não manchou. Talvez esta roupa não precise ser lavada. Mas… será que ela está apta a voltar para o armário com as roupas 100% limpas? Uma calça que sentou no busão, uma camisa cujas costas encostaram na parede do metrô?

Aí cria-se um limbo de roupas nem sujas o bastante para lavar, nem limpas o bastante para serem devolvidas ao armário. Você tem três soluções possíveis: ligar o foda-se, abstrair e lavar a roupa mesmo ela não estando na maior das sujeiras, ligar o foda-se e guardar a roupa no armário, mesmo ela não estando na maior das limpezas, ou fazer o que eu faço e dar um pequeno tratamento a essa peça antes de devolvê-la ao armário.

Você vai precisar de meio litro de água morna, 2 colheres de sopa de bicarbonato de sódio e 2 colheres de sopa de amaciante. Recomendo o Downy da embalagem preta, melhor cheiro do mercado (https://images-americanas.b2w.io/produtos/2775427149/imagens/amaciante-concentrado-downy-perfume-collection-adoravel-900-ml/2775427149_1_large.jpg), lembrando sempre que nenhuma marca patrocina a gente, muito pelo contrário, costuma ser um demérito ser citado pelo Desfavor. É opinião sincera.

Misture tudo em um borrifador e borrife na roupa que está no limbo da sujeira e deixe esta roupa penduradinha em um cabide, para que fique esticada, do lado de fora do armário, em um local ventilado. No dia seguinte, coloque no armário, em um canto separado do resto das roupas, para você saber que aquela roupa já tem um uso.

Não é uma lavagem, mas o bicarbonato faz uma pequena higienização e ajuda a remover odores, enquanto o amaciante ajuda a desamassar a peça e ainda deixa um cheirinho agradável. Mas atenção: isso é apenas para peças limpas, não comecem a usar isso para não lavar roupa, pois isso não limpa uma roupa suja, ok?

No caso de casacos, jaquetas, sobretudos e outras peças que, pela natureza da peça, sempre são usadas com alguma roupa por baixo, ou seja, nunca entram em contato direito com sua pele, a lavagem pode ser mais esporádica. Tudo vai depender do uso que você dá à peça. Um casaco que você usa 3 vezes ao ano não é o mesmo do que um casaco que você usa 3 vezes por semana. Eu colocaria uma regra básica de nunca ultrapassar 7 usos sem lavar. E muito cuidado, geralmente essas peças não podem ser lavadas em casa. Olhe a etiqueta para descobrir como lavar.

Roupas de academia ou para se exercitar: uma usada, uma lavada, não importa quais elas sejam. Não creio que exista um ser humano que se exercite e volte com a roupa limpa para casa. Tira tudo, inclusive meia e sutiã/top e lava depois de um único uso. Esse tipo de roupa é propositalmente resistente por isso: é para ser usada uma vez e lavada.

Um item que merece um parágrafo próprio: camisa de time, de seleção ou apenas aquelas camisas de tecido molinho de academia. São tecidos que ficam com um cheiro muito ruim, um misto de sujeira, cecê e um azedinho-doce inidentificável. Se você está usando uma dessas e começou a transpirar, faça um favor à sociedade: não abrace ninguém.

É inegociável que seja uma usada, uma lavada e que, depois de lavar, ela seque penduradinha em um cabide, esticada (nunca dobrada) em um local fresco, arejado, ventilado, de preferência sozinha, pois se não secar com muita circulação de ar, vai ficar com cheiro de cachorro molhado. Eu ainda dou um reforço, borrifando a roupa que está no varal com uma mistura de 800ml de água + 100ml de amaciante + 100ml de álcool. Coloco tudo em um borrifador e borrifo na roupa molhada. Se pendurar ela bem esticadinha, não precisa nem passar depois. Isso vai garantir que esse tecido maldito seque minimamente cheiroso.

Roupas de praia/piscina, como maiô, biquini, sunga e o que quer que se esteja usando agora, também é uma usada e uma lavada. Não, o fato de ter entrado na água com ela não a deixa limpa, a roupa só está limpa se for exposta a água + sabão + atrito (que pode ser esfregando ou na máquina de lavar).

Inclusive guardar uma peça que esteve em contato com água da piscina ou do mar sem lavar certamente vai estragá-la. O mesmo vale para os outros acessórios como canga, boné, toalha de praia e qualquer coisa que tenha entrado em contato com uma pessoa suada ou molhada: uma usada, uma lavada.

E, não custa lembrar que cada roupa tem uma forma correta para ser lavada – e ela pode ser encontrada na etiqueta da própria roupa. Nada de sair jogando tudo na máquina de lavar, pois você pode estragar a peça ou todas as demais, se uma delas soltar tinta. Leia a porcaria de etiqueta antes de lavar qualquer roupa, leva menos de um minuto e evita acidentes.

“Mas Sally, a peça é velha, não tem etiqueta”. Provavelmente ela deveria estar no lixo então, mas vamos lá… Pegue um pano branco qualquer, molhe uma pontinha da peça que você vai lavar e esfregue vigorosamente no pano branco. O pano branco ficou manchado com a cor da roupa? Se sim, ela provavelmente vai soltar tinta, portanto, deve ser lavada a mão ou em uma lavanderia.

Peças de tecidos delicados, como seda, voal (ou voil), renda, apliques, paetês, ou qualquer outro tecido que te pareça fino ou frágil não devem ser lavados na máquina de lavar roupa, pois existem grandes chances de que saiam com rasgos, deformados ou estraçalhados. Uma boa medida de agora em diante é perguntar, antes de comprar uma roupa (ou olhar na etiqueta) se ela pode ser lavada na máquina. Se não puder, eu simplesmente não compro e recomendo que você faça o mesmo, a menos que tenha tempo sobrando.

É isso, encerramos mais um episódio da nossa autoajuda “não seja um porco do caralho”. Se quiserem, continuamos com mais dicas relacionadas a higiene pessoal e limpeza.

Para dizer que diretrizes mínimas de higiene são exagero ou frescura como se fossem opiniões pessoais minhas, para dizer que nada disso se aplica ao brasileiro pois ele nada no esgoto e nada acontece ou ainda para dizer que camisa de time fede dois segundos depois que a pessoa a coloca: sally@desfavor.com


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