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FAQ: Coronavírus – 16

FAQ: Coronavírus – 16

| Sally | | 44 comentários em FAQ: Coronavírus – 16

Muito boa sua coluna, para quem como você mora em um castelo. Não tenho 70 bozos para dar numa máscara e ficar lendo que a Princesa diz que se não usar N95 ou PFFnãoseioque vou morrer. Nem todo mundo é rico. Se você acha que está ajudando está enganada. Você está colaborando com o aumento de suicídios durante a pandemia dizendo para as pessoas que a única forma de se proteger é algo que elas não podem comprar.

Ok. Vamos por partes.

Você tem dois reais para gastar em uma máscara? Se tem, recomendo que, primeiro me peça desculpas, e depois venha aqui e compre uma máscara boa para se proteger:

https://www.pffparatodos.com/

Lembrando sempre que não temos patrocinadores, que não ganhamos um centavo ou permuta ou qualquer benefício quando indicamos algo. É uma indicação de coração, para que todos saibam que existem máscaras boas que não são caras. Nesse site você encontra uma grande variedade de PFF2, com diversos preços, indicações de estoque (onde estão disponíveis) e até dicas para saber se uma máscara é falsificada.

Pelo visto eu não soube explicar bem a classificação das máscaras. Quando alguém cita um nome seguido de “nãoseioque” é sinal de que a informação não chegou como deveria. Vamos corrigir esse erro.

PFF é a sigla que designa a categoria de uma máscara no Brasil, de acordo com a quantidade de partículas que ela é capaz de filtrar/barrar. PFF significa “Peça Facial Filtrante”. Elas não são usadas apenas por médicos, mas por qualquer pessoa que lide com agentes tóxicos no ar, como por exemplo mineiros, pintores e outras categorias que lidam com esses materiais.

O gênero de máscaras PFF pode ter diferentes níveis de filtragem:

PFF1: Filtragem de, no mínimo, 80% das partículas que estão no ar
PFF2: Filtragem de, no mínimo, 95% das partículas que estão no ar
PFF3: Filtragem de, no mínimo, 99% das partículas que estão no ar

N95 nada mais é do que a PFF2, mas no padrão de classificação americano. N95 é como se chama a PFF2 nos EUA. Por algum motivo que eu desconheço o nome americano ficou mais popular do que o brasileiro, então a gente tem por hábito se referir a ela como “N95”. Na União Europeia ela se chama FFP2 e na China KN95. Pronto, você já pode comprar a máscara certa em qualquer lugar do mundo.

Máscaras caseiras, de algodão ou outros tecidos caseiros não fornecem a filtragem necessária para barrar o coronavírus nessa nova variante, que é muito mais contagiosa. Repito: não é que o vírus tenha aprendido a entrar na máscara, é que qualquer quantidade mínima que entrar te pega. E muitas vezes as máscaras caseiras acabam custando ainda mais caro que a PFF2.

O que se recomenda é usar a partir da PFF2 em diante. Qualquer PFF2, não importa a marca, tem a mesma capacidade filtrante (95%). Em tese, ela costumava ser encontrada em lojas de materiais de construção, mas, como não moro mais no Brasil, não sei dizer se ainda continuam a ser vendidas assim. Acessando o site que a gente recomendou no começo da postagem você consegue descobrir como comprar perto da sua casa ou online.

E, se você não tem nem dois reais para pagar em uma máscara, a Princesa que Mora em um Castelo te dá uma dica alternativa, que não é o melhor dos mundos, mas certamente é melhor do que máscara de algodão que vende em lojinha: coloque um filtro de café de papel dobrado dentro da sua máscara (pode ser colado com esparadrapo, de modo a cobrir seu nariz e boca quando a máscara estiver em uso), ele não oferece a mesma proteção de uma PFF2, mas certamente aumenta a proteção da sua máscara de pano.

Mas, não basta comprar a máscara certa, é preciso saber usar. Ela deve se encaixar perfeitamente no seu rosto, estar “apertada” o suficiente para que não entre ar pelas laterais, pela parte de cima ou pela parte de baixo, nem mesmo quando você fala, ri, tosse ou boceja. Faça o teste na frente do espelho.

Em um mundo ideal, para que o encaixe seja perfeito, 100%, zero risco, seria bom não ter barba no rosto. Não vou entrar no mérito de custo/benefício de fazer a barba, mas se eu fosse homem no meio da danação que está o Brasil hoje, eu faria minha barba, para melhorar o encaixe da minha máscara se tivesse que ir a locais com alto risco de contaminação.

