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Contracepção.

Contracepção.

| Desfavor | | 40 comentários em Contracepção.

Independentemente da sua opinião sobre ter ou não filhos, podemos concordar que o ideal é ser uma escolha, não? Sally e Somir concordam que evitar filhos é importante, mas o método entra em discussão. Os impopulares criam a discussão.

Tema de hoje: qual é o melhor método anticoncepcional para usar atualmente?

SOMIR

Eu não sou mulher. Eu seria um irresponsável querendo escolher um método anticoncepcional para uma mulher. Eu provavelmente sou mais bem educado no funcionamento do corpo feminino que 90% das mulheres desse país, mas não é como se isso me tornasse um especialista: é a terrível falta de educação desse povo mesmo. Por isso, eu vou comparar minha visão das coisas com as mulheres que sabem do que estão falando como a Sally. Sally sabe o que é melhor para ela. Eu vou discutir com ela o que uma mulher deve fazer? Não, bobagem. Agora, a pergunta não é qual o melhor método anticoncepcional para a mulher… e sim, em geral.

E aí, a realização que vai emputecer a maioria das mulheres que estão lendo este texto: nesse caso é melhor confiar em homem. Por isso, o melhor método anticoncepcional é a vasectomia. Sim, se você quer um alto grau de segurança para não fazer filhos indesejados, esqueça a mulher e foque no homem. Se você é mulher, provavelmente está rindo sozinha e dizendo que nunca que um homem teria disciplina para tomar um remédio todos os dias sem falha.

E você provavelmente está correta. A vantagem da vasectomia é que ela é à prova de irresponsabilidade. É uma operação (reversível) que elimina os espermatozoides da equação. Pouco invasiva e de rápida recuperação, é o tipo da coisa que grita praticidade masculina. Não quer ter filhos? Foque no homem, porque o homem tende a ter menos impulsos hormonais para manter filhos. Para fazer todo mundo tem impulso, mas para transformar sexo em reprodução mesmo, quem costuma querer mais é a mulher.

Aqui, generalizadoras de fato único vão começar a dizer: “mas EU não quero ter filhos e não sou maluca”, e eu vou responder que se a leitora média do Desfavor fosse base para alguma coisa na sociedade, não teríamos muito tema para escrever, não? Vocês foram selecionadas a ferro e fogo. Quando discutimos aqui, discutimos a sociedade em geral, não casos especiais.

E na sociedade em geral, tem muita mulher que acha lindo fazer filho pra segurar homem, para ter companhia ou mesmo para não se sentir estranha em comparação com as outras. A pressão social para um homem ter filhos é muito pequena, homens acham engraçado sumir quando mulher atrasa menstruação. Podem achar horrível o quando quiserem, mas é assim que boa parte das pessoas são.

É uma besteira histórica colocar a contracepção sob a responsabilidade da mulher. A popularização da camisinha diminuiu um pouco essa pressão, mas convenhamos: camisinha serve para evitar filhos, mas foi pensada para evitar doenças. Tanto que vive dando errado. Evitar gravidez não é o foco da camisinha, é um efeito colateral que muitos de nós achamos prático. O grosso do processo anticoncepcional ainda está nos remédios que a mulher usa. Pegamos o sexo com a maior carga hormonal de desejo de engravidar e colocamos na mão delas a responsabilidade de colocar em prática o oposto?

Isso tinha que ser com o homem. E desde que a vasectomia se tornou uma cirurgia simples com baixíssimo risco, podemos fazer as coisas do jeito correto. Não é no corpo do homem que o bebê vai ficar, as opções dele são limitadas depois da concepção. Salvo um psicopata que force o aborto ou mate a mulher, o homem fica só esperando para ver o que a mulher vai fazer. Em sociedades minimamente civilizadas, mulher tem poder demais sobre o tema. O homem deveria ter o poder logo no começo: se quiser ter filhos, desfaz a vasectomia. Aí, a chance de ficar preso com uma maluca é muito menor.

