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Período eleitoral.

Período eleitoral.

| Sally | | 34 comentários em Período eleitoral.

Semana que vem já é agosto. O que isso significa? Que, a partir da próxima semana começa para valer o frenesi eleitoral no Brasil. Em agosto os candidatos intensificam suas campanhas (e seus bots em redes sociais), começa o horário eleitoral, chovem notícias falsas e, como resultado desse combo, surge uma polarização acirrada na população.

O ambiente nos próximos meses será tóxico. Provavelmente haverá uma escalada de brigas, violência e desrespeito nos mais diversos ambientes. Certamente haverá um decréscimo na qualidade de vida de muita gente que, quando exposta a absurdos, burrices, mentiras e inconsciência alheia vai ficar muito revoltada. Por isso, resolvemos trazer este texto hoje. Para tentar te lembrar do que é importante e tentar te tirar dessa grande espiral de merda que vai começar.

“Quem você pensa que é para me dizer o que fazer?”. Primeiro eu não quero te dizer o que fazer, quero te dar ferramentas para que você tenha a escolha de fazer o que quiser: quer se aborrecer por escolha? Vai lá, se aborrece com força. Não quer se aborrecer pois pensa que sua saúde vale mais e não quer ficar jogando hormônios nocivos para seu corpo com estresse? Talvez alguma frase deste possa te ajudar. Se servir, pega. Se não servir, passa amanhã que vai ter outro texto muito mais legal.

Então, como dito, só depende de você o grau de aborrecimento, desgosto e mal-estar que você vai experimentar nos próximos meses. E sim, você tem essa escolha, mesmo que não seja algo que você consiga de primeira, a mente pode ser treinada e você pode, gradualmente, ir se desligando das tretas e ir trabalhando sua cabeça para se afetar cada vez menos com isso.

E aqui, um conselho para a vida: sempre que qualquer um de nós repete uma conduta que é nociva para consigo mesmo, pode ter certeza de que existe um ganho secundário nela. Ninguém se faz mal gratuitamente. Se você é do tipo que se aborrece, briga e permite que política te afete, pode ter certeza de que isso te faz mal física e emocionalmente e de que existe um ganho secundário nisso – e seria muito bom que você comece a pensar qual é, para desarmar esse mecanismo que só te faz mal.

Algumas pessoas ficam inflamadas com política pois sentem uma falsa sensação de superioridade (“eu sou sábio, eu vejo a verdade, eu faço o bem”). Outras pela sensação de pertinência (“eu pertenço a esse grupo, existe um grupo que me aceita, me sinto mais protegido e menos sozinho”). Outros simplesmente se apegam a isso para não olhar para a própria vida, que não está como a pessoa queria, e se distrair, esquecendo do tanto de coisa à sua volta que causa infelicidade.

Acredito que hoje, no Brasil, a maioria dos militantes confundem o que são com seu posicionamento político, o que é um absurdo, pois posicionamento político é apenas um pequeno detalhe do que é a essência de uma pessoa. “Eu sou de esquerda/direita”. Não. Você é um ser humano com uma essência muito maior do que isso. Nem seu posicionamento político, nem sua profissão, nem seu status familiar te definem. Busque sua essência em vez de colar rótulos idiotas em você mesmo ou vai acabar no remédio tarja preta.

Obviamente, existem uma infinidade de fatores (ou confluências de fatores) que fazem com que uma pessoa entre na insanidade de perder seu tempo, sua energia e seu bem-estar brigando por causa de político ou de política. Seria impossível exaurir todos aqui, então, deixo apenas esta dica genérica: entenda o ganho secundário de mergulhar nessa espiral de briga, estresse e raiva e será mais fácil desmontar esse mecanismo.

Dito isso, vamos para a parte objetiva da conversa. Vamos listar 5 motivos pelos quais não vale a pena fica brigando ou se aborrecendo com política. Se você puder abraçar um ou mais de um deles, talvez te ajude. Querer mudanças no país? Justo e necessário. Achar que vai mudar algo brigando, batendo boca ou discursando por aí? Devaneio. Vamos às cinco ferramentas.

