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Des volta?

Des volta?

| Desfavor | | 34 comentários em Des volta?

Depois de tantos anos de Desfavor, muitas colunas nasceram e morreram. Sally e Somir concordam que se renovar é necessário, mas sentem falta de algumas ideias passadas. Os impopulares (que se lembram) palpitam.

Tema de hoje: que coluna do Desfavor deveria voltar?

SOMIR

Na minha nunca humilde opinião, a “Em Direito” que a Sally fazia explicando o funcionamento da legislação brasileira. O primeiro argumento é o valor prático da coisa: conhecer as leis é algo muito valioso para a sua vida. O segundo é mais… escroto: os comentários e as pesquisas feitas para cair na postagem são puro suco de Brasil!

E os dois argumentos são baseados na mesma ideia: o brasileiro médio não tem a menor ideia de como funciona o sistema jurídico. Mesmo quem é mais estudado tende a não ter muita ideia de como as coisas funcionam. Eu sou um pouco mais privilegiado que a média por ter convivido com gente que advogava a vida toda, e a Sally é parte dessa experiência; o que eu percebo é que pessoas sem essa experiência básica acham tudo muito alienígena, confuso e frequentemente assustador.

Brasileiro se ameaça com processo. E para muita gente, cola. Quem sofre essa ameaça fica ansioso, confuso… as pessoas só fazem porque funciona. Ameaçar de processo gera um estresse tão grande no cidadão médio que as pessoas aprenderam a usar essa arma. Eu acho que funciona porque a própria pessoa que ameaça também não entende nada de lei e acha que realmente tem direito a qualquer coisa que der na sua telha. Falar bobagem com segurança é sempre mais eficiente.

Quando você começa a entender um pouco sobre direito, fica menos vulnerável. E não precisa entender todas as sutilezas do processo legal brasileiro, basta entender que salvo um juiz maluco, as leis têm uma certa lógica e o processo é todo muito burocrático. Infelizmente não podemos ignorar a possibilidade de uma sentença bizarra nesse país, mas se você souber como as coisas funcionam, sabe que tem o que fazer mesmo nesses casos.

Com a coluna da Sally explicando problemas jurídicos comuns em detalhes, podemos entender melhor o sistema e pensar de forma mais prática sobre os eventuais problemas que nós e pessoas queridas tiverem com a Justiça. Cabeça vazia é oficina do diabo: quanto menos você conhece sobre Direito, mais besteira você começa a imaginar. A “Em Direito” tinha a vantagem de nos dar boas informações que reduziam a possibilidade de estresse futuro.

A minha ex-coluna “Deleta Eu!” tinha um fator de entretenimento alto, concordo, mas de uma certa forma, era o mesmo tipo de entretenimento que a ex-coluna da Sally tinha: atrair gente maluca e sem filtro pra comentar e nos fazer rir. É sinal dos tempos que todo mundo procure no Google resposta para suas perguntas, e isso não é diferente com questões legais. Não duvido nem que advogados formados façam algumas dessas pesquisas que caem nos textos de direito da Sally.

No Deleta, eu tirava sarro de gente que se achava muito importante e esperava elas aparecerem aqui para espernear. O que eu não nego que era uma receita de sucesso, mas não acredito que possa ser replicado em 2022. Quando a coluna foi lançada, as pessoas faziam blogs, hoje em dia sobrou só o Desfavor. O Desfavor e alguns blogs de pirataria e pornografia. A gentalha toda que eu sacaneava está nas redes sociais agora. E gentalha das redes sociais não sai mais das redes sociais. Já deve ter muita gente que nem sabe usar o navegador do celular para ver sites.

Já a gentalha que aparecia nos comentários e pesquisas do Em Direito ainda pode aparecer: são obrigados a procurar informação no Google. Na rede social você não acha a informação exata que quer, a pesquisa é uma porcaria e nem é o objetivo dos aplicativos, eles querem que você se perca por horas vendo bundas, não que ache informação e siga sua vida.

