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Alerta de tsunami.

Alerta de tsunami.

| Desfavor | | 38 comentários em Alerta de tsunami.

Estados brasileiros vivem situação crítica na Saúde em razão do avanço da pandemia de Covid-19, com alta nos números de casos e de mortes causadas pela doença. Também estão na iminência de colapso, com Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) lotadas ou perto de ficar sem vagas. LINK


Ontem fez um ano do primeiro caso confirmado no Brasil. E estamos diante da pior fase da pandemia. Desfavor da Semana.

SALLY

Lembra que a gente tá avisando desde o começo do ano, comparando covid a uma tsunami, que o mar está recuando, que tem uma onda grande chegando que vai varrer tudo? Pois é. O texto de hoje é para te situar no tempo-espaço e fincar um marco-zero: a partir de hoje a onda começa a varrer tudo que vê no caminho.

Sempre criticamos a indústria do medo, usar medo para conseguir cliques, likes e visualizações. Incutir medo nas pessoas (principalmente quando é infundado) para obter algum benefício pessoal é repugnante. Mas, quando realmente há um perigo grande, deixar de avisar para não soar emissário de más notícias também é repugnante. Por isso, decidimos em comum acordo que é hora deste texto.

Não queremos cliques, não queremos visualizações, desde o dia 1 optamos por não ter um único patrocinador e não monetizar o blog de forma alguma. Não é do nosso interesse polemizar ou viralizar. Nosso aviso é de coração e não está baseado em achismos nossos, e sim em projeções científicas. A tsunami chegou, é basicamente o que queremos te dizer. É hora de empenhar todos os seus esforços em se proteger.

Temos as questões mais imediatas que já apontam para a chegada da onda que vai varrer o Brasil: mais de 20 capitais estão com o sistema de saúde colapsando. Os maiores/melhores hospitais de São Paulo (como o Einstein e o Sírio-Libanês) estão sem leitos, ou seja, nem pagando bem tem. O Governo não sabe a diferença entre AP e AM e manda vacina para estados trocados. Bolsonaro vai a público dizer que usar máscara faz mal à saúde. Em vez de comprar a vacina da Pfizer compra uma porra de vacina que ainda está em fase 3 e nem se sabe se tem eficácia e ainda paga mais caro por ela.

Mas, são as questões maiores que preocupam: semana que vem começa a chegar a conta do carnaval, com hospitais já colapsados. Mês de março já deu tempo da variante de Manaus se espalhar bastante por todo o país. O verão está indo embora e sabemos que a sazonalidade começa a jogar contra. Os insumos nos hospitais estão acabando, já tem paciente amarrado à cama por conta da dor que está sentindo, por ser entubado sem sedativo e pode ser que não seja possível adquirir mais com facilidade.

Vocês precisam se preparar para o que vai acontecer. Preparados no sentido de saber o que priorizar, o que fazer para se proteger e o que fazer para proteger as pessoas que você ama, mas também preparados emocionalmente para o que irão ver.

Agora é a hora de dizer um “foda-se” para tudo que colocar sua vida em risco: foda-se trabalho, foda-se namoro, foda-se vida social, perca tudo mas não perca a vida. Pega algo que você sabe fazer, monetiza como der e trabalha de casa. Não é hora de sair, não é hora de ir para a rua. Você pode ter feito isso impunemente em 2020, mas agora a realidade é outra. É muito importante que todos aqueles que podem ficar em casa de fato fiquem em casa, ao menos por algumas semanas.

Não é como se estivéssemos em guerra e a qualquer momento um avião inimigo pudesse passar pela sua casa, bombardear tudo e matar você e sua família. Dentro da sua casa você está protegido, se não sair e não receber ninguém. Use esse trunfo a seu favor. Se puder e quiser ajudar seus pais, faça uma mala e vá morar com eles temporariamente, nada mais justo que cuidar de quem sempre cuidou de você, mas sem ficar se deslocando. Entra e fica lá trancado.

