Skip to main content
Castigo da China.

Castigo da China.

| Desfavor | | 21 comentários em Castigo da China.

Como todos já devem ter percebido, aqui nós levamos a pandemia a sério. E como existem motivos razoáveis para acreditar que houve no mínimo negligência chinesa nas contaminações iniciais, Sally e Somir discutem qual seria a forma ideal de punição. Os impopulares pegam suas tochas.

Tema de hoje: se ficar comprovado que a China omitiu dados que poderiam ter evitado a pandemia, como deve ser punida?

SOMIR

Caso seja possível definir culpa para a China na forma como lidou inicialmente com o coronavírus, suprimindo e maquiando dados para fingir ser mais competente ou mesmo para proteger sua economia, devem ser atingidos financeiramente com mecanismos clássicos, já existentes. Sanções econômicas e reparações são a melhor arma que temos nesses casos.

Estamos falando de Estados, não pessoas. Por mais que eu honestamente acredite que podemos fazer melhor, o sistema de punições físicas e/ou de privação de liberdade se provou eficiente com o passar dos milênios para controlar indivíduos, mas não muito para controlar grupos. Historicamente, punir todo um povo como se puniria um indivíduo é um tiro que sai pela culatra, te deixando com ainda mais problemas do que os iniciais.

Se o Estado erra, o Estado tem que pagar. Por mais que sanções econômicas e reparações causem problemas para a vida do indivíduo, elas são difusas o suficiente para não fazer o cidadão se sentir diretamente atingido. Tem uma questão psicológica importante aqui: por mais que as pessoas se sintam parte de uma nação e adorem falar das conquistas coletivas dela como se fossem suas, detestam a ideia de pagar pessoalmente pelos erros de terceiros.

E isso é fácil de imaginar nos dias atuais: se quando as viagens internacionais forem reabertas nenhum outro país quiser aceitar brasileiros, você vai ficar puto da vida, não? Ainda mais se você não é um negacionista. Você fez quarentena direitinho, levou a doença a sério, mas por causa da imagem internacional do Bolsonaro, todo mundo acha que você é incapaz de seguir regras básicas de saúde pública. Parece justo?

Povos que são estigmatizados por causa de seus líderes tendem a ficar cada vez mais radicais, seja pela escalada das insanidades do poder público que agora criar inimigos nas fronteiras, seja pelo senso de união causado por um povo que se vê injustiçado pelo resto do mundo. Esse tipo de radicalização não é saudável nem no Brasil, imagine na segunda maior economia do mundo (prestes a se tornar a primeira), com mais de um bilhão de pessoas?

Hitler foi também o resultado de uma punição excessiva contra a Alemanha depois do final da Primeira Guerra Mundial. Sim, reclamavam muito das reparações, mas a ocupação de territórios e a exploração continental do povo alemão nos anos seguintes criaram terreno fértil para o nascimento de um regime radical. Hoje em dia temos essas lições para seguir, tanto que a forma de criar punições para países depois da Segunda Guerra Mundial mudou consideravelmente. Alemanha e Japão foram reconstruídos pelos americanos. Não por bondade, mas pela lição de algumas décadas anteriores. Não atinja o povo diretamente se não quiser criar uma nova guerra no futuro. E francamente, tudo o que o mundo não precisa é de uma China disposta a lutar.

Por isso, punições devem ser claramente direcionadas à máquina pública de um país. Isso causa impactos menores na vida cotidiana das pessoas (no curto prazo) e não facilita tanto a narrativa de ataque estrangeiro. Como a primeira onda de impactos acerta diretamente o governo, ele perde poder de investimento em funções menos essenciais: um governo comunista, por exemplo, não se sustenta sem uma inchada folha salarial e um imenso sangramento dos cofres públicos para sustentar a corrupção oficial. Países como a China precisam manter muito dinheiro girando como gastos oficiais para se manterem viáveis.

Até por isso, eu nem iria além de sanções comerciais. Reparações são um mecanismo que já caiu em desuso, e muito provavelmente por tornar clara demais a punição para o cidadão comum: é como adicionar um imposto que vai para pagar as contas de outro país. E a não ser que você seja a Suécia, não acha bonito pagar contas de outros países…

Sanções comerciais já geram punição para o Estado chinês, que apesar do verniz capitalista de suas megacorporações, ainda mantém um simbiose importante entre capital privado e público. O governo investe em empresas privadas controladas por membros do Partido Comunista. E mesmo tendo um imenso mercado interno, quando pensamos em China, pensamos em importações e exportações. O comércio internacional é parte integrante do modelo chinês, e qualquer impedimento nesse mecanismo gera problemas consideráveis para o poder vigente.

