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Coronavírus, de novo.

Coronavírus, de novo.

| Desfavor | | 32 comentários em Coronavírus, de novo.

Não adianta linkar uma notícia aqui, que a semana toda se falou só de uma coisa. De novo, o Coronavírus (COVID-19) pede passagem como Desfavor da Semana.

SALLY

O principal problema do Brasil é o brasileiro. Com a pandemia do Covid-19, Coronavírus para os íntimos, toda a imbecilidade, hediondeza, egoísmo, incompetência e deslealdade do brasileiro está vindo à tona. E é triste, muito triste de se ver. E as consequências serão ainda mais tristes.

Como vocês devem estar cientes, o contágio do Coronavírus deu um salto esta semana, no Brasil e no mundo. Poucos são os países que estão reduzindo os casos. Diante dessa realidade, países do mundo todo fecharam escolas, universidades, locais de lazer, suspenderam eventos. Não é algo discreto, a porra da Disney fechou. As principais competições esportivas estão suspensas. Os principais museus estão de portas fechadas. Mas no Brasil não. No Brasil teve jogo lotado no Maracanã, com torcedor debochando da situação, usando máscara fake escrito “Hoje tem gol do Gabigol”. Vai vendo.

Não é de hoje que o governo minimiza e até despreza essa questão. Bolsonaro, entre outras bostas, disse que “é uma gripe como outra qualquer”. Você já viu uma gripe qualquer fechar a Disney? Disse que o Coronavírus “é fantasia” e “um problema muito pequeno”. O tom do líder acaba ditando a forma como a população encara o assunto. E o toma que o atual governo está dando, faz com que o brasileiro não queira fazer nenhum sacrifício pela saúde pública, pois não entende ser necessário.

Em todos os lugares do mundo, pessoas estão se colocando em quarentena voluntária quando chegam de viagens. Estão evitando sair, cientes de que podem ser portadoras assintomáticas do vírus e contagiar outras pessoas. Há países onde pessoas estão pagando testes dos seus bolsos, preventivos, para saber se estão infectadas e assintomáticas. No Brasil tem paciente fugindo de hospital pois não quer ficar em quarentena. O brasileiro não tem qualquer senso de coletividade, o que é péssimo para situações como essa. O egoísmo e a ignorância do brasileiro podem fazer a situação escalar além do previsto.

Entre todas as ignorâncias que circulam pela boca do povão, a que mais me dói é a “não vou deixar de fazer nada, é só uma gripe, só mata idoso”. Antes de mais nada, se mata alguém, você tem o dever ético de colaborar. Universo Umbigo: se EU não vou morrer, foda-se todo o resto. Não é ok pensar assim, não é ok falar isso, entretanto, o brasileiro médio o tem feito sem qualquer constrangimento. Você pode estar transmitindo o vírus sem saber, sem ter sintomas, então, não seja filho da puta e só saia de casa se for extremamente necessário.

O pior é que essa imbecilidade de “só mata idoso” nem sequer é verdade. Basta ver o que está acontecendo na Itália. Sim, o Coronavírus é letal apenas para idosos SE toda a população receber o adequado atendimento e tratamento médico para atenuar e conter os sintomas da doença. Porém, quando há um surto e 20% da população adoece ao mesmo tempo, não há médicos, leitos hospitalares, centro cirúrgico ou medicamentos suficientes para toda a população.

Isso significa que você pode morrer sim, não só de complicações do Corona que poderiam ser evitadas com atendimento médico, mas de qualquer outra coisa, por exemplo, de apendicite, pois não vai ter médico nem hospital onde você possa ser operado, eles estarão lotados com os “velhos” que se convencionou achar que podem morrer. Está acontecendo na Itália, um país muito mais desenvolvido que o Brasil. Por qual motivo alguém acha que não pode acontecer na República das Bananas?

Então, tomara que não aconteça, mas, no caso de uma eclosão de Coronavírus, o frágil sistema de saúde público e privado (não vai ter leito nem em hospital particular) vai colapsar e toda a população estará em risco. Não fica aí frequentando lugar lotado, todo pimpão, achando que “só mata velho”, pois se isso se alastrar, você também vai ser afetado e pode morrer. Uma pessoa jovem pode ter Coronavirus sem saber, sem sequer sentir um sintoma. Ficara saracoteando na rua é majorar as chances de você passar o Corona para pessoas vulneráveis e contribuir para colapsar o sistema de saúde.

Aliás, outra cretinice é pensar que só idosos são vulneráveis. Existe um grupo enorme de pessoas com sistema imunológico comprometido no Brasil, desde pacientes com câncer (que são muitos) até pessoas com doenças autoimunes. Há um percentual enorme da população que não tem um organismo apto a lidar com o Coronavírus, portanto, a sobrecarga ao sistema de saúde vai ser ainda pior do que o esperado. Ah, sim, o inverno está chegando também: temperatura mais fria, janelas fechadas. Voa Brasil!

Se não acredita em mim, basta olhar à sua volta. Universidades dos EUA, França, Portugal e muitos outros países estão de portas fechadas. Enquanto isso, aqui no Brasil um estudante da USP que tinha os sintomas foi vítima de deboche por parte dos médicos, que o mandaram voltar para casa e seguir vida normal. Ele precisou procurar por mais três médicos diferentes, insistir, até alguém ter a boa vontade de testá-lo. Resultado: estava com Coronavírus. As aulas foram suspensas? Até ontem, data em que este texto foi escrito, não. Vai vendo. Depois dá merda gigante e chamam de “fatalidade”.

Percebem como o comportamento do Brasil destoa do comportamento do resto do mundo? Até mesmo de países da América Latina. Paraguai, Argentina, Bolívia e Peru não aceitam mais voos vindos da Europa. Argentina, desde janeiro, revisa todos os passageiros que desembarcam lá, tirando a temperatura e fazendo uma revisão clínica rápida. Está com febre? Está com tosse? Está com algum sintoma? Não entra. Mandam de volta pro país de origem. Enquanto isso o Brasil convidou tudo e todos para entrar sem restrições no carnaval. Vai vendo. Quando der merda, não será fatalidade, será total responsabilidade do Brasil.

Esta semana o principal aeroporto argentino instalou câmeras termográficas, que percebem a temperatura da pessoa, para monitorar os passageiros. Quem tiver febre será imediatamente isolado. Argentina, o país mais fodido e quebrado do Mercosul. Enquanto isso, Bolsonaro foi com uma comitiva infectada de Coronavírus visitar o Trump, espalhar doença pros gringos. E, quando testaram positivo, em vez de se isolar imediatamente, resolveram voltar pro Brasil, expondo todos os envolvidos nesse processo a contágio.

Angela Merkel afirmou que 70% da população alemã terá Coronavírus. Alemanha, um país estável, competente, disciplinado, precavido. No Brasil, os gênios dizem que apenas 1% da população terá. Parece coerente? Um país onde as pessoas têm muito mais proximidade, informalidade e falta de higiene. Onde a saúde pública manda pra casa para fazer vida normal um infectado. Meus queridos, sinto informar, mas o que vem por aí não parece ser bonito. Tomara que eu esteja enganada, mas acredito que os próximos quatro meses não serão fáceis. Vocês irão pagar pelo descaso de um governo ignorante e um povo que não leva nada a série. Eu, se tudo der certo, estarei bem longe daqui. Já estou de malas prontas.

Hoje o brasileiro se divide em dois grupos, que são apenas lados de uma mesma moeda de gente tosca: aqueles que acham que não pega nada, que é exagero das pessoas, que só mata idoso, que é uma gripe comum X aqueles que acham que vamos todos morrer, estocam papel higiênico, bebem álcool 70, pingam álcool gel nos olhos. Ambos são igualmente ruins e nocivos e, para piorar, estão gastando sua energia em brigar uns com os outros.

Se/quando a coisa ficar feia, essas pessoas que já estão descontroladas hoje, vão surtar. Gente surtada não colabora e ainda atrapalha. Some-se a isso que o brasileiro tem grande dificuldade de fazer esforço pessoal em prol do coletivo. Será que as pessoas vão evitar sair? Será que vão deixar de viajar? Será que vão levar uma vida reclusa por meses para tentar atenuar o contágio? Eu sinceramente duvido. Só o farão quando for tarde demais, quando a situação estiver fora de controle e houver o risco DELAS morrerem.

Então, este texto é para te sugerir o mesmo que fizemos no primeiro Desfavor da Semana sobre o assunto: seja prudente, seja cauteloso, faça um esforço e mude seu estilo de vida por alguns meses para assegurar sua vida, a vida das pessoas que você ama e a vida de todos. Não seja o imbecilóide que não abre mão da festinha, da noitada, que entra em negação dizendo que o calor mata o vírus e que contribuí para que esta merda seja de um tamanho GG.

Está nas mãos de todos a força com a qual essa pandemia vai atingir o Brasil. Acho que, ciente de que só depende do comportamento do brasileiro, você já pode imaginar o que vai acontecer. Faça a sua parte, não surte nem para o lado da negligência nem para o lado do medo e tente manter mais pessoas com você nesse lugar centrado. Vamos precisar.

Para dizer que o brasileiro merece a extinção, para me parabenizar por finalmente sair do Brasil ou ainda para se perguntar como o Alicate estará lidando com o Coronavírus e pedir um texto sobre isso: sally@desfavor.com

SOMIR

O Coronavírus, tecnicamente, é só mais uma gripe. O que não quer dizer que não seja perigoso, afinal, a gripe comum mata muita gente todos os anos. Na verdade, é só mais uma gripe pelo modo de atuação do vírus em questão: sozinho, o vírus não cria nenhum sintoma no corpo humano.

Assim como as gripes que costumamos pegar todos os anos e que no máximo nos deixam um ou dois dias meio baqueados, o Coronavírus é um invasor que só quer um lugar para viver. E como nossos corpos não tem dessa de abraçar imigrantes, o sistema imunológico começa a atacar esses novos moradores. Os sintomas da gripe comum são resultado do nossos corpo iniciando uma guerra para matar seus inimigos. Tecnicamente, somos nós mesmos que causamos o mal estar da gripe, não o vírus.

Então, não deixa de ser poético que o verdadeiro problema dessa pandemia não seja exatamente o Coronavírus, mas as ações que tomamos para nos defender dele. Se ninguém se mexer, milhões vão morrer, é claro, mas a imensa maioria da humanidade vai estar pronta para continuar como se nada em questão de meses. A doença da vez não tem potencial para acabar com a humanidade, quem disser o contrário é esquizofrênico ou muito mal informado.

Mas somos melhores do que isso em 2020, não vamos deixar uma doença com uma taxa de mortalidade considerável entre idosos correr solta por aí. Assim como o sistema imunológico não aceita o vírus invasor, não aceitamos uma doença fazendo o que bem entender no mundo. Até porque em ambos os casos, é o comportamento de vigilância que impede que algo mais perigoso consiga vencer as defesas no futuro. O sistema imunológico não liga se é gripe ou ebola, vai para a guerra do mesmo jeito. Não poderia ser diferente com a sociedade.

Só que aí surgem os sintomas. No caso das defesas da humanidade contra o Coronavírus, os maiores problemas resultam das nossas tentativas de conter a doença e tratar os pacientes. Cancelamento de eventos, quarentenas e fechamento de fronteiras causam vários problemas para o funcionamento normal da vida em sociedade humana. A economia então… essa está sofrendo bastante e estamos diante de uma crise com repercussões de longo prazo.

E assim como normalmente a melhor coisa a se fazer numa gripe é descansar e esperar o pior passar, não tem muito mais o que se dizer sobre a reação social à pandemia: essa febre estrutural da sociedade significa que o sistema imunológico da humanidade está agindo. Não ajuda em nada quem entra em pânico e compra suprimentos para meses assim como não ajuda em nada quem fala que é bobagem da mídia para nos manipular. Existe sim um grau de preocupação que é saudável para todos nós, e ele está sendo informado com precisão pelos meios oficiais (inclusive no Brasil).

Agora o mundo já está infectado, é aguentar a febre, descansar e esperar passar. Ao invés de tentar explicar a pandemia pelo vírus, que por si só não tem nada de tão especial, vamos entender que basicamente tudo o que vier pela frente é resultado das nossas tentativas de contê-lo. E várias dessas medidas são chatas, exigem cooperação e disciplina para funcionar. Mantendo a analogia com a doença em si: se você for aquele doente chato que fica tentando se provar forte o tempo todo ou for dramático e achar que não consegue mais viver por causa de um resfriado, você vai atrapalhar o próprio tratamento.

E é aí que eu fico mais preocupado: especialmente em países mais pobres com muita gente ignorante, cooperação e coordenação de esforços não costumam funcionar tão bem. Eu já estou notando o brasileiro achando motivos para polarizar na reação. Ou ficam se fazendo de donos da verdade dizendo que não está acontecendo nada demais, ou entram na pilha de conspiradores achando que o fim está próximo. Essa gente parece ter esquecido de vez que existe algo como o meio termo.

E o meio termo é até simples de entender: quando a pandemia é declarada, sabemos que é hora de cama e canja de galinha por um tempo. Mesmo que você esteja saudável e não faça parte do grupo de risco, deve entender que pandemia é uma doença no corpo todo da humanidade. Você que não corre risco é mais ou menos como a perna de um corpo com uma doença no pulmão. Mesmo que não esteja diretamente doente, seu organismo está. Não adianta ser egoísta e querer andar por aí, porque vai faltar ar.

Estamos conectados. Se você age errado, todo mundo sofre junto. Eu já fiz minha equipe de trabalho trabalhar em esquema de home-office, por exemplo. Não porque temo pela saúde de pessoas jovens, mas porque isso tira um dos caminhos de disseminação da doença. Em algum momento todas essas pessoas vão acabar próximas de alguém do grupo de risco. E quanto mais gente do grupo de risco adoecer, mais complicado fica para o corpo da humanidade todo vencer o pior da doença.

É um jogo de números. A doença vai continuar funcionando por algum tempo, mas podemos seguir boas práticas e roubar algumas semanas ou meses do ciclo de vida normal dela. O perigo não está necessariamente no Coronavírus, mas em toda a mobilização necessária para cuidar dos doentes. Especialmente os idosos. Se você for egoísta agora, vai pagar o preço dessa doença por muito mais tempo. É só pensar de forma mais coletiva que as coisas se acertam muito mais rápido.

Ou seja: vamos ter problemas no Brasil. Muita gente burra que simplesmente não concebe a ideia que existe algo maior que elas. Acham que se elas não estão doentes, ninguém está. E não ajuda nada que a figura do presidente seja o maior expoente dessa mentalidade limitada. Faça a sua parte de qualquer jeito, porque os números das pessoas capacitadas para entender o que está acontecendo e agir de acordo aqui no Brasil não será dos melhores.

Para dizer que não é nada demais ou para dizer que é o fim do mundo e ser chamado de burro, ou mesmo para dizer que finalmente saiu a reforma da previdência: somir@desfavor.com


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