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O lado negro da gravidez.

Ah, o milagre da vida. Desde que a humanidade começou a brincar de pensamento abstrato, a gravidez se tornou um fenômeno mágico, digno de reverência e até mesmo a criação de divindades da fertilidade. Nada mais belo do que trazer uma nova vida ao mundo no seu ventre, não? Bom, embora eu não tenha intenção de dizer para as mulheres se elas devem ou não ter filhos, pouca gente fala a verdade sobre o que é passar por uma gravidez se você carrega essa criança. E não é uma verdade bonita…

Mas tudo bem, ninguém é demente de achar que abrigar um ser humano dentro da barriga por vários meses seria só alegria, não? Infelizmente, algumas mulheres acreditam justamente nisso, e ficam furiosas quando alguém fala a verdade. Talvez seja aquela mentalidade de trote: passa o sofrimento para frente para não ser a última otária a passar por aquilo. E talvez a humanidade precise dessa mentira mesmo, não imagino muita mulher querendo “crescer e multiplicar” depois de saber em detalhes o desastre que vai acontecer com seu corpo.

Alguém precisa sustentar a indústria das mamadeiras, não? Gravidez não é aquela foto de atriz ou influencer radiante com quilos de maquiagem e Photoshop, gravidez é algo bem mais… cru.

Vamos ser detalhistas aqui: a gravidez é um fenômeno que compromete ou destrói boa parte do corpo feminino, às vezes de forma irreparável. A primeira coisa a se considerar é que a mulher abre mão sobre a propriedade do corpo. O pequeno parasita instalado no útero tem exigências e peculiaridades. A mulher não pode mais comer tudo o que quiser, vai ter que abrir mão de basicamente tudo o que é gostoso ou entorpecente o suficiente para lidar com o sofrimento. Vai ter que se alimentar por dois, e infelizmente para todos ao redor, emitir gases por uns vinte. Grávidas se tornam usinas de produção de gás natural, peidos e arrotos constantes aliados a uma azia interminável.

Não bastasse isso, o corpo feminino tende a se tornar mais sensível aos estímulos externos. Grávidas mencionam enjoos constantes, normalmente iniciados por cheiros que costumam tolerar antigamente, até mesmo o cheiro do marido ou do perfume preferido podem se tornar insuportáveis. E onde tem enjoo, costuma ter vômito: o sistema de proteção do sistema digestivo fica muito mais agressivo na gestação. Qualquer coisa pode desencadear uma crise de vômito, e sem os avisos gentis de outrora. Bateu a vontade, grandes chances de uma grávida vomitar onde está. Pelo menos vai mascarar o cheiro dos peidos, não?

E até por consequência dos enjoos constantes, grávidas relatam uma salivação muito maior, sempre tendo que decidir entre cuspir ou engolir (decisão que adorariam ter que tomar alguns meses antes), e com quase certeza de babar no travesseiro. Nada como acordar com aquele cheiro de baba curtida no tecido, não?

Relaxa, piora: o corpo feminino começa a inchar em todos os lugares possíveis, não só na barriga. Grávidas relatam inchaços generalizados, os pés como vítimas frequentes. Até por isso, não podem mais usar sapatos que não foram feitos de borracha, até porque não existe mercado para sapatos que complementem bem uma bolha de carne com dedões. E sorria, mulher: como o corpo começa a se preparar para expelir uma coisa gigante por um espaço apertado, os ligamentos do corpo vão se alargando em linhas gerais, o que pode até aumentar o número do seu sapato para sempre. Anéis também são coisa do passado, salsichas tomarão os lugares dos dedos das grávidas, tudo incha.

A barriga gigantesca significa uma redução considerável no tipo de roupa que a mulher pode usar, e como o mundo é capitalista, as tendas chamadas de roupas para grávidas custarão caro e nunca mais serão utilizadas a não ser que ela encare a maluquice de novo ou que resolva engordar para fazer valer o investimento.

Mas será que inchaço e crescimento desordenado são só coisas ruins? Os seios aumentam de tamanho na gravidez, algo que talvez gere uma imagem feliz para a mulher diante do espelho, isso é… até ela tirar o sutiã. Os mamilos crescem numa proporção ainda mais impressionante, e não é nada incomum que se tornem muito mais escuros. Dois ovos fritos (queimados) que começam a vazar leite nas horas mais impróprias. Muitas mulheres precisam andar com absorventes para mamilos, que inclusive é um produto que existe.

E falando em atratividade, tem a parte do sexo: algumas grávidas nem podem fazer por questões médicas, mas boa parte tem liberação para tentar. E aí, mesmo que o médico diga que pode “normalmente”, vamos concordar que não tinha uma bola de carne enorme na barriga dela na época de fazer o filho? Normalmente se você considerar que fazer sexo de lado é a única posição aceitável. O equipamento ainda está lá, é claro, mas mais difícil de alcançar. E com gases e enjoos constantes atrapalhando. Você pode até achar reprovável, mas muito homem não se sente bem entregando encomendas para o CEP do próprio filho. E eu sei que é só a rua, não a casa específica… mas não adianta teimar com o tesão alheio, muito homem perde o fogo de outros tempos na mulher durante essa fase.

Bom, se o sexo falhar, ainda se pode dormir, certo? Não. Talvez em preparação para a fase seguinte de bebê te mantendo acordada por meses, o corpo da grávida não é muito condutivo ao sono. São dores, incômodos físicos e a impossibilidade de se posicionar normalmente com a barriga agigantada. Algumas grávidas precisam dormir sentadas. O que até pode ser útil: considerando que bexiga de grávida é mais elétrica que criança hiperativa, bobagem perder tempo deitando.