Não é um achismo nosso. O vírus segue um padrão para se espalhar e, à medida que o faz, vai colapsando o sistema de saúde. O colapso vai começar na semana que vem, e não vai ter dinheiro no mundo que te ajude. Estamos falando de uma tragédia humanitária, um evento que vai entrar para os livros de história como maior crise humanitária da história do Brasil. Não sejam o sapo na panela de água quente que não percebe que vai morrer queimado.

Vocês serão testemunhas de um evento histórico, porém trágico. Tenham consciência disso. Uma história que vai ser escrita, que vai virar filme, que vai virar série, que vai virar um marco, vai acontecer diante dos seus olhos a partir de hoje. E a forma como vocês vão se portar vai definir como vão sair dessa tsunami.

Esqueçam dinheiro, esqueçam emprego, esqueçam tudo que não for salvar suas vidas e a das pessoas que vocês gostam, pois todas essas coisas se reconquistam depois. Uma vida que se vai não volta mais. Tenho conversado com muitas pessoas que perderam entes queridos e todas são unânimes em dizer que queriam ter recebido esse aviso de forma mais enfática, pois se culpam pelas escolhas erradas. Então, novamente: esqueça tudo que não for cuidar de você e das pessoas que você ama. E, a partir de agora, o único cuidado eficiente é o confinamento. Confinamento total.

As medidas adotadas pelo Poder Público não são suficientes para proteger ninguém. Um ano depois o brasileiro ainda não entendeu o que significa “lockdown” e está chamando Toque de Recolher (não poder sair à noite) de lockdown, ou está chamando fechamento de comércio de lockdown. Lockdown é reduzir a circulação de pessoas de forma significativa. Podem estar todos os comércios fechados que, se as pessoas estiverem bundeando na praia, não é lockdown.

Um lockdown eficiente, na atual situação do Brasil, deveria ter pelo menos 80% da população sem sair de casa. Isso é mensurável pelas antenas de celular, que mostram o quanto as pessoas estão se deslocando. Não vai ter 80% das pessoas em casa, nunca teve, nem quando o brasileiro estava mais assustado. Não vai ter fiscalização nem punição suficientes para fazer com que 80% das pessoas fiquem em casa. Então, fique em casa você, é cada um por si.

Vamos repetir o que falamos sempre: o Poder Público não está cuidando de você, você tem que cuidar de você. Pessoas do seu entorno vão desmerecer suas medidas de segurança, vão te ridicularizar, vão te fazer sentir que você está exagerando e jogando sua vida fora trancado em casa, mas quem vai jogar sua vida fora é quem não se proteger. O que está por vir não é bonito. Situações trágicas requerem atitudes drásticas.

Não temos o menor prazer em te entregar este texto e sabemos que vamos perder leitores por ele, mas nos sentiríamos pior se ficássemos calados. A tsunami que a gente vinha anunciando desde janeiro chegou. É hora de se proteger enquanto ela passa e varre tudo que encontra pela frente. A única prioridade agora é se proteger, todo o resto tem que passar para segundo plano. E a única forma de se proteger é não sair de casa.

Para agradecer por estragar seu dia, para agradecer por estragar seu final de semana ou para agradecer por estragar sua vida: sally@desfavor.com

SOMIR

Essa semana eu me vi obrigado a passar um dia no hospital. Já está tudo bem, caso alguém se preocupe. Mas nesse pequeno período de observação eu já pude perceber como as coisas estão ficando complicadas. Cheguei por lá numa madrugada e encontrei as coisas mais ou menos como esperava: pronto socorro bem vazio e fila única de atendimento.

Eu precisava esperar para fazer alguns exames, o que foi me prendendo no hospital por mais e mais horas, e foi aí que eu comecei a perceber como a situação estava mudando com o passar do tempo. De madrugada, eu tinha atenção de médicos e enfermeiros quando quisesse, as coisas se movimentavam rápido, mas enquanto a manhã chegava o clima do hospital ia mudando.

