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Invasores.

Invasores.

| Desfavor | | 18 comentários em Invasores.

A polícia da capital americana Washington informou que quatro pessoas morreram durante a invasão de extremistas apoiadores de Donald Trump ao Capitólio, edifício sede do Congresso dos Estados Unidos, nesta quarta-feira (6). Quatorze policiais ficaram feridos. LINK


Não está fácil pra ninguém… Desfavor da Semana.

SALLY

Aconteceu muita merda no Brasil esta semana: anúncio estanho da eficácia da Coronavac (se era tão alta, por qual motivo adiar?), Ministro dizendo que comprou vacina e sendo desmentido pelo Butantan, imprensa escrevendo Butantã, recusa do Bolsonaro em comprar seringas acima do preço mostrando total desconhecimento de oferta e demanda, falta de seringas para vacinar o povo, Planalto impondo sigilo de cem anos a cartão de vacinação de Bolsonaro… Mas nada disso é novidade, não é mesmo?

O que aconteceu nos EUA foi uma novidade. Não é todo dia que se vê algo assim por lá. No dia em que Biden seria oficializado vencedor das eleições um grupo de malucos armados invadiu o Capitólio (com a ajuda e incentivo do Trump) e promoveu uma baderna À La Brasil, a ponto de ter congressista esbravejando depois que aquilo era inadmissível pois o país não era uma “República das Bananas”.

Além da surpresa de ver caipiras armados entrando no que deveria ser um dos prédios mais seguros da capital dos EUA (com a segurança visivelmente deixando eles entrarem), também chamou a atenção o naipe dos envolvidos. Um sujeito vestido com peles e chifre que, em qualquer outro contexto eu diria ser Jamiroquai ou Village People gritava no púlpito, púlpito este, que, por sinal, foi roubado por outro manifestante posteriormente. Sim, o evento foi um espetáculo que vai entrar para a história.

Senadores apavorados sendo evacuados, manifestantes quebrando tudo e até defecando em gavetas. Foi um show de horrores para ninguém botar defeito. Em redes sociais, o povo estava vibrando com aquele argumento cansativo e falacioso: não é só no Brasil que acontece bandalha. Apontaram o dedo estilo Nelson, dos Simpsons, e ficaram rindo, como se tivessem conseguido uma prova de que os EUA são exatamente iguais ao Brasil. Não são.

Sim, o povo de lá é uma merda. É o que eu sempre digo, assim como russo é brasileiro da neve e indiano é brasileiro vegano, o americano nada mais é do que um brasileiro que ganha em dólar. Sempre foi um povo brega infantilizado, sem cultura e ignorante. O evento desta semana extrapolou qualquer limite, mas não é surpresa que o americano é medíocre.

O que faz a diferença é a forma como o Poder Público lida com as imbecilidades do seu povo. E é aí que os EUA, por mais merdas que seja, se destaca do Brasil. Não tiveram medo de atirar e matar baderneiro, não terão medo de prender e punir quem eles julguem culpados, inclusive o Trump, que sofreu duras críticas e provavelmente vai enfrentar alguma sanção pelo que fez, apesar de ter outorgado perdão presidencial a ele mesmo (é sério, ele fez isso).

Essa é a diferença: quando acontece um evento macaquesco que corre o mundo os EUA (ou qualquer outro país que tenha uma mínima capacidade de restaurar a ordem) consegue se limpar, consegue punir exemplarmente e passar um recado para o seu povo: não vale a pena fazer esse tipo de merda aqui, custa caro. Já no Brasil…

Tem muita gente olhando para o evento por outro ângulo: representantes extremistas (de extrema direita ou extrema esquerda, tanto faz) podem se tornar golpistas com muita facilidade. Trump só não conseguiu dar um golpe de estado (e não tem outro nome para um Presidente que perdeu as eleições, mas se recusa a deixar o cargo) por não ter apoio suficiente das forças armadas e da polícia. E muita gente acha que isso pode se repetir no Brasil: “quando os EUA pegam um resfriado, o Brasil tem uma pneumonia”.

Apesar de achar graça nessa reviravolta de ver os EUA, um país que por tradição invade outros países para “restaurar a democracia” ver sua própria democracia ameaçada, eu sei que isso foi só um soluço. Nunca teve um risco real ali. E eu não acredito que isso aconteça no Brasil. A macaquice sim, sempre. Mas um golpe de estado? Meus queridos, se nem o Trump conseguiu, imagina o Bolsonaro. O máximo que vamos ver é Carluxo vestido de urso com chifres gritando no Congresso.

