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Não vai poder.

Não vai poder.

| Somir | | 13 comentários em Não vai poder.

Hoje quem não é de nerdice pode tirar folga. A ficção, seja ela científica ou mística, adora repetir alguns clichês de poderes e habilidades especiais que normalmente são baseados em desejos humanos comuns. Mas o que pouca gente considera são as aplicações práticas disso… e daí pra achar que talvez alguém possa fazer isso de verdade não é salto tão grande como deveria. Hoje falamos sobre o óbvio, mas com um pouco mais de informação.

Poder de voar, flutuar ou ignorar a gravidade:

Pouca gente não tem esse sonho ou fantasia: ter liberdade de movimento inclusive para cima e para baixo como os pássaros. Na medida do possível, já conseguimos isso com nossas máquinas. As coisas ainda podem melhorar muito no campo tecnológico, mas dificilmente no sentido de um super herói ou uma nave do Guerra nas Estrelas.

Por incrível que pareça, ainda não entendemos perfeitamente como pássaros e insetos voam. Não é aquela bobagem de dizer que é um “mistério para os cientistas”, mas todos os detalhes da mecânica não estão compreendidos. A ideia geral está bem estabelecida, digamos que faltam alguns detalhes, o que razoável quando se estuda um mecanismo aperfeiçoado por quase um bilhão de anos de evolução.

O que sabemos é que uma relação entre a densidade da nossa atmosfera e a gravidade. O ar ao nosso redor é surpreendemente denso para quem o atravessa sem dificuldades o tempo todo: se você gerar um diferencial de pressão entre o que está abaixo e acima de um objeto, o ar tem força para te empurrar para cima! Tudo o que voa dentro da Terra faz uso dessa ideia, orgânico ou artificial. Só que essa forma de lidar com o problema tem muitas limitações, em resumo: quanto mais peso você quer levantar, mais força precisa fazer, e quanto mais força precisa fazer, mais peso precisa usar para gerar essa força. Isso bota limites em insetos e foguetes.

Para quebrar esses limites e ter o poder que todos imaginamos, seja num super herói, seja num carro voador da ficção, precisamos deixar essa relação com o ar de lado e lidar com a gravidade. E é aqui que as coisas começam a ficar muito complicadas.

A gravidade não é uma força local, ela é a relação entre os corpos, um puxando o outro. Sentimos a gravidade como sentimos na Terra porque o centro do planeta é tão pesado que o impacto dele na gente é imensamente maior que o nosso nele. Todos os métodos ficcionais de vencer a gravidade parecem ignorar isso: não dá para simplesmente desligar a gravidade num lugar e sair voando, você tem que gerar uma zona de exclusão ao redor de você que consiga vencer a gravidade do planeta todo!

Se você quiser desligar a gravidade entre o seu corpo e o chão, tudo no caminho vai ter gravidade desligada. E considerando quanta força a gravidade exerce na estrutura do planeta, é basicamente explodir um pedaço da Terra imediatamente. Aquelas cenas de filme de invasão alienígena onde uma nave fica flutuando sobre uma cidade são basicamente impossíveis: a cidade seria destruída assim que entrasse no caminho entre a nave e o centro do nossos planeta. Na verdade, a cena seria de toda a estrutura urbana voando para tudo quanto é lado, provavelmente em direção à nave, e o solo se abrindo para formar um vulcão instantâneo.

Antigravidade é algo muito poderoso, porque você não está evitando que um objeto caia, está desligando a força de quintilhões de toneladas de matéria do planeta numa área minúscula. Se a nave estiver a 10 centímetros ou 10 quilômetros de distância do chão, os efeitos são devastadores para tudo o que está embaixo do mesmo jeito.

E se você quiser ir no caminho de gerar gravidade “invertida” na nave ou no corpo, lembre-se que não está lutando contra a gravidade do seu corpo ou do seu equipamento, e sim contra o do planeta todo! A sua gravidade é tão fraca que até vento te leva… agora, a da Terra toda? Em condições normais, você só escaparia da gravidade se estivesse longe o suficiente da Terra (muito mais longe que nossos satélites, inclusive, a maioria cai se não fizer algumas manobras de correção de curso), ou, se por um acaso, existisse outro planeta Terra te puxando em outra direção e você estivesse exatamente no meio da distância entre eles.

Para nossa sorte, gravidade é ainda menos entendida que o vôo das aves. Pode ser que tenha ciência suficiente para gerar gravidade com muito menos massa no futuro, mas até lá, não aposte em nada que reverta gravidade.

Poder de super força:

Outra fantasia comum, ser como o Super-Homem e poder levantar um avião sem dificuldades. O problema é que a física, a clássica mesmo, não concorda nem um pouco com isso.

Em primeiro lugar, para ser super forte, você precisa ser basicamente invulnerável. Uma pessoa com super força num corpo humano comum perderia o braço todo no primeiro soco que desse. Sério, ele seria arrancado do seu corpo e sairia voando por centenas de metros. Mas, vá lá, presume-se que essa super resistência venha no pacote. Não que ela seja possível, porque os materiais que permitem essa resistência não são orgânicos, maleáveis ou leves. Você precisaria ser um robô, e mesmo assim, continuaria com todos os próximos problemas.

Força é aplicada numa área. Se você tentar levantar um carro do chão usando um cabo de vassoura como alavanca, o cabo de vassoura vai quebrar antes de qualquer coisa acontecer com o carro. Toda sua força vai para a parte onde o carro encosta na madeira, e o material não resiste a tanta pressão num ponto tão pequeno. Se você tivesse a força para levantar um avião, por exemplo, pegaria nele por onde? Suas minúsculas mãos, por mais poderosas que sejam, só conseguem ocupar alguns centímetros da área do avião. Você furaria a fuselagem imediatamente e ficaria com os braços dentro do avião antes de mexê-lo por um centímetro que seja.