Eu acho que aborto deveria ser legalizado e o homem ter a escolha de deixar escrito que não quer o filho para não ser obrigado a pagar pensão caso a mulher queira manter. Mas eu sei que esse mundo não existe e provavelmente não vou estar vivo para ver ele existir. Então, enquanto isso não acontece e ambos os sexos tenham direitos de verdade em relação à reprodução (aceito de boa que as mulheres ganhem primeiro e os homens depois), a melhor coisa é o homem matar o problema de cara.

E tem uma questão mecânica também: mulher é um bicho complicado demais, são uns 30 pedaços diferentes fazendo um monte de coisa maluca no sistema reprodutor delas. No homem é um tubo que você fecha com um enforca-gato e a chance de fazer filho cai para níveis negligíveis. Tem mil coisas que podem dar errado no processo feminino, no homem tem um ponto de falha e pronto. Dá pra fazer o teste depois e ver se tem espermatozoides saindo ainda. Se não tiver, missão cumprida.

Pode pegar a louca que quiser e o pior que acontece é pegar doença. Pra isso tem camisinha, que funciona muito bem, obrigado. O homem não fica mais na mão de mulher nenhuma, a mulher não precisa ficar mexendo com seus hormônios, não precisa ficar fazendo processos repetitivos cheios de pontos de falha… fechou o tubo, acabou.

A única coisa segurando o melhor método contraceptivo é o homem. Se inventarem uma forma de fazer a cirurgia ainda mais rápido e fizerem de graça, a maioria dos problemas com filhos indesejados desaparece. No fundo, todo mundo que pensa sobre o tema percebe que o segredo é focar no homem, mas ainda não temos nenhuma sociedade que realmente está interessada em parar com filhos indesejados, seja por motivos religiosos, seja por interesses econômicos.

Quando o mundo quiser resolver isso, vira problema do homem.

Para me chamar de machista mas concordar comigo, para dizer que se homem fizesse alguma coisa direito não teríamos sequer essa conversa, ou mesmo para dizer que é só não transar: somir@desfavor.com

SALLY

Qual é o melhor método anticoncepcional para usar atualmente?

SIU (Sistema Intrauterino), conhecido também como DIU Hormonal. Ele é o método anticoncepcional não-permanente mais eficaz que existe hoje no mercado.

Não sei se ele é indicado para todas as pessoas nem se todas as mulheres se darão bem com ele, mas não é esse o ponto. A questão é em abstrato: de tudo que está disponível, qual é a melhor opção.

É basicamente um DIU, que se coloca no útero, como qualquer outro, mas que libera hormônios gradualmente (em baixa quantidade) que impedem a gestação. Eu considero esse método o melhor por vários motivos e aqui vai um parágrafo para cada um deles.

É reversível. Eu sei que EU não quero ter filhos e tenho essa decisão clara na minha cabeça, mas podem existir pessoas que queiram ter filhos no futuro ou que ainda não tenham essa decisão 100% consolidada, portanto, é uma porta que a maior parte das pessoas quer deixar aberta. Métodos irreversíveis não atendem à maioria das pessoas. Além disso, no Brasil, é quase impossível conseguir quem faça um método irreversível em quem não tem filhos.

É prático. Ao contrário da pílula anticoncepcional, não demanda disciplina para ser 99,7% seguro. Se você não toma a pílula todo dia no mesmo horário, pode acabar engravidando. Pedir que uma pessoa seja infalível os 365 dias do ano é pedir demais, em algum momento a pessoa vai esquecer ou atrasar. Um método que, para funcionar, depende da minha perfeição não é um bom método.

É eficaz. Eu sei que tomar hormônio não é o melhor dos mundos, mas os métodos de barreira não são eficazes. Camisinha, por exemplo, é um método ruim para evitar gravidez. Dentre os métodos hormonais, é o mais seguro, seja liberação lenta e em pouca quantidade de hormônio, seja por não depender da pessoa que o utiliza para fazer efeito.

Durabilidade. Dura em média cinco anos. Você coloca, só precisa de revisões anuais e não tem que se preocupar com isso pelos próximos anos. Não tem que ficar comprando todo mês, não tem que lembrar de colocar ou tomar, não tem que se preocupar com nada, são cinco anos livre e segura.

É imperceptível. Outros métodos hormonais que não são de ingestão, como o anel vaginal, não são imperceptíveis. Você sente. Seu parceiro sente. E tem que trocar com frequência. E são caros.