Até porque não tem mais tempo de resposta hábil entre a vontade de urinar e a realização do ato. Talvez não dê tempo, talvez um espasmo involuntário depois de rir… a verdade é que nenhuma calcinha passará impune. Não menstrua, mas ainda precisa de absorvente.

O corpo feminino foi feito para a gravidez, mas parece não gostar disso (não o culpo): a pele fica muito mais propensa a ficar manchada, o que significa se esconder do sol ou viver besuntada de protetor solar, pode aparecer uma linha aleatória escura na barriga, e até mesmo o suor dela começa a ficar diferente, muitas vezes com um cheiro forte que só podemos torcer para não começar um enjôo. Por algum motivo ignorado, o corpo humano também resolve experimentar com pelos no rosto, dores de cabeça e gosto bizarro constante na boca. Tudo bem, como o corpo da grávida se torna muito mais sensível, dores vão pipocar por todos os lados e distrair desses problemas.

Por motivos de estar maior que uma jamanta, a grávida vai ter dificuldades de se manter depilada, o que ela e seu possível companheiro podem respirar e fundo e encarar, ou vai precisar de muita ajuda externa para resolver. Sugiro se dizer feminista durante essa fase: vai ficar peluda, mal-humorada e provavelmente não fazer sexo. Aliás, a mulher precisa aceitar no coração que perdeu acesso a qualquer coisa abaixo da barriga. E provavelmente controle também.

Vamos para a parte de trás da história. Grávidas tendem a ficar muito irritadas quando se fala disso, mas hemorroida é tendência de moda anal entre gestantes. Para fazer caber a criança, muita coisa fica apertada no corpo da mulher, algumas veias que irrigam a parte anal estão nesse grupo. Hormônios causam um relaxamento dos músculos intestinais, o que fazem com que o bolo fecal fique mais tempo preso (prisão de ventre) e perca água no processo. Sangue preso mais fezes ressecadas é um combo perfeito para gerar o tipo de ferida que se torna hemorroida.

Calma que a perda (da dignidade) ainda não é total: temos o final apoteótico do processo com o parto. Ninguém esconde a dor do parto, mas tendem a esconder alguns elementos anteriores. Nem sempre dá tempo de fazer tudo direitinho, às vezes a criança só quer sair mesmo. A mulher pode acabar tendo que dar a luz em condições bem mais precárias, às vezes sem tempo de ser depilada ou ter o intestino devidamente lavado.

O que nos leva a uma informação triste: grandes chances da mulher se cagar durante o parto. Não só ela tem que fazer força justamente naquela área do corpo para expelir alguma coisa, como o bebê ainda dá aquela cotovelada marota no intestino dela durante o processo, disparando qualquer bala que estiver no cano do canhão anal da mulher.

O que nos leva a pensar o que dá na cabeça de homem que resolve filmar parto. Será desistência prévia de sentir qualquer tesão pela mulher no futuro? Não só vai ver o playground ser distorcido de forma assustadora, como vai ver mais do que um buraco dela expelindo coisas. Homem que filma o parto da mulher é um tipo de psicopata que deixa serial killer no chinelo.

Isso se tudo der certo e a mulher conseguir dilatar a vagina o suficiente para passar o bebê. Quem acredita em Design Inteligente nunca comparou o tamanho da abertura vaginal com o tamanho do bebê humano. O milagre da vida não é nascer uma criança, é que mulheres não rasguem ao meio depois de um parto. Quer dizer… algumas rasgam. Seja por vias naturais da vagina simplesmente não aguentar o tranco e rasgar para criar uma passagem só com o ânus, ou com intervenção médica com bisturi. E um rasgo ou corte nessa parte do corpo vai demorar muito tempo para cicatrizar, fazendo com que a mulher sinta dor por muito tempo.

E por mais que cesariana acabe com a chance de ser explodida da cintura pra baixo, não é o fim dos problemas. A mulher não vai estar sedada, porque o bebê não pode ser sedado. Vão tirar a dor do local, mas ela vai sentir todo o processo. Sem contar que é uma cirurgia e a mulher vai estar com sonda, urinando no saquinho e sendo manipulada por uma equipe. O que pode dar errado numa cirurgia para abrir sua barriga, né?

E pra quem acha que o terror acaba quando o rebento finalmente é expulso do organismo, não só a barriga da mulher continua enorme por um tempo, com até a alma inchada, como continua sofrendo sem poder tomar remédios que outras mulheres podem: tudo o que entra no organismo dela vai parar no leite. Serão noites e noites sem sono, sem sexo (caiu uma bomba atômica na Hiroshima dela – e se tiver hemorroida, na Nagazaki também) e sem remédios para te fazer esquecer de tudo.

Se sabendo de tudo isso, uma mulher ainda tem a coragem de engravidar e parir uma criança, só me resta admirar. Eu não aguentaria nove horas de gravidez, não sei como alguém aguenta nove meses (ou mais, porque 9 meses é uma média). Ainda bem que aguentam, senão não teria humanidade.

Mas que é coisa de gente louca, ah… isso é.

Para dizer que eu deixei até esse texto chato, para dizer que achou igualmente ofensivo (obrigado), ou mesmo para dizer que vai procurar uma agulha de tricô agora mesmo: somir@desfavor.com

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