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Coronaval 2021

Coronaval 2021

| Sally | | 32 comentários em Coronaval 2021

Galvão, eu já sabia! Como era de se prever, todos os estados brasileiros tiveram aglomerações, festas clandestinas, ruas tomadas e, os que estão na orla, praias lotadas neste carnaval. O mais curioso é: este texto foi escrito ontem, segunda-feira, então, ainda tem muita coisa errada para acontecer, isso que vocês vão ver é só o começo…

Não custa lembrar que no último domingo, dia 14 de fevereiro, o Brasil apresentou a pior média diária de mortes de toda a pandemia. Também vale lembrar que começaram a circular novas variantes do vírus, mais contagiosas e, talvez mais letais (isso ainda está em estudos) e que várias cidades estão com sistema de saúde colapsado ou à beira do colapso.

Também vale lembrar que outros países, elogiados pelas estratégias de controle da pandemia, estão se portando de forma oposta ao Brasil. A Nova Zelândia, eleita o melhor país para se estar na Pandemia, acaba de decretar um lockdown após confirmar três casos de covid. A Austrália já avisou que as fronteiras ficarão fechadas por, pelo menos um ano, para evitar que novas variantes entrem no país. A Alemanha, que entrou em lockdown no ano passado, acaba de anunciar que ele vai se estender, no mínimo, até março.

Também é importante lembrar que o Brasil não está conseguindo distribuir corretamente as vacinas. Muitas segundas doses ficaram pendentes ou atrasaram, comprometendo a eficácia da primeira dose. No Rio de Janeiro, por exemplo, as vacinas acabaram. Em outros estados, foram vacinadas pessoas que não eram de grupos prioritários, enquanto quem está na linha de frente de combate ao covid ficou sem vacina.

E, é claro, não podemos nos esquecer do colapso no sistema de saúde em muitas cidades, que gera inevitavelmente um aumento no número de mortes por covid, pois quem poderia sobreviver se recebesse um suporte médico adequado, fica desamparado. Em Manaus, por exemplo, houve um aumento de mais de 40% nas mortes. Muitas cidades lutam contra falta de oxigênio, de anestésico para colocar pacientes no respirador (estão usando anestésico veterinário em seres humanos), falta de mão de obra pois médicos estão adoecendo e muitos outros problemas de infraestrutura.

Por fim, vale lembrar que o Brasil foi eleito o pior país para se estar durante a pandemia, e esse estudo foi realizado levando em conta vários aspectos. Seja o estudo, seja o número de mortes aumentando, seja o sistema de saúde colapsando, temos dezenas de indícios de que o país não está indo pelo melhor caminho.

O que seria esperado diante de um cenário como esse? Provavelmente que as pessoas tentem se proteger como puderem. É o que estamos vendo no carnaval? Claro que não. O Brasil ainda está empilhando os mortos do Natal e do ano novo e agora faz por onde majorar ainda mais esses números.

A confusão já começou antes do carnaval. No meio da semana passada começaram a pipocar festinhas e blocos de rua. São muitas histórias, muitas mesmo. Selecionei algumas que me pareceram retratar melhor o que está acontecendo por todo o país. Vamos ver como anda o Coronaval.

Essa história ilustra bem o tanto de merda que as pessoas têm na cabeça: bloco a qualquer custo.

Foliões cariocas combinaram de formar um bloco de rua pelas redes sociais, marcando dia, local e hora para seu início. Quando chegaram ao local, havia policiamento, o que impediu que o bloco se forme. Inconformados, os foliões tentaram então se aglomerar em bares que ficavam nas proximidades.

Os estabelecimentos se recusaram a receber tanta gente, explicando que eles não poderiam ficar lá, mas os foliões se recusavam a sair. Prostrados na porta dos bares, faziam de conta que não escutavam os pedidos para se retirarem. Os donos dos bares cansaram e, diante da recusa do grupo em sair, fecharam todos os bares da rua.

Mas os foliões não desistiram: designaram alguns membros para se dividir e procurar um local sem policiamento no entorno onde pudessem dar início ao bloco.