Por mais que muita gente fique puta da vida com essa afirmação, vou repetir o que escrevi 4 anos atrás, quando Bolsonaro se elegeu: não faz tanta diferença quem é o Presidente da República, pois, de acordo com a distribuição de poderes da Constituição brasileira, o Presidente sozinho não pode fazer praticamente nada. E pudemos constatar isso nesses quatro anos.

Dito e feito. Alertamos que Bolsonaro não poderia tomar a concessão da Globo (coisa que de fato não aconteceu) e tanto outros devaneios de pessoas apavoradas. Eu sei que quem odeia o Bolsonaro vai gritar, mas, sendo bem sincera, pouca coisa mudou no Brasil. O que mudou foi a ênfase que se dá a algumas questões onde todo mundo pisa na bola (como saúde, educação e meio-ambiente) e estragos de uma política econômica desastrosa, que nem de longe são responsabilidade exclusiva do Presidente. Sempre que precisou, Congresso e STF passaram por cima do Bolsonaro.

Então, seja para o bem (salvar o país), seja para o mal (afundar o país), o Presidente da República não tem esse poder. O brasileiro é ignorante e só conhece essa figura de poder, centralizando tudo nela, mas, pelos poderes que a lei dá a cada um, o Presidente da República é basicamente uma figura encarregada do social. Quem manda de verdade no Brasil são o Congresso (Deputados e Senadores) e o STF.

Principalmente o STF. Não importa que lei o Congresso crie, não importa o que o Presidente sancione, se o STF der uma canetada dizendo “isso é inconstitucional”, o que quer que seja, vai para a lixeira na mesma hora e é descartado – e não há a quem recorrer, pois nada nem ninguém estão acima do STF. Hoje, no Brasil, quem cria as leis é o Congresso e a palavra final sobre elas valerem ou não é do STF. Então, parem de dar tanto foco a Presidente da República, pois o máximo que ele faz é motociata.

Pudemos ver isso perfeitamente no governo Bolsonaro. Ele, sozinho, não conseguiu governar. O governo do Bolsonaro, como Bolsonaro queria, deve ter durado no máximo duas semanas. Depois, quem assumiu o poder foi o Congresso (o setor que foi apelidado de “Centrão) e o STF. Então, repito: pelo sistema brasileiro atual, Presidente da República é quem menos manda. Vocês deveriam ter esse mesmo pânico, empenho e combatividade quando se nomeia um Ministro para o STF ou quando se vota para eleger membros do Congresso.

Outra coisa que a maioria das pessoas não é capaz de absorver, mas vou jogar mesmo assim: quem pensa diferente de você não é seu inimigo, é apenas uma pessoa que pensa diferente de você. Na intenção, todos estão lutando para o que acreditam ser o melhor para o país. “Mas a pessoa é burra pra caralho, ela não está escolhendo o melhor por isso, isso e aquilo!”. Beleza, as pessoas têm o sagrado direito de serem burras. Deixe as pessoas em paz.

Não sinta raiva, não hostilize, não antagonize com quem você acha que está tomando decisões erradas, por dois motivos: a) democracia não é poder dizer o que você quer, democracia é que outras pessoas tenham o direito de dizer o que você não quer e b) antagonizando, hostilizando, brigando, você nunca vai fazer alguém mudar de ideia, muito pelo contrário, só faz com que a pessoa te veja como um agressor e se apegue ainda mais às convicções que tinha.

A real: o Brasil é um país de ignorantes, com um sistema educacional que deixa muito a desejar, onde a maior parte da população está lutando na base da Pirâmide de Maslow e não tem desenvolvimento cognitivo nem tempo para analisar em profundidade questões complexas. Essa é a realidade hoje e provavelmente essa será a realidade em muitas décadas. É isso. Se você não gosta disso, pode fazer como eu fiz e sair do país. Se você não vai sair do país, faça as pazes com isso, pois essa é a realidade – não a sua bolha. E canalize sua energia para melhorar essa realidade merda, não para política.

