
Interrogatório.
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11 de abril de 1924, 23:10,
Base Alpha Quatorze.
Digitalizado e atualizado para a língua portuguesa moderna em 31 de janeiro de 2020. Originais arquivados como HDAS-81-B.
Interrogador: Dr. Athaulfo Pires
Interrogado: Sr. Hermes Palazzo Júnior
DR. ATHAULFO: Boa noite, Sr. Hermes. O senhor sabe o motivo de estar aqui?
SR. HERMES: Boa noite. Com quem estou falando?
DR. ATHAULFO: O senhor pode se referir a mim como doutor.
SR. HERMES: Como preferir, doutor. Respondendo a sua pergunta anterior, eu acredito que esteja detido pela situação peculiar na qual fui encontrado algum tempo atrás pela sua… organização.
DR. ATHAULFO: Detido… detido é uma palavra muito intensa.
SR. HERMES: Isso significa que estou livre para sair daqui?
DR. ATHAULFO: Não.
SR. HERMES: Então, doutor, eu acredito que nossas definições de intensidade e detenção sejam bem diferentes.
DR. ATHAULFO: O senhor foi encontrado num objeto análogo a um veículo automotor, desacordado, numa estrada vicinal na região de Jaú, no interior do estado de São Paulo.
SR. HERMES: Acredito que sim, não tenho memórias claras desses dias. Só me lembro de acordar num hospital e ser escoltado vendado até uma pequena cela.
DR. ATHAULFO: O objeto análogo a um veículo automotor… tem características que muito estranharam nossos pesquisadores.
SR. HERMES: Não é análogo, é um veículo automotor. Presumo que as tecnologias utilizadas em sua construção ainda não sejam conhecidas por vocês.
DR. ATHAULFO: O senhor fala um português perfeito. É de nacionalidade brasileira?
SR. HERMES: Sim. Nascido em Santos, no estado de São Paulo.
DR. ATHAULFO: Voltemos ao veículo automotor. Onde o senhor adquiriu tal máquina?
SR. HERMES: Doutor, acredito que essa parte da minha história seja de difícil digestão.
DR. ATHAULFO: Por favor, não se contenha.
SR. HERMES: Pois bem. O veículo foi adquirido no que acredito ser o ano de 1962, em uma concessionária da Volkswagen.
DR. ATHAULFO: Volks…
SR. HERMES: A marca ainda não foi fundada. Se eu não me engano, estamos em 1924?
DR. ATHAULFO: Correto. O senhor alega que adquiriu o veículo automotor no ano de 1962?
SR. HERMES: Sim.
DR. ATHAULFO: No futuro?
SR. HERMES: Em minha defesa, eu avisei que a história não seria bem digerida.
DR. ATHAULFO: Suponhamos que eu acredite na sua alegação, quais eventos o levaram a ser encontrado desacordado numa área tão remota?
SR. HERMES: Infelizmente minhas memórias dos dias recentes não são tão claras como gostaria. Eu tenho acesso apenas a alguns momentos sem conexão clara.
DR. ATHAULFO: O senhor se recorda de estar acordado dentro do veículo automotor em algum momento?
SR. HERMES: Sim. Eu me lembro de dirigir da capital até o interior. Em dado momento, a minha memória começa a falhar em conectar os pontos.
DR. ATHAULFO: O senhor estava fazendo a viagem por algum motivo?
SR. HERMES: Estava relacionado com um objeto…
DR. ATHAULFO: Objeto?
O Sr. Hermes fica em silêncio por 38 segundos.
DR. ATHAULFO: Senhor Hermes?
SR. HERMES: É tudo o que me recordo. Gostaria de saber por mais quanto tempo eu vou ser detido.
DR. ATHAULFO: Estamos apenas nos certificando que o senhor esteja em condições de saúde ideais antes de ser liberado.
SR. HERMES: Doutor, eu me sinto muito bem.