Se a coluna da Sally voltar, teremos novas gerações de brasileiros médios com problemas jurídicos (possivelmente hilários) derramando sua vida toda nos comentários de um blog anônimo (com nome, sobrenome e dados de contato, porque são todos sem noção), para que possamos apreciar ou mesmo trollar se quisermos. O Deleta não vai conseguir isso: eu só tenho rede social para pegar conteúdo produzido pelo imbecil médio brasileiro, e o imbecil médio brasileiro nunca vai ficar sabendo de nada que não aconteceu na rede social.

Tivemos momentos históricos no Deleta Eu!, mas eles não vão se repetir, quer dizer, talvez até se repetissem se a gente fosse para a rede social, mas não quero isso não. Se é para tirar alguém da tumba, que seja uma coluna com função prática (você provavelmente vai tirar muita coisa útil de conhecer as leis) e com o bônus de gente sem noção vindo aqui perguntar o que fazer depois de dar um tiro no cunhado.

No final das contas o tema de hoje corre o risco de ser completamente inútil, afinal, se nem eu nem a Sally quisermos trazer algo de volta não volta. Mas vai que o feedback impopular anima alguém? Eu não sei mais como fazer o Deleta Eu! sem blogs para analisar, mas se tiverem ideias, eu continuo odiando tudo o suficiente para reclamar de coração.

Na dúvida, eu prefiro ver a Sally falando sobre direito, porque o tema sempre vai ter relevância, mesmo considerando as bizarrices do Legislativo e Judiciário.

Para dizer que prefere um tema de verdade, para dizer que queria de volta Sally Surtada, ou mesmo para dizer que é raiz de verdade e está com saudade da Somira: somir@desfavor.com

SALLY

Qual coluna do Desfavor merece voltar?

Muitas, mas a principal é “Deleta Eu”. Tem que voltar repaginada, modernizada e mais abrangente.

Para quem não pegou essa época, “Deleta Eu” era, para a internet, o que o “Processa Eu” era para as pessoas: uma forma completamente sem limites de criticar, detonar e ridicularizar o que havia de pior online. Em 2008.

Em 2008 já tinha muito lixo na internet, uns sites bosta, uns estelionatários querendo se livrar das próprias responsabilidades colocando a culpa em Mercúrio Retrógrado (ah, que saudades desse texto!), mas nada que se compare aos dias de hoje. A quantidade de lixo que existe na internet hoje nem precisa de garimpo: abre qualquer grande portal de notícias que tem ao menos meia dúzia de pautas maravilhosas.

Isso sem contar com as redes sociais. Vários excrementos novos surgiram. Vídeos, fotos, podcasts… parece que o ser humano se empenhou em diversificar os meios de espalhar seu chorume. O Desfavor merece uma coluna só para rir das imbecilidades que são ditas (e levadas a sério!) por aí.

Não nego, a coluna “Em Direito” era legal, era minha cria. Mas, francamente, de que adianta falar sobre direito agora? Eu mesma respondo: de nada. O direito brasileiro não vale nada, tamanha a insegurança jurídica que se instaurou. A teoria está cada vez mais distante do que é feito na prática. Eu posso te falar tudo que você quiser saber em tese, aí vai o STF, anula condenação que já era definitiva, e solta todos os bandidos.

Não tem direito no Brasil. Me desculpa quem ainda trabalha com isso, eu entendo a necessidade de vocês de continuarem se enganando, mas a realidade é que o que sobrou na área jurídica (além dos dinossauros) foi um bando de desempoderado que ainda acha que o título de advogado é alguma merda (se você for honesto, faxineiro ganha mais do que você) e um punhado de funcionários públicos corruptos, sem escrúpulos, conformados com o sistema imundo que se instaurou.

Não faz o menor sentido esmiuçar regras que não são cumpridas ou que podem, a qualquer momento, deixar de ser cumpridas. Direito é lindo no papel, na prática, no Brasil, é simplesmente nojento e eu não consigo conceber ninguém que não tenha alguma dose de psicopatia trabalhando com isso, feliz, satisfeito, realizado e com a consciência em paz. Então, discorrer sobre direito é alimentar uma mentira que só existe nos livros. Pra que?

Muito melhor rolar de rir com o deboche elitista que o Somir fazia no Deleta Eu. Desaforos que faziam os autores do blog virem até aqui responder, bater boca. Tem que ter um Deleta Eu amplo, geral e irrestrito, criticando tudo que há de podre na internet, tudo que merecia ser deletado, ou seja… 99,9999% do conteúdo. O que não faltaria para essa coluna seria assunto!

E nem precisa ser sobre um site, um blog ou um perfil específico. Pode ser uma entrevista de alguém em um podcast, um vídeo pontual de algum perfil, ou até os “melhores” comentários de uma notícia em um grande portal de notícias. São infinitas possibilidades!

Esses tempos sombrios, polarizados e bélicos pedem por isso: o esculacho suave, sutil, porém não menos cruel do Somir: o público-alvo dificilmente entende, não dá treta e os impopulares se divertem um monte. Pensa comigo, este ano vai ter eleição e Copa do Mundo emendado, não vai faltar atrocidade e sobrarão motivos para ter mais uma postagem de humor, para deixar nossas vidas mais leves.

Saber mais sobre direito é inútil, pois Judiciário brasileiro limpa a bunda com a Constituição e usa a lei ordinária para forrar gaiola de passarinho. Já rir, meus queridos… rir é sempre muito bom, muito necessário e cada vez mais raro.

Inclusive esse tipo de humor, onde você pega alguém ou um grupo, aponta tudo que ele tem de ridículo e ri está em extinção. Não se pode mais fazer esse tipo de humor hoje em dia. Dificilmente você vai ver gente se arriscando a fazer isso hoje, já que tudo é considerado bullying, “ismos” (racismo, machismo, fascismo e cia) e muitas vezes acaba até criminalizado.

E digo mais: você não ganha apenas uma sensacional coluna com um humor que todo mundo tem medo de fazer, você ganha uma carta branca para falar a bosta que quiser nos comentários pois, legalmente, a responsabilidade jurídica de tudo que é publicado no Desfavor (inclusive nos comentários) é nossa, do Somir e minha. Então, você ganha um humor raro e ainda um passe livre para desabafar e falar tudo que pensa sem ser responsabilizado por isso. Melhor impossível.

Conhecer seus direitos só tem serventia quando você vive em um país sério onde esses direitos são respeitados e garantidos. No Brasil? Pffffffff. Fica com a piada que você ganha mais. Vamos rir, que se a gente começar a chorar, entra em depressão. Vamos não levar nada tão a sério, inclusive o Desfavor. Já temos colunas sérias demais por aqui, por motivos de força maior (pandemia, guerra e outros detalhes do tipo). Chega, né?

Sem contar que, como vocês sabem, eu abandonei o direito faz tempo. Portanto, para escrever cada coluna teria que estudar, perder um tempo danado com uma coisa que nem ao menos é realidade ou é aplicada. Perder tempo com letra morta. Se é para estudar, acho que vocês ganham mais com textos que tragam um benefício real para suas vidas, coisas como neurociência, primeiros-socorros ou coisas que ainda se aplicam ao mundo real.

Enfim, não tem muito florear: a coluna do Somir é melhor do que a minha. A coluna do Somir envelheceu bem, ganhou força em função das circunstâncias. A minha envelheceu mal e perdeu força, em função das circunstâncias. Abracemos a que pode nos trazer mais ganhos atualmente: gostosas risadas e um tipo de humor que você não vai encontrar em qualquer lugar. Volta Deleta Eu!

Para dizer que falar sério sobre direito também é comédia, para dizer que não vivenciou a era Deleta Eu mas parece interessante, ou ainda para dizer que insiste em querer Processa Eu de volta: sally@desfavor.com


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