Vejam bem, não estava num hospital grande de referência, e sim num médio mais perto da minha casa. Um que não atende SUS, importante ressaltar. Mas mesmo assim, enquanto eu andava de um lado ao outro do lugar para fazer meus exames, a coisa ia ficando mais e mais complicada.

A sala de emergência começava a lotar. Eu já tinha que lutar mais pela atenção da equipe. Precisei voltar para a recepção para esperar ser chamado para um exame, e percebi uma mudança: já havia uma fila separada para pacientes com suspeita de Covid. Eles ficavam para fora.

Mais exames, mais tempo, e eu passei mais uma vez na recepção na hora do almoço: completamente lotada. Os pacientes de Covid já eram grande maioria e eu tinha que me esforçar para ser atendido por qualquer pessoa de lá. Mas só foi cair a ficha mesmo quando eu passei pela última médica antes de ter alta: ela parecia que tinha acabado de chorar, com uma cara e uma voz de quem estava sem energia para mais nada na vida.

Em poucas horas, eu vi um hospital ser esmagado por pacientes de Covid, e eu nem cheguei perto de uma UTI nesse tempo todo. Não estou dizendo que vi gente morrendo nos corredores ou algo dramático do tipo, estou apenas demonstrando o que sempre se disse ser o grande perigo dessa pandemia: colapso no sistema de saúde.

Não é uma doença especialmente mortal, mas tem o potencial de lotar hospitais em questão de poucos dias, botando uma pressão enorme nas estruturas e funcionários de hospitais. Pressão que reduz a capacidade de atenção e os recursos disponíveis para te tratar. Não é só sobre não ter um leito de UTI, é sobre os médicos e enfermeiros terem que analisar seu caso em questão de segundos e tomar decisões apressadas umas atrás das outras.

É sobre colocar um sistema que já é meio precário até mesmo em hospitais particulares sob mais tensão ainda. A pessoa que vai aglomerar na certeza que não vai morrer de Covid pode estar certa na maioria das vezes, mas isso não quer dizer que vai ficar imune às consequências. Pessoas precisam de hospitais para muitas coisas que não são relacionadas à pandemia, e quanto mais ajudam essa pandemia a manter sua força, mais se arriscam a cair num hospital em estado caótico se precisarem.

Não vou dizer que fui mal atendido, mas foi clara a deterioração da “margem de segurança” com o passar da madrugada para a manhã e o começo da tarde. De uma certa forma, durante um surto de coronavírus, é como se todos os hospitais ficassem um pouco mais como o SUS: pode ter até profissionais muito responsáveis e dedicados, mas o volume de atendimentos é tão grande que algumas coisas começam a quebrar.

É mais fácil errar quando você atende um paciente por minuto. Ou quando precisa tomar decisões sobre dois ou três ao mesmo tempo. Muito se fala das UTIs, mas existe um perigo extra envolvido nas outras partes do atendimento de saúde. Quando basicamente todos os estados lançam avisos sobre falta de UTIs para atender pacientes de Covid, inclusive nos hospitais particulares mais caros do país, considere também que o resto do sistema está sob muita pressão.

É por isso que estamos escrevendo este texto: depois de um ano da pior reação à pandemia do mundo, o Brasil está diante de um colapso no sistema de saúde que pode demorar bastante para ser contornado. Se você puder evitar lidar com o mundo lá fora pelas próximas semanas, é uma excelente ideia para se proteger do perigo que vem por aí. E isso pode significar fazer alguns sacrifícios de curto prazo, mais do que já estamos fazendo.

Não queremos assustar ninguém, apenas avisar o que pode ter ficado confuso na mídia: a coisa vai piorar bastante, e quem estiver preparado para se isolar e evitar entrar nos números da Covid vai estar muito, muito mais seguro até a situação acalmar.

Se cuidem.

Para dizer que estamos sendo dramáticos (melhor pecar pelo excesso), para perguntar se eu estou feliz após ter trocado de sexo (há), ou mesmo para dizer que nem presidente a gente é para dar dica de saúde: somir@desfavor.com


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