O chinês médio seja até menos culpado pelos problemas causados por seu governo do que o brasileiro médio, por exemplo. Eles já nasceram sob uma ditadura, extremamente controladora desde sua concepção. O povo chinês não se rebela porque apesar dos pesares, as coisas ainda funcionam. Não sabemos quanto tempo o modelo chinês resiste, mas por enquanto, o país continua crescendo e acumulando riquezas. Nenhum outro povo pode se dizer muito superior nesse sentido. Se Bolsonaro tivesse feito o Brasil crescer economicamente e aumentado a renda média do povo, podem apostar que já teria sido carregado pelo povo para uma ditadura a essa altura do campeonato.

O que a China provavelmente fez no começo da crise do coronavírus é um crime contra a humanidade, mas que fique claro que foi o governo chinês, não o chinês médio. O governo deve ser punido. E para tal, nada melhor do que criar barreiras econômicas que diminuam a competitividade deles e reduzam consideravelmente o crescimento econômico do país. O sistema “comunista” custa muito caro para se manter, e sem crescimento constante, é bem provável que o povo se volte contra o governo. Não sem uma fase de reclamar dos EUA e da Europa, mas eventualmente, o dinheiro fala mais alto. A China não é a Coréia do Norte, é muita gente e muita conexão com o resto do mundo para sustentar um regime totalitário sem pagar suas contas em dia.

A punição para a China tem que ser realizada contra a máquina governamental, e não diretamente contra o cidadão. O cidadão vai sofrer quando o país perder competitividade, mas pelo menos ele tem a opção de se rebelar contra o governo. Se for qualquer outro tipo de punição que fira o orgulho pessoal ou que torne clara a relação de sofrimento com ações de países estrangeiros, fazemos com que a China se torne um barril de pólvora, e que o governo tenha a chance de continuar fazendo tudo errado, dessa vez, com muito mais apoio popular.

Sanções econômicas de importações e exportações são uma merda, mas são a melhor merda que temos.

Para nos chamar de conspiradores, para dizer que a culpa é dos EUA (coloca sanções neles então), ou mesmo para dizer que crime é algo que uma pessoa sem poder comete: somir@desfavor.com

SALLY

Se ficar provado, sem sobra de dúvidas, que a China omitiu dados fundamentais que poderiam ter freado a disseminação mundial do Coronavírus, como ela deveria ser punida?

De todas as formas possíveis e imagináveis, inclusive de formas novas, inéditas até então. Colocar em risco a vida das pessoas do mundo todo pede mais, muito mais do que sanções econômicas.

Estamos falando de forma ampla, qualquer omissão de dados, desde ter criado o vírus em laboratório para foder com o mundo até ter omitido um vírus que surgiu sem querer. Não importa qual é a omissão, o que importa é que, se tivessem sido mais transparentes, a pandemia poderia ter sido evitada. Esse é o critério.

Se isso for provado, se o mundo inteiro se fodeu por causa de uma omissão de um país em interesse próprio, tem que botar para foder. Não é por ser a China, qualquer país que pudesse ter evitado esse grau de danação mundial e optou por não fazê-lo merece punições fora da regra. Confesso que eu nem sei quais punições são viáveis, mas meu argumento é: todas as possíveis.

Para começo de conversa, eu faria o país pagar o prejuízo financeiro que todos os países tiveram com a doença. Pode parcelar, eu sou uma pessoa legal. Vai passar os próximos cem anos pagando carnê omissão para 300 países, foda-se o quanto isso vai comprometer a economia. Além disso, teria que pagar também uma indenização a cada país que sofreu as consequências dessa omissão.

Mas isso não basta. Isso é pouco. Eu criaria sanções novas, coisas para entrar na história, de modo a que todos os países pensem duas vezes se realmente vale a pena mentir assim. Certamente é possível estipular punições incríveis, que entrem para a história e que façam todos os países optarem por dizer a verdade com medo do que pode vir.

Não seria difícil impor o cumprimento das punições, afinal, o mundo inteiro estaria putíssimo com a China por causa de seus mortos e pela danação econômica causada. Quando o mundo inteiro está contra você, é melhor colaborar, pois, na melhor das hipóteses vem um embargo financeiro, na pior, uma bomba. Não recomendo peitar o mundo inteiro, o resultado não seria muito bom para o país.