E isso se repetiria para a maioria das ações que se imagina em situações de super força: nossos corpos tem o tamanho certo para a quantidade de força que temos, não podemos ignorar que foram bilhões de anos de trabalho da natureza para achar essa medida. Se uma mosca tivesse a mesma força que um ser humano, talvez nem percebêssemos de tão impossibilitada de gerar força numa área grande o suficiente para ser visível.

Sem contar que se errasse a força de um tapinha nas costas de alguém, mataria a pessoa na hora. Sua vida seria mais sangrenta que um filme dos Jogos Mortais. Não adianta ter força se você não tem área suficiente para aplicar essa força.

Poder de invisibilidade:

O sonho de todo voyeur. O problema aqui é que ser invisível significa obrigatoriamente ser totalmente transparente à luz. O primeiro problema é o mais óbvio: você seria cego. Só enxergamos porque a luz bate no fundo dos nossos olhos e é interpretada pelo cérebro. Se a luz passar pelos seus olhos, você não enxerga nada. O que acaba de estragar a graça para os voyeurs…

Sem contar que poucos materiais são transparentes o suficiente no universo. Nenhum deles é eficiente para manter um corpo humano funcionando. Eu apostaria novamente num robô, mas temos todo o problema de como mandar sinais elétricos de um lado para outro (como fazemos no nosso corpo orgânico) sem entregar sua presença. A melhor alternativa é algum traje ultratecnológico que filme o que está atrás de você e projete na frente de quem está tentando te ver. Infelizmente, basta a pessoa dar um passo para o lado para te ver claramente. E mesmo que o traje acompanhe os olhos dessa pessoa, só funciona para uma por vez. Adicione uma segunda testemunha e você vai ser descoberto.

Poder de ler mentes:

Cuidado com o que deseja. Mas, nem vou entrar no ponto filosófico de que na verdade não queremos saber o que os outros pensam, vou ficar na parte técnica: o cérebro humano é uma máquina orgânica. Troca sinais elétricos e faz reações químicas o tempo todo. Você não pensa numa palavra, você tem uma sequência imensa de funções químicas que te dão a impressão de estar pensando nessa palavra.

Ler o cérebro alheio exigiria alguma forma de captar esses sinais e reações, o problema é isolar isso da quantidade imensa de outros sinais e reações no resto do corpo, o ruído do ambiente e até mesmo os seus pensamentos. O cérebro sabe interpretar os seus, mas não há garantia nenhuma que vá saber interpretar o dos outros. Uma sequência de disparos neurais em uma pessoa pode significar um sentimento ou uma ideia concreta, e nada garante que sejam exatamente os mesmos de pessoa para pessoa.

Para ler a mente de uma pessoa, você precisaria aprender, dentro do seu cérebro, a interpretar todos os sinais do cérebro de outra pessoa. Ou seja: você precisaria conhecer muito bem alguém, tão bem quanto você mesmo, para poder ler a mente dela com clareza. Então, não tem tanta vantagem assim a conhecer a pessoa por mecanismos mais… comuns.

Poder de viajar no tempo (e teletransporte):

Voltar no tempo e matar Hitler! O problema, além das impossibilidades físicas (que talvez sejam vencidas) é que ninguém se lembra que não estamos parados no espaço. A Terra gira ao redor do próprio eixo, ao redor do Sol e ao redor do centro da Via Láctea, tudo isso a velocidades imensas.

Se você entrar numa máquina do tempo para voltar ao mesmo ponto que está um ano no passado, vai aparecer no meio do espaço, a milhões de quilômetros de distância de onde achava que ia aparecer. O planeta ainda não chegou no ponto onde você estava quando voltou no tempo, na verdade, vai demorar um ano para chegar. Periga de você voltar uma hora no tempo e já estar fora do planeta!

A viagem no tempo da ficção precisaria obrigatoriamente do teletransporte, fazendo você se movimentar instantaneamente do ponto A no espaço e no tempo para um ponto B. Mesmo que o tempo seja atravessável, as outras três dimensões ainda estão limitadas pela velocidade da luz e outras leis físicas. Não estamos parados, estamos correndo ao redor da galáxia tão rápido quanto o planeta, o que acontece se subitamente aparecermos em outro ponto do espaço onde não estamos mais sendo empurrados?

A velocidade que você estava se mantém. Não só você acaba em outro lugar, como está acelerado numa velocidade imensa. E não tem mais planeta para te manter estabilizado. Você sairia voando no vácuo na mesma velocidade da Terra, na frente dela e sem nada para te parar. Você teria que voltar para o passado numa nave com combustível para no mínimo te desacelerar o suficiente para conseguir esperar o planeta chegar. O que aumentaria o tempo de espera imensamente. Você só conseguiria chegar na Terra de novo DEPOIS de ter entrado na máquina do tempo.

Viagem no tempo só se você souber exatamente onde estava o planeta naquele momento e tiver condições de fazer uma viagem enorme dessas instantaneamente. Ah, se a Terra estava cem quilômetros por hora mais lenta numa direção naquele tempo, você vira panqueca na hora que chegar.

Você não vai querer viajar no tempo sem ter informações quase perfeitas sobre o tempo que quer voltar (ou avançar, porque dá no mesmo nesse problema). A não ser que você não se importe de não ficar na Terra…

Tem mais, mas eu já estou escrevendo demais por hoje. Talvez eu faça mais no futuro, talvez não. Ninguém tem o poder da clarividência (e nem vamos começar a falar sobre como esse poder é estúpido…).

Para dizer que eu deixei nerdice chata, para dizer que seu poder é nem ler, ou mesmo para dizer que eu estraguei seus sonhos: somir@desfavor.com


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