Então, já temos duas premissas para você se lembrar: 1) Presidente da República não manda nada e 2) o povo é burro e você não vai mudar isso no curto prazo. Vamos seguir adiante.

A próxima talvez ofenda alguns. Essa é a alegria de trabalhar sem patrocinadores, assinantes ou remuneração, nós não nos importamos. Aqui vai: sua opinião não é assim tão interessante.

Sabe quem quer escutar sua opinião? Com sorte, seus pais, seu cônjuge, seus filhos, seus amigos e seu terapeuta, que, na real, nem quer mas é pago para isso. Como regra, todo o resto do universo não tem o menor interesse na sua opinião, pois a sua opinião é muito parecida com a da maioria das pessoas que pensam como você, pois todos bebem da mesma fonte: mídia, grandes portais, discurso de rede social e fala de político.

Quem quer produzir falas interessantes, tem que consumir coisas diferentes, profundas, que saiam do maisntream. E isso demanda muita força de estudo, muita concentração e, acima de tudo, tempo. Ninguém tem tempo para absorver os inputs necessários para gerar outputs interessantes se não sacrificar outras atividades, que costumam ser muito mais atraentes. Então, sua análise com base em uma matéria de 3 páginas de um grande jornal não interessa nem ao meu cachorro.

“E você se acha muito interessante, né?”. Não sei, mas eu não vomito minha opinião no ouvido dos outros, eu falo no meu blog e vem aqui quem quer, o que, por sinal, é um bom medido do quão interessante é uma opinião. Se quiser saber se sua opinião é interessante, sugiro que escreva um blog e conte os acessos. Tomara que seja um sucesso e que sua opinião atraia muita gente, o mundo precisa de mais pessoas interessantes que não repitam obviedades como se tivessem descoberto a roda. No aguardo.

Mais um ponto: não é só sobre aborrecimento, é o emburrecimento também. Ficar monotemático, acompanhando tudo, fissurado, opinando sobre tudo é uma forma mais pacífica, porém igualmente nociva de se deixar sugar por essa espiral de merda que começa na semana que vem. Veja bem, sem querer ser escrota, mesmo que Jesus Cristo fosse eleito Presidente do Brasil, o país vai passar por uma crise do caralho nos próximos anos. A única diferença é que vocês teriam mais vinho.

Então, pra quê tanta punhetação intelectual e política, se não vai fazer a menor diferença? Fala, fala, fala. Especula, especula, especula. Defende isso, defende aquilo. Gente… que canseira. Tudo inútil, tudo palavras que serão lidas/ouvidas por uma dúzia de pessoas que pensarão como eu: “gente… que canseira”. Sério que sua vida está tão perfeita para você poder se dar ao luxo de dedicar horas do seu dia a política? Sério que vale tanto investimento em algo que é incapaz de promover uma mudança?

O brasileiro continua fascinante. Pessoas que não administram bem sua vida profissional, amorosa, financeira, familiar, pessoal e conjugal gastam horas opinando sobre o que políticos que ignoram sua existência fazem ou deveriam fazer. Não resolve a própria vida e acha que pode resolver o país… haja paciência! “Quer dizer que por minha vida estar uma merda eu não posso falar?”. Pode. Tanto pode que fala. Mas, convenhamos, é bastante idiota colocar seu foco em outra coisa em vez de focar para melhorar sua vida.

Posso ser bem sincera? Se sua conta bancária está no vermelho, se você não tem um trabalho que goste, onde é reconhecido e bem remunerado, se você não está em um relacionamento saudável, se você não dá para seus filhos a educação e atenção mais cuidadosa, se sua casa não está impecável, se sua vida não está em ordem, é uma baita imbecilidade colocar seu foco, sua energia e seu olhar em política – sobretudo na forma de discursinho, que é algo incapaz de mudar a realidade.