É de fácil reversão. Ao contrário de chips, implantes e similares, assim que você retira já pode engravidar. Não há demora para retomar a fertilidade. Pode não parecer um ponto importante para você, mas depois que eu vi uma conhecida engravidar para tentar salvar a vida da filha (que precisava de uma doação que um irmão/irmã poderia prover), eu passei a considerar esse critério também.

Pode ser usado durante amamentação. Esse papo de que mulher amamentando não engravida é mentira, ok? Se você não quer emendar um filho no outro, tem que se cuidar. E, nessa fase, métodos anticoncepcionais hormonais comuns costumam ser proibidos. Não condene seu planejamento familiar a camisinha, você pode levar um susto.

Pode interromper o fluxo menstrual. Eu sinceramente desconheço uma mulher que esteja em seu juízo mental perfeito e que goste de ficar menstruada. Em seu juízo mental perfeito, eu disse. Não gente que lava o cabelo uma vez por semana e bate palmas para o por do sol. Elimina esse desconforto ou ao menos reduz muito o fluxo, reduzindo junto cólicas e demais problemas que acompanham a menstruação.

Pode ser utilizado por mulheres que nunca tiveram filhos. O máximo que pode acontecer é que seu ginecologista recomende um procedimento com sedação leve para dilatar um pouco a entrada no colo do útero, de modo a que a colocação seja indolor. E, se ele propuser isso, aceite. Não faça como eu fiz, de achar que é rapidinho, que não precisa. Precisa.

Não há resistência em prescrevê-lo para pessoas que nunca tiveram filhos. Eu passei quase 20 anos implorando para médicos ligarem minhas trompas. Médicos de plano de saúde, médicos particulares. Ofereci pagar o dobro, ofereci pagar em dinheiro. Não fazem. Por uma questão de ética deles, simplesmente não fazem em mulher que nunca teve filhos. Mas o SIU eles prescrevem sem problemas.

É coberto por muitos planos de saúde. Acredite, mesmo que seu plano não cubra, se você entrar em contato e fizer uma solicitação, é possível que topem pagar por tudo, inclusive pela colocação. A coisa que plano de saúde mais quer é que seus segurados não tenham filhos. Geralmente um pedido do médico justificando a necessidade desse método basta.

Preço. Sim, preço. O valor é alto, mas é um investimento pelos próximos cinco anos. Faça as contas do quanto você vai gastar com anel vaginal ou com pílula em cinco anos e veja que compensa. E se você usa métodos não hormonais, faça as contas do quanto custa fraldas por cinco anos, pois em algum momento você vai engravidar.

Você coloca e volta para casa andando. É prudente maneirar nas atividades físicas no dia, mas nada de outro mundo. Depois você vai fazem uma ultrassonografia para ver se de fato ele está bem-posicionado e pronto, esquece completamente. Só controles anuais, que você teria que fazer de qualquer forma, por exames preventivos.

Vai ter quem diga que pode causar acne (em 5% dos casos) que pode causar aumento de peso e muito mais. Sim. Qualquer método hormonal pode. E o SIU causa menos estragos que pílula, pela quantidade de hormônio liberada. Por esse discurso, a pessoa não pode usar método hormonal. Não usar método hormonal significa que 1) vai usar um método pouco efetivo e correr o risco de engravidar ou 2) para usar um método eficiente, vai ter que usar um método irreversível. Eu prefiro os eventuais efeitos colaterais do SIU, que por sinal, costumam ser muito leves.

Sejamos realistas: a maior parte das pessoas quer ter filhos ou quer ao menos deixar uma porta aberta para o caso de quererem filhos no futuro. Um método irreversível atende a 5% da população. Um método que atende a 5% da população não é um bom método. O SIU é o que há de mais prático, menos nocivo e mais seguro atualmente, quando se avalia o custo-benefício.

Para perguntar se é publi (não é, nunca recebemos um centavo de ninguém), para dizer que hormônio estraga o corpo (espera para ver o que uma gravidez faz) ou ainda para dizer que menstruação é a expressão máxima da feminilidade de uma mulher (se você precisa sangrar para isso eu sinto muito por você): sally@desfavor.com


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