Máscara “apertada” incomoda? Incomoda. Mas respirador incomoda muito mais, principalmente quando não tem anestésico para intubar uma pessoa e ela tem que ser amarrada na cama para suportar o procedimento. Então, não me parece ser hora para reclamar de incômodo. Comprem suas PFF2 e usem da forma correta, não é hora de improvisar.


Outro dia você disse que não ia entrar em certos pontos pois a informação poderia causar medo. Você acha que não é hora das pessoas ficarem com medo? Poderia compartilhar essa informação que você decidiu não compartilhar no último texto?

Não acho que o medo seja o caminho não, mas sim, posso compartilhar a informação, afinal, estamos tentando sempre estar um passo à frente do que acontece aqui no Desfavor. Quem estiver em um dia ruim ou fragilizado ou não quiser ser bombardeado com más notícias, por favor pule para a pergunta seguinte.

O colapso sanitário, quando o sistema de saúde não dá conta de combater uma doença e salvar vidas, é a porta de entrara para um inferno. O que pode se seguir é um colapso funerário, ou seja, o país não consegue dar conta dos próprios mortos. E isso não significa que os coveiros ficarão exaustos, o buraco é muito mais embaixo.

O colapso funerário desencadeia uma série de problemas para sociedade, alguns temporários, outros permanentes. Como não tem crematório no Brasil suficiente para tantos mortos, algo precisa ser feito com os cadáveres. Geralmente, são enterrados. Mas, nessa quantidade, os locais e a profundidade das covas começam a ser um problema. Essa quantidade de mortos a serem enterrados podem gerar uma série de problemas, alguns leves, outros muito, muito graves.

Pode ser desde infecções bacterianas secundárias até coisas muito mais graves como a contaminação dos lençóis freáticos, que contaminam não água que chega até você, como também os alimentos que você consome. A humanidade já viu isso acontecer e não foi bonito. Na Índia, quando aconteceu, morreram 20 milhões de pessoas. Além dos humanos, tudo que precisa de água para viver, desde uma alface, até uma vaca, fica contaminado.

Um colapso desse nível derruba o país. Nenhum país compraria nada de origem vegetal ou animal para ingestão do Brasil, pois estaria contaminado (e sim, eles descobririam, pois testam tudo). Isso poderia gerar um colapso econômico monstruoso e um colapso social digno de apocalipse.

E quando se chega a esse ponto, não há retorno imediato, o país passaria por muitos anos difíceis. Não digo difíceis de austeridade, digo difíceis de fome, doença e morte, pouco importando se a pessoa tem dinheiro ou não. Não seria a maior tragédia sanitária do país, que é o que acontece hoje, seria a maior tragédia sanitária do mundo.

Não estou dizendo que vai acontecer. Estou dizendo que PODE acontecer. O problema é que no Brasil não leva a sério o “pode acontecer”. Quando, um ano atrás, nós falamos do risco de mutações do vírus que o tornem mais letal e façam colapsar o sistema de saúde, choveu comentário dizendo que éramos “pessimistas”, “alarmistas” e que “seria muito azar uma mutação justamente como essa”. Aconteceu. Em pandemia não se deve pagar para ver.


Esse novo remédio para tratamento de covid liberado pela ANVISA tem eficácia comprovada? Pode ser usado de forma preventiva e ajudar o Brasil na pandemia?

Vou explicar sobre o antiviral Rendesivir, mas antes quero deixar uma dica que ajuda a responder qualquer dúvida sobre a eficácia de medicamentos para tratamento de covid: observe se o mundo todo está comprando, se o mundo todo está saindo no tapa pelo remédio, se os países que são grandes potências mundiais estão gastando bilhões para ter o medicamento. Se a resposta para essas perguntas for “não”, ele provavelmente não resolve porra nenhuma, como é o caso do Rendesivir.

O objetivo do Rendesivir é reduzir a quantidade de vírus dentro do organismo de uma pessoa já contaminada, impedindo que ele se “reproduza”, que ele se multiplique. Ele faz isso através de uma enzima (papo técnico: “RNA polimerase dependente de RNA”) que tem o poder de interferir no processo de replicação do vírus. Portanto, desde já vocês podem perceber que não é tratamento precoce, muito pelo contrário, é tratamento para quem está com o corpo tomado pelo vírus, hospitalizado.

O medicamento foi testado em pessoas já hospitalizadas e com problemas avançados em decorrência de covid (pneumonia, necessidade de oxigênio, etc.). Só por aí a gente vê que não vai ajudar o Brasil, pois não vai impedir ou atenuar o colapso no sistema de saúde: quem precisa de hospital vai continuar precisando de hospital. O objetivo do Rendesivir não é impedir a hospitalização e sim que, uma vez hospitalizado, o paciente precise passar menos tempo internado.