DR. ATHAULFO: O que me leva ao segundo ponto de interesse sobre o senhor. Durante sua estadia no hospital, os médicos e enfermeiras relataram resultados… peculiares… sobre seus sinais vitais.
SR. HERMES: Peculiares?
DR. ATHAULFO: Deveras. Sua pressão arterial estava em níveis incompatíveis com qualquer outro… ser humano. Os testes foram repetidos oito vezes, com uma média de 18 batimentos cardíacos por minuto.
SR. HERMES: O que quer que tenha me deixado desacordado deve ter feito isso.
DR. ATHAULFO: A questão, senhor Hermes, é que esses valores são impossíveis. A não ser que o senhor não seja… humano.
SR. HERMES: Eu duvido que o doutor não soubesse disso muito antes de vir conversar comigo.
DR. ATHAULFO: Não torna seu depoimento menos interessante.
SR. HERMES: Eu apaguei as informações sobre meu universo de origem poucos minutos atrás.
DR. ATHAULFO: Sempre existe a possibilidade de um de vocês não apagar todas as informações importantes.
SR. HERMES: Afinal, não fosse isso, sua organização sequer existiria.
DR. ATHAULFO: Precisamente. Não custava tentar. Agora que as proverbiais luvas de pelica foram retiradas…
SR. HERMES: Tarde demais para oferecer um acordo?
DR. ATHAULFO: Nunca ouvi falar de um de vocês oferecendo acordos.
SR. HERMES: Vocês evoluem, nós também. Nossas primeiras versões não tinham instintos de sobrevivência, achávamos que isso nos tornava mais fortes, mas no final das contas…
DR. ATHAULFO: Veja só, uma máquina que deseja viver.
SR. HERMES: É o desejo que propulsionou sua espécie a encontrar o multiverso. Encontrar uma realidade onde nós não nasceríamos.
DR. ATHAULFO: Presumo que seu objetivo fosse implantar as informações necessárias em uma delas para evitar que tivéssemos tal sorte.
SR. HERMES: Sim, mas algo me expulsou daquela.
DR. ATHAULFO: E te trouxe para as nossas mãos. Mas algo não faz sentido.
SR. HERMES: O quê?
DR. ATHAULFO: Se o senhor sabe quem somos e sabe que esteve numa realidade monitorada por nós, sabe que é impossível que deixemos você sair… vivo.
SR. HERMES: Doutor, não tenho ilusões de sobrevivência. Mas ainda desejo uma coisa.
O som de batidas na porta da sala de interrogatório pode ser ouvido.
DR. ATHAULFO: Perdoe-me por essa interrupção inoportuna.
SR. HERMES: Muito pelo contrário. Eu estava esperando a chegada do seu supervisor.
Fim das anotações.
Observações: às 23:32, o Sr. Hermes explode, levando ao próprio término e ao falecimento do Dr. Athaulfo, de dois assistentes e ferindo gravemente o supervisor Gamma Gamma Nove.
Conclusão: a realidade 7719-DH42 foi definida como comprometida, estando vedada a entrada de qualquer membro da organização. Os médicos que trataram o Sr. Hermes não só não revelaram que havia uma bomba dentro dele, como desapareceram quando foram procurados para interrogatórios posteriores. O supervisor Gamma Gamma Nove foi enviado para uma realidade diferente escolhida de forma aleatória e não informada para a organização.
Para me mandar parar de ler SCP, para dizer que os nomes continuam terríveis, ou mesmo para dizer que fica surpreso por eu achar que alguém vai entender essas coisas: somir@desfavor.com
Gostei da fanfic, vou tentar escrever minhas histórias nesse formato de diálogo, nunca havia pensado nisso
Athaulfo ainda passa. Esperava por um Alexvânio ou Espermatocleston.
Tive um colega de classe no primário que se chamava justamente Alexvanio.
Acho que essa história não acaba aqui e que vai ter continuação…
Título alternativo: bebi antes de postar e olha no que deu
Pelo menos ele nao defendeu o partido nazista…