Não que o Congresso brasileiro seja eficiente para impedir esse tipo de golpe ou pretenda lutar pela democracia, ele é composto por um aglomerado de idosos e/ou semianalfabetos corruptos e preguiçosos que não são capazes de nada. Se cuidarem de duas tartarugas, uma foge e a outra é vendida a um preço superfaturado. A questão é: Bolsonaro não tem competência para nada, caso vocês ainda não tenham reparado.

O máximo que vamos ver são aquele grupo patético que se chama de “300” mas tem meia dúzia de gato pingado gritando. Ninguém está feliz com Bolsonaro. Ele tem uma pequena militância que, por ser muito barulhenta e ter muitos fakes, passa uma impressão de poder que não tem. O infeliz não conseguiu nem as assinaturas necessárias para a criação do seu partido. Não há qualquer chance desse imbecil, em 4 anos, preparar um golpe de estado. Um bonobo de cartola teria mais chances.

Então, quando você olhar as cenas brasileirescas de símios dependurados no teto do Capitólio gritando tal qual rebelião de presídio, não caia na armadilha de rir dos EUA, joke is on you: lá isso vai ser coibido de forma exemplar, enquanto no Brasil vai continuar acontecendo impune. Também não caia na armadilha do medo de pensar que Bolsonaro tem qualquer condição física, psicológica ou política de fazer algo parecido e ser bem sucedido, pois não tem.

Não que a gente não possa apreciar o barraco e se divertir com ele. Eu interrompi meu trabalho, peguei uma pipoca e fiquei acompanhando as cenas lamentáveis. Morreu gente? Morreu. Mas quando você quebra a janela do Capitólio e entra armado, bem, passarinho que come pedra sabe o cu que tem, fez parte do contrato que a pessoa assinou quando resolveu fazer uma imbecilidade dessas. Me sinto no direito de usufruir do evento sem remorso.

Barracos são eventos mágicos que nos permitem ver o que há de pior no ser humano, por isso são tão fascinantes. É um aprendizado e ao mesmo tempo um lembrete de que somos bicho e esse verniz de civilização não nos pertence, é apenas um condicionamento que, dadas as circunstâncias, cai mais rápido que calcinha de puta (ou cueca de garoto de programa, para os que acharem minha comparação machista).

Pegar um barraco e usar para generalizar e tentar fazer parecer que “acontece em todos os países” é vira-lata. Primeiro que não acontece com a mesma frequência que no Brasil, não acontece com a mesma intensidade e as consequências são muito diferentes.

No Brasil o barraco é o modus operandi, tem troca de soco na Câmara, no Senado e até no supermercado por causa de Skol. Hora de parar de usar o barraco alheio para normalizar o barraco nacional e fazer parecer que o Brasil é a mesma coisa que outros países. Não é.

Barraco acontece em qualquer lugar, mas não com a frequência, intensidade e impunidade que acontecem no Brasil? Não é em todos os lugares não.

Para dizer que Trump vai ser bicampeão do Prêmio Pilha, para dizer que em algum lugar Greta Thunberg dá gargalhadas ou ainda para dizer que quem é ruim de fato se destrói sozinho: sally@desfavor.com

SOMIR

O universo é lugar cheio de energia e pouquíssimo propósito. O Sol produz uma quantidade imensa de luz e calor a cada segundo, e apenas uma minúscula fração disso é utilizada aqui na Terra. Se for contar os seres capazes de apreciar conscientemente então, o desperdício é ainda mais incrível. Mas… por que eu comecei o texto assim?

Arriscar a vida para vida ao enfrentar um adversário tão poderoso como o governo americano por uma convicção pessoal é algo muito corajoso. De sua própria maneira, essas pessoas acreditavam estar lutando por uma causa nobre, algo que corrigiria uma injustiça e protegeria o futuro de sua nação.

Sim, muitos vilões usam um verniz de altruísmo para justificar suas ideias e ações essencialmente egoístas, mas ao analisar os invasores do Capitólio, é importante entender o contexto de guerra cultural: você provavelmente vai vê-los sendo chamados de racistas, misóginos, homofóbicos e etc., nem tanto pelo o que fazem e pregam, mas porque convencionou-se que esses rótulos funcionam para desmotivar possíveis simpatizantes.