Para aprovar o Rendesivir, a ANVISA avaliou o resultado de apenas 3 estudos clínicos (fase 3) onde constataram alguns dias a menos de internação hospitalar em pacientes que usaram a medicação, mas não viram diferença na taxa de mortalidade, ou seja, vai continuar faltando vaga em hospital no Brasil, mesmo que ele seja utilizado. Além disso, o mundo todo está criticando esses estudos, pois eles foram patrocinados pela Gilead, detentora da patente do Rendesivir. Ao que tudo indica, os resultados não batem com os de outros estudos.

Outros estudos (avalizados pela OMS) mostraram resultados bem menos promissores, onde o medicamento não chega a reduzir nem mesmo em um dia o tempo de internação. Isso fez com que a OMS desaconselhe o uso do Rendesivir publicamente, uma vez que sua eficácia parece ser muito pequena ou nula quando o tratamento é observado por pessoas imparciais.

Como se não bastasse um resultado controverso e contestado, o custo do tratamento é muito caro. Ele custa, em média, 3 mil dólares, quase 20 mil reais, e, até aqui, não é coberto por plano de saúde.

Portanto, é um gasto grande para um retorno que, até então, se mostrou pequeno. Tanto é que você não escuta países comprando Rendesivir em massa e tratando doentes em massa com ele. Não te salva se você ficar mal a ponto de morrer e, na melhor das hipóteses (ainda questionada) você fica uns dias a menos no hospital.

Então, não, não serve com tratamento precoce, não ajuda a evitar colapso no sistema de saúde e a eficácia do medicamento é muito controversa. Não contem com ele. O que funciona continua sendo isolamento e vacina.


Deu ruim com a vacina de Oxford? Tem um monte de país civilizado suspendendo sua aplicação, pode resumir para a gente o que aconteceu?

Depende do seu conceito de “dar ruim”. Vamos a um resumo dos dados e, no final, você me diz se acha que deu ruim ou não.

A Agência de Vigilância Sanitária Europeia relatou 30 casos de coagulação de sangue considerada excessiva e/ou trombose em 5 milhões de pessoas vacinadas com a vacina de Oxford. Colocando em contexto, isso representa 0,0006% da população que recebeu esta vacina.

Os casos estão sendo estudados, até agora não se entendeu bem de onde vem esse problema. Pode ser da vacina, pode não ser da vacina. Na dúvida, enquanto se investiga criteriosamente a origem dessa anomalia, alguns países suspenderam sua aplicação, até terem certeza de que é um evento não relacionado com a vacina.

Os países que suspenderam de fato são países considerados “sérios”: Dinamarca, Noruega e Islândia suspenderam o uso de imediato, enquanto Áustria, Letônia, Estônia, Lituânia, Luxemburgo, Itália e Holanda suspenderam a aplicação de alguns lotes que eles entendem que podem estar com problemas. Mas, alguns países considerados cautelosos, como o Reino Unido, não suspenderam a aplicação dessa vacina.

Poucos dias atrás a OMS se posicionou publicamente e disse que a vacina é segura e que não há qualquer relação desses eventos com a vacina, dizendo que a incidência desses problemas na população, sem qualquer fator externo, está dentro do percentual de 0,0006%.

Vale lembrar que, mesmo que se prove a relação dos eventos com a vacina, problemas em 0,0006% da população vacinada é esperado e até considerado um índice baixo de efeitos colaterais. Também vale lembrar que o índice de mortalidade/sequelas que o covid deixa é bem maior do que isso, portanto, ainda que os eventos sejam causados pela vacina, é mais seguro se vacinar do que não se vacinar.

Ainda vale lembrar que os países que puderam se dar ao luxo de suspender a aplicação da vacina de Oxford são países que tinham outras opções de vacinas para aplicar em sua população, caso contrário, talvez não a tivessem suspendido, pois, como dissemos, o risco da covid é bem maior.

Não tem nada catastrófico acontecendo. Em tese, todos os pacientes vacinados do mundo são acompanhados e cada reação à vacina está sendo catalogada, no que se chama Fase 4 de estudos, como já explicamos em outros textos. Portanto, o mundo inteiro está atento e trocando informações sobre o que acontece com cada pessoa vacinada.

Óbvio que em uma situação hipotética onde uma pessoa já possui qualquer problema ou propensão de coagulação ou trombose, tendo outra vacina disponível, é melhor adotar a via alternativa, até que esses eventos sejam esclarecidos. Mas, se fosse comigo e eu não tivesse outra opção de vacina, eu tomaria mesmo assim. Na dúvida, converse com seu médico.

Para dizer que quer conhecer meu castelo, para dizer que torce para que um dos efeitos colaterais do corona a longo prazo seja esterilidade ou ainda para dizer que já vai comprar sua PFF2: sally@desfavor.com


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