Encontraram um local e começaram o bloco lá mesmo, aglomerando mais e mais pessoas, a maioria sem máscara e bebendo. A polícia descobriu onde eles estavam e tentou dispersá-los, mas eles atacaram a polícia aos gritos de “fascistas”, “repressão” e “ditadura”. A polícia teve que se retirar e voltar com reforços e, mesmo assim, não conseguiu remover os foliões. Foi preciso jogar bombas de gás lacrimogêneo para fazê-los deixar o local. Sim, temos vídeo:

Há muitas coisas fascinantes neste vídeo, apesar de sua baixíssima qualidade.

A primeira é o fato de um carioca gritar “Estão jogando granada, parceiro”. Como assim um carioca não sabe a diferença? Carioca reconhece o tipo de arma que dispara pelo barulho do tiro. Antes fossem granadas, infelizmente não eram. A segunda é a pronúncia de “Fire in the hole”. Não só a pronúncia, como a forma alegre, descontraída e bem humorada com que uma pessoa constata que está sendo alvejada pela polícia.

Aos 30 segundos de vídeo vemos a marca registrada da pobreza, confusão e criminalidade: uma pessoa com a camisa do Flamengo correndo. Sempre, sempre, sempre tem. O curioso é o tio com a camisa da Adidas sentado no bar na maior inércia contemplativa enquanto todos correm e gritam. O carioca perdeu o medo do perigo faz tempo.

Obviamente, todos sem máscara e com as fantasias previsíveis em todo carnaval: gordinha de tutu (um clássico que nunca falta), rapaz sarado vestido de piranha e um anjo completamente bêbado. E para você que está pensando que pobre é uma merda, no Rio teve festa em todas as classes sociais, inclusive uma no Jockey Clube, um dos lugares mais chiques da cidade.

Deixo aqui uma consideração importante, com a experiência de ter morado 40 anos no Rio de Janeiro: todo mundo critica tanto a polícia carioca por ser desumana, psicopata e truculenta mas… tem como lidar de outra forma com carioca? Há dois lados para cada história, o carioca não é um povo alegre e sorridente vítima de uma polícia opressora, ele é tão filho da puta, desonesto e agressivo quando a polícia que o espanca. Ninguém vale nada ali, não tem vítimas, tem filho da puta atacando filho da puta, por todos os lados.

Mas isso não é tudo. Não basta se contaminar e contaminar as pessoas que te cercam, tem que ser da forma mais degradante possível, como por exemplo, em um show do cantor Belo. Sim, as pessoas se arriscam a matar suas mães ou suas avós para assistir ao cantor Belo.

Parece que Belo tem uma compulsão por cometer crimes e está somando mais um para a sua lista: causou uma aglomeração enorme fazendo um show não autorizado e ainda tentou intimidar quem o confrontou: “Fizemos o show seguindo todos os protocolos (…) fiscalização? só quem sofre as consequências são os artistas, que foi o primeiro segmento a parar, e até agora não temos apoio de ninguém”. Força, Guerreiro.

Pelas fotos do show (há outras disponíveis no Google mostrando os detalhes), podemos perceber que esse papo de “seguindo todos os protocolos” é recurso recorrente de todo mundo que desrespeita as regras de isolamento social. Que protocolo é esse de uma multidão aglomerada e sem máscara?

E, cá entre nós, é injusto dizer que não tem o apoio de ninguém, todo mundo que mora no Rio sabe que Belo tem todo o apoio do tráfico, a maior prova é esse show. Tomara que volte para a gaiola.

Em Natal, a Prefeitura emitiu um decreto proibindo celebrações nas ruas, pois a lotação hospitalar por lá está na faixa dos 90% e o sistema de saúde já começa a dar sinais de colapso, com falta de alguns insumos e demora ou fila de espera para atendimento médico e internação. Era o momento de definir se queriam se tornar uma nova Manaus ou reverter a situação antes que aconteça uma crise humanitária.

Aparentemente, eles almejam ser uma nova Manaus. Apesar da proibição (e a gente sempre fala, não adianta proibir se não fiscalizar), foram registrados dezenas de focos de aglomeração, e quando a gente fala de aglomeração, não é um montinho em frente a um bar, é essa foto aí de cima, que praticamente tem cheiro. É aglomeração de não conseguir ver o chão de tanta gente que está amontoada na rua.