Por alto, uma das punições possíveis seriam a proibição do país em sediar qualquer evento possível e imaginável por muito tempo. Também gostaria de ver a prisão perpétua via qualquer tribunal internacional de todos aqueles que, de alguma forma, foram coniventes com a ocultação dentro do país. Mais: se ainda não existisse vacina ou cura, usaria eles como cobaias para todo tipo de tratamento experimental.

“Mas Sally, nada disso é possível”. Tá bom, se não for possível não faz. Meu argumento é: todas as punições possíveis. Reúne os principais líderes mundiais e cada um apresenta sugestões, com certeza ia aparecer muita coisa possível e divertida. Pessoas putas ficam criativas.

Também acho que deveria ser imposta fiscalização ao país por entidades internacionais pelas próximas décadas e a proibição de que qualquer político que ocupou um cargo de poder nesse período possa se eleger novamente. Laboratórios fechados. Manipulação de qualquer coisa de risco fechado: energia nuclear, genética, fábrica de facas. Foda-se, vai produzir tecido e plantar batatas pelas próximas décadas, até aprenderem a ter responsabilidade.

Acha exagero? Se ficasse provado que o país podia ter evitado esse desastre todo e não o fez, eles simplesmente colocaram em risco todas as vidas do mundo. Isso é muito sério, muito grave, para se ater ao protocolo padrão de represálias. Uma coisa desse tamanho exige medidas duras e excepcionais, para que ninguém nunca mais pense em fazer nada parecido. Não, não tá tudo bem em colocar em risco todas as vidas do mundo. Não, não vai ficar impune.

Daí alguma alma boa pode dizer: “Mas Sally, isso fere a soberania do país”. E eu respondo: foda-se. O país feriu a vida e a economia de outros 300 países, eu quero que sua soberania vá para a casa do caralho. Por mim, além do país perder sua soberania, ainda seria renomeado República dos Mentiroso Sem Higiene.

Todo tipo de desgosto e humilhação é válida, mas, que fique claro, para os responsáveis. O povo não tem culpa nenhuma. Por isso, abriria a possibilidade para que o cidadão chinês que quisesse sair desse país pudesse ser acolhido por outros, de modo a esvaziar sua força de trabalho e permitir a quem não compactua com essa escrotidão um novo lar.

Eu insistiria em algo massivo, tipo lamento pelo Holocausto. Museus, placas, todo tipo de lembrança constante de quantas pessoas a China matou. As plantações deles teriam que ter o formato de frases “A OMISSÃO DO GOVERNO CHINÊS GEROU X MORTOS PELO MUNDO”. Os ETs dos Crop Circles iam ficar com inveja.

Desde tatuar na testa dos envolvidos “Sou omissor e vacilão” até mandar fazer uma estátua deles levando pedrada em cada país afetado. Zero ética, zero limites, zero bom gosto. Acho que tem que fazer um escândalo em cima disso, um escândalo que entre para história, que dure séculos, para mandar um recado claro aos outros países: não compensa omitir dados importantes que podem afetar o mundo todo.

Não se deixe enganar, SE ficar provado que a China podia impedir essa pandemia e não impediu (e até agora não há provas disso), o que o país fez pode ser comparado a jogar uma bomba atômica em cada país afetado. É grave, muito grave.

O que aconteceu foi extraordinário e, como tal, pede medidas extraordinárias em resposta. Os mortos não voltam à vida por uma punição dos responsáveis, mas uma punição exemplar certamente pode evitar que outros países se comportem assim no futuro, prevenindo que mais inocentes morram.

Por muito menos do que isso já aconteceram guerras sangrentas e todo tipo de covardia. O que estou sugerindo é apenas punir os responsáveis e tirar qualquer poder do país, como nação. Isso não é nada quando comparado aos milhões de mortes que poderiam ter sido evitadas. Infelizmente o ser humano é assim: dificilmente deixa de fazer merda por consciência, mas certamente deixa de fazer merda pelo medo.

Para dizer que minhas ideias são tímidas quando comparadas com as suas, para dizer que tinha que punir a China e ainda punir a Rússia pelos acidentes nucleares ou ainda para dizer que se ficar provado que eles tem culpa, vai acontecer coisa muito pior: sally@desfavor.com


Comments (21)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Relatório de erros de ortografia

O texto a seguir será enviado para nossos editores: