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FAQ: Coronavírus – 44

FAQ: Coronavírus – 44

| Sally | | 6 comentários em FAQ: Coronavírus – 44

Juntei todas as perguntas e novidades que temos sobre a Ômicron em um único texto.

Como vocês devem saber, a situação pandêmica no Brasil ainda está boa. A média de casos está “baixa” (se você considerar aceitável mortes equivalentes cair um avião por dia no país). Porém, isso que estamos vendo no Brasil ainda não é a Ômicron. Só vamos ver o pleno resultado da Ômicron em um ou dois meses. E com isso não quero dizer que em um ou dois meses a situação melhore ou piore, estou dizendo que o espalhamento da Ômicron ainda não aconteceu. Não sabemos o efeito que essa variante vai causar no Brasil.

O que se sabe com certeza da Ômicron até hoje: ela consegue se espalhar de uma forma muito eficiente, como nenhuma outra variante conseguiu até aqui. Já sabemos que existem duas linhagens diferente de Ômicron circulando, uma com mais mutações (mais fácil de se reconhecer) e outra com menos mutações (mais difícil de se reconhecer). E quando falo em “reconhecer”, falo no teste genômico que se faz no vírus para saber a qual cepa ele pertence, e não a detectar a doença no paciente.

Algo que PODE ser uma luz vermelha é o aumento de casos na região Norte do Brasil. Sabemos que essa região é o “canário de mina” do Brasil, ou seja, costuma ser o primeiro local onde há problemas quando a covid-19 sai do controle. Vocês já viram esse filme: Manaus colapsa, depois o Sudeste, depois o Sul.

O que não quer dizer que a história vai se repetir com os mesmos resultados, pois o Sudeste brasileiro está muito bem vacinado, portanto, o que a gente espera ver é algo muito menos grave do que aconteceu em 2021. Se supõe que o quão “menos grave” vai ser dependerá da quantidade de terceiras doses aplicadas.

Não temos nenhum estudo conclusivo sobre a Ômicron até agora, quem falar que tem está mentindo. Portanto, quem te der certezas absolutas sobre a Ômicron está mentindo. “Ah mas eu vi um estudo da Pfizer”. Sim, saiu um estudo que repercutiu bastante, dizendo que a vacina da Pfizer só garante uma proteção de 22% contra a Ômicron se tomada em duas doses. Como falaram muita coisa duvidosa a respeito, vale dar uma olhada mais de perto.

A própria Pfizer se manifestou publicamente dizendo que, contra a Ômicron, são necessárias três doses de vacina para obter uma boa proteção, então, quanto a isso, não há controvérsias: tem que tomar terceira dose sim, não apenas quem tomou Pfizer, mas, até segunda ordem, todas as vacinas.

Porém, vale esclarecer que esse estudo foi feito com poucas pessoas (12 pessoas), por isso não dá para tomar isso como regra geral. Além disso, essa proteção de 22% é contra pegar a doença: contra prevenção de internação e morte ela continuaria eficiente.

Eu sei que está todo mundo ansioso por respostas, eu também estou, mas por agora não tem nada conclusivo. É muito mais difícil testar o efeito de uma vacina em uma nova variante do que o efeito de uma vacina em pessoa não imunizadas. Imagina o seguinte: quando ainda não tinha vacina, o coronavírus circulava livremente e o número de contágios era enorme, principalmente entre profissionais de saúde, que eram expostos diariamente ao risco. Agora, em regiões com muitos vacinados, menos gente pega a doença e menos ainda apresenta sintomas, portanto, para chegar aos mesmos números de quanto não tínhamos vacina demora muito mais.

O que se faz para tentar acelerar esse processo: não depender do contágio e tentar simular a reação do organismo. Isso significa pegar o soro de pessoas que se curaram de covid ou que tomaram vacina (que contém seus anticorpos), e testar o quanto os anticorpos bloqueiam a entrada do vírus nas células. É um teste de laboratório, simulando o que aconteceria se o vírus entrasse no corpo da pessoa. É uma rinha Anticorpos x Vírus em um tubo de ensaio.

Isso dá bons indícios de como o organismo das pessoas vai reagir, mas… não é o organismo de um ser humano. São testes in vitro, em um tubo de ensaio, simulando o que anticorpos fariam. A gente espera que quando acontecer no corpo humano os resultados sejam parecidos, mas 100% de certeza de que vai ser igual não temos. E o resultado no corpo das pessoas ainda vai demorar um pouco para surgir em uma quantidade que seja conclusiva, por isso, tudo que nos resta é tentar ver o que acontece em laboratório, sempre cientes de que não é uma certeza absoluta.

Então, os resultados que você vê, são simulações de neutralização do vírus em laboratório. Não se entra em pânico nem se comemora com esses resultados, pois eles podem ser melhores ou piores na vida real. Além disso, apenas alguns fabricantes de vacina apresentaram resultados para esse tipo de estudo, como por exemplo a Pfizer, mas não vimos de muitas outras, como Astrazeneca, Coronavac e Janssen (até ontem 13 de dezembro, não havia sido divulgado). Que uma vacina funcione mais ou menos não quer dizer que as outras irão acompanhar o mesmo resultado.

Também vale lembrar que todos os estudos/artigos que temos até aqui sobre a Ômicron são estudos preliminares e/ou parciais, ou seja, mesmo feitos por pessoa/instituições sérias, mas ainda não foram publicados. Seu conteúdo pode mudar. É o que se sabe até aqui. Imagina que você está no seu quarto de janela e cortina fechada e escuta um barulho de gotas de água caindo. Tudo leva a crer que está chovendo, há bons indícios para que você pense que está chovendo, mas até abrir a janela e olhar você não pode ter certeza. Vai que é apenas o vizinho de cima limpando a varanda ou alguém regando as plantas?

Então, tendo em mente o parágrafo anterior, sabendo que são resultados preliminares, que podem ou não se confirmar, o que temos de estudos sérios sobre a Ômicron?

Ao que tudo indica, a quantidade de anticorpos necessária para impedir que a Ômicron entre nas células teria que ser, em média, entre 7 e 40 vezes maior do que com o coronavírus tradicional. O que isso significa? Significa que a Ômicron parece ter um escape imune, ou seja, ela consegue escapar parcialmente dos nossos anticorpos. Só para vocês terem uma ideia, a Delta, demandava de 3 a 5 vezes mais anticorpos do que o coronavírus tradicional. A Ômicron parece ter dado um salto.

SE isso se confirmar, significa que a vacina não nos protege? Não. Imagina que você tem uma casa e, para impedir que entrem ladrões nela, tem que treinar seguranças para tomar conta da porta. O que estaria acontecendo é que estão aparecendo ladrões mais inteligentes, mais bem equipados, que conhecem seu sistema de segurança e, para barrar um ladrão, um único segurança não basta mais: você precisa entre 7 a 40 seguranças para impedir cada ataque. Demitir os seguranças ajuda? Não, aí é que vão entrar e te arrombar todo mesmo.

O que você pode fazer é criar mecanismos para que o ladrão não chegue na sua casa: um fosso com jacarés, uma cerca eletrificada ou o que for para que ele não ultrapasse o muro e não tenha que ser caçado por seguranças. Na prática isso se faz não se colocando em risco de contágio, ou seja, saindo menos de casa, usando máscara PFF2 da forma correta, higienizando bem as mãos, etc.

Em termos de porcentagem, o que significa precisar de 7 a 40 vezes mais anticorpos para barrar o vírus? Significa, em média, uma redução entre 40 a 60% da eficácia das vacinas no que diz respeito à barreira que te impede de adoecer, ou seja, contra infecção. Mas, pela milésima vez, certeza só vamos ter na prática, quando vacinados começarem a adoecer. Então, até termos certeza, seria inteligente se cuidar.

Para que uma vacina seja considerada “boa” pela OMS, para que digam “ok, essa vacina vale a pena”, ela tem que proteger em pelo menos 50% no risco de infecção. Pode acontecer de alguma vacina que atualmente está em uso não cobrir esse mínimo desejável com a queda na proteção causada pela Ômicron? Pode. Quem já tinha uma proteção mais baixa pode ficar ridiculamente baixa se perder capacidade de proteger.

Se isso acontecer, há três possibilidades: 1) aplicar uma dose de reforço (caso se comprove que com a dose de reforço a vacina fica com, pelo menos 50% de proteção contra infecção); 2) conjugar a aplicação dessa vacina com outra diferente para tentar aumentar essa proteção até 50% ou mais ou 3) não utilizar mais essa vacina e aplicar outra.

Não sabemos o que vai acontecer com as vacinas atuais, mas é quase certo que, no mínimo, mais uma terceira dose de reforço será necessária para todas. Já se fala, inclusive, em quarta dose.

Tudo isso para te dizer que essa mentalidade de “tenho duas doses, estou com a proteção vacinal completa” não vale mais. Agora, o mínimo para estar protegido são três doses, antes disso você está com a vacinação incompleta. E quem está com a vacinação incompleta tem que tomar mais cuidado ainda.