Na prática, pudemos ver um grupo de desajustados fazendo o que na melhor das hipóteses pode ser chamado de uma tentativa patética de impedir uma sessão do poder legislativo americano. Por vezes parecia algo muito sério, mas rapidamente as atitudes infantis dos invasores explicitavam o que realmente acontecia ali: um desperdício de energia.

Claro que não estou defendendo essas pessoas, estou apenas dizendo que não basta enxergar apenas o ataque à democracia ou o grau de insanidade que algumas pessoas podem alcançar. Isso não é fato isolado criado por Trump, que embora tenha incentivado o comportamento com sua recusa de aceitar uma derrota, não foi o motivo real dele. Aliás, podemos até agradecer pelo fato do homem laranja ser tão inepto, a história nos prova que na mão de alguém mais esperto, essa massa de manobra poderia ser muito mais perigosa.

A energia potencial de lutar por uma causa está presente em muita gente nesse mundo, arrisco até a dizer que na maioria. É muito questão de gerar o encontro ideal entre a causa certa e o incentivo externo. A causa certa é o mais fácil de achar: somos seres emocionais, moldados por instintos e pressões sociais. Agora, o incentivo externo é bem mais complicado. Existem exemplos sim, mas ativistas solitários são pra lá de incomuns.

Quer dizer, era bem mais complicado. A internet mexeu com essa lógica de forma irreversível. Não importa a causa que tocar o seu coração, é relativamente simples encontrar gente que pensa parecido. E melhor: manter contato com elas, compartilhando da cultura criada ao redor dessa causa. Em questão de duas décadas a humanidade conseguiu encontrar uma forma de utilizar essa energia potencial. E ela está irradiando para todos os lados.

Mas, voltando à analogia inicial do texto, pouca dessa energia parece estar sendo aproveitada. Se os invasores esperavam defender a presidência de Trump, conseguiram só torná-la ainda mais inviável. Quando falamos de energia, temos que lembrar das leis da física. Toda ação gera uma reação. Até mesmo gente do próprio partido do presidente já começou a conversar sobre uma expulsão imediata do candidato derrotado. Foi tanta energia no lugar errado que muita gente não consegue mais nem esperar uma semana para ver Trump pelas costas.

E agora, é importante perceber como essa energia toda não volta mais aos padrões antigos. É a era do aquecimento global de ânimos. Causas e mais causas sendo defendidas por pessoas progressivamente mais radicalizadas, alimentando-se umas das outras. Apoiadores ou adversários, não importa: cada interação aumenta a quantidade de energia disponível. As grandes empresas de tecnologia já estão contribuindo: talvez o golpe mais dolorido no futuro ex-presidente tenha sido a suspensão permanente de sua conta do Twitter, afinal, não é como se tivesse reputação a zelar como político.

Embora não pareça nem um pouco intuitivo tentar acalmar os ânimos depois de uma demonstração de insanidade como essa, tentar suprimir essa gente com retaliações do tipo não parece uma solução para o verdadeiro problema do excesso de energia. Quem se prestou a ir enfrentar segurança armado em um dos prédios mais seguros do mundo é o tipo de gente que se alimenta de animosidade.

E repito: não caia na armadilha de achar que esses defensores do Trump são só pessoas ruins que se encontraram para armar um plano muito complexo de dominação social, claro que alguns dos representantes do grupo caem nessa categoria, mas o ser humano médio é muito mais coração do que cérebro. O coração dessa gente está produzindo muito mais energia que o habitual, e como pouca gente parece ter noção desse ambiente propício de radicalização que vivemos, as causas parecem ter toda essa força pelo princípio, e não pelo contexto.

“Se não fosse algo muito sério, se eu não estivesse lutando literalmente pela sobrevivência da humanidade e a proteção dos injustiçados, eu não estaria tão confiante assim!”

A questão é que não dá para saber mais. O potencial sempre existiu, mas só o mundo moderno consegue explorar essa fonte de energia com tanta eficiência. A gente gosta de achar que nunca se veria no meio de uma situação bizarra dessas, mas o passar dos anos está provando que ninguém está imune… tome cuidado com quanta energia está emitindo pelas suas causas, e de preferência: tente ser compreensivo se alguém que te importa começar a “brilhar demais”.

P.S.: Já estou cansado agora imaginando como o Bolsonaro vai fazer a mesma coisa. Vou tentar economizar um pouco da minha energia até lá.

Para dizer que curte esses papos de eletricista, para dizer que eu sou furão e vacilão, ou mesmo para dizer que internet é o Grande Filtro: somir@desfavor.com


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