Então, temos mais dois pontos a serem acrescentados: 3) Você (e o que você fala) não são tão interessantes, ninguém quer saber e 4) Quem não tem a própria vida resolvida, exatamente do jeito que queria, é um completo idiota se foca em outra coisa, principalmente se as atitudes não são capazes de modificar a realidade.

Por fim, vamos terminar com o argumento que, a meu ver, é o principal: o Presidente não é uma pessoa aleatória fruto de azar, ele é um reflexo do povo que o elege. Enquanto o povo for uma merda, o Presidente fatalmente será uma merda.

Sabemos que hoje o brasileiro é uma merda (no sentido de sem educação, rei do jeitinho, sem amor pela excelência), portanto, qualquer pessoa com um mínimo de senso de lógica consegue depreender que, independente da alegoria de campanha que cada candidato use, o próximo Presidente fatalmente será um merda, só que em grande escala, pois terá mais visibilidade e poder.

E ficar falando mal do Presidente não muda nada. Sabe o que muda? Vocês deixarem de ser uma merda. “Mas Sally, eu não sou uma merda”. Eu acredito em você, se você chegou até aqui, você leu quatro páginas, isso te diferencia de 99% das pessoas. Porém, seu entorno ainda é uma merda, não pelas pessoas não prestarem e sim por não terem um mínimo de educação, consciência, civilidade e senso de coletividade. Colabore para mudar ISSO, e a mudança no Presidente da República será algo natural.

E não se muda isso sendo agressivo, colocando apelido de quinta série no eleitor do candidato que você não gosta, chamando o outro de burro ou sendo soberbo, arrogante e agressivo. Isso se muda diariamente, estendendo a mão para as pessoas ajudando, levando informação, que é a única luz que pode iluminar a escuridão na qual o Brasil está hoje.

E, sempre bom lembrar, sua opinião não é informação. Leve INFORMAÇÃO, como ferramenta para que as pessoas possam formular sua própria opinião. “Falou a babaca que só dá opinião em blog”. Negativo. Este é um blog opinativo, tem textos de opinião, mas também tem informação, em colunas como FAQ, Desfavor Explica e muitas outras. E nós sinalizamos muito bem qual é a coluna do dia, para que a pessoa saiba se é informação ou opinião.

Para fechar, vamos repassar os cinco mantras que você deve entoar cada vez que estiver perto de perder a cabeça, brigar, se angustiar, se chatear ou se importar com política?

  1. Presidente da República não manda nada no Brasil
  2. O povo é burro, você não pode mudar isso no curto prazo
  3. Você (e o que você fala) não é tão interessante
  4. Quem não tem a própria vida resolvida, deve focar nela, não fora
  5. O Presidente é um reflexo do povo, se você quer que ele melhore, faça sua parte para levar mais informação ao povo

Pronto. Estas são as suas ferramentas. Você pode resistir a elas, encontrar mil argumentos para desvalorizar o que eu disse e entrar em uma espiral de merda de briga, confusão e aborrecimento ou você pode começar a treinar sua mente hoje, quando a espiral de merda ainda não está tão forte, para mantê-la fora dessa perda de tempo e energia que será o período eleitoral de 2022.

E, se tudo mais der errado, seja mesquinho: pense que se a pessoa que você não gosta ganhar, ela provavelmente vai tomar muito no cu, pois vai pegar um país bastante fodido, muito mais do que aparece nos números oficiais e você vai poder passar quatro anos berrando que você estava certo, que essa pessoa não deveria ter vencido (como se fosse acontecer algo diferente se o seu candidato vencesse). Não é a melhor saída, mas certamente é melhor do que gastar seu tempo se aborrecendo com política.

Para tentar justificar seu vício em conflito, para dizer que se parar de olhar para política vai ter que olhar para sua própria vida e isso seria ainda pior ou ainda para dizer que quer assistir à militância se matando enquanto come pipoca: sally@desfavor.com


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