A eficácia da vacina contra morte e hospitalização ficou intacta? Lembrando pela milésima vez que estamos falando com base em estudos preliminares em laboratório e que a vida real pode surpreender (para pior ou para melhor), estima-se que a eficácia contra morte e hospitalização seja impactada em 10%, ou seja, o quanto aquela vacina te protegia antes contra internação e hospitalização, ela te protege 10% menos agora. É motivo para pânico? Não. É motivo para agir como se estivesse tudo normal? Também não.

Então, vamos especular aqui, por alto, com base nestas informações preliminares (que podem ou não se confirmar): se antes uma boa vacina protegia a pessoa em 90% de pegar covid, agora essa proteção caiu pela metade. Vamos supor que agora, 50% das pessoas vacinadas vai ter covid. A circulação do vírus pode aumentar bastante.

E, se antes havia proteção de 95% de casos graves, hospitalizações e mortes, hoje, a vacina protegeria disso em 85% dos casos. Isso quer dizer que a cada 100 vacinados, 85 não vão para o hospital, mas 15 podem ir. Então, mesmo no mágico mundo das vacinas, é possível que vejamos os casos de hospitalização subindo e pessoa vacinadas tendo uma versão mais grave da doença.

“Ah, então eu vou me vacinar pra que?”. Para tentar evitar hospitalização e morte? Se você tivesse que sair no meio de um tiroteio usando um colete que para 85% das bala ou não usando NADA, o que você preferiria?

Por qual motivo cai tanto a eficácia contra infecções e tão pouco a contra mortes? É que são dois “setores” diferentes, com “encarregados” diferentes no nosso organismo. Há vários tipos de imunidade no corpo: os anticorpos são bons em impedir que o vírus entre e se espalhe – e esses ficaram bastante prejudicados pela Ômicron. Porém, as outras células (imunidade celular) são muito boas para manter o corpo em equilíbrio e fazer com que ele funcione bem, mesmo em contato com a Ômicron.

Ou seja, a infecção entra com mais facilidade, mas não consegue tomar o corpo todo com tanta facilidade. Entra, fica, contagia os outros, mas, ao que tudo indica, não consegue fazer um grande estrago no corpo. O muro que protege a entrada está mais fácil de ser pulado, mas o alarme interno da casa ainda funciona quase que como antes.

Vale lembrar que o tempo todo estamos falando dos vacinados. O Brasil tem hoje 65% da população imunizada com duas doses. Não vou nem falar qual é o percentual com três doses para não estragar o dia de vocês. O que quero dizer é que 35% dos brasileiros estão sem proteção. Pega a população brasileira e calcula quanto é 35% e você vai ver que é gente o suficiente para lotar hospital e causar algum problema.

“Mas Sally, esses resultados publicados pela Pfizer são mesmo confiáveis? Não fazem isso para vender mais vacina?”. Acho improvável que uma mentira desse porte se sustente. No mundo todo tem gente estudando o efeito da Ômicron x Vacinas neste exato momento. Seria bastante burro mentir em algo que pode ser desmentido em poucas semanas. Mas, pelo amor à desconfiança, devo te dizer que temos outras fontes: vários estudos não vinculados a laboratórios estão sendo realizados por diversos países (o mais avançado é do Reino Unido) e os resultados, até aqui, estão similares aos da Pfizer.

“Mas tomar dose de reforço é realmente seguro?”. SIM. Não há dúvidas sobre isso. Não há controvérsias. Há países com boa parte da população já com dose de reforço (como o Chile, que tem 70% da população com 3 doses) onde não houve qualquer problema. Três doses é seguro. Quatro doses é seguro. Vacinar crianças é seguro. Combinações entre diferentes vacinas é seguro. O mundo todo está fazendo, não seja jacu.

“Mas tomar dose de reforço só quatro meses depois é seguro?”. SIM. Não há dúvidas sobre isso. Não há controvérsias. Tome. Quando quiserem te dar, toma. O Canadá está dando terceira dose apenas dois meses depois da aplicação da segunda. Tome o que te derem quando te derem. Tudo é melhor do que encarar a Ômicron sem vacina ou com apenas duas doses de vacina.

Desculpa mais uma vez repetir isso: ainda é cedo para dizer o que vai ou o que não vai acontecer com a Ômicron. Esses são indícios, que podem ou não se confirmar. Pode ser que seja bem melhor do que isso ou bem pior do que isso. Quem te diz que já sabe, que já tem certeza, mente ou está enganado.

