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FAQ Desfavor – Varíola dos Macacos

FAQ Desfavor – Varíola dos Macacos

| Sally | | 6 comentários em FAQ Desfavor – Varíola dos Macacos

O Brasil confirmou o primeiro caso de varíola de macacos e, com isso, achamos que é hora de falar um pouco mais sobre esta… novidade. Escolhemos as perguntas que mais apareceram por aqui. Você achava ruim um FAQ? Pois é, em 2022 tem dois!

O que é

O vírus da varíola tem diferentes “famílias”, cada uma delas afeta um animal. Tem varíola que afeta humanos, tem varíola que afeta vaca, etc. Mas, como sabemos, eventualmente vírus mutam e aprendem a viver em novos animais. Vimos acontecer na covid, onde o vírus passou a contaminar cervos e vison, além de humanos.

Pois bem, esse vírus da “varíola do macaco” é uma varíola originária de roedores. Isso mesmo, ele não vem de macacos, vem de ratos. Ao que tudo indica, ele pulou de um roedor para um macaco e de macaco para humanos. E não foi hoje nem ontem, é um vírus não muito competente para mutar. Há pelo menos 50 anos se registram casos de humanos contaminados com essa “varíola de macaco”, só que como não acontecia em países ricos, ninguém deu bola.

Não é um vírus fabricado e podemos ter certeza disso pelo mesmo motivo que podemos ter certeza de que o SarsCov2 não é fabricado: não há qualquer marcador que indique manipulação do vírus. A explicação detalhada está em uma edição na nossa coluna FAQ Covid, portando, não vou entrar em detalhes. Basta você saber que quando o ser humano manipula e modifica um vírus isso deixa “marcas”, que permitem identificar essa “edição” e não há nenhum sinal disso nem na varíola nem no covid.

Se você não acredita na ciência, ou acredita que todos os cientistas do mundo estão comprados/mentindo, faça um favor a você mesmo e a nós: não volte aqui. Não temos interesse em ouvir o que você tem a dizer e seus comentários não serão aprovados. Não tem uma pessoa que seja levada a sério em nenhum lugar do mundo que esteja discutindo isso, não seremos nós a bater palma para maluco dançar.


Por que só apareceu agora?

Não apareceu só agora, desde a década de 60/70 existem casos reportados de pessoas com esse vírus. Varíola de macaco é endêmica em muitos países africanos, não uma novidade inesperada. Na Nigéria, por exemplo, desde 2017 há um surto da doença. Pessoas não vacinadas pegando é pura lógica, não uma novidade inesperada.

Mas agora a incidência é maior, está acontecendo em país de primeiro mundo, por isso ganhou visibilidade. Por qual motivo chegou a esses países? Vamos lá.

Quando a varíola humana foi declarada extinta, a maioria dos países, inclusive o Brasil, em 1980, parou de vacinar contra a varíola. Não era mais necessário, a doença estava erradicada.

A vacina contra varíola humana protege contra a varíola dos macacos. Por isso, quando a humanidade vacinava contra varíola humana, havia poucos casos de pessoas contraindo varíola de macaco (os infelizes que não estavam vacinados). Porém, depois que a doença foi erradicada e as pessoas pararam de ser vacinadas, aos poucos foram surgindo gerações sem proteção contra a varíola, seja ela humana ou a dos macacos. Adivinha o que aconteceu? Vários estudos científicos previram que isso poderia acontecer. Não é nada inesperado, não é nada imprevisível e não é nada surpreendente.

Além disso, existem uma série de outros fatores que contribuem para que esses casos aumentem agora, tanto que nem caberiam aqui se eu fosse falar deles. Por exemplo, o tanto que o ser humano está invadindo o habitat dos animais ao expandir a sociedade para cima da natureza. Mais convívio com animais = mais contágio. Não precisa ser gênio para perceber. Maior mobilidade humana (o deslocamento se torna cada vez mais rápido e mais fácil) faz com que doenças se espalhem mais rápido. Não precisa ser gênio para perceber.

E não é “coincidência” que muitos países tenham vacinas contra varíola em estoque, é um procedimento planejado desde a década de 70, que se faz com qualquer vírus que seja erradicado.

É um recurso estratégico: como tem várias gerações sem proteção contra varíola, boa parte da população mundial voltou a ser vulnerável a esta doença, portanto, se ela reaparecer de alguma forma, é preciso conseguir vacinar a população do seu país rapidamente. E doenças podem voltar.