Consultada, a Prefeitura disse que fez sua parte ao emitir o decreto proibindo aglomerações e que não consegue conter a população nas ruas. Ninguém foi preso. Entendemos que sair descendo o cacete nos transeuntes depois vira comoção e fala sobre direitos humanos (apesar de sermos 100% favoráveis a sentar o cacete em quem está colocando a vida alheia em risco). Mas não dava para coibir de outra forma? Multando? Fazendo barreiras de isolamento? Soltando alguns animais carnívoros do zoológico nas ruas?

Na outra ponto do país, no Rio Grande do Sul, aconteceu o mesmo esquema: proibiram aglomeração, tentaram coibir com policiamento, mas não deu.

A Prefeitura se manifestou e disse que “é humanamente impossível coibir todas as ações provocadas por milhares de pessoas”. É praticamente um convite: “Olá, saqueiem minha cidade, pois não conseguimos ter controle sobre grande quantidade de gente”. Fica a dica.

Além disso, a Prefeitura também informou que “uma ação ostensiva de dispersão seria arriscada, uma vez que foi registrada a presença de famílias com crianças, havendo registros até de bebê de colo”. Olha que polícia fascinante: não quer colocar em risco a vida de quem coloca a vida dos outros em risco. Estão precisando de umas aulinhas com a polícia carioca.

Em Santa Catarina não foi diferente. Além das praias lotadas, festa nas ruas aglomerando pessoas sem máscara e com zero distanciamento social. Vejam a serenidade no olhar de quem acha que um vírus respiratório que já matou mais de dois milhões de pessoas e obrigou a Europa a passar quase três meses em lockdown é só uma gripezinha.

O poder público reproduziu o discurso padrão do resto do país: tentou impedir, cancelando o carnaval oficialmente em 8 de fevereiro, mas ninguém obedeceu e “se tornou impossível dispersar tanta gente”. A Prefeitura disse ainda que “repudia fortemente as cenas lamentáveis presenciadas”. Parece que notinha de repúdio sem fazer absolutamente nada a respeito está virando tendência na política brasileira.

Estes são apenas alguns de muitos exemplos. Não é possível fazer uma postagem com fotos e relatos de todos os estados, pois o país é muito extenso, mas basta uma busca rápida no Google que vocês verão: ninguém se salvou, teve festa clandestina e/ou aglomeração nas ruas, em muitos casos, em plena luz do dia. Teve estabelecimento promovendo festa, teve bares lotados, teve tudo que não deveria ter.

E eu acredito que o Poder Público realmente tentou coibir, mas como o Brasil é um país de incompetentes, não conseguiu. Não há inteligência, estratégia, não tem um plano para conter o povo nas ruas. Fica a dica para o povo, quando cansar de ser roubado, esculachado e explorado: se vocês forem para as ruas por uma causa realmente importante, o Poder Público não vai saber como pará-los.

Não é difícil. Eu mesma simulei interesse em comprar um ingresso para uma festa clandestina no Rio de Janeiro e obtive todas as informações necessárias. O ingresso custava a módica quantia de R$ 700,00. Que tal? Pagar mais de meio salário mínimo para adoecer? Era só rastrear essas pessoas por redes sociais ou WhatsApp, descobrir o local da festa e ir até lá, impedindo que ela aconteça. Alguém fez isso? Claro que não.

Até em Manaus, que está sofrendo uma crise sem precedentes por causa do coronavírus, foram detectadas aglomerações e festas clandestinas. Não há esperanças para o Brasil. É o “meu” bem-estar, o “meu” desejo imediatista, o “meu” querer acima do bem estar de toda a humanidade. Foda-se se o Brasil está contaminando vários países com uma variável nova, a pessoa tem que pular carnaval.

Parem de culpar político. O brasileiro é podre, exatamente tão podre quanto o Bolsonaro, que é só um espelho do povo. Irresponsáveis, egoístas, fúteis. Uma hora alguém vai cansar de ficar tomando nova cepa tupiniquim e tendo que fechar mais uma vez em lockdown e, eu juro, eu vou entender qualquer medida que seja adotada contra o Brasil, desde embargo comercial até bomba atômica.

Para contar as atrocidades que fizeram na sua cidade, para dizer que tá indo embora o vírus ou ainda para dizer que o carioca merece a polícia que tem: sally@desfavor.com


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