“Ain mas no Brasil os casos…”. Pode parar por aí. Não há qualquer condição de falar dos casos no Brasil. O Brasil não testa o suficiente para falar dos casos. O Brasil sabe quem teve covid quando a pessoa morre de covid. Quando você não testa, não pode dizer que os casos caíram, que os casos estão baixos. Principalmente quando boa parte da população está vacinada e pode estrar doente assintomática ou com casos leves, situações nas quais dificilmente a pessoa será testada.

Por sinal, tem muito país que faz isso de propósito, principalmente quando está perto de temporada de turismo ($$$): testa pouco para dizer que tem poucos casos. O que te dizem de número de casos no Brasil não chega nem perto da realidade. O Brasil prefere dizer que as pessoas tem “Síndrome Respiratória Aguda Grave” do que dizer que tem casos de covid.

E, ainda que no começo do ano ocorram menos casos do que no começo de 2021, pode ser que o país tenha problemas mesmo assim. o Brasil não tem mais fôlego, profissionais de saúde ou leitos de UTI extras para lidar com isso. Aquela expansão de leitos e atendimentos… dificilmente possa ser repetida. Portanto, menos contágios podem fazer um estrago maior, pois existirão menos leitos e menos profissionais. Está todo mundo exausto.

Muita gente pulou com as primeiras mortes by Ômicron, divulgadas poucos dias atras, o que também não é motivo de pânico. Gente, estão morrendo mais de 200 pessoas todos os dias no Brasil de covid-19, se assustar pela Ômicron ter matado alguém não faz o menor sentido. Covid mata, é óbvio que a Ômicron mataria também. Vocês esperavam o que? Uma variante que cause apenas tosse? Agradeçam que parece estar matando pouco.

Teve filho de uma grande puta chamando a Ômicron de “um presente de Natal” alegando que ela poderia ser tão fraca que imunizaria o mundo todo. Não é um presente de Natal: 1) impossível dizer se ela é “mais fraca”; 2) mesmo casos menos severos ainda podem matar, dependendo do número de vacinas e do estado do organismo que se contamina e 3) Não vai imunizar ninguém, já vimos que a imunidade natural não é confiável e cai muito rápido, vide o tanto de gente que já teve covid na África e está pegando novamente. O que imuniza é vacina.

“Presente de Natal” é uma grande trolha na boca de quem falou isso, para aprender a ficar calado e não dar argumento para negacionista dizer “viu, eu não disse que essa pandemia se resolvia sozinha?”. Não é correto nem possível dizer que a Ômicron é “um vírus menos perigoso”. Primeiro que, como eu disse, não sabemos. Segundo que o que te mata não é o vírus em si e sim a reação exacerbada do seu corpo a ele (como já explicamos em outros FAQ).

Então, mesmo que a Ômicron entre apenas com uma pluma nas mãos e faça cócegas nas suas células, se seu corpo surtar e fizer a chamada “tempestade inflamatória”, você pode sim ter sérios problemas e até morrer, não pelo vírus em si e sim pela reação do seu corpo a ele. O que te mata não é o vírus, é o faniquito que seu corpo dá quando entra em contato com ele, desde o covidão raiz. E a reação que nosso corpo vai ter, meus queridos, a gente só descobre quando pega. Vacina ajuda e salva vidas, mas garantia 100% não temos.

Para terminar, com base nesse desfavor que falaram, tenho lido pessoas dizendo que a covid “está ficando mais fraca, como aconteceu com o vírus da gripe”. Isso é bem errado, sob vários aspectos. O vírus da gripe não foi ficando mais fraco com o tempo, o ser humano é que foi ficando mais resistente, por ter sido exposto a ele há mais de um século e por ter vacina que nos protege dele. Provavelmente, um século mais para frente a covid vai matar menos pessoas também, inclusive pelo fato de que os mais vulneráveis a ela vão morrer. Mais fraco fica o cérebro de quem fala uma coisa dessas.

Entendam: a covid não está ficando mais fraca. Nós é que agora temos vacinas e aprendemos como prevenir e tratar da melhor forma. Se você não tomar vacina, não usar máscara e adotar todos os cuidados, você vai morrer do mesmo jeito (ou até mais rápido) do que os primeiros casos, em 2019. Não confundam o resultado de esforço e cuidado com uma falha do vírus. A única coisa que está ficando mais fraca é a cognição de negacionista.

Dito isto, peço que tenham cuidado, cautela e consciência. Nada de “vamos todos morrer” nem de “Não pega nada, essa variante é fraca”. Voltaremos assim que surgirem novas informações de fontes confiáveis.

Para dizer que não quer mais saber, para dizer que levando em conta as merdas que estamos fazendo estamos no lucro ou ainda para dizer que os textos do C.U. não parecem tão ruins quando isso aqui fica cheio de FAQ: sally@desfavor.com


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