O próprio covid, se for erradicado de humanos, pode retornar a humanos mesmo com zero pessoas doentes, pois ele afeta animais. Basta que uma pessoa tenha contato com um cervo, um vison ou qualquer outro animal contaminado para começar tudo novamente. Esta semana foi constatado o primeiro caso de contágio de um gato doméstico para humanos: os tutores do animal estavam com covid, o gato pegou, espirrou na veterinária e contaminou a mulher.

Então, pessoas da ciência, que sabem quem um vírus pode voltar de diversas formas mesmo que não exista um único ser humano doente, decidiram deixar vacinas em estoque. Não tem nada de “suspeito” aí, é um procedimento de segurança. Muitos países guardaram vacinas caso a doença retornasse de alguma forma. Não tem nada, absolutamente nada de conspiratório nisso.

Então, tudo isso era muito previsível. Quem entende do assunto podia antever e se fabricou vacinas pensando nisso, não foi por ter espalhado um vírus premeditadamente (vamos chegar lá), mas por ter um conhecimento científico que lhe permitiu antever o que já estava em andamento.


Mesmo sem ter sido criado em laboratório, pode ser uma arma biológica? Ou um vírus criado para vender vacina?

Só se a pessoa que planejou isso for muito burra, pois é um vírus de contágio bem restrito, baixa letalidade e de fácil controle, uma vez que já existe vacina. A pessoa teria que ser muito burra para escolher esse vírus, principalmente se levarmos em conta que nos principais laboratórios do mundo ainda existem amostras do vírus da varíola humana, essa sim extremamente contagiosa e letal.

Também duvido muito que seja algo intencional para vender vacinas, como tenho lido por aí. Só se o plano foi desenhado por alguém muito burro e além de tudo muito paciente. É uma doença que circula há mais de 50 anos e não conseguiu se espalhar muito nem fazer estrago, não vai ter uma corrida mundial por vacinas. A estratégia usada é a de anel de vacinação (falamos dele no último FAQ), portanto, não serve para deixar indústria farmacêutica rica.

Por sinal, a indústria farmacêutica nem precisaria disso agora, pois está ganhando muito dinheiro, inclusive com vacina contra covid, que é algo que o mundo todo vai continuar precisando. Se não estavam dando conta nem da vacina contra covid, imagina se poderiam fazer vacina contra a varíola em escala mundial simultaneamente.

Se a ideia era meter a louca e extinguir a humanidade sem controle, soltariam um vírus mais contagioso e mais letal. Se a ideia era causar um dando grande, porém controlado, seria com uma bactéria, para a qual tenham desenvolvido antibiótico. Em nenhum cenário parece bom ou lucrativo espalhar um vírus quase que inofensivo, que pode ser facilmente evitado.

Não sei quem é a bola da vez, quem os lunáticos pegaram para culpar (Bill Gates, Elon Musk, Indústria Farmacêutica, Biden, Bolsonaro, o PT…) mas não precisa pensar muito para ver que se alguém fosse se dar ao trabalho de fazer uma coisa desse porte, mundial, teria escolhido um vírus mais “rentável” do que a varíola de macaco.


É vírus de gay? Usando camisinha protege?

Não aprenderam nada com HIV? Se a pessoa se contamina com fluidos, pode ser fluido de homem, mulher ou qualquer gênero que se decida escolher. Repetir isso, ou até ficar fazendo piadinha de tiozão sobre isso é tenebroso, pois ao vincular a doença a homossexualidade, vai ter muita gente que, se adoecer, não vai contar ou vai ter vergonha de procurar ajuda pelo medo de pensarem que teve uma relação homossexual.

Camisinha não protege, pois não é uma doença transmitida exclusivamente pelo contato sexual. Saliva, suor, qualquer fluido corporal, contato com a pele, contato com objetos da pessoa infectada (lençol, toalha, etc.) podem gerar o contágio. Então, camisinha só te protege se você em momento algum encostar na pessoa ou em tecidos onde ela encostou.


Tem tratamento? Tem vacina?

Sim. O tratamento é o mesmo da varíola humana. É feito com antivirais bastante eficientes. Também pode ser feito com imunoglobulina (pegar o soro de quem se curou e injetar em quem está doente). E, claro, tem a vacina contra a varíola humana, que tem 95% de eficácia.

A vacina que existe é a de vírus atenuado (tem explicação detalhada em vários FAQs Covid), que era o melhor que se podia fazer na época. Ela funciona, mas pode ser não recomendada em alguns casos, quando a pessoa tem o sistema imune comprometido por algum motivo.

O problema não é nem falta de vacina nem falta de tratamento. A questão é: essas vacinas vão chegar na África, que é o lugar que mais precisa? Seria o mais lógico, mas não é o que estamos vendo acontecer com covid. Hoje, no terceiro ano de pandemia de coronavírus, a África não chegou a 20% da população vacinada contra a doença, enquanto o mundo tá entrando na quarta ou quinta dose de vacina.

E, em levando a vacina para a África, será que é possível levar uma vacina de vírus atenuado para uma população com altos índices de HIV, que enfraquece o sistema imunológico? Existiria o risco desse vírus, mesmo atenuado, provocar a doença nas pessoas com sistema imunológico enfraquecido. Talvez fosse necessário desenvolver outro tipo de vacina. Nada na mesma escala da vacina contra covid, antes que venham com discurso conspiratório. E certamente nada lucrativo, o ideal é que essas vacinas sejam doadas.

Vai acontecer? Tomara que sim, mas os últimos eventos indicam que não.


Vai ter pandemia disso?

Não. Quando surgiu covid nós postamos respondendo que não sabíamos o que ia acontecer, mas, que poderia sim dar merda. Agora nós sabemos: não vai ter pandemia. Só se algo muito bizarro acontecer, como mutações que alterem completamente o vírus, algo muito, mas muito improvável.

A varíola humana foi uma praga difícil de controlar pelo mesmo motivo da covid: o contágio se dava pelo ar. Esse tipo de vírus atormenta mesmo. Mas, na varíola dos macacos, o contágio não se dá pelo ar, é preciso que a pessoa encoste no doente (ou em algo que o doente encostou). Isso reduz muito os contágios.

A restrição é muito menor. Podemos não tocar, mas não podemos deixar de respirar. Sem contar que todos temos um instinto natural de não ficar esfregando nossa pele em uma pele com pústulas infectadas. E, no caso da varíola do macaco, ela só se torna transmissível depois que aparecem os sintomas, portanto, não tem essa pegadinha do covid, da pessoa estar sem sintomas mas contaminando. É mais fácil de se cuidar.

Além disso, é um vírus menos transmissível, ou seja, mesmo em contato com infectados, ele consegue contaminar menos pessoas do que outros vírus, como os do covid.

É chato para os profissionais de saúde, que vão ter que redobrar os cuidados, uma vez que eles são obrigados a entrar em contato com o paciente e seus fluidos corporais, mas nada que possa causar uma pandemia. Em “pessoas comuns”, recomendo cuidado na academia, um ambiente onde muitas vezes entramos em contato com fluidos corporais de outras pessoas, por exemplo, quando revezamos aparelhos. Paninho com álcool antes usar.

Outro fator que nos deixa descrentes de pandemia é que o vírus da varíola de macaco é um vírus de DNA, que tem uma evolução muito mais lenta que os vírus de RNA. Também explicamos isso em detalhes em um FAQ Covid, mas resumindo, esse vírus muta menos.

Tanto é que a vacina contra varíola de humanos protege contra a de macacos. O que a covid mudou em alguns meses, a família de vírus da varíola não mudou em 4 mil anos. Isso torna esse vírus muito menos perigoso. Na corrida contra esse vírus, o ser humano ganha com certeza.

Isso quer dizer que tem que relaxar e não adotar nenhum cuidado? Não. Mas os cuidados são mínimos: não usar roupas, toalhas e demais tecidos que você não sabe quem usou (comprou? Lava antes de usar), não se esfregar em pessoas com perebas, não beber em copos ou usar talheres que você não sabe quem usou (por exemplo, talheres ou copos de restaurantes de pouca assepsia, que podem ter sido mal lavados) e outros pequenos cuidados nesse sentido.

Em resumo, não entre em contato com fluidos corporais de pessoas infectadas, nem direta nem indiretamente. São fluidos corporais lágrima, saliva, suor, leite materno, cera de ouvido, sêmen, líquido amniótico e qualquer outro que venha do corpo. Contato direito é a sua pele com a pele ou o fluido corporal da pessoa infectada e contato indireto é encostar em algo que a pessoa contaminada tenha encostado, como compartilhar copos, talheres, toalhas etc.

Não custa muito, não é mesmo? Adotem estes cuidados básicos de higiene e não se preocupem com a varíola dos macacos, tem coisas muito mais grave no ar: coronavírus (atual e outros que estão prestes a pular para humanos), gripe aviária e outras pandemias que estão anunciadas há décadas e quando surgirem vai ter imbeciloide achando “muito estranho do nada aparecer esse vírus”.

Para reclamar que se não vai ter pandemia não merecia uma coluna própria, para reclamar que eu deveria abrir o texto dizendo que não vai ter pandemia assim você não se dava ao trabalho de ler até o final ou ainda para fazer algum comentário pejorativo sobre africano, esquecendo que o brasileiro criou uma nova cepa de covid faz pouco tempo: sally@desfavor.com


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